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Batem à porta. Quem será?

Batem à porta. Quem será?

1000 668 Aliança Evangélica Portuguesa

Tocavam à campainha da nossa casa com muita frequência. Eram os nossos amigos, os conhecidos e, tantas vezes, pessoas que precisavam de desabafar os seus problemas e ouvir conselhos e palavras de ânimo. No seu ministério pastoral os meus pais as recebiam, escutavam, conversavam, disponibilizavam o telefone, enfim, quantas vezes recebiam crianças enquanto os pais iam trabalhar, jovens que precisavam de tempo para arranjar casas onde ”servir” (como se dizia na época) e, até, recordo-me de uma idosa, sem abrigo que se recusava a tomar um bom banho…

Revisitando esse tempo guardado na memória, sinto saudades daquela casa.  Tinha um corredor comprido ladeado pelos vários quartos onde dormíamos aos pares (porque oito a dividir por dois dá quatro) mais o principal que era dos pais, quase sempre com um berço para mais um bebé que chegava à família. Ainda sinto o conforto daquele primeiro andar onde os anos passavam devagar, as férias da escola eram longas, os amigos entravam e saíam num corrupio para as brincadeiras, para estudarem connosco, e chegada a hora, lanchavam connosco. Havia sempre mais um prato na mesa para um deles ou para quem chegasse de improviso.

… Como era possível que, do pouco, ainda houvesse alguma coisa para partilhar além do carinho e compreensão para com vidas tão sofridas!

Nesta visita a tempos distantes e preciosos, recordo um fim de tarde, quase noite, em que alguém batia à porta da rua e tocava à campainha ao mesmo tempo, num sinal de aflição e desespero. Era uma senhora chorando copiosamente, com uma criança pela mão. Abraçou-se à minha mãe sob o olhar atento e preocupado do meu pai e foi encaminhada para uma sala para conversarem. Fechada a porta, ficámos sem saber de que perigo fugia.

Recordo que mãe e filha ficaram connosco. A senhora ajudava nas tarefas diárias, já não chorava e a pequenita entrou nas nossas brincadeiras. O que a trouxera ali “não era assunto para as crianças”. Houve telefonemas, cartas para lá e para cá…

Quanto tempo passou não sei, mas a nossa curiosidade teve parcial resposta quando, numa tarde igual a tantas outras para mim, a campainha voltou a tocar. “Quem será?” Foi o meu pai quem desceu as escadas para abrir a porta, enquanto o nervosismo da hóspede inesperada foi bem visível. Era o seu marido que a abraçou, em lágrimas, assim como à menina e foram encaminhados, sozinhos,  para a mesma sala onde ela estivera no dia da sua chegada. Quando saíram estavam reconciliados, partindo juntos entre abraços tranquilos e sorrisos felizes dos meus pais e o espanto, algo envergonhado, dos que por ali estávamos.

Batem à porta! Quem será?

Regresso ao presente e pergunto-me: quantas vezes batem à minha porta!  Quem será e do que necessita? De que forma escuto, abraço, ajudo?

Dirigindo a mesma pergunta aos leitores, será que disponibilizamos alguma parte do que somos e temos? Será que os nossos filhos, aqueles com quem convivemos, poderão voltar atrás no tempo e ter o testemunho da nossa partilha, do “amar o próximo como a nós mesmos”? Sobretudo, será que falamos aos desvalidos e sofridos sobre Alguém que deseja entrar nas suas vidas e nelas morar até à eternidade?

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” (Ap. 3:20)

Quem bate assim, com voz suave?

Jesus Cristo, o único Amigo sempre disponível, que quer sentar-se à nossa mesa, conversar e cear connosco, suavizando as nossas dores e secar as nossas lágrimas.

“… se … estiver atento à voz … e abrir a porta” …

Como será abençoadora a Sua entrada pela porta da nossa vida!

Lídia Pereira

Gestora de Recursos Humanos e Administrativos

Aposentada

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