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Em Todo o Tempo Ama o Amigo

Em Todo o Tempo Ama o Amigo

1280 853 Aliança Evangélica Portuguesa

Há amigos que são sol de pouca dura. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e a amizade que antes brilhava teima em ficar apagada. Muitas vezes, nem é devido a qualquer conflito, mas, simplesmente, por falta de ação. Ou seja, por falta de dedicação. Surgem os afazeres da vida, e a amizade fica pelo caminho.

No livro de Provérbios, encontramos o contrário: Em todo o tempo ama o amigo, e na altura da dificuldade aparece o irmão (Provérbios 17:17). Tanto na vizinhança como no emprego ou em qualquer outro quarteirão dentro da comunidade à nossa volta, conhecemos muitas pessoas. Passamos por elas no corredor ou na rua, trocamos cumprimentos calorosos, e pouco mais. Como é que essas pessoas passam de meros conhecidos a amigos? Como mantemos essa amizade? É fácil tomarmos um café com alguém, é fácil termos dois dedos de conversa, saboreando sorrisos partilhados. Mas é nos desafios da nossa vivência humana que encontramos e desenvolvemos amizades mais profundas.

Quando surge um problema na vida de alguém que nós conhecemos, aparecemos para ajudar, ou desaparecemos, desculpando-nos com aquela noção popular de que—amigos, amigos, negócios à parte? Evitamos a complicação, tornamo-nos calculosos e cautelosos, optando por não sujar as mãos para apoiar uma pessoa em necessidade.

Amigos, amigos,
Negócios à parte.
Não quero contigo
Perder a nossa arte,
De sermos amigos no bem e no mal,
Mas não faço contas—seria fatal.[i]

Um amigo verdadeiro aparece tanto nos dias bons como nos dias maus. Dar um beijinho é uma coisa. Dar a vida é outra. Jesus disse: Não existe amor maior do que dar a vida pelos seus amigos (João 15:13). Existem pessoas que não desfrutam de nenhum raio solar, cujas vidas estão aparentemente cobertas de nuvens carregadas. Precisam não de um conhecido que apenas acena e passa na rua, mas sim de um amigo que faz tudo por tudo para aliviar o seu sofrimento.

Lembremo-nos de um certo homem paralítico que vivia na zona onde Jesus estava a ensinar, conforme Lucas contou no 5º capítulo do seu evangelho. Multidões ajuntavam-se para o ouvir, na esperança também de observarem um dos seus milagres. Jesus iniciava o seu ministério, demonstrando o seu poder e a sua compaixão de uma maneira palpável, curando muitas pessoas das suas enfermidades. O paralítico queria aproximar-se também de Jesus. Os seus amigos queriam ver o seu desejo cumprido.

Porém, o lugar onde Jesus ensinava estava esgotadíssimo, tão cheio que não havia maneira de entrar. Os amigos do paralítico queriam ajudá-lo, mas foram parados por uma parede de gente. Era como tentar enfiar nos transportes públicos na hora de ponta, quando quase nem se consegue respirar. Poderiam ter desistido, com razão. Poderiam ter dito ao paralítico, “Olhe, hoje já não dá,” num tom resignado. “Fica para a próxima.”

Mas não foi isso que fizeram. Arriscaram as suas vidas, subindo ao telhado do edifício, exigindo o máximo dos seus músculos, criando um buraco entre as telhas, pelas suas próprias mãos. Qualquer um deles poderia ter caído, lesionando-se, ficando na mesma situação do paralítico. Arriscaram as suas próprias reputações, incomodando o dono do edifício com a sua engenheira espontânea ao desmantelarem o telhado. Espreitando desde lá de cima, viram o sítio onde Jesus estava a ensinar, e baixaram o paralítico dentro do buraco no telhado, deitado sobre a sua cama, até ao meio da multidão. Fizeram tudo que estava ao seu alcance. Tudo.

E Jesus, então, agiu, na sua tremenda graça e misericórdia. Vindo a sua fé, Jesus declarou que os seus pecados estavam perdoados, uma oferta de vida eterna que excedeu todas as expectativas do paralítico. Como uma confirmação disse ato, Jesus fortaleceu as pernas do paralítico, curando-o fisicamente por completo. O paralítico levantou-se, pegou na sua cama, e saiu pelos seus próprios pés, louvando a Deus abertamente. Nada disso teria acontecido se os seus amigos tivessem ignorado o dilema do paralítico. Se fossem sol de pouca dura. 

A decisão das pessoas que acompanhavam o paralítico de serem amigos verdadeiros, de entregarem as suas vidas para o seu bem, teve um impacto magnífico. Levaram-no até Jesus. Certamente, ao constatarem o resultado de todo o seu esforço, os corações dos amigos encheram-se de júbilo. Tinham acabado de partilhar não apenas um episódio na sua amizade, mas também um momento em que a Luz do Mundo brilhou em pleno. Foi uma experiência holística de amizade, juntando a faceta física, emocional e espiritual.

Quais são as pessoas ao nosso redor que precisam não apenas da nossa presença passageira, mas, mais ainda, da nossa devoção ativa? Não hesitemos. Em todo o tempo ama o amigo! O amor da amizade é sofredor, é generoso, é paciente. As nuvens passam, os amigos não. Os amigos perduram, trazendo o calor de um raio de sol tão persistente como suave.

Jesus, por sua parte, entregou-se a si mesmo para o nosso bem, morrendo em nosso lugar para nos conceder vida em pleno, vida eterna. Se Jesus fez isto por nós, nós também devemos amar, sendo amigos que amam com o amor de Deus, para que Ele seja louvado. Um dos meus poemas chama-se “Dar a Vida,” e este pequeno excerto representa o que é sermos amigos, no sentido mais profundo da palavra.

Mas entendi que há mais
Na vida sofrida,
E Jesus mostrou-me quais
Os prazeres da vida,
Pois dando o seu grande amor
É vida, e não há melhor.[ii]


[i] Ditados Populares & Sussurros Singulares, por Lisa Lynn Ericson, Helvetia Edições, 2023, p.45.

[ii] Simplicidade Vibrante: Pensamentos Poéticos de um Fado Feliz, 2ª Edição, por Lisa Lynn Ericson, Helvetia Edições, 2021, p.222-223.


Lisa Lynn Ericson

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