• Siga-nos nas redes sociais

Escutar o nosso corpo

Escutar o nosso corpo

956 638 Aliança Evangélica Portuguesa

Era uma sala confortável, acolhedora. Em torno das mesas redondas, decoradas com gosto, mulheres de diferentes idades ouviam-me atentamente, naquela tarde, enquanto partilhava com elas algumas ideias sobre o tema que me havia sido proposto.

Depois, foi altura de termos o anunciado chá com bolinhos. O dia estava frio e aquela bebida quente e aromática soube-me muito bem, acompanhada por uns biscoitos macios e saborosos, enquanto conversava com quem tinha ficado próximo de mim.

Passado pouco tempo, a minha respiração começou a ficar diferente. Sentia uma opressão desagradável, à entrada e à saída do ar, mas não desconhecida. Foi mais um momento que me veio lembrar que tenho asma e, por vezes, é assim que respiro.

Estava habituada a tentar manter a serenidade em alturas como esta, e foi o que fiz, evitando esforços que pudessem agravar a condição respiratória. Sentia-me desconfortável, mas a explicação que dava a mim própria era a mesma: tenho asma, é assim. Contudo, para além dessa aparente resignação, havia uma pergunta que, embora em voz sumida dentro de mim, parecia desejar fazer-se ouvir: “Sim, tenho asma, mas se eu estava bem, o que é que aconteceu, ou o que é que fiz, para ficar assim?”

Tínhamos combinado ir jantar em família, nessa noite, a um restaurante chinês. Mais tarde, fui com o meu marido e as nossas filhas, a pensar ainda que não iria comer muito mais. A verdade é que, na altura do jantar, a dificuldade em respirar já se tinha atenuado, e alimentei-me normalmente. Afinal, este não fora um episódio único. Recordava-me de certa vez, entre outras, ter feito um bolo de iogurte – receita fácil e saborosa, que resulta sempre bem. Comi uma fatia e, passado pouco tempo, a mesma dificuldade em respirar. Atenuava-se depois de feita a digestão, ao que parecia.

Para abreviar uma história um tanto longa, direi apenas que, depois de pesquisar e conhecer também relatos e intolerâncias ou alergias alimentares de amigas minhas, resolvi retirar o glúten da minha vida. Não havia sintomas da doença celíaca, mas havia outro problema de saúde e… Decidi por minha conta! A minha condição respiratória melhorou, claramente. Mais tarde, e a meu pedido, fiz testes cutâneos que trouxeram a confirmação: sou alérgica ao trigo. Por ruptura de stock, não foi possível avaliar em relação ao glúten, mas acho que já nem é preciso: está retirado da minha alimentação, há uns 7 anos.

Escutar o nosso corpo é uma oportunidade e um benefício individual, exclusivo. Ninguém o pode fazer por nós. Será uma referência preciosa para o médico que nos acompanha e poderá fazer toda a diferença. Por vezes, penso: há quanto tempo seria eu alérgica ao trigo, sem saber? Os testes cutâneos que realizara nunca haviam incluído este alimento. Entretanto, tenho lido mais sobre esta temática e sei que investigações  revelam que a grande maioria das alergias a alimentos incidem sobre estes oito:  leite, ovos, marisco, peixe, amendoins, frutos secos, cereais com glúten e soja. Sou alérgica também a todos estes? Não, mas sou a alguns desta lista, para além do glúten, e não entram no meu prato.

Desde então, já aconteceu o convite para outros “chás”, em que bebo apenas o chá, ou petisco alguma fruta, se houver. A estranheza que pode provocar em quem insiste para que coma um bolinho constituiu uma boa oportunidade de explicar porque não o faço e, quem sabe, despertar a necessária reflexão em alguém que também precise de alterar a sua alimentação. Afinal, antes eu também precisava e não sabia… Como me sinto grata às pessoas que Deus usou para me fazer parar, pensar e alterar a minha alimentação!

Neste ano, vamos ouvir o nosso corpo com atenção e desfrutar de mais saúde! Um abraço para todas.

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

error: Conteúdo Protegido!