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Mulheres

Nem tudo é montanha, nem tudo é vale. Não está calor todos os dias, nem sempre está a chover.

606 685 Aliança Evangélica Portuguesa

Esta é forma como vejo a vida e como me tenho desenvolvido enquanto pessoa.

Nascida num lar onde Deus era respeitado (talvez não de forma integral), cedo aprendi que o Deus Criador era um Deus próximo e Salvador. O Evangelho passou a fazer parte da minha vida ainda na infância, mas seria somente aos 15 anos que a minha vida passaria a fazer mais sentido. O meu encontro com o Cristo real acontece alguns meses mais tarde.

Tinha a consciência que a minha salvação era uma dádiva e que a responsabilidade de viver de acordo com ela nunca seria uma opção, antes um dever.

Já formada rumei a Coimbra, onde continuei a exercer a profissão que tinha escolhido: ser professora. Depois de uma escola na área de Lisboa, passei por outras mais na zona centro…

Como ‘a quem muito é perdoado, muito ama’, percebi que ser professora era uma fase que estava prestes a chegar ao fim. Foi, então, que Deus me chamou para O servir de alma, coração e tempo. Agora no Porto há 28 anos, consigo entender o propósito de cada um dos meus dias, percebendo como este lindo caminho que Ele planeou para mim, e por onde me tem guiado, é uma revelação poderosa e palpável do Seu eterno amor por mim.

No entanto, nem tudo é montanha, nem tudo é vale. Não está calor todos os dias, nem sempre está a chover.

Nos vales da ‘noite’ tem-me guardado e fortalecido; no esplendor da montanha tem-me deliciado com a Sua presença manifesta; quando o céu se acinzenta com nuvens densas e negras é, então, que chove, chove, chove sem parar; e o frio entra nos ossos e não há como fugir dele… mas, de repente (eu amo os ‘de repentes’ do Senhor Jesus) o sol brilha e tudo parece calmo, libertador, perfeito… como se a natureza celebrasse a vida, rodopiando sem parar, dançando e cantando um hino de adoração ao Criador!

Quero crer como Ester, que para ‘este tempo vim’, para um tempo de uma intensa colheita, fazendo parte de uma geração de valentes, nova e determinada, que não se entrega, não se deixa corromper e que não se encanta com as ‘iguarias’ dos ímpios. Geração que serve, que ama, que sonha, que crê e que se levanta para que, nos dias de hoje, o Seu Nome seja exaltado e a ‘glória do Senhor inunde a terra, como as águas cobrem o mar’ – estas são as batidas do meu coração….

Ainda que … nem tudo seja montanha, nem tudo seja vale. Não esteja calor todos os dias, nem sempre esteja a chover.


Ana Pires
Pastora da Igreja Apostólica Nova Geração

Participação política cristã. Uma reflexão.

2560 1706 Aliança Evangélica Portuguesa

“O que vos vem à mente quando dizemos a palavra «política» ou «políticos»?” “Falsos!”, disse logo um dos meus colegas. Foi assim que começou o nosso curso intensivo sobre “Participação Política Cristã num Mundo Dividido.”[1]

Eu cresci num contexto evangélico mais conservador onde não se falava muito sobre a relação entre a política e a fé cristã. Mais tarde, conheci vários cristãos que consideravam o mundo da política demasiado nebuloso, difícil, perigoso—achando que era melhor mantê-lo à distância. Afinal, Jesus não fez campanha nem apresentou programas políticos. Quando Pedro, um dos discípulos mais próximos, levantou armas e propôs revolução, — mesmo numa situação de perigo evidente—, Jesus recusa-se a tomar essa via. Além disso, temos exemplos de líderes políticos que usaram a religião ou a sua fé como instrumento de manipulação. Gott mit uns — “Deus está connosco” —, era a frase inscrita na fivela dos soldados nazis, e a história está repleta de exemplos que mostram que misturar religião e poder, normalmente, dá para o torto. Será que um cristão não se deve meter na política?

O envolvimento político toca a todos e faz parte da missão cristã. A nossa participação política, seja profissional, seja como cidadãos, pode demonstrar o coração de Deus para o mundo em que vivemos. Esta foi uma das conclusões do nosso curso. Partilho, de seguida, algumas ideias que nos ajudam a pensar no que significa a participação política cristã no mundo polarizado e divido em que vivemos. 

Não há forma de escapar

O mundo da política não está confinado aos bancos do parlamento. Para além da máquina política per se, ou seja, os governantes eleitos e os políticos de carreira, temos de incluir vários outros atores no processo político: os media, as redes sociais, os meios de comunicação mais artísticos (cinema, artistas); as multinacionais e as pequenas e médias empresas; a banca e o setor financeiro; as associações cívicas, as organizações não governamentais, as associações de voluntários, os ativistas; a multidão de funcionários públicos que mantém as nossas instituições em funcionamento; os consumidores, que por cada item que adquirem estão a concretizar uma decisão ética; cada cidadão. Nenhum de nós escapa desta lista, pois a política, proveniente do grego antigo polis significa “os assuntos da cidade”, ou de uma comunidade organizada. A política, assim, faz parte de sermos humanos pois faz parte das atividades humanas onde todos estamos de alguma forma inseridos.

A mensagem de Jesus afinal também era política

As primeiras palavras de Jesus no evangelho de Marcos são, “É chegada a hora, o reino de Deus está próximo.” Um reino é uma configuração política e tem implicações. 

Em Lucas, a primeira pregação de Jesus é baseada em Isaías 61, que fala em levar a boa nova aos pobres e em libertar prisioneiros e oprimidos. O simples facto de Jesus comer com os marginalizados da sociedade, com aqueles que os religiosos da altura rejeitavam, estava a criar desconforto sociopolítico para a sociedade da altura.[2] E a jornada de Jesus na terra é feita durante um período de opressão política. Entre os seus discípulos sabemos que Simão simpatizava com o partido dos nacionalistas, e Mateus, como ex-cobrador de impostos, seria visto como colaborador do regime opressor.[3] Não é difícil imaginar que o assunto da política também não viria à baila quando juntos à volta de uma refeição.

Heróis da fé na política

Alguns dos nossos heróis da fé, dentro e fora do período bíblico, tiveram papéis muito políticos. José do Egito foi primeiro-ministro. Mardoqueu aconselha o rei da Assíria, enquanto Ester arrisca a sua vida e intervém perante este rei poderoso a favor de outros. Daniel e os seus companheiros, apesar de colonizados, trabalham como conselheiros para os reis da Babilónia. José de Arimateia fazia parte do tribunal judaico e é ele quem tem a capacidade de ir a Pilatos pedir o corpo de Jesus para poder enterrá-lo (os discípulos de Jesus dificilmente teriam conseguido). 

E a história continua. Algumas das liberdades cívicas de que hoje gozamos chegaram-nos à custa de campanhas política de colegas heróis da fé. 

 William Wilberforce (1759-1833) dedica a vida num esforço para abolir a escravatura a partir dos bancos do parlamento britânico. Josephine Butler (1828-1906) foi das primeiras a fazer campanha pelo sufrágio feminino, para além de lutar pela abolição da prostituição infantil e o fim do tráfico humano. O diplomata Aristides de Sousa Mendes (1885-1954) desafiou as ordens de Salazar e concedeu milhares de vistos a refugiados de várias nacionalidades que desejavam fugir do regime nazi em 1940. Martin Luther King Jr. (1929-1964) foi assassinado na sua luta pela igualdade de direitos civis nos Estados Unidos. 

Estas pessoas ora serviram a Deus simplesmente a partir da sua posição, ora partiram para a ação, porque havia alguma coisa que achavam de tal modo injusto no seu contexto sociocultural que o seu incómodo virou paixão e trilhou caminho de missão. 

Mas a política não tem um lado negro?

Estejam no governo, estejam em posições de liderança na sociedade ou na igreja, uma das funções de ser líder é descrever a realidade aos seus seguidores. Descrever a realidade aos outros é exercer poder. Mas alguns líderes partilham apenas das suas opiniões; outros estarão mesmo a inventar ou distorcer a realidade. 

 Por isso, começámos a nossa reflexão relativamente à participação política pelas raízes, buscando em Génesis 1 e 2 a imagem bíblica da realidade. Quem é Deus e quem somos nós? Somos seres criados à imagem e semelhança de Deus, e vivemos num mundo e em sociedades criadas por ele. Das primeiras coisas que salta à vista no retrato do princípio do mundo é o facto de Deus ser poderoso. Deus teve a capacidade de criar tudo… Tudo. E a partir de nada. A nossa cabeça não consegue realmente compreender isto. Mas daqui podemos pensar como é que Deus, este ser mais poderoso à face da terra, lida com o poder. E se há algo que modera o poder de Deus é o seu caráter. “E disse Deus: Haja luz. E houve luz.” Aquilo que Deus disse realmente aconteceu, o que indica que podemos confiar na sua palavra. E vemos que Deus rapidamente inclui o ser humano na sua relação de amor e convivência, e no ato criativo. Há passeios ao final da tarde e Adão tem a liberdade para dar nome aos animais. 

Pensar na política em termos de relações de poder pode ser útil, porque acaba por incluir-nos a todos. Sem dúvida que quem tem cargos políticos, ou exerce funções de liderança, terá um maior raio de ação. A decisão—boa ou má—, terá repercussões que chegam mais longe do que uma relação de poder entre pai e filho. Mas todos exercemos poder de alguma forma.

Hoje vivemos num mundo complexo e difícil e temos de regressar frequentemente à imagem do jardim do Éden, para lembrar que fomos chamados a cogovernar um mundo que Deus nos entregou. E buscar na nossa relação com Deus a contínua transformação de caráter que pode moderar o nosso exercício de poder, seja nos nossos relacionamentos, em casa, na igreja, na sociedade, com a criação, ou no nosso interior.  

Mas o que podemos fazer na prática?

Podem inscrever-se neste curso para o ano que vem! Entretanto, partilho alguns pensamentos soltos com que fiquei para ir matutando:

Em Jesus, vejo como há uma preocupação para com o contexto sociocultural que leva a ações específicas. Jesus fazia teologia pela forma como comia, e pela escolha de companheiros de mesa. A nossa rotina diária (desde os produtos que decido comprar, à gestão de tempo entre trabalho e convívio) também pode estar a (ou devia?) refletir o coração de Jesus. 

Em Jesus, vejo posições radicais sem o desejo de ser revolucionário. A luta pela justiça social é pela violência do amor. O reino de Deus tem uma dimensão espiritual, e concretiza um “já, mas ainda não” impossível de perceber sozinha. Preciso de seguir Jesus rodeada de outros discípulos para discernir caminho para os nossos tempos.

Não nos iludamos; nenhum partido político, seja ele qual for, pode dar resposta a todas as questões. Há cristãos em vários pontos do espetro político, e isto pode ser positivo, pois nenhum partido político à face da terra corresponde completamente ao cristianismo. 

Devemos nos manter minimamente informados, mas não fiquemos assoberbados pela multidão e urgência das notícias. Estas também podem exercer muito poder sobre a nossa imaginação, e à mistura temos notícias enviesadas e falsas (fake news). Uma das nossas instrutoras partilhou como já não consulta as notícias todos os dias; percebeu que tinha ficado viciada na altura em que começou a guerra na Ucrânia. Agora, consulta algumas vezes por semana, e é neste ritmo mais calmo que consegue fazer mais reflexão e não sentir tanta ansiedade.

Se reclamamos da situação política, devemos ao menos participar dos momentos de voto. Bem podemos votar em branco como símbolo de protesto, mas todos somos cidadãos. Se não votamos, perdemos o direito de reclamação. 

Quer gostemos quer não, devemos orar pelos nossos líderes.

Vivemos em tempos de tanta divisão e polarização. Os cristãos deviam ser o povo da “boa nova”, aqueles que apontam para a esperança em todos os tempos. No entanto, muitas vezes nós também alimentamos o ódio e a violência pela nossa intransigência, pela nossa falta de paciência em escutar o outro, ou pelo nosso medo de perder a razão. Há uma grande diferença entre responder e reagir. Nunca é boa ideia responder a quente, especialmente nas redes sociais. Antes de responder e defender a minha posição, posso fazer uma pausa para refletir. Talvez seja boa ideia perguntar ao outro o que ele queria dizer; procurar clarificar ideias, iniciar uma conversa. 

Todos participamos da polis — dos assuntos da nossa comunidade. Nas nossas interações (pessoais e virtuais), como transformar a nossa participação política numa atividade que constrói pontes e procura o bem comum?


[1] Título original: “Christian Political Participation in a Divided World”. Curso intensivo de uma semana, parte integrante da escola de verão “Bible & Culture”, uma parceria entre IFES Graduate Impact, Regent College e a Aliança Evangélica Europeia, 24-28 Junho 2024, Berlin, lecionado por: Julia Doxat-Purser e Christel Lamère Ngnambi. https://www.graduateimpact.org/bc-political-participation

[2] O teólogo Robert Karris chega a defender que no Evangelho de Lucas, Jesus foi crucificado pela forma como comia (ver A leitura infinita de J. T. Mendonça).

[3] Sobre Simão, ver Evangelho de Lucas 6.15; sobre Mateus, ver Evangelho de Mateus 9.9-13.

Emily Lange

Nuvens de Outono

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Foi vista por centenas, talvez milhares de pessoas, naquele dia. Pequena, ou assim parecia por estar lá no alto, era uma nuvem que deslizava lentamente sobre o fundo azul-claro do céu, num caminhar suave, do litoral para o interior. A única nuvem.Para a maioria das pessoas que repararam nela, nada mais era do que uma pequena “quantidade de algodão” lá em cima, de aspecto macio, a maneira como o vapor-de-água se organizara na atmosfera, num formato qualquer. Iria seguir o seu trajecto, comandado por alguma brisa fora do alcance da mão humana. Decorava um céu limpo e, umas horas depois, já não seria alcançável pelo olhar dos habitantes daquela cidade, por certo. Não constituía novidade nem alimentava esperança. Quantas nuvens daquele tamanho já haviam cruzado o céu, como se passeassem sobre Samaria, sem que oferecessem uma gota de chuva sequer? Era mais uma nuvem…


Contudo, naquela cidade houve um homem que teve sobre ela um olhar diferente. Naquela pequena nuvem, ele entendeu uma mensagem. Representava o início do cumprimento de uma promessa de Deus. E apressou-se a avisar:”Vá dizer a Acabe: prepare o seu carro e desça, antes que a chuva o impeça.” (I Reis 18:44)


Porque é que ele alcançou um significado que teria escapado a outros? A resposta é simples: porque ele tinha orado! Pedira a Deus, insistentemente, que fizesse chover, depois de mais de três anos de tempo seco. 


E veio a comprovar-se que o profeta tinha razão. Aquela foi apenas a primeira de um exército de nuvens que se reuniram rapidamente, enegreceram os céus e derramaram uma chuva abundante sobre a terra, devolvendo-lhe vida. “Enquanto isso, nuvens escuras apareceram no céu, começou a ventar e começou a chover forte,” (I Reis 18:45)


A oração constrói expectativa em nós e oferece-nos uma visão diferente acerca daquilo que vai acontecendo ao nosso redor. Desperta-nos o olhar para minúsculos grãos de mostarda, um raminho de oliveira no bico de uma pomba, uma vara de amendoeira, um amontoado de ossos secos, uma estrela que se move, duas moedas de cobre, uma nuvem pequena… Refiro-me a pequenos detalhes de histórias que quem conhece a Bíblia saberá identificar: elementos que, aparentemente insignificantes, foram o princípio de algo verdadeiramente grande.

 
É fácil olhar à nossa volta e concluir rapidamente que está tudo na mesma, nada mudou, não há perspectivas novas… Sem oração, é comum irmos dar aí. Contudo, é possível inverter essa condição, permanecendo em oração e deixando que Deus amplie visão em nós. Ele far-nos-á contemplar muito mais. Iremos saborear os Seus “mimos” que nos mantêm de pé, desenvolvendo um coração agradecido até por aquilo a que antes chamaríamos sorte ou boa coincidência.  Ele far-nos-á escutar o clamor silencioso de alguém, sentir necessidades discretas à nossa volta, entender respostas à oração ainda no início, alegrarmo-nos em fé.


O mês de Setembro anuncia uma nova estação e tem sabor a recomeço. Vamos envolvê-lo em oração e deixar que Deus crie em nós um olhar diferente sobre a nossa vida, sobre os outros, o emprego ou os estudos, os projectos futuros. Ele tem novas nuvens a lançar no nosso céu, e chuvas abundantes prometidas: “Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-Lo. Tão certo como nasce o sol, Ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de Inverno, como as chuvas de Primavera que regam a terra.” (Oséias 6:3) 

Um Feliz Outono para si! 

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

Testemunho de vida sobre um pai

1532 1146 Aliança Evangélica Portuguesa

Tenho saudades do meu pai. Tenho saudades das minhas conversas com ele nas três vezes por semana que íamos juntos a Coimbra para as minhas aulas de música. Tenho saudades de quando parávamos para lanchar num café local. Ainda hoje sinto o gosto das sandes que com muito custo e com muito trabalho o meu pai pagava. Hoje não sinto mais com a minha boca, mas sinto com o coração. Hoje até posso parar no mesmo café, e paro, mas a sande não tem o mesmo sabor. 

Conhecer aquele homem como meu pai foi um dos maiores privilégios da minha vida. Alguns amigos, que agora nos são comuns, refletem como ele era disponível e sempre pronto a servir no Reino. Mas eu reflito como tive o privilégio de cozinhar com ele, de fazer música com ele, de cantar e dançar com ele, de conduzir com ele, de jogar computador com ele. Sinceramente, não me lembro de conversar com o meu pai sobre as coisas maiores da vida. Lembro-me de falar pouco mais de uma ou duas vezes sobre o curso superior que haveria de escolher. Mas lembro-me tão bem de como sempre foi um encarregado de educação presente e como me acompanhou no primeiro dia de inscrição na universidade. Não me lembro se alguém vez falámos sobre as minhas maiores ambições de vida. Mas lembro-me de que ele me preparou muito cedo para todos os desassossegos do dia-a-dia. É assim que olho para trás e percebo o legado que me deixou. Claro que tivemos longas conversas teológicas, e que em parte explicam a minha avidez por fazer perguntas e obter respostas. Acima de tudo, aprendi com o meu pai que a vida vive-se vivendo. Sem cera, sem mentiras, sem esconder os problemas e sem deixar de celebrar as pequenas vitórias.

Mas às vezes me pergunto: Como a nossa relação foi tão bem-sucedida? Como o meu pai aprendeu a ser pai? Ele ficou sem pai muito cedo. Foi criado por uma tia feiticeira, ainda em Angola. Depois foi aperfilhado e aprendeu a ser homem. Veio para Portugal, aprendeu a ser evangelista. O meu pai aprendeu a ser muita coisa, mas nunca a ser pai. Enfim, chego à conclusão: ele aprendeu a ser pai ao mesmo tempo que eu aprendi a ser filha. E creio que esta foi a beleza da nossa relação. Aprendemos juntos. Estávamos em pé de igualdade na experiência de ser família. Foi nessa humildade que eu aprendi a responder como filha, mas que ele também aprendeu a ser responsável como pai. Aprendemos juntos, mas não aprendemos sozinhos. Deus foi o centro da nossa família, mas foi o Deus que tratou com cada um de nós de forma particular. O Deus do meu pai é o meu Deus, mas o nosso relacionamento com Ele nunca foi igual. O meu pai sabia disso e por isso aceitou a liberdade de como Deus estava a fazer-me filha d’Ele também. Esta realidade foi importante, e talvez ainda não a entenda em toda a dimensão porque eu não sou mãe. Mas posso entender que o meu Pai não impôs a sua forma de ser pai – cheio de ideais e conjeturas – para que o Pai tivesse oportunidade de me fazer Sua filha. Olho para trás e vejo a humildade que isso requer. O meu pai instruí-me em todo o conselho de Deus, mas precisou aprender a ser pai na medida que eu não era apenas filha dele. Deus escreveu a minha história de forma diferente da dele, e como pai teve de aprender a conviver com essa diferença, não pressionando expetativas, mas dando-me coragem para seguir o meu próprio caminho. Mas nem sempre foi fácil, nem para um, nem para outro. O meu pai teve de aprender que a independência que ele ensinou, um dia me levaria a ser uma menina cheia de opiniões. O meu pai teve de aprender que o facto de eu escutar Deus me levaria a outros lugares e profissões longe do que ele pensava que eu iria seguir. E nessa aprendizagem, o ferro afiou o ferro, como um amigo ensina o amigo, mas também um pai e uma filha se ensinaram um ao outro. O meu pai falhou, porque além de ser pai era ser humano. Eu também falhei como filha e assim aprendi muito com o meu pai. E na nossa relação de pai e filha, crescemos os dois na experiência com Deus. 

Termino como comecei. Tenho saudades do meu pai. Esta palavra, antes, era uma palavra comum, até banal. De um momento para o outro, há 13 anos, tornou-se uma palavra rara nos meus lábios, mas que foi ganhando um novo significado no meu coração. Ainda aprendo com o meu pai. Vinte e um anos de vida foram poucos para mim, mas foram os suficientes para me continuar a guiar na sua ausência. Só Deus sabe porque apenas foram vinte e um, mas a fé e vida do meu pai ainda me ajudam a buscar pelo Pai celestial e a agradecer-Lhe pela experiência de filha. 

Débora Hossi

Débora Hossi, Gestora de Conteúdo no Procurar Jesus (ministério de evangelismo na internet da Associação Evangelística Billy Graham.

Estratégias para Quem Tem Filhos com PHDA

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O nome comprido da Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (ou PHDA) caracteriza as suas principais facetas: a impulsividade e atividade motora excessiva (hiperatividade) e a dificuldade em suster atenção num único objetivo (défice de atenção).

Devido a alterações neurocognitivas, as crianças com PHDA apresentam mais dificuldades em seguir regras/instruções, persistir numa tarefa, controlar os seus impulsos, regular emoções, são mais desorganizadas, irrequietas e, muitas vezes, revelam relacionamentos sociais mais pobres.

Ora, de modo geral, as crianças podem exibir vários dos comportamentos acima descritos, no entanto, em crianças com PHDA estes comportamentos são excessivos quando comparados com a sua faixa etária e interferem significativamente com a qualidade do funcionamento social e escolar.

Dado as características comportamentais desta perturbação, é comum os pais terem algumas dúvidas sobre que estratégias parentais utilizar no dia a dia. Apesar de ser importante compreender as necessidades específicas de cada criança e família, efetivamente, a investigação aponta para algumas estratégias que ajudam a promover comportamentos desejados em todas as crianças, mas especialmente em crianças com PHDA. Por exemplo:

  • Manter o contacto visual quando dá uma ordem.
  • Dar ordens de forma clara, explicitando a ação desejada. Em vez de: “não atires a bola”, dizer: “segura na bola com as mãos”.
  • Reduzir o número de ordens. Parece paradoxal, mas a investigação mostra que crianças que recebem um número excessivo de ordens, desenvolvem mais problemas de comportamento. Pense em 5 a 10 regras indispensáveis à sua família e coloque a sua atenção na promoção desses comportamentos.
  • Ter rotinas bem estabelecidas.
  • Recorrer a lembretes visuais como tabelas ou imagens que explicitem o plano do dia. Por exemplo: vestir a roupa, tomar o pequeno-almoço, lavar os dentes, ir para a escola, etc.
  • Utilizar tabelas de recompensas, como forma de implementar um ou dois comportamentos que tenham de acontecer todos os dias (e.g., lavar os dentes, fazer a cama, etc.).
  • Elogiar sempre que observar comportamentos positivos. Crianças com comportamentos disruptivos estão sujeitas a um maior número de críticas do que elogios. O elogio ajuda a promover os comportamentos que queremos ver mais vezes, a construir autoestima e autoconfiança. Crianças que são elogiadas com frequência, também elogiam com mais frequência, o que, por sua vez, beneficia as suas relações pessoais.
  • Brincar. A brincadeira alimenta a relação entre pais e filhos, e desenvolve competências sociais, emocionais e cognitivas estruturantes no processo de desenvolvimento da criança.

Não se esqueça de respirar fundo e elogiar os seus esforços parentais. Mesmo com as melhores técnicas, todas as crianças irão testar limites – é normal e saudável; faz parte do seu processo de crescimento e autonomia! Pode ser importante falar com um profissional que o ajude a encontrar estratégias eficazes, com base nas necessidades individuais da sua família. Quanto mais precoce for a intervenção, maior impacto haverá no desenvolvimento da criança.

Margarida Sousa Palma

Psicóloga Clínica
Cédula Profissional nº 29054

A Criança – o futuro da sociedade; o presente e futuro da igreja.

2560 1707 Aliança Evangélica Portuguesa

Chegam quase sempre com um sorriso imenso, gostam de dar abraços quentes cheios de afeto e de um modo extremamente sincero mostram os sentimentos. Gostam de brincar como ninguém, um brincar cheio de cooperação e interajuda, repleto de imaginação cheio de interações e de construção de novas relações. 

As crianças cheias de afetividade, de vontades, de desejos e de sonhos têm de ser celebradas todos os dias, e a nossa responsabilidade enquanto potenciadores do seu futuro e nunca obstáculos, tem de ser recordada. 

É nesta relação construída que a criança vai edificando o respeito pelo outro, desenvolvendo a sua capacidade de falar, de criticar, de escutar, de apoiar de entender praticamente o que os outros sentem. Através da relação e com base na Palavra de Deus, conseguimos dar-lhes um sentido e viver cada momento de uma forma completamente especial e única. 

As crianças vão crescer e vão sendo responsáveis por cada tarefa que executam, preocupados com o bem-estar dos outros, irão adquirir conhecimentos importantes ao longo da vida que lhes permitirão solucionar problemas e todas serão necessárias.  Esta é uma mensagem fundamental a ser transmitida: todas são importantes e todas têm um valor!  

Uma boa autoestima poderá também ser fortalecida pela noção de que a criança é amada por Deus e por outras pessoas que acreditam nela e nas suas competências. Existe uma segurança tão profunda que vem de saber que somos criados com valor e potencial por um Deus que nos conhece e está sempre perto de nós. Que maravilhoso será que as nossas crianças compartilhem desta fé, reconheçam o seu valor e o valor do outro, amando o outro.

Ao estarmos com a criança construímos um espaço de cooperação, de envolvência que promove o sentir, a realização de sonhos, que ajuda a criança a acreditar em si própria e a ultrapassar as suas dificuldades. Temos o dever de abraçar a criança, de a fazer sentir digna dos seus direitos, porque todos os dias a criança tem direito a ser feliz, a sentir-se importante para os outros, a continuar a sonhar, a imaginar e a brincar sem parar.  

A forma como motivamos as nossas crianças é determinante para o seu futuro.  

Todos os adultos envolvidos no processo educativo enquanto pais, família, professores, educadores, líderes de igreja, voluntários ou outros adultos significativos temos por objetivo apoiar a criança a ultrapassar os obstáculos, gerir as frustrações e as emoções num trabalho continuo de acompanhamento e motivação que desejamos que traga os seus frutos: crianças honestas, sensatas, resilientes, amorosas, motivadas e cheias de fé.  

Desejamos ser uma boa influência para que as nossas crianças não se tornem adultos arrogantes, egoístas ou até cruéis. Para promover o seu desenvolvimento adequado é importante refletir em algumas estratégias de motivação, na relação com as nossas crianças:

  • elogiarmos o esforço que a criança desencadeia em vez de nos centrarmos nas competências que tem ou que ainda não adquiriu ou nas capacidades cognitivas que exibe. A criança que é elogiada por trabalhar de uma forma determinada e motivada, tem maior probabilidade de conseguir abraçar novos desafios e de permanecer motivada ao longo de todo o processo. É importante que o elogio que se dá à criança seja motivador para uma constante aprendizagem e suplementação de desafios. 
  • outra estratégia é o encorajamento para que a criança possa experimentar coisas novas, mesmo que pareçam difíceis. A perseverança é composta por interesse, prático, propósito e a esperança. Na Associação Crescer com Amigos, por exemplo promovemos o desenvolvimento e, acreditamos que é no trabalho individual do voluntário com a criança que haverão possibilidades de crescer para um futuro com mais esperança. Neste trabalho de proximidade é importantíssimo que cada um de nós ao trabalhar com a criança seja caloroso e compreensivo, e torne todo o processo de aprendizagem de novas estratégias emocionais e comportamentais, bastante divertido. Quando a criança tem oportunidade de alcançar algo que faz com que se sinta bem, este sucesso trará mais confiança e será motivador para outros sucessos. 
  • uma estratégia também importante é a celebração após cada tarefa alcançada., no entanto, é nossa função não permitir que a criança dependa demasiado destas recompensas. Embora o sistema de recompensas possa ser profundamente útil em momentos específicos, usado incorretamente, pode minar por completo o interesse nas atividades que poderiam vir a ser gratificantes. Enquanto mães, professoras, educadoras devemos optar por encorajar as crianças a fazer aquilo que tem de ser feito, reconhecendo os seus sentimentos e oferecendo explicações alternativas ou escolhas. 

Como pessoas integrantes numa comunidade nem sempre defendemos a infância das nossas crianças e os seus verdadeiros interesses. Muitas vezes impomo-nos a cada uma delas, sem olhar a fundo as suas dificuldades ou fragilidades e sem pensar no impacto que criamos nas suas vidas. 

Há dias em que falamos um pouco mais alto, com falta de consciência ou de sensibilidade para entender o que se está a passar. 

Também levamos o nosso cansaço para dentro de casa e esquecemos que ficamos mais irritadas e com menos paciência. Deixamo-nos levar pelas emoções e preocupações que ultrapassam a calma e a capacidade de escuta. Por vezes não nos dispomos a compreender a atitude das crianças quando estão chateadas, quando se queixam, perdemos a capacidade de ouvir, escutar e abraçar quando tanto necessitam. Tantas vezes preenchemos excessivamente o tempo que devia ser de brincadeira, porque na verdade continuamos a considerar o tempo das crianças como nosso, dos adultos. Precisamos como adultas, saber agradecer mais e pedir mais vezes desculpa.  

Agradecer porque cada criança nos lembra que o brincar é mesmo importante, que todos os diálogos são partilhas das suas descobertas e que as ligações e conexões que realizam são fenomenais.  

As crianças, têm uma capacidade incrível e única de nos recordar que a educação se faz de relação.  Todos erramos, crescemos e ultrapassamos juntos as fragilidades e prosseguimos…  Saibamos nós não esquecer que um dia também já fomos crianças… 

As crianças são verdadeiramente o futuro, que cada uma de nós possa contribuir para um processo educativo que promova o crescimento de “boas pessoas” cheias de fé, crianças felizes equilibradas, motivadas e determinadas!  

Dizem que é preciso uma aldeia para criar uma criança. Com uma certeza inabalável nos nossos corações, que num mundo em constante mudança não podemos desistir de assumir a nossa responsabilidade como igreja, até que todas as crianças consigam ver e sentir que são amadas incondicionalmente.

Marisa Bossa

Psicóloga Clínica
Pós-graduação em Terapia de Casal e Terapia Familiar
Supervisão em Sociedade Portuguesa em Terapia Familiar (SPTF)

Onde estás plantada?

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Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará” (Salmo 1:1-3.) O título deste texto não é fácil de explanar uma vez que os versículos bíblicos acima, de algum modo, definem com princípio meio e fim embora resumidamente, os passos a dar para o sucesso, tanto no campo secular como no espiritual.

Podemos encontrar um desafio, uma equação, se quisermos: Rejeitando a roda do que nos prejudica, preferimos ter prazer naquilo que nos faz bem, ou seja, na lei do Senhor, na Sua Palavra, meditando no que é bom, de dia e de noite.

Seguindo o raciocínio do salmista, posso imaginar que sou “uma árvore plantada junto a ribeiros de águas”. A ideia é aprazível, porque certamente é o lugar ideal para eu crescer, a água é fonte de vida. Com o crescimento, as raízes estendem-se e procuram no solo os nutrientes que necessito para ter uma boa estrutura, a fim de dar “fruto na estação própria”, pois tudo vem a seu tempo.

As minhas “folhas não caem”, sou uma árvore perene, por natureza. Vem a flor, o fruto, a folha fica e assim atravesso as várias estações sempre verde, fresca e viçosa.

Plantada desta maneira, sou uma árvore próspera, tudo acontece naturalmente e não desiludo o agricultor.

Podia acabar aqui a minha dissertação e tudo ficaria perfeito e belo, mas não posso.

Não existem árvores só plantadas junto a ribeiros de águas: há árvores de folha caduca, há árvores que não dão fruto, há árvores que se não forem podadas não será garantido o seu crescimento correto. Algumas são pequenas, outras de grande porte e todas são importantes porque o Criador o designou assim.

Lembro algo que li há alguns anos, contrastando com a árvore que deu mote a este texto: “Cada tempestade para um carvalho é mais um desafio a ser vencido e não uma ameaça. Numa grande tempestade, muitas árvores são arrancadas, mas o carvalho permanece”.

Podemos ficar gratas se onde estamos plantadas as condições se oferecem amenas, frescas e seguras, senão, devemos tirar proveito de situações contrárias à nossa vida e ficar mais fortes apesar das aparentes marcas. As árvores de grande porte podem sofrer transformações resultantes das tempestades, penso que os Botânicos e os Geólogos saberão examinar os efeitos deixados, mas as profundas raízes que as sustentam, asseguram a sua resistência a cada temporal e ficam mais fortes.

Sinto que tenho sido muitas vezes podada e o Criador vai tirando ramos inúteis. Este ato, traz sofrimento, dor, mas é tão necessário para o crescimento, “a fim de dar mais fruto”.

“…quando somos corrigidos custa-nos muito. Mas depois é que se vêem os resultados, nos que foram disciplinados – uma vida justa e de paz”. (Hebreus 12:11 OL)

Vivemos tempos de grandes lutas, o solo é árido, os ventos fortes, as folhas escassas, mas qualquer tormenta não nos arrancará, porque estamos enraizadas no Criador, nosso Pai celestial.

Faço minhas as palavras do apóstolo Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente, não são para comparar com a glória que em nós há-de ser revelada”. (Romanos 8:18).

Quero ser bem-aventurada mesmo quando o terreno em que estou plantada me traz alguma dor. Aquele que acalma as tempestades está sempre por perto e há um lugar melhor que me espera no fim desta caminhada.

Carlota Fernandes Roque

Missionária aposentada

Sou mãe

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Olá, eu sou a Talita tenho 31 anos e nasci no Brasil. Vim para Portugal com os meus pais quando eu tinha 12 anos e cá fiquei até o dia de hoje, sem nunca mais regressar, sou mais portuguesa do que brasileira. Conheci o meu marido num acampamento da COMACEP e ele desde a sua juventude percebeu o chamado para o ministério pastoral. Sempre tive o desejo de ser mãe e construir uma família. Mal pude aguentar um ano de casada para começar a ter filhos. O nosso primeiro filho nasceu um pouco mais de um ano depois de casados, em 2015, e a minha jornada da maternidade começou aí. Temos quatro filhos atualmente e o Senhor levou o nosso quinto bebé quando ainda tinha 7 semanas de gestação. Eu não me imaginava a fazer o que faço hoje, estar a tempo inteiro em casa a educar os meus filhos em casa. Imaginei que teria um trabalho fora de casa, como a maior parte das mulheres, e que os meus filhos iriam para a creche como habitualmente se vê. No entanto, nos primeiros anos do Rafael, o nosso primeiro filho, eu comecei a perceber que se eu o colocasse na creche, eu perderia grande parte do seu dia, e isso entristecia-me, e não tendo eu a necessidade de trabalhar fora para completar o sustento da nossa casa, percebi que estava numa posição muito privilegiada e não poderia desperdiçar essa oportunidade. Assim, escolhi ficar em casa e acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos nossos filhos e dedicar-me ao serviço da nossa casa e da igreja. À medida que os filhos foram chegando, eu fui me apercebendo cada vez mais da importância do meu papel e do meu dever diante de Deus de estar presente todos os dias a ensinar, a corrigir, a educar, a amar e a me sacrificar em prol da edificação do nosso lar. Essa caminhada tem me tornado cada dia mais parecida com Cristo, pois sou constantemente confrontada com os meus erros e pecados, e sinto necessidade urgente todos os dias de buscar arrependimento e transformação. Isso tem me trazido grande amadurecimento espiritual e tem tido um importante papel no processo de santificação na minha vida. Percebi na pele um dos grandes propósitos de Deus para maternidade e agora sei o porquê de o apóstolo Paulo dizer que as mulheres serão salvas dando à luz filhos. Os filhos empurram-nos para a cruz de Cristo! Não existe outra forma de conseguir lidar com os filhos sem recorrermos ao Pai com todas as nossas debilidades e fraquezas. Nele podemos encontrar amparo, direção, consolo, encorajamento e paz. Encontrei vários desafios e ainda passo por alguns, como a dificuldade de organização, de gestão do tempo, e de estabelecimento de rotinas funcionais. Eu passei muitos apertos, e vivi o caos por muito tempo, às vezes o caos ainda volta, mas já sei qual o caminho para sair dele. Aprendi a desenvolver rotinas e bons hábitos, e descobri que precisava a cada dia mortificar a minha carne e lutar contra o meu próprio eu para poder glorificar a Deus nas tarefas mais básicas do lar e educação dos meus filhos. A fim de ter essa disponibilidade de estar em casa eu também posso me dedicar a acompanhar algumas pessoas da minha igreja, como algumas jovens mais novas e aconselhá-las e aprofundar relacionamentos de amizade e comunhão com elas. Semanalmente passam pela minha casa 2 ou 3 irmãs e sou tão abençoada por poder estar sempre rodeada de relacionamentos intencionais que edificam nossas vidas. Também tenho disponibilidade para fazer visitas a irmãos mais velhos e faço parte do ministério visitação da nossa igreja. Levo os nossos filhos a essas visitas e eles têm a oportunidade de poder conviver com todas as faixas etárias, aprender acerca das várias realidades da vida, aprendem com os mais velhos, ouvem os testemunhos dos irmãos, as suas lutas e as suas vitórias por seguirem o caminho de Cristo. Considero-me muito privilegiada por poder viver os meus dias assim, em serviço constante do lar e da nossa comunidade. Meu serviço na igreja é nos bastidores, cuido das crianças das mães que precisam de alguém que fique com os seus pequeninos, facilito a vida do meu marido para que tenha total disponibilidade para fazer o seu trabalho como pastor da nossa igreja e também como professor no seminário Martin Bucer, e para que possa se dedicar também aos seus estudos de doutoramento pelo Puritan Reformed Theological Seminary.

Sinto-me muito feliz por viver assim e não sinto necessidade alguma em construir qualquer carreira profissional. Só preciso de ver garantido a harmonia do meu lar, a manutenção e construção da fé dos nossos filhos e das famílias da nossa comunidade aqui na igreja, e ter sustento financeiro que me permita continuar a poder me dedicar ao serviço a Deus desta maneira. No futuro gostaria de me dedicar mais aos ministérios formais da igreja, mas por enquanto invisto a maior parte do meu tempo assim, cuidando dos filhos e recebendo várias pessoas por semana para cultivar relacionamentos e alimentarmos a fé uns dos outros.

Tenho aprendido a ser mais como Jesus, pois essas circunstâncias de vida nas quais me encontro forçam-me a diariamente buscar toda força, motivação e contentamento em Cristo.

Glória seja dada a Ele eternamente!

Talita Lopes

Esposa muito apaixonada, mãe e educadora a tempo integral de 5, 3 rapazes e uma menina, e um bebé no céu. Ando a descobrir como fazer isso da melhor forma possível para a glória de Deus.

A contribuição única da mulher, conforme os propósitos de Deus

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Concordo com o psicólogo Paul Tournier, quando afirma, no livro “A Missão da Mulher”, que as interpretações da Bíblia feitas durante séculos exclusivamente por homens, a partir de uma perspectiva patriarcal, contribuíram para restringir a mulher ao espaço da casa. Mas Cristo não deu margem para esta discriminação. Pelo contrário, abriu espaços novos para as mulheres a ponto de dar-lhes o privilégio de anunciar a sua ressurreição. No episódio da mulher acusada de adultério, ele convidou o homem a mudar seu olhar sobre ela, percebendo suas próprias falhas e trocando a exigência de seus direitos segundo a lei, pelo reconhecimento de seus deveres para com ela segundo o plano de Deus. Em Cristo, somos chamados a resgatar o projeto original de parceria entre o homem e a mulher.

O alijamento da mulher gerou um mundo muito desenvolvido tecnologicamente, em detrimento das relações interpessoais e da qualidade de vida. Vivemos num mundo à beira de um colapso, com os recursos naturais ameaçados de esgotamento e as relações humanas frágeis e descartáveis. Mas a condição da mulher mudou. As mulheres têm acesso a quase todos os espaços públicos. Elas provaram sua competência profissional e alcançaram todos os escalões da sociedade. Tournier convoca, então, a mulher a ocupar o seu lugar, não se comportando como os homens, mas reequilibrando o mundo com sua afetividade e prioridade para os relacionamentos. Porém esta proposta mantem a dicotomia: o homem pensa e a mulher sente. Por isto, escrevi “O Resgate do Feminino: a força da sensibilidade e ternura em homens e mulheres” propondo que ambos deem lugar ao coração. Pois o machismo amputou os homens de sua sensibilidade. Mas o movimento feminista, que no início buscou acertadamente igualdade de direitos com os homens, acabou priorizando a carreira profissional, promovendo atitudes competitivas e gerando mulheres masculinizadas. Se antes elas não tinham a escolha de trabalhar fora, hoje elas são constrangidas a fazê-lo para contribuir ao sustento da família e serem valorizadas pela sociedade.   

O mundo está à beira do colapso porque o princípio feminino, do afeto, da sensibilidade, da ternura, da compaixão, foi censurado nos homens e negligenciado pelas mulheres. Assim, a missão continua sendo de reumanizar o mundo e reequilibrar nossa sociedade pela prioridade das pessoas sobre as coisas. Mas afetividade e intuição, atribuídas socialmente à mulher, estão em todo ser humano, já que fomos criados à imagem de um Deus cuja essência é o amor e que nos criou com a mesma capacidade. E Cristo é o modelo para homens e mulheres. Ele se permitiu chorar, expressar seus medos, expor sua fragilidade, sem deixar de ser uma pessoa determinada, firme, ousada.   Reconciliar-se com Deus e tornar-se discípula de Cristo é abrir mão do poder e, em troca, tornar-se apta a amar e servir, uma proposta na contramão da sociedade.

As mulheres precisam se libertar das imagens estereotipadas impostas pelo machismo e pelo feminismo para encontrar sua verdadeira identidade, não em papeis, mas na sua essência. Uma característica do feminino é seu anseio por intimidade e pessoalidade. O princípio feminino tem por função acompanhar o ser humano num caminho de interioridade, na descoberta de seu espaço interior, onde ele pode encontrar-se consigo e com Deus, deixar-se amar e compartilhar este amor.

Outra característica importante é a capacidade de ouvir a Deus e o seu próprio coração, que permite desenvolver uma maior intimidade, pois Deus se revela para quem se aproxima com reverência e humildade. Diante de um Deus que me acolhe como sou, posso baixar as armas, reconhecer a minha fragilidade e me perceber amada incondicionalmente. Não preciso mais das identidades artificiais impostas pela sociedade e baseadas no que tenho e faço, na aparência, nos títulos e diplomas, no desempenho e nos recursos materiais.

A mulher, pela sua biologia, tem predisposição para acolher e proteger a vida. Este acolhimento se amplia no exercício da hospitalidade e de uma receptividade que gera trocas transformadoras. Em vez de mendigar afeto e reconhecimento, ela transborda de amor quando se deixa suprir pelo Pai. Sabendo de onde vem e para onde pode voltar, ela pode amar desinteressadamente e servir, conforme o exemplo de Jesus. Em contato com suas emoções, ela é capaz de se identificar com a alegria ou dor do outro. Seus sentidos são vivificados, de forma a ver, ouvir, tocar, saborear e sentir com o coração. Torna-se fecunda e criativa, não apenas através da maternidade biológica, mas desenvolvendo uma maternidade espiritual que a leva a cuidar de si, do outro e da natureza com doçura e delicadeza. Esta sensibilidade não a impede, pelo contrário a fortalece para encarar a vida e a morte, pois quem evita o sofrimento acaba se privando da alegria. O homem constrói UTI, mas é a mulher, como Tereza de Calcutá, que acompanha os moribundos ou como Elisabeth Kübler-Ross, que estuda as fases do fim da vida.

A mulher é convocada a exercer a sua cidadania conforme os valores do Reino para construir uma sociedade mais fraterna, mais justa, inclusiva e sustentável, priorizando qualidade de vida, simplicidade, despojamento, generosidade e gratidão, características daqueles que se sabem ricos do amor do Pai. É a coerência de vida que nos torna agentes efetivos de mudanças culturais, sociais e políticas. Como protagonista e empreendedora, ela contribui na preservação da vida e na construção de relações interpessoais fundamentadas no respeito e compromisso. Consciente dos dons e talentos que Deus lhe confiou, ela pode contribuir para construir uma parceria fecunda com os homens, sinalizando assim a aliança que Deus estabeleceu conosco e a missão de cuidar da Sua criação até que Ele volte.

Isabelle Ludovico

esposa do pastor Osmar Ludovico. Mãe e avó. Economista e psicóloga clínica com especialização em Terapia Familiar Sistêmica. isabelle@ludovicosilva.com.br

Feliz Dia da Mulher!

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Lembro-me das mulheres que têm feito parte da minha vida.

Quando aprofundo as suas histórias vejo encanto, lágrimas muitas vezes secretas, medo, coragem e um desejo profundo de estabelecer raízes, sonhos e rosas…

Foram meninas todas elas. Algumas em épocas diferentes, outras enquanto eu mesma ia compreendendo o encanto e o desafio que ser mulher me colocava.

Foram minhas avós, minha mãe, tias, primas, sobrinhas, professoras, amigas, “irmãs”… reproduzindo o amor como sabiam, como podiam… e, cada qual com a sua história, foram fundamentais para completar o mosaico, desta dádiva chamada vida…

Mulheres…Ao garimpar biografias, vejo que em cada uma delas há um ninho, um coração que ama a seu jeito, um colo que acalanta, um peito que amamenta, um corpo que se entrega e sonhos, muitos sonhos…

 Algumas guardaram seus anseios, engavetaram a emoção e viveram o que era possível, aceitaram uma condição que não era a sua, buscaram forças onde não havia e prevaleceram, ou não!

 Outras voaram destemidas, “caçadoras de sóis”, enfrentaram aparentes gigantes, lutaram suas “guerras” enquanto buscavam a força de um abraço, um amor correspondido e o aconchego de um lugar seguro…

 São histórias anónimas, cujas letras não contam, pois estão escritas no tempo, na face de outras gerações, na memória de alguns ou num qualquer epitáfio…

 Ricas histórias de mulheres corajosas, cuja beleza ofusca o Universo. Não aquela beleza que se vê por fora, tão efémera… mas aquela que o tempo não apaga, pelo contrário perpetua mesmo quando a vida se esvai… by me

Feliz TODOS OS DIAS DA MULHER.

Arlete Castro

Coordenadora de Cuidado e Desenvolvimento Integral de Missionários Transculturais Sepal – Servindo aos Pastores e Líderes

Escritora: O Livro de Salema, Simplesmente Sofia, Mulheres com História, e o livro Pérola (ficção baseada numa história real)

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