Recordo-me bem da altura em que aprendi a escrever o número 1. Foi o meu pai que me ensinou, teria eu uns 4 ou 5 anos. Ele escrevia-o lentamente, fazendo deslizar o lápis, enquanto dizia, com carinho: “É assim, filha: para cima e para baixo”. Depois era a minha vez de escrever e, pela minha idade, eu escrevia-o “em espelho”. Com paciência, ele exemplificava de novo…
Este foi o primeiro número que aprendi a escrever como, provavelmente, sucedeu com todos nós. E, hoje, venho propôr-vos uma reflexão rápida sobre este número, o 1.
Topo
Em diversos contextos, assume-se como o mais importante, atribuído àquele que está ou chegou em primeiro lugar. Sim, foi o que conseguiu alcançar a meta ou o topo antes de qualquer outro. E representa a vitória, em alguns casos a medalha de ouro. O melhor aluno, o melhor vendedor, o atleta mais veloz, o profissional mais competente, o cargo mais elevado de uma instituição…
Desalento
Contudo, também é comum o número 1 expressar desânimo.
Quantos clientes tens? 1
Quantos quadros já pintaste? 1
Quantos alunos são? 1
Quantos seguidores tens na rede social? 1
Quantos produtos já vendeste? 1
A motivação fragiliza-se perante este número pequeno e pode ditar o fim de um projecto que se desejava bem-sucedido.
Ponto de partida
A verdade é que também pode representar um ponto de partida, um começo. Todo o grande empreendimento se iniciou exactamente por aí, por 1. A inscrição do primeiro participante, o primeiro cliente, a primeira encomenda, o primeiro trabalho concluído, o primeiro artigo, a primeira música que se compõe… Um passo, um degrau, no início de cada percurso.
Assim, será interessante pararmos para pensar em algum 1 que esteja presente na nossa vida. Pode significar o topo, a escassez ou, quem sabe, um ponto de partida. Contudo, ainda há um outro significado precioso, referido por Jesus…
Unidade
Na sua oração ao Pai, Jesus expressa um anseio: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21)
Como cristãos, somos chamados a ser 1. Aqui torna-se um número difícil, elevado, exigente. Chegar lá, constitui-se como um alvo, um desafio diário, uma arte ditada pelo amor… Na diversidade que somos, na singularidade que nos define individualmente, ser um significa exercitar o respeito pelas diferenças, o acolhimento, a complementaridade, o apreço pelo outro e a paixão por servi-lo.
Precisamos de lembrar este desígnio divino para nós como cristãos, sobretudo quando não concordamos, tomamos decisões diferentes, divergimos na forma de ver, de pensar. Neste tempo em que a solidão se tem ampliado de uma forma preocupante, numa forma mais dispersa de viver, descrita em detalhe no livro recente “O Século da Solidão”, de Noreena Hertz, com referências de inúmeros estudos que demonstram o evidente impacto na nossa saúde física e emocional, a proximidade e a intimidade como comunidade cristã precisam de ser intencionalmente procuradas e desenvolvidas. Não permitamos que a aridez dos dias ou as divergências naturais de opinião e decisão entre nós nos dividam e enfraqueçam.
O nosso número
Este Natal pode ser mais uma oportunidade de cultivar o sentido de unidade que tanto agrada a Deus. Vamos fazer do 1 o nosso número. Levantemo-nos num sentido de urgência e de entreajuda, como se fôssemos um só. Será possível? Sim, é. Aconteceu no tempo de Esdras: “Então se levantou Jesuá, seus filhos, e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os filhos de Judá, como um só homem, para dirigirem os que faziam a obra na casa de Deus.” (Esdras 3:9).
Jesus disse que será assim que o mundo irá crer! (João 17:21).
Para todos, votos de um Natal unido e abençoado!

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária