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Os Microplásticos – Isabel Cunha Soares

Os Microplásticos – Isabel Cunha Soares

960 720 Aliança Evangélica Portuguesa

Nas últimas décadas e sobretudo nas sociedades ocidentais, tem crescido em nós uma mentalidade do descartável, levando-nos muitas vezes a crer que tudo é substituível e dispensável. Isto reflete-se nas decisões que tomamos, nos relacionamentos que temos, nas escolhas que fazemos, na forma como vivemos, afetando muitas áreas sejam elas sociais, culturais, económicas ou até mesmo espirituais. Ao mesmo tempo, a ciência e a tecnologia, têm evoluído de forma a tornarem as nossas vidas mais fáceis e com maior acessibilidade a produtos, que muitas vezes não sendo absolutamente necessários, se tornam imprescindíveis e que pela sua natureza e caraterísticas se vão tornando habituais no nosso dia-a-dia. Um desses produtos é o plástico.

Essencialmente o plástico é um polímero derivado do petróleo e como o seu nome em grego indica, capaz de ser moldado e de adquirir uma forma após a moldagem. E porque é um material barato, duradouro, resistente, leve e maleável a sua produção tem continuado a aumentar em todo o mundo.  A título de exemplo em 2009 na Europa, cerca de 40% de todo o plástico produzido foram embalagens – muitas delas, embalagens de refeições rápidas (fast food), cujo tempo de vida útil é muito curto, tão curto que não é suficiente para valoriza-las.

Mas o que acontece a todo este plástico quando o deitamos fora? Será que é um problema apenas dos municípios ou também é um problema nosso?

O lixo que fazemos e forma como o deitamos fora faz toda a diferença para o nosso bem-estar, para a saúde pública e para a saúde do meio ambiente.

No final do século 20 uma embarcação, descobriu por acaso, uma quantidade de lixo no oceano pacifico com cerca de 680 km2 de área, equivalente a 6,5 vezes a área metropolitana de Lisboa. Este lixo era na sua maioria composto por embalagens plásticas que levadas pelas correntes oceânicas ficaram retidas neste ponto do pacifico. Apenas em 2010 as Nações Unidas decidiram fazer uma monitorização por todo o mundo para se perceber qual a magnitude do problema.

Como é que o lixo vai parar ao mar?

De todo o lixo produzido, apenas um pouco mais de metade é reciclado, incinerado ou encaminhado para aterros e o que sobra fica livre no ambiente e a maior parte deste acabará eventualmente no mar. O lixo que chega ao mar tem muitas origens; lixo que fica solto nas ruas e por ação da chuva ou do vento é arrastado para o mar, lixo deitado ilicitamente no mar ou nos rios, má gestão na recolha de lixo por parte das entidades responsáveis, perdas e despejos no tratamento de águas residuais e esgotos, despejo de lixo das nossas casas através das sanitas e lavatórios, despejos e perdas de lixo industrial no mar ou nos rios, despejos ou perdas de lixo em atividades económicas ou de lazer junto ao mar ou nos rios, despejo das plataformas de extração de grude no mar entre outras. Uma vez no mar, o lixo ou afunda ou fica à superfície. Ainda pouco se sabe acerca da quantidade de lixo que chega ao mar, que parte fica à superfície e que parte afunda. No entanto estima-se que o que se vê à superfície é apenas 15% de todo o lixo que afunda.

Porque é que este lixo é perigoso?

Já há muito tempo que se ouve falar de animais marinhos que ficam presos em linhas ou pedaços de plástico e acabam por morrer, ou de tartarugas que confundem os sacos plásticos com alforrecas e ao ingeri-los morrem asfixiadas ou ainda de aves que ingerem tampas, ou outros pedaços de plástico ou vidro colorido pensando que é alimento. Para todos estes casos o fim é a morte. Mas recentemente descobrir-se que alguns desses plásticos são de dimensões tão pequenas que podem ser ingeridos por animais marinhos que se encontram na base da cadeira alimentar, podendo mesmo ficar retidos nas suas células sendo transportados através das cadeias alimentares e acabando no nosso prato (só em 2014 o mar forneceu-nos 80 milhões de toneladas de produtos marinhos). A estes plásticos de pequenas dimensões chamamos microplásticos e estes podem ter uma origem primária ou secundária. Os microplásticos primários de tamanho inferior a 5 mm, são usados na indústria na produção de outros plásticos mas também podem se encontrar nas pastas de dentes, cremes esfoliantes ou geles de limpeza. Os secundários com tamanho superior a 5mm, são resultantes da fragmentação dos plásticos que se encontram no mar devido ao sol, força das ondas e água do mar. É ainda desconhecido o total efeito que estas partículas de plásticos podem ter na nossa saúde e na saúde pública em geral o que se sabe é que estes plásticos contêm químicos poluentes orgânicos persistentes (POP) que são por si só extremamente perigosos para a saúde humana e ambiental.

 

O que podemos fazer?

Esta é a pergunta mais importante a ser feita. O problema é complexo e não é de fácil resolução, por isso não existe apenas uma resposta nem apenas uma solução e estas terão sempre que ser partilhadas por todos os setores públicos e privados, comunidades científicas e educativas, e sociedade civil em geral, pois sendo parte do problema temos que ser também parte da solução. Importa primeiramente investigar para se conhecer melhor o problema e as suas consequências, legislar e educar para que saibamos o que fazer e como fazer e por fim agir. Para já, podemos começar por agir, consumindo menos plásticos, lendo bem os rótulos dos produtos para saber escolhe-los, selecionar, reciclar e depositar o nosso lixo nos locais certos, não deitar artigos pequenos nas sanitas – como cotonetes e por fim passando a palavra a outros.

Como mulheres cristãs que somos, temos a dupla responsabilidade de agir, para a glória de Deus, cuidando do mundo que Ele criou e cuidar da nossa família fazendo boas escolhas.  O lixo é resultado do nosso consumo, quando menos e melhor consumirmos menos lixo faremos.

 

Isabel Cunha Soares
Coordenadora do programa de Educação Ambiental da Associação A Rocha
www.arocha.pt
www.educacaoambientalnarocha.blogspot.pt

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