“… casaram e foram felizes para todo o sempre…”
Este é a mensagem dos filmes infantis sobre princesas, que termina invariavelmente em casamento. E muitas vezes, esta é a ideia que algumas pessoas têm sobre casamento.
Infelizmente a realidade acaba por ser bem diferente. Porquê? Porque é que assistimos à diminuição dos casamentos na nossa sociedade? Porquê que muitas pessoas já não acreditam no casamento? As respostas a estas perguntas passam por, primeiro, percebermos o que é o casamento. De acordo com o dicionário da Porto Editora, casamento é o ato ou efeito de casar; é a união conjugal; é o matrimónio, que contempla dois aspetos: O Direito Civil e o Religioso.
No Direito Civil, casamento é um contrato civil livremente celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante plena comunhão de vida, segundo o qual se estabelecem direitos e deveres conjugais.
Na Religião católica é sacramento pelo qual um homem e uma mulher se ligam de forma perpétua, de acordo com as prescrições da Igreja
Para o cristão que se revê nos ensinamentos bíblicos, casamento é uma aliança que se estabelece numa cerimónia onde os vínculos matrimoniais entre um homem e uma mulher, são firmados e os ligam até que a morte os separe. O casamento pode-se resumir em três aspetos principais: a livre vontade dos próprios, o cumprimento dos rituais da cultura (na cultura portuguesa é a Conservatória, e/ou a igreja) e a consumação do ato através da relação sexual.
E é desta relação “até que a morte os separe” que eu quero falar. Uma boa parte das pessoas que casa, entra para a relação pensando “o meu cônjuge vai fazer-me feliz”! De acordo com a palavra de Deus, é responsabilidade do cônjuge estar atento às necessidades do outro e ser a resposta de Deus a essas necessidades. Mais do que procurar a felicidade em si mesma, é na entrega de um ao outro (o amor/amar) que a felicidade pode ser encontrada.
Muito raramente se está no casamento com o pensamento “eu vou fazer o meu cônjuge feliz”, Ou “Eu vou ser a resposta de Deus às suas necessidades.” Desta forma, cada um espera que seja o outro a fazê-lo feliz. O grande desafio é estar no casamento com o pensamento que devo fazer tudo o que está ao meu alcance para pensar mais no meu cônjuge do que em mim mesmo, isto de forma bíblica e saudável. Somos naturalmente egoístas e pensamos em nós em primeiro lugar, em vez de pensarmos no outro, por isso as relações tendem a ser difíceis e muito longe daquilo que Deus planejou e pensou.
Surge então a pergunta: Qual o propósito de Deus para o casamento?
Para um cristão que acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela dá a resposta. Após a criação de todas as coisas, narrada no livro de Gênesis, capítulos 1 e 2, Deus criou o homem e a mulher, Gênesis 1.26,27 “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”.
Mais adiante, em Gênesis 2:18 “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” E em Gênesis 2.21-24 “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Este foi o primeiro casamento, feito por Deus e testemunhado por toda a criação.
Juntos, os dois “uma só carne”, deviam frutificar, multiplicar-se e encher a terra, sujeitá-la e dominá-la. Juntos deviam também refletir a glória de Deus no seu relacionamento, porquanto foram criados à imagem e semelhança de Deus. Deviam mostrar a toda a criação, os atributos comunicáveis de Deus. Deus criou mais do que dois “Eus”, Ele criou um “NÓS”, um sere humano Macho e Fêmea, para comunicar os seus atributos, Amor, misericórdia, bondade, fidelidade, justiça, sabedoria, santidade, verdade, liberdade e paz.
Alem disso, cada um deles tinha uma tarefa específica: o homem era o provedor e o protetor do lar e a mulher era a auxiliador e cuidadora do lar. É verdade que nos dias em que vivemos, estas tarefas estão esbatidas, principalmente porque os dois trabalham e proveem para a família e os dois realizam tarefas domésticas. Isso quer dizer que o plano de Deus falhou? Não! Quer dizer apenas que, como são os dois “uma só carne “e estão a trabalhar para o mesmo objetivo, a relação deve priorizar o “NÓS”, e não o “EU”, a divisão das tarefes do lar deve ser consoante as habilidades e disponibilidades de cada um, bem como o sustento, fruto do trabalho individual, pertence ao NÓS e não a cada um dos “EUs”. Assim, as responsabilidades devem ser definidas previamente, em amor e respeitando às particularidades um do outro. Esta forma de estar no casamento em que priorizamos o “NÓS”, é uma mudança de mentalidade e uma compreensão mais ampla da vontade de Deus, diferente da que temos hoje. Essa mudança de pensamento, de postura e de atitude, faz TODA a diferença nos nossos casamentos.
Porque o egoísmo faz parte da natureza humana pecadora, a relação conjugal enfrenta vários desafios, tais como o conhecimento de nós mesmos, o conhecimento do outro, a expressão genuína dos sentimentos e emoções, a educação dos filhos, a gestão financeira e a vida sexual. Estes desafios, levados ao extremo, em vez de cooperarem para um relacionamento saudável e agradável, acabam por tornar os lares numa batalha campal feroz e cruel. Como ultrapassar isso? Devemos viver resignados ou fazer alguma coisa em contrário? É claro que devemos lutar, não nos devemos resignar, mas em vez de combatermos um contra o outro, devemos unir-nos, esforçar-nos e trabalharmos juntos contra tudo o que quer destruir a harmonia do casal e do lar.
Um outro desafio está relacionado com as diferenças anatómicas, fisiológicas e genéticas entre o homem e a mulher. Apesar de intelectualmente estarmos conscientes destas diferenças, na vivência do dia a dia, as mesmas tendem a ser ignoradas e acabam por separar os casais. Mas a ideia de Deus é que estas diferenças sejam para complementaridade, apoio e fortalecimento do casal. Os pontos fortes de um, complementam os pontos fracos do outro, e assim seguem numa relação de cumplicidade e parceria.
O casamento é o lugar perfeito criado por Deus para confrontar e expor o meu EU de forma a conduzi-lo a Cristo, à morte do “EU”, conforme diz a Bíblia. Sem a morte do “eu”, vivem na mesma casa dois “eus” competindo entre si, até que algum deles se anule ou se resigne, mas este não é o plano de Deus. O deixar crescer o “NÓS” no casamento vai de encontro ao plano divino. O “NÓS” trabalha para a satisfação mútua do casal e busca responder à vontade de Deus, às necessidades e aos anseios um do outro.
Sejam quais forem os desafios e as dificuldades que a vida vos traga no casamento, não desistam de vós mesmos, procurem ajuda!
Na medida em que ambos queiram, sejam humildes, honestos, submissos e obedientes a Deus, o Deus dos impossíveis, que teve a ideia do casamento, fará os milagres necessários para a restauração.
Genny Chaveiro Conferencista/palestrante sobre vida familiar Direção Aliança Evangélica Portuguesa, responsável pela “Assessoria de Mulheres”