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Mulheres

Casamento

1080 1350 Aliança Evangélica Portuguesa

“… casaram e foram felizes para todo o sempre…”

Este é a mensagem dos filmes infantis sobre princesas, que termina invariavelmente em casamento. E muitas vezes, esta é a ideia que algumas pessoas têm sobre casamento.

Infelizmente a realidade acaba por ser bem diferente. Porquê? Porque é que assistimos à diminuição dos casamentos na nossa sociedade? Porquê que muitas pessoas já não acreditam no casamento? As respostas a estas perguntas passam por, primeiro, percebermos o que é o casamento. De acordo com o dicionário da Porto Editora, casamento é o ato ou efeito de casar; é a união conjugal; é o matrimónio, que contempla dois aspetos: O Direito Civil e o Religioso. 

No Direito Civil, casamento é um contrato civil livremente celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante plena comunhão de vida, segundo o qual se estabelecem direitos e deveres conjugais.

Na Religião católica é sacramento pelo qual um homem e uma mulher se ligam de forma perpétua, de acordo com as prescrições da Igreja

Para o cristão que se revê nos ensinamentos bíblicos, casamento é uma aliança que se estabelece numa cerimónia onde os vínculos matrimoniais entre um homem e uma mulher, são firmados e os ligam até que a morte os separe. O casamento pode-se resumir em três aspetos principais: a livre vontade dos próprios, o cumprimento dos rituais da cultura (na cultura portuguesa é a Conservatória, e/ou a igreja) e a consumação do ato através da relação sexual.

E é desta relação “até que a morte os separe” que eu quero falar. Uma boa parte das pessoas que casa, entra para a relação pensando “o meu cônjuge vai fazer-me feliz”! De acordo com a palavra de Deus, é responsabilidade do cônjuge estar atento às necessidades do outro e ser a resposta de Deus a essas necessidades. Mais do que procurar a felicidade em si mesma, é na entrega de um ao outro (o amor/amar) que a felicidade pode ser encontrada.

Muito raramente se está no casamento com o pensamento “eu vou fazer o meu cônjuge feliz”, Ou “Eu vou ser a resposta de Deus às suas necessidades.” Desta forma, cada um espera que seja o outro a fazê-lo feliz. O grande desafio é estar no casamento com o pensamento que devo fazer tudo o que está ao meu alcance para pensar mais no meu cônjuge do que em mim mesmo, isto de forma bíblica e saudável.  Somos naturalmente egoístas e pensamos em nós em primeiro lugar, em vez de pensarmos no outro, por isso as relações tendem a ser difíceis e muito longe daquilo que Deus planejou e pensou.

Surge então a pergunta: Qual o propósito de Deus para o casamento?

Para um cristão que acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela dá a resposta. Após a criação de todas as coisas, narrada no livro de Gênesis, capítulos 1 e 2, Deus criou o homem e a mulher, Gênesis 1.26,27 “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”.

Mais adiante, em Gênesis 2:18 “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” E em Gênesis 2.21-24Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Este foi o primeiro casamento, feito por Deus e testemunhado por toda a criação.

Juntos, os dois “uma só carne”, deviam frutificar, multiplicar-se e encher a terra, sujeitá-la e dominá-la. Juntos deviam também refletir a glória de Deus no seu relacionamento, porquanto foram criados à imagem e semelhança de Deus. Deviam mostrar a toda a criação, os atributos comunicáveis de Deus. Deus criou mais do que dois “Eus”, Ele criou um “NÓS”, um sere humano Macho e Fêmea, para comunicar os seus atributos, Amor, misericórdia, bondade, fidelidade, justiça, sabedoria, santidade, verdade, liberdade e paz.

Alem disso, cada um deles tinha uma tarefa específica: o homem era o provedor e o protetor do lar e a mulher era a auxiliador e cuidadora do lar. É verdade que nos dias em que vivemos, estas tarefas estão esbatidas, principalmente porque os dois trabalham e proveem para a família e os dois realizam tarefas domésticas. Isso quer dizer que o plano de Deus falhou? Não! Quer dizer apenas que, como são os dois “uma só carne “e estão a trabalhar para o mesmo objetivo, a relação deve priorizar o “NÓS”, e não o “EU”, a divisão das tarefes do lar deve ser consoante as habilidades e disponibilidades de cada um, bem como o sustento, fruto do trabalho individual, pertence ao NÓS e não a cada um dos “EUs”. Assim, as responsabilidades devem ser definidas previamente, em amor e respeitando às particularidades um do outro. Esta forma de estar no casamento em que priorizamos o “NÓS”, é uma mudança de mentalidade e uma compreensão mais ampla da vontade de Deus, diferente da que temos hoje. Essa mudança de pensamento, de postura e de atitude, faz TODA a diferença nos nossos casamentos.

Porque o egoísmo faz parte da natureza humana pecadora, a relação conjugal enfrenta vários desafios, tais como o conhecimento de nós mesmos, o conhecimento do outro, a expressão genuína dos sentimentos e emoções, a educação dos filhos, a gestão financeira e a vida sexual. Estes desafios, levados ao extremo, em vez de cooperarem para um relacionamento saudável e agradável, acabam por tornar os lares numa batalha campal feroz e cruel. Como ultrapassar isso? Devemos viver resignados ou fazer alguma coisa em contrário? É claro que devemos lutar, não nos devemos resignar, mas em vez de combatermos um contra o outro, devemos unir-nos, esforçar-nos e trabalharmos juntos contra tudo o que quer destruir a harmonia do casal e do lar.

Um outro desafio está relacionado com as diferenças anatómicas, fisiológicas e genéticas entre o homem e a mulher. Apesar de intelectualmente estarmos conscientes destas diferenças, na vivência do dia a dia, as mesmas tendem a ser ignoradas e acabam por separar os casais. Mas a ideia de Deus é que estas diferenças sejam para complementaridade, apoio e fortalecimento do casal. Os pontos fortes de um, complementam os pontos fracos do outro, e assim seguem numa relação de cumplicidade e parceria.

O casamento é o lugar perfeito criado por Deus para confrontar e expor o meu EU de forma a conduzi-lo a Cristo, à morte do “EU”, conforme diz a Bíblia. Sem a morte do “eu”, vivem na mesma casa dois “eus” competindo entre si, até que algum deles se anule ou se resigne, mas este não é o plano de Deus. O deixar crescer o “NÓS” no casamento vai de encontro ao plano divino. O “NÓS” trabalha para a satisfação mútua do casal e busca responder à vontade de Deus, às necessidades e aos anseios um do outro.

Sejam quais forem os desafios e as dificuldades que a vida vos traga no casamento, não desistam de vós mesmos, procurem ajuda!

Na medida em que ambos queiram, sejam humildes, honestos, submissos e obedientes a Deus, o Deus dos impossíveis, que teve a ideia do casamento, fará os milagres necessários para a restauração.

Genny Chaveiro

Conferencista/palestrante sobre vida familiar

Direção Aliança Evangélica Portuguesa, responsável pela “Assessoria de Mulheres”

Dissipar a solidão

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Era uma pequena aldeia, situada entre duas ribeiras, envolvida por belas paisagens e terrenos férteis, de vinhas, oliveiras e amendoeiras. Contudo, havia uma característica que a distinguia de todas as outras aldeias portuguesas: tinha apenas um habitante.

Ao longos dos anos, as famílias que ali residiam tinham-se mudando para outras localidades, talvez profissionalmente mais promissoras. Restava apenas aquele homem. Podemos imaginar o seu dia-a-dia? Como seria sair de casa, pela manhã, e encontrar à sua volta um amontoado de casas vazias? Não haver com quem conversar ou mesmo pedir ajuda? À condição dele em Adagoi, assim se chama a aldeia, poderemos chamar solidão objectiva, que significa, literalmente, a ausência de pessoas. Mais tarde, ele terá decidido ir viver para outra localidade, provavelmente para evitar esse isolamento.

Este não é o tipo de solidão mais comum nos dias de hoje. Ou seja, quando alguém nos diz que está só, tal não significa a inexistência de pessoas à sua volta. Habitualmente, refere-se a uma outra realidade, a chamada solidão sentida. Ou seja, é uma solidão que se transporta no íntimo, que acompanha a pessoa para onde vá, independentemente de quem esteja próximo de si. Por isso, o facto de sermos muitos, num qualquer evento por exemplo, não garante que a sensação de solidão não esteja presente.

Uma forma de trabalhar saudavelmente essa condição em cada um de nós, pode acontecer em duas vertentes: alimentarmo-nos e repartirmos entre nós o nosso pão.

Alimente-se

Aquilo que absorve a nossa atenção diariamente, e os pensamentos que ruminamos a partir daí, ditam em grande medida os contornos e a dimensão da solidão que sentimos. Se estivermos focados naquilo que não é alimento, poderemos dar por nós emocional e espiritualmente subnutridos e, inevitavelmente, sentirmo-nos sós, numa percepção árida e desvalorizante de nós mesmos, vivamos sós ou acompanhados. Por outro lado, Jesus assegurou-nos alimento diário, ao afirmar: “Eu sou o pão da vida.”(João 6:48, ACF) Jeremias sentiu esse conforto, mesmo no tempo difícil que viveu, tendo afirmado até “A minha porção é o Senhor.” (Lam. 3:24, ACF)

A leitura da Bíblia e a oração são duas fontes inesgotáveis de provisão. Conversar com alguém que nos escuta, aceita e oferece alento, pode ajudar a ultrapassar circunstâncias ou recordações que se constituam como factores de manutenção, ou até de agravamento, da solidão, no cumprimento do princípio bíblico “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gál. 6:2, ACF) Também existem recursos de aprendizagem, bons livros, músicas que nos elevam, pesquisa de temas que nos edificam, a contemplação da natureza, em momentos da chamada solitude, que significa estar só e saborear esse momento. Em todas essas circunstâncias, Deus pode falar-nos.

Alimente

Uma vez nutridos, acabamos por entender que a mesa de Deus é abundante e que Ele nos dá mais do que aquilo que precisamos. Assim, podemos partilhar tranquilamente o nosso pão com quem nos cruzamos, em momentos de proximidade, de ouvido atento, sensibilidade, palavras, acções de entreajuda.

Sinto-me muito grata a todas as pessoas que, ao longo da vida, me alimentaram, usadas por Deus, substituindo solidão por oportunidade de desenvolvimento pessoal. Assim, deixo aqui a recordação de dois momentos desses, como uma homenagem também, aos meus queridos e saudosos pais.

Duas pérolas preciosas

Numa das últimas vezes em que conversámos, o meu pai ofereceu-me um versículo bíblico. Ao longo da vida, ofereceu-me muitos, mas este teve um sabor especial, por ser o último e por definir um precioso princípio de vida. Disse-me que aquela passagem bíblica era para mim e referiu-a: “E dizei a Arquipo: Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras.” Colossenses 4:17. E guardo-o preciosamente, substituindo o nome Arquipo por Bertina…

A minha mãe tinha uma voz lindíssima. Muitas vezes cantou para programas de rádio, a então Ibra Rádio, e em eventos evangélicos, tendo chegado a gravar uma cassete de hinos, como se usava na altura. Recordo-me bem da última vez em que a ouvi cantar. Cantou para mim, pouco tempo antes de partir para a eternidade. Estávamos a conversar a propósito de alguns planos para a minha vida, sobre os quais eu não tinha a certeza, e cantou: “One day at a time, sweet Jesus…” Foi apenas a parte inicial deste belo hino, o que lhe permitia a sua saúde já frágil, e eu entendi a mensagem.

Sim, queridos pais, guardo comigo o vosso conselho conjunto: atentar no ministério que o Senhor me deu, para o cumprir, mas lembrando-me sempre que é um dia de cada vez!

Hoje mesmo

Se tem lamentado a solidão que sente, resista à tentação fácil de ficar à espera que alguém o(a) venha alimentar e angustiar-se por isso não estar a suceder como desejaria, pois esse apoio nem sempre está garantido. Comece por pensar em formas de se alimentar afectiva, mental e espiritualmente. Existem muitas oportunidades, como referi, providenciadas por um Deus que tem prazer em alimentar-nos, e que serão provisão, água fresca, mel, cura para feridas, vida.

Uma vez mais bem nutrido(a), irá sentir-se mais motivado(a) a tomar a iniciativa de se aproximar de outras pessoas e partilhar o seu pão. Outros irão alimentá-lo(a), usados por Deus. E, naturalmente, a solidão se irá dissipando.

“Quando a ansiedade já me dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma.” Salmo 94:19 (NVI)

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

Batem à porta. Quem será?

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Tocavam à campainha da nossa casa com muita frequência. Eram os nossos amigos, os conhecidos e, tantas vezes, pessoas que precisavam de desabafar os seus problemas e ouvir conselhos e palavras de ânimo. No seu ministério pastoral os meus pais as recebiam, escutavam, conversavam, disponibilizavam o telefone, enfim, quantas vezes recebiam crianças enquanto os pais iam trabalhar, jovens que precisavam de tempo para arranjar casas onde ”servir” (como se dizia na época) e, até, recordo-me de uma idosa, sem abrigo que se recusava a tomar um bom banho…

Revisitando esse tempo guardado na memória, sinto saudades daquela casa.  Tinha um corredor comprido ladeado pelos vários quartos onde dormíamos aos pares (porque oito a dividir por dois dá quatro) mais o principal que era dos pais, quase sempre com um berço para mais um bebé que chegava à família. Ainda sinto o conforto daquele primeiro andar onde os anos passavam devagar, as férias da escola eram longas, os amigos entravam e saíam num corrupio para as brincadeiras, para estudarem connosco, e chegada a hora, lanchavam connosco. Havia sempre mais um prato na mesa para um deles ou para quem chegasse de improviso.

… Como era possível que, do pouco, ainda houvesse alguma coisa para partilhar além do carinho e compreensão para com vidas tão sofridas!

Nesta visita a tempos distantes e preciosos, recordo um fim de tarde, quase noite, em que alguém batia à porta da rua e tocava à campainha ao mesmo tempo, num sinal de aflição e desespero. Era uma senhora chorando copiosamente, com uma criança pela mão. Abraçou-se à minha mãe sob o olhar atento e preocupado do meu pai e foi encaminhada para uma sala para conversarem. Fechada a porta, ficámos sem saber de que perigo fugia.

Recordo que mãe e filha ficaram connosco. A senhora ajudava nas tarefas diárias, já não chorava e a pequenita entrou nas nossas brincadeiras. O que a trouxera ali “não era assunto para as crianças”. Houve telefonemas, cartas para lá e para cá…

Quanto tempo passou não sei, mas a nossa curiosidade teve parcial resposta quando, numa tarde igual a tantas outras para mim, a campainha voltou a tocar. “Quem será?” Foi o meu pai quem desceu as escadas para abrir a porta, enquanto o nervosismo da hóspede inesperada foi bem visível. Era o seu marido que a abraçou, em lágrimas, assim como à menina e foram encaminhados, sozinhos,  para a mesma sala onde ela estivera no dia da sua chegada. Quando saíram estavam reconciliados, partindo juntos entre abraços tranquilos e sorrisos felizes dos meus pais e o espanto, algo envergonhado, dos que por ali estávamos.

Batem à porta! Quem será?

Regresso ao presente e pergunto-me: quantas vezes batem à minha porta!  Quem será e do que necessita? De que forma escuto, abraço, ajudo?

Dirigindo a mesma pergunta aos leitores, será que disponibilizamos alguma parte do que somos e temos? Será que os nossos filhos, aqueles com quem convivemos, poderão voltar atrás no tempo e ter o testemunho da nossa partilha, do “amar o próximo como a nós mesmos”? Sobretudo, será que falamos aos desvalidos e sofridos sobre Alguém que deseja entrar nas suas vidas e nelas morar até à eternidade?

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” (Ap. 3:20)

Quem bate assim, com voz suave?

Jesus Cristo, o único Amigo sempre disponível, que quer sentar-se à nossa mesa, conversar e cear connosco, suavizando as nossas dores e secar as nossas lágrimas.

“… se … estiver atento à voz … e abrir a porta” …

Como será abençoadora a Sua entrada pela porta da nossa vida!

Lídia Pereira

Gestora de Recursos Humanos e Administrativos

Aposentada

Momentos Preciosos

737 491 Aliança Evangélica Portuguesa

Dei comigo a caminhar para o refeitório, pensativa. Estava numa Conferência, a que tinha vindo com muitos outros jovens como eu, num ambiente tranquilo e animado de Verão, e reflectia sobre aquilo que ouvira na sessão da manhã.

O orador acabara de nos deixar um convite que tinha tanto de inesperado como de aliciante. Dissera que quem quisesse falar com ele em particular poderia ter essa oportunidade a seguir ao almoço, numa sala que nos indicou.

Apreciara muito o que ele partilhara connosco e poder conversar com ele parecia-me uma oportunidade incrível! Nunca antes vira um orador internacional abrir-nos essa possibilidade. Contudo, ao entusiasmo veio-se misturar alguma insegurança. O convite despertara também os meus receios pessoais. O que pensaria quem me visse a dirigir-me para lá? Iriam imaginar-me como uma pessoa “cheia de problemas”, frágil? Deveria ir ou não?

Sentei-me à mesa e fui comendo e pensando. A certa altura, no meio daquela teia de ruminações, surgiu uma ideia que me agradou porque me pareceu conciliar a vontade de ir com a minha insegurança… Sim, depois do almoço eu iria caminhar na direcção da tal sala onde ele iria estar. Iria assim “como quem não quer a coisa”, como se estivesse apenas a passear por ali, e logo avaliaria o que sentiria no momento, se deveria entrar ou não, se estaria alguém a observar ou se poderia acontecer discretamente.

Confortável com o plano que traçara, terminei a refeição. Depois levantei o tabuleiro da mesa, fui colocar no lugar certo, e saí do refeitório. Caminhei em direcção à sala e, ao aproximar-me, tive uma surpresa! Rapidamente descobri que, de facto, não precisaria mais de me preocupar com a decisão de ir ou não falar com o orador. Eu não teria essa oportunidade. A fila à porta da sala era longa! Ali estavam muitos jovens, à espera do seu momento, certamente único, de falar pessoalmente com aquele orador!

Não me senti triste, talvez por não ter sido um plano muito vincado em mim. Fiquei, sim, impressionada. Tanta gente, como eu, a precisar de falar e de se sentir ouvida! Aquela imagem acompanhou-me para sempre.

Muitos anos são decorridos desde aquele dia mas a necessidade mantém-se, na generalidade: precisamos de nos sentir ouvidos e aceites.

Há conteúdos que ora se agitam em nós, ora parecem atenuar-se, mas que precisariam de ser falados para ser saudavelmente processados. Por serem situações nossas, são sentidas com uma intensidade própria e adquirem naturalmente uma densidade emocional que facilmente pode traduzir-se num amontoado de pensamentos que, quantas vezes, atrapalham mais do que esclarecem, como um nevoeiro confuso, que dificulta o discernir de um caminho ou até nos oferecem uma sensação de encurralamento, como se não houvesse saída.

Nem todas as pessoas têm maturidade ou recursos pessoais para conhecer as nossas dores. Não deve ser para elas o nosso desabafo.

Outras há que, reconhecendo-lhes idoneidade para acolher os nossos conteúdos mais delicados, poderão estar a viver um momento pessoal exigente/desgastante e, por esse motivo, não têm em si espaço emocional para oferecer ao nosso desabafo.

Por vezes também acontece ser menos confortável fazê-lo com familiares ou no círculo de amigos, pela grande proximidade. Aquele orador desconhecido, vindo de outro país, trazia consigo essa distância que também se tornara atraente, por certo.

Na verdade, há pessoas capazes de tomar a nossa carga e, de forma sábia, caminhar connosco e ajudar-nos a descobrir caminho. Como diz um provérbio antigo: “Os lábios do justo apascentam a muitos.” (Provérbios 10:21)

Criar oportunidades de conversar e partilhar é uma verdadeira bênção. São momentos que Deus pode usar para nos fazer sossegar, para curar feridas e desenhar caminho diante de nós. E nesse apoio se cumpre o que há de mais precioso: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gálatas 6:2)

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

As artesãs do tabernáculo

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

No livro de Êxodo, nos capítulos 31 e 35, encontramos o relato da projeção da construção do tabernáculo, que é extraordinário. Convido-a a fazer uma leitura atenta dele e certamente será abençoada. Por vezes estes capítulos passam-nos um pouco ao lado porque a distância cultural dificulta a nossa perceção. No entanto, este é um texto rico em detalhes tão importantes para nós.

No capítulo 31, Deus apresenta a Moisés o seu projeto de construção do tabernáculo. Deus era o arquiteto que havia projetado uma obra tremenda cujo propósito era habitar com Sua presença no meio do povo. Ele é Deus de perto e não de longe e apesar de todo o pecado que afastava o povo de Deus, Ele mesmo projetou um plano de aproximação e revelação da Sua glória. Contudo, Deus queria que o seu projeto fosse concretizado pelo Seu povo, por mãos e recursos de homens limitados, mas sobrenaturalmente capacitados por Seu Espírito. Que graça constrangedora!

“O Senhor lhes deu habilidade especial (…)” (Êxodo 35:35)

Deus escolheu os artesãos mais talentosos de entre o Seu povo e os encheu com o Seu Espírito,  dando-lhes sabedoria e perícia para os trabalhos artísticos. Haviam alguns com um reconhecido talento para os trabalhos artesanais. No entanto, para além desse talento natural de alguns, Deus conferiu ainda habilidades especiais a todos os artesãos para que pudessem participar na concretização deste Seu projeto.

Quando Moisés foi convocar o povo para a realização desta obra, ele convidou a todos aqueles que tinham um coração generoso a darem dos seus recursos, talentos e habilidades para juntos cooperarem na obra do Senhor. A Palavra de Deus diz que “todos os que tinham o coração disposto, tanto homens como mulheres, vieram e trouxeram suas ofertas para o Senhor.” (Êxodo 35:22)

Não se tratava apenas de uma questão de talento ou habilidade. Era preciso ter um coração disposto e almejante por dar de si. Fossem homens ou mulheres, todos estavam incluídos no projeto, na missão. O projeto de Deus seria realizado com muitos ou com poucos mas só os de coração disposto poderiam ser participantes da grande missão de Deus de trazer o céu à terra.

E as mulheres não quiseram ficar de fora, pois diz que “todas as mulheres sábias de coração fiavam com as suas mãos, e traziam o que tinham fiado, o azul e a púrpura, o carmesim e o linho fino. E todas as mulheres, cujo coração as moveu em habilidade fiavam os pêlos das cabras.” (Êxodo 35:25,26) Que Deus tremendo, que olha e procura por corações dispostos, que capacita e chama todos os que querem ser participantes!

Se temos realmente corações dispostos para “construir” o reino, qualquer uma das nossas habilidades glorificará o Rei. Juntos estamos envolvidos no mesmo projeto, sendo cada um capacitado pelo Espírito de Deus para com distinção cumprirmos a nossa missão.

Homens e mulheres em Israel estavam envolvidos na grande obra que traria a habitação da presença de Deus entre os homens, mas aquele tabernáculo era apenas um símbolo que apontava para Jesus – “o verdadeiro tabernáculo”.

“E o verbo se fez carne e “ tabernaculou” entre nós” (João 1:14). Não precisamos mais de “construir” um tabernáculo físico pois o verdadeiro tabernáculo já veio em Jesus, manifestando a glória de Deus. Ele subiu aos céus, mas através do Seu Espírito, que o Pai enviou, somos feitos morada de Deus, onde a Sua presença se manifesta. Qual é então nossa missão? Somos chamadas a “construir tabernáculos”. Sim, Deus tem um projeto de construção, de fazer morada nos corações de homens e mulheres. O projeto é D´Ele, a missão é D ´Ele mas Ele conta com “artesãos” dispostos. Homens e mulheres que por meio de suas habilidades e capacitados pelo Seu Espírito possam preparar o terreno, levantar as estacas e montar a tenda no coração dos homens para que Ele possa vir e habitar.

Que sejamos como as artesãs do tabernáculo que se dispuseram e usaram a sua habilidade para que o projeto de Deus fosse concluído, a presença de Deus manifesta e a Sua glória revelada.

Sara Rosa

Missionária em Cabo Verde

LEMBRAR UM AMIGO

740 493 Aliança Evangélica Portuguesa

Aquele foi um dia extraordinário: o homem saiu da prisão! Imagino-o a correr pela estrada, de novo, e a sensação de liberdade a envolvê-lo, num conforto inexplicável, como uma brisa de Primavera. Abraçar a esposa e os filhos, rever amigos, voltar a dormir na sua cama, a alimentar-se melhor, num ambiente feliz…

Ah, e não perdera o seu precioso emprego. Voltava ao ambiente requintado do Palácio, onde retomava as suas funções, com o sabor de vinhos caros a chegar-lhe aos lábios, como copeiro. Tantas emoções juntas, tantos rostos e situações a chamar a sua atenção!

E, neste turbilhão de entusiasmo e actividade, perdeu-se um detalhe importante. Esqueceu-se de um amigo que ficara para trás. Sim, ainda na prisão, José pedira-lhe que falasse nele a Faraó, para que considerasse a possibilidade de ser libertado. Contudo, “o copeiro-mor, porém, não se lembrou de José, antes se esqueceu dele.” (Génesis 40:23).

Provavelmente, já sucedeu com todos nós. Na corrida do dia-a-dia, no dissabor ou no entusiasmo de momentos, algum amigo ficou esquecido lá atrás, algures no tempo.

Este copeiro seria a pessoa chave na história de vida de José, capaz de fazer a ponte com Faraó, mas esqueceu-se dele. Contudo, o plano de Deus não deixou de se cumprir, pois Ele criou circunstâncias que levaram o copeiro a, dois anos depois, lembrar-se de José. E refere-se a esse lapso com consternação: “Então o chefe dos copeiros disse ao Faraó: “Hoje me lembro das minhas faltas.” (Génesis 41:9)

No plano de vida que Deus tem para nós, Ele usa pessoas como chave para abrir portas. E não só as escolhe mas promove circunstâncias que as levam a pensar em nós.

Por outro lado, também nos faz lembrar amigos antigos. Recordo-me que os meus pais levavam muito a sério as pessoas que lhes vinham à mente, e o telefonema acontecia, indo ao seu encontro no momento oportuno. Quantas vezes assim foi!

Assim, esta passagem bíblica pode conduzir-nos a dois pedidos de oração:

“Senhor, lembra-me de pessoas para quem poderei ser canal da Tua bênção neste tempo. Conheces cada vida em detalhe e as necessidades de cada um. Se há alguém que ficou esquecido e a quem deverei ajudar, traz-me à mente e dá-me sabedoria para que eu seja realmente um apoio dirigido por ti.

“Senhor, traz o meu nome à mente de alguém que nesta altura possa ser usada(o) por Ti em meu favor, numa área em necessidade. Uma porta que se abra, mediante o contacto de alguém que pensou em mim, no leque infinito de possibilidades de sermos bênção na vida uns dos outros.”

E, neste movimento de lembranças e ajudas, assim se cumpre o mandamento de Jesus: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” S. João 15:12.

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

Aproveite a oportunidade

960 488 Aliança Evangélica Portuguesa

“A vida é feita de oportunidades”, ouvimos regularmente. Até parece que vivemos meio à deriva, à espera de encontrar uma boa oportunidade, ao acaso, para alcançarmos algo que desejamos, ir a um lugar onde nunca fomos, ou adquirir um bem que de outra forma seria impossível de ter.

Mas… E quando surge a oportunidade de impactar a vida de alguém, conhecendo ou não essa pessoa, num impulso natural de beneficiar o outro sem esperar nada em troca?

Acredito que Deus coloca em nós esse sentido de oportunidade e não, nunca é aleatório, pois Deus, que dirige a nossa vida, cria as oportunidades certas e os desejos certos no nosso coração.

Hoje deixo aqui um testemunho breve de alguém que aproveitou uma oportunidade (por acaso é a minha mãe) para abençoar a vida de uma estranha, alguém que nunca tinha conhecido e provavelmente nunca voltará a ver. Contudo, aproveitou a oportunidade e fez o que sentiu no seu coração. Aqui está:

“A pensar que hoje foi um dia agitado, finalmente chegámos a casa já em cima das 20 horas. Tive uma consulta de Reumatologia no hospital Sta. Maria e quem era o médico? O mesmo que na sexta-feira passada o meu marido consultara, na mesma especialidade. Muito atento, muitas perguntas, muitos esticões e mais exames e medicamentos. Antes de sair de casa, senti levar comigo o meu livro “Minha história Meus poemas”. Hesitei, mas levei-o.

Já sentada na sala de espera, perguntava-me: Porque é que trouxe o livro? Vou oferecer a quem? Ao meu lado, sentou-se uma senhora talvez de 40 anos, alta, magra. De máscara, é difícil identificar e não nos olhámos de frente. Continuei inquieta: Deus, a quem vou dar o livro? Se essa senhora falar contigo por qualquer motivo, é esse o sinal.

Um tempo depois a senhora levantou-se e perguntou se eu olhava pelos seus pertences que ficaram na cadeira. Fiquei mais nervosa… Quando a senhora voltou, peguei no livro e numa caneta e perguntei: “A senhora gosta de ler?” Um pouco hesitante, respondeu: “Sim, gosto”. Perguntei, então: “Posso oferecer-lhe um livro?” Acenou com a cabeça num gesto que interpretei como um sim e perguntei-lhe o nome. “Chamo-me Ana”. Escrevi uma pequena dedicatória e entreguei.

“Não trouxe os óculos, mas um pouco ao longe consigo ler”, disse timidamente.

Expliquei-lhe: “É um pouco da minha história de vida, desculpe a simplicidade, ofereço com carinho.” Começou a ler. Passados uns 10 minutos, abriu a mala à pressa e tirou um lenço para enxugar as lágrimas. Pouco depois, saiu a indicação para a consulta dela, agradeceu e não a vi mais.

Interessante o que o nosso Pastor tem falado acerca do que devemos arriscar no que sentimos ser de Deus, mas eu tenho sempre muito medo. Semeei e agora fica nas mãos do Pai.” Carlota Roque

No dia seguinte, a minha mãe ligou-me e contou-me que já nem se lembrava que tinha escrito o número do telemóvel dela num canto de uma página do livro. Então a senhora enviou-lhe uma mensagem na qual agradecia o livro, contando que já tinha terminado a leitura e que tinha encontrado algo que há muito procurava e precisava: fé. A minha mãe ficou muito feliz. Ela disse-me que, de futuro, irá enviar algumas mensagens à senhora, quem sabe ela irá encontrar paz e segurança em Jesus.

Que oportunidades vamos aproveitar hoje?

Rute Lopes

Serve a Deus, com o seu marido, Pr. Samuel Lopes, na igreja em Vila Chã

O caminho para a liberdade financeira

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Há muito que a escravidão foi abolida. Contudo, há uma escravidão oculta que aflige muitas famílias: a escravidão financeira. De facto, as estatísticas são alarmantes. As finanças têm impactado os nossos relacionamentos e a nossa saúde física e mental. Com tristeza, vemos cada vez mais famílias em stress financeiro e isso tem resultado em mais conflitos, divórcios e doenças.

É possível alcançarmos a liberdade financeira? Sim, há esperança. No entanto, primeiro precisamos entender o que é a liberdade e o que é a escravidão.  Um escravo não tem escolha na gestão dos seus bens. Ele trabalha apenas para sobreviver e para pagar os seus credores. No século XXI, o escravo é aquele que o seu salário já está destinado e não tem qualquer liberdade de escolha. Não tem oportunidade para usufruir e partilhar os seus bens com outras pessoas e não consegue poupar para os seus sonhos e objetivos. Acima de tudo, o escravo vive com medo dos dias de crise. A liberdade é o oposto. Quando somos livres financeiramente podemos tomar decisões financeiras sobre o nosso orçamento, sentimos paz em situações de emergência, podemos usufruir da alegria de dar e ainda definimos objetivos importantes para o nosso dinheiro. A liberdade financeira traz acima de tudo paz.

Como posso alcançar a liberdade financeira?

Há milhares de anos foi escrito um livro que contém tudo o que necessitamos para as nossas finanças pessoais: a Bíblia. Deus sempre esteve interessado na nossa vida financeira e o Seu desejo sempre foi que fossemos livres. Não fomos criados para sermos escravos e por isso, na Bíblia, encontramos muitos princípios financeiros para que vivamos uma vida financeira próspera. Buscar a liberdade financeira é fundamental e é um processo de aprendizagem para todos. Com toda a certeza, precisamos assumir o comando e o domínio sobre o dinheiro para que ele não se torne senhor e nos escravize. A questão é se dominamos ou se somos dominados.

Quais são os princípios bíblicos essenciais para ser livre?

  • Antes de mais, estabeleça um orçamento. À primeira vista, pode parecer algo limitativo ou trabalhoso mas é o oposto. Um orçamento provê informação e permite a liberdade de dizermos ao nosso dinheiro para onde ele deve ir. Jesus instruiu os seus discípulos a fazer um orçamento. (Lucas 14:28). Se não investirmos tempo em gerir o nosso dinheiro, depois vamos ter que descobrir para onde ele foi.
  • Viva com uma margem. A regra central para a liberdade financeira é gastarmos menos do que ganhamos. Abdicar de consumir no presente é um desafio mas produz frutos preciosos. Em Provérbios 21:20, o rei Salomão equipara a poupança a um ato de sabedoria. Uma margem produz menos ansiedade e mais paz.
  • Construa um fundo de emergência para estar preparado para os momentos difíceis. A nossa vida financeira é cíclica. José, governador do Egito, demonstrou sabedoria quando acumulou mantimentos nos dias de prosperidade para os dias de crise. Tenha uma visão de longo prazo e desenvolva o hábito de planear.
  • Não acumule dívidas. A Bíblia considera a dívida uma forma de escravidão. (Provérbios 22:7). Ela tem destruído famílias e tem tirado a paz de muitos. Quanto mais dívidas e prestações acumulamos, menos liberdade temos para gerir o nosso dinheiro. Portanto, viva dentro das suas possibilidades pois a paz vale mais do que qualquer bem temporário.
  • Desenvolva o contentamento, a gratidão e a generosidade. Estes pilares vão manter o nosso coração no foco certo. Quanto mais olhamos para as necessidades dos outros e somos gratos pelas bênçãos que já recebemos, menos vamos desejar o que não temos. O descontentamento precisa ser travado para que possamos usufruir livremente daquilo que nos é dado e também encontrar a satisfação nas nossas finanças.

Para finalizar, é crucial recordar o princípio central da nossa vida financeira: Deus é o dono de tudo e nós somos seus administradores. Recebemos a responsabilidade de gerir todos os recursos terrenos e precisamos procurar fazê-lo com excelência. O objetivo de termos liberdade financeira não é adquirirmos tudo o que queremos, pois isso iria levar-nos a uma espiral infinita de descontentamento e, em última instância, à falência. O objetivo é sermos livres para podermos servir melhor a Deus, cuidar da nossa família e estender a mão ao nosso próximo. O segredo está na ação e nunca é tarde para começar o caminho.

Se deseja aprender mais sobre finanças bíblicas, consulte o site www.gpsfinanceiro.com

Ana Bessa

Economista e fundadora do projeto GPS financeiro.

O quadro

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Há largos anos, nos Açores, recebemos em nossa casa, num verão, dois amigos vindos de Barcelona. Foi um bom convívio.

Já em casa, reformados, fomos nós a Barcelona a convite deles – cinco dias fantásticos.

Não tenho jeito para desenhar, pintar, daí que gosto de apreciar o que não sei fazer.

Todas as manhãs daquele verão de agosto, um dos nossos amigos armava o cavalete e demais acessórios no espaço exterior da casa e todos os dias eu ia tentar perceber o avanço da obra que ele tinha em mente. Uma pincelada aqui e outra além, mantinha o segredo do artista.

Uma manhã, abri a porta e fiquei maravilhada. O pintor acordara cedo e partiu para os acabamentos, pensava eu. Uma cordilheira como fundo, um casario no sopé da mesma e árvores frondosas, mostraram-me um cenário maravilhoso.

No dia seguinte, lá estava ele de novo e perguntei: Então, ainda não está pronto? A mim, parecia-me que sim. Respondeu: “Os retoques são importantes e ontem não estavam cá.”

No tempo aprazado, os amigos partiram para a sua terra, mas o quadro ficou, como uma oferta fantástica.

Também é assim que Deus faz: vai desenhando a nossa vida não de uma forma abstrata, embora muitas vezes não entendamos os traços. Se deixarmos, Ele vai trazendo luz e cor para um propósito só Dele. Essa pintura, pode parecer ao princípio um “borrão” até que apareça algo bem definido e agradável.

Eu sinto que continuo a ser retocada, espero continuar a ser até ao dia em que me chamar para Si e aí, sim, a obra ficará completa nas mãos do grande Autor da Vida.

“Na verdade, toda a correção ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça, nos exercitados por ela.” (Hebreus 12:11)

Carlota Roque

Missionária aposentada

CUIDAR DOS QUE CUIDAM

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Quando penso neste tema penso, inevitavelmente, no cuidado que Deus teve para com as pessoas que cuidam na Bíblia.

Lembro a história de Noemi, que cuidou dos seus filhos e do seu marido, e, num país estrangeiro, onde tinha procurado o pão, a felicidade, a paz… perdeu os seus amados. Com grande amargura na sua alma quis voltar para a sua terra Natal, Belém a terra do pão. Noemi, perdera os seus amados, mas não perdeu o amor nem a misericórdia de Deus. Nunca perdemos. Ela, que tinha cuidado de tantos, agora chegara a vez de Deus cuidar dela. Deus colocou então no coração da sua nora, a moabita Rute, uma estrangeira, cuidar dela. “O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus”. Acompanhou-a então por 80 km até uma terra que nunca conhecera. Rute, apesar de não ter crescido nas verdades do Deus de Israel, colocou em prática uma (ou mais) leis espirituais: Semear para colher, cuidar para ser cuidado, cuidar dos mais vulneráveis e experimentar o cuidado de Deus. Foi então que Rute, conheceu a maior transformação da sua vida. Cuidando da sua sogra, sem qualquer esperança de futuro, buscando alimentos para ela, ela própria foi cuidada por Deus, encontrando o amor da sua vida, Boaz, um terno e expressivo exemplo de Cristo.

Lembro também a tragédia da viúva de Naim. Em Lucas 7 diz que Jesus se moveu de íntima compaixão por ela. Pense nesta frase: nos últimos tempos, tem olhado para alguém e isso fá-lo mover-se de íntima compaixão, por essa pessoa? No seu interior, surge um desejo profundo de cuidar, de restaurar? Era isso que movia Jesus, e é isso que nos deve mover.

Jesus sabia que, para esta mulher, perder o marido, perder o único filho, significaria no futuro uma profunda carência emocional, financeira e social. Sujeita a descriminações, e sem suporte familiar, haveria pouca esperança para a mulher, além de viver na miséria. Mas Deus cuida dos que cuidam, e restituiu-lhe à vida o seu amparo, como um abraço do alto que revigora a alma.

A Viúva de Sarepta é mais um episódio que nos mostra o cuidado de Deus para com os que cuidam. Numa altura de fome, esta mulher e o seu filho só tinham um pouco de farinha e azeite. O profeta Elias desafia-a a fazer primeiro um bolo para ele, dizendo que depois, nunca haveria de se acabar o alimento para ela e seu filho. Porque haveria ela de acreditar? No entanto, sem qualquer outra esperança onde se agarrar, a viúva de Sarepta optou pela obediência, em vez da desconfiança. Cuidou do homem de Deus, do profeta, e Deus cuidou dela e do seu filho, durante aquele tempo de escassez, nunca lhes faltando alimentos.

Por última, quero referir a viúva dos filhos dos profetas, um episódio que se passou com o profeta Eliseu. A mulher ficara viúva, e o marido, havia deixado dívidas. Os credores queriam levar-lhe os filhos como escravos, deixando-a sem nada. Mas, mais uma vez o cuidado de Deus para com esta mulher que cuidou do seu marido e filhos, foi evidente e milagroso. O profeta disse-lhe que procurasse junto dos seus amigos e vizinhos tantas vasilhas quantas pudesse, pois o pouco azeite que ela tinha, iria ser suficiente para encher todas elas, pagar as dívidas e servir de sustento para os seus dias.

Vamos orar:

Senhor,

Ajuda-me a sempre ser cuidadora dos que estão ao meu redor. A ter especial atenção aqueles que cuidam de crianças, de idosos, de portadores de deficiência, de doentes. Ajuda-me a ver o seu desgaste, o seu cansaço, as suas impossibilidades, as suas lágrimas escondidas, os seus anseios calados, e a ser, como os profetas de Deus foram, como Jesus foi, cuidador destes.

Ajuda-me também a crer que, cuidando eu dos que cuidam, tu cuidarás de mim. Se semear, tu me ajudarás a colher, se me faltar tu proverás, se não for suficiente, tu multiplicarás, em nome de Jesus e para Tua glória.  Amém.

Elsa Correia Pereira
Socióloga

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