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Mulheres

O Dia Internacional da Mulher é uma boa oportunidade para oferecer esperança e futuro

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Nova York, NY – 7 de março de 2022

 

No Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira, 8 de março, somos chamados a reconhecer e a apreciar a contribuição e o valor de mulheres e meninas, e a ser lembrados de quão longe ainda temos que ir até que possamos alcançar a igualdade.

As mulheres cristãs querem mostrar como a igualdade é uma verdade bíblica, bem como um bem social.

“A Igreja está prestando mais atenção às preocupações das mulheres, mas as mulheres nas igrejas dizem-me que estão exaustas emocional e fisicamente após dois anos de Covid. Elas desejam ter uma voz”, disse Amanda Jackson, que lidera a Comissão de Mulheres da Aliança Evangélica Mundial (WEA), que representa quase 500 milhões de mulheres em todo o mundo.

A Secretária Geral das igrejas evangélicas em Bangladesh, Pra Martha Das, sabe que as mulheres ainda enfrentam lutas no seu país e que o Dia Internacional da Mulher oferece uma oportunidade para falar sobre formas básicas de liberdade. “Até que todas as mulheres sejam tratadas como seres humanos criados à imagem de Deus, precisamos observar o Dia Internacional da Mulher”, comentou ela.

As mulheres podem efetivamente estender a mão para oferecer esperança a outras mulheres em situações vulneráveis. Fátima Oliva Roca, líder da Comissão de Mulheres da América Latina, destacou que o Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade de falar sobre assuntos do coração de Deus. “Ainda hoje existem mulheres que sofrem marginalização e abuso. A Bíblia exorta-nos a falar em nome dos sem voz e pelos direitos de todos os que são vulneráveis ​​(Provérbios 31:8).”

As Comissões de Mulheres na Ásia, Caraíbas e Europa estão focadas na comunidade. Muitas mulheres lideram respostas em questões que afetam mulheres e meninas, como pobreza, perseguição de género, tráfico e famílias em risco.

No ano passado, a Comissão de Mulheres conseguiu encorajar uma nova rede de especialistas cristãos para acabar com o abuso doméstico (CNEDA) que compartilha recursos e ideias práticas, bem como materiais bíblicos sobre relacionamentos saudáveis. A necessidade é grande. Apesar das leis de violência doméstica em muitos países e da crescente consciencialização pública, o abuso e violência continua em crescendo e 904 mulheres morrem todas as semanas nas mãos de ex-parceiros abusivos (números da ONU de 2020).

Jackson diz: “O Dia Internacional da Mulher é a oportunidade anual de celebrar as mulheres, que são a espinha dorsal das igrejas locais, e não apenas tomá-las como garantidas. Podemos reservar um tempo para reconhecer os dons das mulheres na Igreja e incentivá-las como professoras da Palavra, intercessoras, diretoras financeiras, mentoras e líderes de estudos bíblicos”.

Este ano, todas as igrejas em todo o mundo são incentivadas a adotar pontos de ação da “Chamada A Todos Os Cristãos” e a comprometerem-se com as iniciativas que vêm no final desse documento. O Bispo Dr Thomas Schirrmacher, Secretário Geral da WEA, diz: “A Chamada oferece esperança para as maneiras pelas quais a Igreja pode seguir o exemplo de Jesus na transformação dos relacionamentos entre homens e mulheres”.

Você pode encontrar a “Chamada A Todos Os Cristãos” em www.riseinstrength.net/the-call , ou fazendo o download aqui de Português do Brasil.

Escutar o nosso corpo

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Era uma sala confortável, acolhedora. Em torno das mesas redondas, decoradas com gosto, mulheres de diferentes idades ouviam-me atentamente, naquela tarde, enquanto partilhava com elas algumas ideias sobre o tema que me havia sido proposto.

Depois, foi altura de termos o anunciado chá com bolinhos. O dia estava frio e aquela bebida quente e aromática soube-me muito bem, acompanhada por uns biscoitos macios e saborosos, enquanto conversava com quem tinha ficado próximo de mim.

Passado pouco tempo, a minha respiração começou a ficar diferente. Sentia uma opressão desagradável, à entrada e à saída do ar, mas não desconhecida. Foi mais um momento que me veio lembrar que tenho asma e, por vezes, é assim que respiro.

Estava habituada a tentar manter a serenidade em alturas como esta, e foi o que fiz, evitando esforços que pudessem agravar a condição respiratória. Sentia-me desconfortável, mas a explicação que dava a mim própria era a mesma: tenho asma, é assim. Contudo, para além dessa aparente resignação, havia uma pergunta que, embora em voz sumida dentro de mim, parecia desejar fazer-se ouvir: “Sim, tenho asma, mas se eu estava bem, o que é que aconteceu, ou o que é que fiz, para ficar assim?”

Tínhamos combinado ir jantar em família, nessa noite, a um restaurante chinês. Mais tarde, fui com o meu marido e as nossas filhas, a pensar ainda que não iria comer muito mais. A verdade é que, na altura do jantar, a dificuldade em respirar já se tinha atenuado, e alimentei-me normalmente. Afinal, este não fora um episódio único. Recordava-me de certa vez, entre outras, ter feito um bolo de iogurte – receita fácil e saborosa, que resulta sempre bem. Comi uma fatia e, passado pouco tempo, a mesma dificuldade em respirar. Atenuava-se depois de feita a digestão, ao que parecia.

Para abreviar uma história um tanto longa, direi apenas que, depois de pesquisar e conhecer também relatos e intolerâncias ou alergias alimentares de amigas minhas, resolvi retirar o glúten da minha vida. Não havia sintomas da doença celíaca, mas havia outro problema de saúde e… Decidi por minha conta! A minha condição respiratória melhorou, claramente. Mais tarde, e a meu pedido, fiz testes cutâneos que trouxeram a confirmação: sou alérgica ao trigo. Por ruptura de stock, não foi possível avaliar em relação ao glúten, mas acho que já nem é preciso: está retirado da minha alimentação, há uns 7 anos.

Escutar o nosso corpo é uma oportunidade e um benefício individual, exclusivo. Ninguém o pode fazer por nós. Será uma referência preciosa para o médico que nos acompanha e poderá fazer toda a diferença. Por vezes, penso: há quanto tempo seria eu alérgica ao trigo, sem saber? Os testes cutâneos que realizara nunca haviam incluído este alimento. Entretanto, tenho lido mais sobre esta temática e sei que investigações  revelam que a grande maioria das alergias a alimentos incidem sobre estes oito:  leite, ovos, marisco, peixe, amendoins, frutos secos, cereais com glúten e soja. Sou alérgica também a todos estes? Não, mas sou a alguns desta lista, para além do glúten, e não entram no meu prato.

Desde então, já aconteceu o convite para outros “chás”, em que bebo apenas o chá, ou petisco alguma fruta, se houver. A estranheza que pode provocar em quem insiste para que coma um bolinho constituiu uma boa oportunidade de explicar porque não o faço e, quem sabe, despertar a necessária reflexão em alguém que também precise de alterar a sua alimentação. Afinal, antes eu também precisava e não sabia… Como me sinto grata às pessoas que Deus usou para me fazer parar, pensar e alterar a minha alimentação!

Neste ano, vamos ouvir o nosso corpo com atenção e desfrutar de mais saúde! Um abraço para todas.

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

Levantemo-nos e edifiquemos

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As imensas torres do World Trade Center, conhecidas como torres gémeas, desmoronaram-se como se de um castelo de cartas se tratasse. Eram torres imensas, preparadas até para muitos embates… Contudo, pequenos pormenores na tecnologia de ponta foram descurados e a tragédia aconteceu.

Dizem os entendidos que os embates poderiam ter causado vítimas, muitas, mas o desmoronar foi o maior assassino de tanta gente. Tudo porque ninguém se lembrou que, se uma aeronave embatesse no edifício, o combustível que a aeronave transporta iria provocar um sobreaquecimento enorme, que fez com que as proteções do calor nas vigas fossem deslocadas e arrastassem tudo atrás de si.

Lembra-me as nossas vidas, construídas com cuidado e afinco… Pensamos nós que nenhum pormenor foi descurado. Tal como as torres, o embate faz-nos vacilar, mas aquilo em que nós não pensámos nem ponderámos, pode fazer-nos tombar.

Um embate pode ser muita coisa: o falecimento de um ente querido, uma separação inesperada, uma condição de saúde grave, problemas com os filhos… Afinal, estava tudo bem, era um dia como outro qualquer… E tudo se desmoronou. O que levou anos a construir, é desfeito em pedacinhos, muitas vezes pequenos demais para “colar”.

Todavia, naquele chão “maldito” por muitos, ergueuse um memorial aos que partiram de uma forma tão injusta, e outras torres se construíram, de novo. Muitos dos que lá passam e moram, dizem que apesar de tudo novo, há uma ferida que não se esquece não só pelos nova iorquinos mas também pelo mundo. Como reconstruir num solo tão “queimado”, como reconstruir por cima de cinzas e lágrimas?

Talvez algumas de vós pensem nas vossas vidas assim… Como reedificar esta vida tão cheia de lágrimas e cinzas… Como reconstruir o que duvidamos se se manterá de pé?

Neemias pensou assim quando viu tudo caído… os muros da cidade… a proteção, o abrigo…tudo desaparecera. (Neemias 1,2) O que fez ele? Orou ao Deus que sempre o ouvira, clamou com uma tristeza de coração visível até ao rei (2:2) e Deus o ouviu. Foi esse Deus que amaciou o coração do rei para que Neemias levasse a cargo aquela grande tarefa. Deus providenciou a passagem com cartas do rei, Deus providenciou as pessoas certas para que o ajudassem, e Deus providenciou tudo o que era preciso para reconstruir. E, com fé, avançou: “O Deus dos céus é o que nos fará prosperar: e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos.” (Neemias 2:20)

As nossas vidas são muitas vezes como muralhas tombadas, como torres destruídas, mas são também o lugar onde Deus pode ordenar a bênção, onde Deus pode trocar as tuas cinzas por gozo, o lugar onde pode secar as tuas lágrimas.

Acham que alguma coisa é impossível ao nosso Deus? Eu também acho que não. “Para Deus todas as coisas são possíveis”. (Mateus 19:26)

Fiquem bem, minhas queridas.

Elisa Miguez

Responsável pela Associação Vida Abundante na Lousã

Acima da Covid

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“Boa tarde. É a mãe da Melissa?”

“Sim, sou.”

No écran rectangular do telemóvel vejo o rosto de uma enfermeira, coberto por uma máscara, uma viseira e uma touca. Entendo logo que é do Hospital onde a nossa filha mais nova está internada.

Ali fomos numa madrugada, dias antes, porque ela tinha tosse, febre, um nível  baixo de oxigénio… Entrou nas Urgências e ficámos no carro a aguardar ali mesmo em frente, no parque de estacionamento que se foi esvaziando com o correr da noite, nunca imaginando o que viria a seguir. Acabou por ficar internada.

Dois dias depois, chega o telefonema rápido dela, numa voz ansiosa: “Mãe, vou ser ligada ao ventilador. Avisem o meu marido, amo-vos muito…” Foi angustiante, demolidor.

Os dias passaram-se, entretanto, lentos, pesados e dolorosos. ” O estado dela ainda é crítico mas está a evoluir favoravelmente.” As palavras dos médicos que Deus usou foram-nos sustentando o ânimo. Dias depois, chegou a grande notícia: Já foi tirada do ventilador! E agora chegava este contacto, pelo Whatsapp.

“Quer vê-la e falar com ela?” Perguntou a enfermeira. “Sim, claro!” respondo, ainda a refazer-me da surpresa. Sim, a Melissa já fora retirada do ventilador, onde estivera em coma induzido durante uns dias, a lutar pela vida. E agora poderíamos vê-la.

O aparelho de ventilação não invasiva deixa a descoberto um pouco do seu rosto. Contudo, os olhinhos focam-se em nós, e comovem-se. Não pode falar devido ao aparelho, nem conseguiria ainda, sabemos. Contudo, vê-la e dizer-lhe que a amamos enche a nossa alma e a dela.

Passaram-se mais uns dias. Finalmente saiu da Unidade de Cuidados Intensivos e passou para a Enfermaria. Agora já é ela própria a ligar o Whatsapp e a falar comigo. “Mãe, como estão? Estive entre a vida e a morte. Temos que nos proteger muito deste vírus. A vida é tão preciosa!”

Bebo cada palavra que diz. O seu sorriso, num rosto agora mais magro, ilumina-me e aquece-me como um raio de sol.  Está grávida de 7 meses e assegura-nos: “Vieram fazer mais uma ecografia. A bebé está bem!” Tinham-nos falado de uma cesariana de urgência que, graças a Deus, não chegou a acontecer.

A gratidão a Deus, aos muitos familiares e amigos que oraram, aos médicos e enfermeiros que deram o seu melhor para a ajudar, é infinita, muito maior do que é possível expressar…

“Mãe, podes trazer-me uns pastéis de nata, uns pães de leite… O médico disse que o meu açúcar está baixo e precisa de subir…” A médica já me informara que essa era agora uma preocupação. “Sim, vamos levar… Queres que levemos também frango assado? A médica disse que podemos levar um prato que tu gostes…” “Sim!” O seu apetite delicia-nos. Há-de recuperar o peso perdido, a mobilidade, as forças…

Já teve uma única visita permitida, do marido. Choram emocionados ao ver-se, de novo. O filho, de 2 anos e meio, aguarda em casa o seu beijo e o seu abraço, e diz que “a mãe tem dói-dói e foi ao médico.” Um dia conhecerá a história do vale profundo de onde o Senhor a salvou.

“No mundo terei aflições…” (João 16:33) Este foi um aviso de Jesus. Muitos anos antes, o salmista já concluíra que: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas.” (Salmo 34:19).

Agradecemos ao Senhor este grande livramento, que nos ofereceu no seu imenso poder, muito acima do Covid!  Vimos a vida da nossa filha em “situação periclitante”, como nos foi dito, abalada por um vírus que tem espalhado doença e morte por todo o mundo, e vimos também sair de lá gradualmente, dia após dia. Muitas orações subiram diante de Deus, em seu favor e da nossa pequenina neta que ainda não nasceu, de um verdadeiro exército de intercessão em diversos países. Orações de familiares, de amigos e de muitas pessoas que nem conhecemos. A nossa imensa gratidão a todos!

“Sim, grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso, estamos alegres!” (Salmo 126:2)

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

A graça comum

956 637 Aliança Evangélica Portuguesa

Há dias, nas minhas leituras bíblicas diárias, cruzei-me, num comentário bíblico, com este conceito: “graça comum”. Neste momento estou a ler a paráfrase da Bíblia “A Mensagem” e Eugene Peterson, o autor, apresenta este conceito.

A verdade é que vivemos numa era de eventos, de grandes acontecimentos, da visibilidade, das celebridades, do impacto, do relevante, do grande, do heróico.

Esta cultura da imagem, do visual e do visível, para alguns sociólogos, surgiu com a emergência das cidades, na era pós-moderna, a que alguns chamam cidades-espetáculo. A beleza destas cidades já não vem dos detalhados edifícios esculpidos a cinzel, mas das luzes, da cor, do néon, que enche os olhos e cria espaços novos nos quais circulam as pessoas anónimas, parte da multidão citadina.

Parece um contrassenso – na cidade onde o espetacular é destacado, as pessoas tornam-se anónimas, a não ser que, consigam elas própria, também grande destaque pela realização de algo espetacular.

Na Bíblia, conhecemos uma série de pessoas que se destacam. Aliás, a própria Bíblia diz que “em Deus, faremos proezas” Salmos 60:12, portanto, nada contra o destaque, a influencia, o heroísmo.  Sim, há personagens bíblicos que são autênticos heróis – a sua fé e confiança em Deus levaram-nos a feitos incríveis e ficaram famosos. A sua fama dura até hoje, milhares de anos depois. Aliás, temos até um capítulo da Bíblia chamado o capítulo dos “heróis da fé” (Hebreus 11). Ter um filho aos 90 ou 100 anos, não é para todos, estar numa cova de leões e sobreviver também não, ser engolido por uma baleia e ter uma segunda oportunidade, não é, de todo, para qualquer um, nem sequer matar um gigante com uma pedrinha de riacho. O próprio Jesus nos encorajou “Digo a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.” (João 14:12). Coisas maiores do que Jesus fez, coisas maiores do que ressuscitar Lázaro, morto há 4 dias? Uau! Eu quero! Alguém mais quer?

Mas, paralelamente a estes nossos irmãos heróis, lemos também os exemplos, tão importantes, usados por Deus, nos detalhes, na vida do dia a dia, alguns dos quais, nem o nome conhecemos, e que são ilustração para nós da tal, graça comum. Eugene Peterson, faz uma pergunta relevante: porque são eles incluídos na narrativa bíblica? A resposta que ele apresenta é: Precisamos de alguém que não seja excecional na história. Se enfatizamos demais os aspetos excecionais da vida cristã, daremos desculpas a vida inteira de não vivermos segundo esses mesmos aspetos. As mínimas coisas são tão essenciais quanto as grandes realizações. A graça comum manifesta-se nas tarefas diárias da vida pelas pessoas e com elas. É um dom de Deus que faz que isso seja possível A graça comum é a cola que une as horas do dia que as pessoas passam juntas. A graça comum não produz feitos heroicos, ela simplesmente providencia a força e o amor que lava os pratos, que faz que um vizinho desagradável seja tratado com gentileza, que suporta a dor que não tem alívio, que ora cem cessar, mesmo sem ter visões, que serve sem desejar reconhecimento, que faz o que é simples.

Na Bíblia, vejo a graça comum, entre muitos outros exemplos, no estalajadeiro que terá oferecido a estrebaria para Jesus nascer (Lucas 2:7), no homem que terá emprestado o jumento para Jesus entrar em Jerusalém (Mateus 21), na menina israelita, que sabia que Deus poderia curar Naamã (II Reis 5), na força apaziguadora de Abigail (I Samuel 25).

Neste fim de ano, reflete um pouco onde podes encontrar esta graça comum na tua vida: na pessoa que confeciona as refeições, e consegue unir a família à volta de uma mesa, na colega que oferece os bombons, no avô que cuida da horta e oferece os frutos, no padeiro que oferece  o pão que sobra aos mais carenciados.

E tu? Na vida de quem podes ser graça comum? Podes cantar uma música à janela, daquela vizinha que vive sozinha, podes oferecer alimentos à família que tem falta deles, podes convidar para a tua ceia de Natal aquele migrante que não tem ninguém, podes dizer “bom dia” ao casal que mora ao lado, e as demais ocasiões onde podes ser graça comum, tu saberás.

Para terminar, desejo-vos um ano de 2022 cheio de grandes realizações, mas que os próximos 365 dias sejam também e principalmente cheios de graça comum, daqueles feitos pequenos, que tornam os dias mais doces, as horas mais felizes, que oferecem sentido e aconchego ao quotidiano, que nos tornam, a todos, mais humanos, e ao mesmo tempo, portadores do favor divino que é a Graça que há em Jesus – para os grandes milagres e para as pequenas coisas. Felicíssimo 2022!

Elsa Correia Pereira

Socióloga

O número do Natal

960 702 Aliança Evangélica Portuguesa

Recordo-me bem da altura em que aprendi a escrever o número 1. Foi o meu pai que me ensinou, teria eu uns 4 ou 5 anos. Ele escrevia-o lentamente, fazendo deslizar o lápis, enquanto dizia, com carinho: “É assim, filha: para cima e para baixo”. Depois era a minha vez de escrever e, pela minha idade, eu escrevia-o “em espelho”. Com paciência, ele exemplificava de novo…

Este foi o primeiro número que aprendi a escrever como, provavelmente, sucedeu com todos nós. E, hoje, venho propôr-vos uma reflexão rápida sobre este número, o 1.

Topo

Em diversos contextos, assume-se como o mais importante, atribuído àquele que está ou chegou em primeiro lugar. Sim, foi o que conseguiu alcançar a meta ou o topo antes de qualquer outro. E representa a vitória, em alguns casos a medalha de ouro. O melhor aluno, o melhor vendedor, o atleta mais veloz, o profissional mais competente, o cargo mais elevado de uma instituição…

Desalento

Contudo, também é comum o número 1 expressar desânimo.

Quantos clientes tens? 1

Quantos quadros já pintaste? 1

Quantos alunos são? 1

Quantos seguidores tens na rede social? 1

Quantos produtos já vendeste? 1

A motivação fragiliza-se perante este número pequeno e pode ditar o fim de um projecto que se desejava bem-sucedido.

Ponto de partida

A verdade é que também pode representar um ponto de partida, um começo. Todo o grande empreendimento se iniciou exactamente por aí, por 1. A inscrição do primeiro participante, o primeiro cliente, a primeira encomenda, o primeiro trabalho concluído, o primeiro artigo, a primeira música que se compõe… Um passo, um degrau, no início de cada percurso.

Assim, será interessante pararmos para pensar em algum 1 que esteja presente na nossa vida. Pode significar o topo, a escassez ou, quem sabe, um ponto de partida. Contudo, ainda há um outro significado precioso, referido por Jesus…

Unidade

Na sua oração ao Pai, Jesus expressa um anseio: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21)

Como cristãos, somos chamados a ser 1. Aqui torna-se um número difícil, elevado, exigente. Chegar lá, constitui-se como um alvo, um desafio diário, uma arte ditada pelo amor… Na diversidade que somos, na singularidade que nos define individualmente, ser um significa exercitar o respeito pelas diferenças, o acolhimento, a complementaridade, o apreço pelo outro e a paixão por servi-lo.

Precisamos de lembrar este desígnio divino para nós como cristãos, sobretudo quando não concordamos, tomamos decisões diferentes, divergimos na forma de ver, de pensar. Neste tempo em que a solidão se tem ampliado de uma forma preocupante, numa forma mais dispersa de viver, descrita em detalhe no livro recente “O Século da Solidão”, de Noreena Hertz, com referências de inúmeros estudos que demonstram o evidente impacto na nossa saúde física e emocional, a proximidade e a intimidade como comunidade cristã precisam de ser intencionalmente procuradas e desenvolvidas. Não permitamos que a aridez dos dias ou as divergências naturais de opinião e decisão entre nós nos dividam e enfraqueçam.

O nosso número

Este Natal pode ser mais uma oportunidade de cultivar o sentido de unidade que tanto agrada a Deus. Vamos fazer do 1 o nosso número. Levantemo-nos num sentido de urgência e de entreajuda, como se fôssemos um só. Será possível? Sim, é. Aconteceu no tempo de Esdras: “Então se levantou Jesuá, seus filhos, e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os filhos de Judá, como um só homem, para dirigirem os que faziam a obra na casa de Deus.” (Esdras 3:9).

Jesus disse que será assim que o mundo irá crer! (João 17:21).

Para todos, votos de um Natal unido e abençoado!

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

Ter mais uma filha… Que tal?

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Estaciono o carro junto àquele edifício de cor branca. Dentro de mim antecipo já o bem-estar que ali me será proporcionado.

Marquei o tratamento para as 10 horas e ali estou, a tempo. Entro, e deixo-me envolver pelo ar fresco do ar condicionado, que alivia o calor forte desta zona do Texas.

Ela vem ao meu encontro, com o seu sorriso habitual. O cabelo liso e negro emoldura-lhe o rosto de traços orientais.

Conhecemo-nos há meses atrás e temos conversado muitas vezes, enquanto ela me trata os pés cuidadosa e carinhosamente. É natural do Vietname. Longe do seu povo, da sua cultura, trabalha aqui nos Estados Unidos há alguns anos. Cada pé merece, das suas mãos hábeis, todo o cuidado, num dia-a-dia muito preenchido.

E hoje, assim sucederá. Sento-me confortavelmente numa cadeira de assento macio. Os meus pés são mergulhados numa bacia de água morna. Os cantos das unhas são cortados meticulosamente, sem que aconteça o descuido de algum golpe.

Entretanto, vamos conversando, como já é costume. Acompanho as vivências que decide partilhar comigo e eu dou-lhe a conhecer aspectos da minha vida. E ali tem crescido uma amizade.

As asperezas e calosidades são removidas dos pés, uma a uma. Sei que no dia seguinte, quarta-feira, será a sua folga, como sempre. Recomendo-lhe que tire tempo para descansar. Precisa de equilibrar as tarefas com o devido repouso, para não entrar em exaustão. Afinal, uma vela não deve queimar-se dos dois lados.

No fim, os pés são massajados com uma loção de aroma agradável. Ficaram “como novos”. Irão voltar aos sapatos num conforto muito maior. Caminharei de volta para o carro como se andasse sobre nuvens!

Olha-me, com o sorriso afável de sempre, e surpreende-me com um pedido: “Sabe, a minha mãe vive tão longe, no Vietname… A Carmina pode ser a minha mãe aqui?”

Olha-a, com emoção. Percebo que, no meio de tantas conversas entre nós, viu em mim a solicitude ou o carinho de uma mãe. “Sim, claro que posso!”

Acredito que Deus pode ampliar o nosso colo para que receba mais filhos do que aqueles que demos à luz. Eu tive cinco filhos mas Ele tem-me dado outros para amar e cuidar porque, afinal, existem diferentes formas de ser pai e de ser mãe.

E vêm-me à mente um momento da vida de Jesus aqui na terra, quando estava crucificado: “Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.” (João 19:26, 27)

Em apenas duas frases, Jesus criou uma filiação nova: Maria, sua mãe, passou a ser também mãe daquele discípulo, que a recebeu em casa nesse mesmo dia, como um filho.

Hoje, Deus chama-nos a partilhar o Seu amor com o nosso próximo em cada oportunidade e, nessa disponibilidade para apoiar e proteger, poderemos ser para alguém como um pai ou uma mãe. Vamos ficar atentos e disponíveis!

Assim ganhei uma filha vietnamita e sinto-me privilegiada por isso. Deus cruzou os nossos caminhos e, por isso, quero continuar a ser para ela expressão do Seu amor, em cada vez que trato dos meus pés.

(Este artigo, da autoria da minha mãe, foi publicado na revista Mulher Criativa há anos atrás. Hoje disponibilizo-o aqui, pois sei que ela gostaria que fosse, de novo, inspiração para quem leia. Carmina foi uma mulher sempre pronta a servir a Deus, servindo os outros, uma mãe para muitos, e esta é uma homenagem mais do que merecida, na fase terminal da sua vida em que agora se encontra). Bertina Coias Tomé

Carmina Coias
Missionária Aposentada

Não foi por acaso

960 709 Aliança Evangélica Portuguesa

Eram 12.30h e, à janela do escritório, eu vi um carro a parar em cima do passeio, junto ao portão do meu local de trabalho. Do banco da frente, saiu uma mulher ainda nova, na casa dos 30 e poucos anos, a chorar e, cambaleando, sentou-se no chão, encostada ao muro.

Logo de seguida, a correr também, saiu uma senhora da parte de trás que logo se ajoelhou junto da primeira, e do banco do volante um senhor que rapidamente se aproximou das duas. De imediato pensei, “Vou descer e perguntar se precisam de ajuda”, e assim fiz.

O sol daquele mês de Maio estava a queimar àquela hora e ao chegar perto perguntei se queriam um pouco de água ou algo que eu pudesse fazer para ajudar. Disseram-me, “Não, obrigada”. Insisti para virem para a sombra, mais para dentro de casa. Foi quando a senhora mais velha se voltou para mim e disse a chorar, “Esta é a minha filha e acabou agora de saber que tem um cancro na mama.”

Naquela altura não sei explicar o que senti, identifiquei-me logo com a filha em questão e uma compaixão inundou toda a minha alma. Tinha passado pela mesma situação cerca de 2 anos antes. Abaixei-me e, olhos nos olhos, perguntei-lhe o nome e pude dizer, ”Minha querida sei o que está a sentir… Já estive aí… Também chorei o que está a chorar… Também disse que não via mais os meus filhos crescer. Enfim, pensei que ia morrer. Não posso fazer nada por si nessa área mas conheço alguém que pode, e esse alguém me surpreendeu um dia. Chama-se Deus e Ele pode todas as coisas. Ele a ama muito ao ponto de entregar o Seu Filho para morrer por si; o Seu desejo é salvar a sua alma. Busque-O de todo o seu coração e de toda a sua alma e Ele vai revelar-se à sua vida e ajudá-la… Posso fazer uma oração por si?”

Com os olhos esbugalhados e, parando de soluçar, esta senhora aceitou, e pude então orar por ela. Foi uma bênção tal que o marido disse, olhando para mim: ”Estou a ver que não foi por acaso que parámos aqui!” E eu respondi que não há acasos na vida dos filhos de Deus mas sim propósito.

Fiquei com o contacto telefónico dela e fomos trocando mensagens durante todo o processo de tratamentos e cirurgia. Ficámos amigas desde então e Deus foi com ela de tal maneira que tudo correu bem com a cirurgia, com a quimio, com a reconstrução do peito, e ela ainda hoje diz não entender como é que eu, sem a conhecer de lado algum, pude dar-lhe o que lhe dei naquele dia: Esperança! A Deus seja a Glória!

Quando penso naquele dia, sinto uma gratidão imensa e uma lágrima ou outra teima em rolar ao ver o Amor do nosso Deus. Eu tinha de estar à janela àquela hora! Aquele carro tinha de parar naquele sítio da avenida… E tinha de haver alguém com o mesmo problema de saúde pelo qual eu tinha passado e que precisava de uma palavra de consolo e esperança.

Muitas vezes, durante a prova nada entendemos. Por vezes só mais tarde entendemos o propósito. Se foi só por isto já valeu a pena. Minhas amadas não sou mais do que vós, dou este testemunho para louvarmos a Deus e para vos dizer que vale a pena falarmos deste maravilhoso Deus e sermos a Sua voz, os Seus pés e as Suas mãos enquanto aqui andamos. Sejamos sal e sejamos luz nestes dias. Deus seja louvado!

Ana Cristina Santos

Escriturária

Escrever – uma oportunidade de servir

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Foi no início do confinamento que Deus me impulsionou de forma que, nem eu própria acreditaria. Muitos me perguntaram porque escrevi um livro durante a pandemia. Outros, que até me conhecem há algum tempo, ficaram surpresos quando me viram a lançar um livro.

Pois bem, como tudo começou? Acredito que Deus trabalhou comigo para que eu acreditasse ser possível escrever um livro. Na minha adolescência, foi na escrita que encontrei escape. Muitas vezes, sentindo-me sozinha no meu quarto, escrevia. Escrevi poemas e comecei a lê-los na igreja. Na época, eu não tinha acesso a livros, a bibliotecas e a todo esse mundo literário.

Os anos passaram e o gosto pela escrita esteve adormecido mas nunca esquecido, não por vontade própria mas porque o cuidado com filhos, casa, trabalho, igreja e estudos não o permitiam. Digo estudos porque cedo saí da escola para ajudar a levar dinheiro para casa. E foi na fase adulta que terminei os estudos. Nessa fase, Deus revelou-me o dom mais ativamente. O primeiro exame na universidade foi lido em voz alta pelo professor, como sendo a forma correta de resposta a uma única pergunta. Todos ficaram curiosos sobre quem tinha escrito daquela forma. Eu só queria ter um sítio para me esconder.

Mais tarde, decidi criar uma página de escrita a fim de partilhar alguns textos que eu ia escrevendo (Escrever porquê – Facebook). Participei no livro «Ser Mulher» e em revistas cristãs.

O meu primeiro livro a solo vai na segunda edição e para mim é um milagre de Deus, pois como pude escrever eu todo o roteiro da história numa só semana? Foi Ele que me deu a história da menina que não gostava do seu nome. Há adolescentes que apresentaram o livro na escola. Uma delas disse-me a ajudou na sua autoestima. Há crianças que dizem que as ajudou a ter imaginação e criatividade. Há adultos e idosos que se identificaram com a história.

Acredito que muitas podem ser as estratégias para levarmos a mensagem cristã aos outros. Acredito que todas as pessoas têm áreas fortes que carecem de ser desenvolvidas, senão veja-se a conhecida parábola dos talentos (as contas de Deus não são a multiplicar?). No outro dia eu disse a uma pessoa: «Faça Deus conhecido através do seu bolo». E, se a escrita foi um dos talentos que Deus colocou na minha mão, o que faço eu com ele? Tenho o apoio do meu marido para poder fazer este trabalho, pois sem editora por detrás torna-se tudo mais difícil. E tenho um objetivo ao trabalhar desta forma: ajudar projetos através da venda dos livros. E para tal, uma marca implícita, a da solidariedade.

Em breve, se Deus permitir, farei novo lançamento de uma história mais infantil, visto a anterior ter sido para adolescentes, famílias e professores. Uma história que desenvolvi há uns anos mediante um teatro de sombras, com turmas de primeiro ciclo, que alertava para a obediência aos pais. O Zezé desta história é um menino que gosta de aventuras e gosta muito de ‘pisar o risco’. Gosta de chocolate e de o conseguir, nem que tenha que mentir. Uma personagem vai fazer-lhe crer em mais mentiras. Os seus pais vão ajudá-lo a compreender que as atitudes podem ter consequências para si ou para os outros. Cuidar do nosso corpo não será deveras importante, tendo uma alimentação saudável e fazendo exercício físico? Para tudo na vida carecemos de equilíbrio, tal como andar sobre duas rodas da bicicleta e, porque não promovê-lo na infância e juventude?

Este é o vídeo promocional da obra:

https://www.youtube.com/watch?v=SUrUCbTt5NY&t=2s

Esta obra proclama os valores bíblicos num mundo onde eles se vão desvanecendo. Uma alternativa ao mundo das redes sociais, uma vez que os livros podem ser lidos por filhos e pais, com vista ao melhor relacionamento entre si. Através dos meus contactos, redes sociais, email e site, poderão encontrar os livros.

Precisamos que Deus nos inspire e dê as estratégias adequadas para este tempo. Se queremos ser instrumentos na Sua mão, há que acreditar, investir, trabalhar, não pensar que tudo vai cair de graça nas nossas mãos. E quando trabalhamos em fé, Ele diz na Sua Palavra que ‘os Seus planos não são os nossos’ e que ‘é capaz de fazer muito mais do que alguma vez imaginámos.’ Assim, ‘como hão-se ouvir?’. Estou convicta que há muito a fazer e que por vezes desperdiçamos oportunidades. E penso, que legado estamos a deixar? O que fazemos com o que Deus nos dá?

Tenho mais ideias? Sim, muitas. Não consigo fazer tudo de uma vez e tudo tem um preço a pagar. Há que ir com calma, pois em Portugal fica muito caro fazer um livro. E não quero fazer uns quaisquer livros, quero tentar fazer o melhor para glorificar a Deus.

Preciso de ajuda? Sim. Só vendendo os livros, a mensagem pode chegar mais longe. É também aqui que vejo o trabalho em união. Nem todos podem escrever, cantar, ser atores… Todos podemos trabalhar em conjunto a fim de promover o Reino de Deus. Podemos orar uns pelos outros. Ajudar-nos mutuamente.

É fácil? Não. Mas com Deus é possível. Em breve, se Deus quiser, apresentarei o novo livro numas escolas no Norte. A porta está aberta. Os nervos miudinhos tiram o sono. A responsabilidade é grande. Não anseio sucesso. As camadas infantojuvenis precisam de ouvir falar sobre o Deus criador, sobre o Pai eterno, sobre o Senhor que os ama, sobre os valores que Ele nos ensina. Quero proclamar bem alto o nome de Deus, até onde Ele me levar.

Andrea Ramos

Licenciada em ASC

Escritora

anevesmr22@gmail.com

https://andrearamos.pt/

A BÊNÇÃO DE LER UM LIVRO

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Acabei agora de ler o que considero o melhor livro que já li. De facto, foi como água fresca para a minha alma, dando-me o que, por certo, eu precisava de aprender. Trata-se do livro autobiográfico de Billy Graham, intitulado “Just as I am” (“Tal como sou”).

Um pedaço de história

Levaria muitas páginas para tentar descrever tudo o que dele recebi. Como barro nas mãos do Oleiro, que precisa de água para continuar o seu trabalho, este livro foi a água necessária para que eu ainda continue a ser moldada, pois não sou a mesma que era antes de o ter lido.

Este livro oferece uma leitura enriquecedora, quer para quem aceite quer para quem rejeite o conceito de religião, pois a sua riqueza literária vai além de qualquer conceito. Trata-se de um pedaço enorme da história mundial e não um enredo em que se procura chegar ao desfecho na última página.

Os diários de Ruth e Billy Graham, escritos com precisão e detalhe, levam-nos pelo mundo, numa missão inimaginável que Deus entregou ao menino que ordenhava vacas, orava num troço de estrada, ainda muito jovem e, deitado no chão, olhava a imensidão do firmamento estrelado quando Deus o chamou e continuou a confirmar a chamada até aos seus 99 anos. Ao longo do livro, vê-se a sua própria admiração por ver de onde Deus o trouxe e por onde o levou, não deixando que nada o fizesse perder a visão, mantendo-se na posição de humildade requerida.

Crescimento do ministério

Para sua própria surpresa, o ministério que Deus lhe entregou cresceu em muitas direcções e oportunidades mas nunca alterou a sua postura de humildade. Percebe-se a sua contínua dependência de Deus, mesmo quando crescia à sua volta a influência e admiração do seu trabalho vinda de homens que se destacavam financeiramente.

É um relato abrangente e minucioso de muitos contactos a alto nível, desde o Presidente Eisenhower até ao Presidente George Bush (pai), com a parte positiva e diferente em que foi dada ao mundo a oportunidade invulgar de ouvir o evangelho, com os resultados de mudança na vida de multidões, que atingiu muitos líderes também.

Três homens muito conhecidos na história quiseram falar com Billy Graham privadamente: Nehru, Eisenhower e Churchill. Não foi sem expectativa que ele recebeu esses convites. Qual seria o assunto ou os assuntos? Nehru, que o recebeu em silêncio, ficou a ouvir impressão de Billy Graham sobre a Índia até chegar a palavras que saciaram a sua fome espiritual. Eisenhower estava doente e queria fazer paz com Nixon, o seu vice-presidente, com quem tinha diferenças de opinião a resolver. Brevemente, o seu neto e a filha de Nixon iriam casar, e o General queria a paz entre eles e pediu a ajuda de Billy Graham nesse sentido. Mais tarde, já no hospital, mais uma vez foi pedida ajuda ao evangelista que lhe falou sobre a esperança na eternidade. O convite de Churchill chegou com muita insistência. Queria falar com Billy, enquanto decorria a campanha evangelística em Londres, que lhe falou da salvação e do plano de Deus, tendo orado por Churchill, a pedido dele. Três homens que a história nos revela como vibrantes e fortes mas cuja necessidade espiritual era igual a todos os mortais, quando a eternidade estava à vista.

A sua esposa

Não imaginam como me senti feliz lendo o que Billy Graham escreveu sobre a esposa Ruth. Descrevendo o dia em que receberam das mãos do Presidente Clinton a Congressional Gold Medal, a maior honra do Congresso dos EUA dada a um cidadão, neste caso a ele e à esposa, com a efigie de ambos, disse ele: “Senti-me totalmente não merecedor desta honra, mas estou felicíssimo que Ruth esteja incluída. Sem a sua participação e o seu encorajamento através dos anos, o meu trabalho teria seria impossível de realizar.”

Durante esses muitos anos, ela criou os cinco filhos, viajou com ele e esteve ao seu lado, em momentos em que ele precisou da sua companhia em oração e o seu conselho que ele sempre considerou e apreciou, sendo ponto alto na ajuda que precisou e recebeu dela.

Ramo de flores

Lembrei-me então que, três dias antes da sua partida para a eternidade, o meu marido, na altura já pouco comunicativo, olhou para mim e disse: “Carmina, tenho estado aqui a pensar que tu nunca te queixaste”. Para mim, foi como se de repente ele viesse com um grande ramo de flores, como gratidão por muita coisa, ao longo dos muitos anos em que servimos a Deus juntos e que eu sei ele estava englobando naquela frase.

Será muita ousadia da minha parte, mas atrevo-me aqui e hoje a pedir aos maridos que ainda têm as suas esposas, a percorrer no coração o caminho andado e falar o que iria ficar por dizer, mas que elas muito apreciariam ouvir enquanto ainda lhes pode ser dito. Na vida que está a correr depressa demais, há uma dívida por pagar que umas palavras, um abraço e um beijo têm o dom não só de pagar mas também o juro do que já devia ter sido dito. Agora é o tempo, “dá-lhe as flores enquanto vive”.

O que teria feito diferente

Na análise que faz da sua vida, depois das muitas décadas que o livro atravessa, Billy Graham considera o muito que teria feito diferente. Quantos de nós pensamos o mesmo!

Sobre o seu casamento, refere que ele e a esposa tentaram fazer o melhor. Lamentou os dias em que esteve longe dos filhos, mas que tentou compensar o melhor que pôde, perante a impossibilidade de não poder reaver esses dias. É verdade, sempre podemos compensar, mesmo sem haver a possibilidade de reaver o que se perdeu. O que definitivamente lamentou foi o seu envolvimento na opinião política para que as circunstâncias o empurraram. “Isso diluiu em algum ponto a minha chamada, que eu desejaria ter sido apenas “pregar o evangelho”.

Desejo que este livro seja, para quem ler, a bênção que foi para mim. Um exemplo de vida, verdadeiro e inspirador. A minha vida estaria incompleta sem esta leitura.

“Isto se escreverá para a geração futura; e o povo que se criar louvará ao Senhor.” (Salmos 102:18)

Carmina Coias

Missionária aposentada

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