Falava, há dias, com um homem que está a esforçar-se por dar um outro sentido à sua vida. Prepara-se para iniciar um programa em comunidade terapêutica, face ao quadro de consumo de estupefacientes que o tem dominado e empobrecido. Já anos antes deixara as “drogas” e conseguira inserir-se ao nível familiar e profissional. Agora, recaíra.
Contava-me o seu percurso de vida e, a certa altura, disse-me: “Quando a vida se desmoronou, a droga bateu-me à porta, de novo.” Depois de um silêncio breve, acrescentou: “A droga sabe esperar.”
Nunca tinha ouvido essa expressão e apontei-a: “A droga sabe esperar.”
É uma frase assustadora, como se aquilo que nos fragiliza não desistisse de nos perseguir.
Lembrei-me, então, de uma outra frase que ouvi num retiro, há um tempo atrás, proferida por um amigo. Começou por ler estas palavras de Jesus: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.” (Mateus 5:23,24)
Depois, realçou o facto de Deus desejar tanto ver reconciliação entre nós que Ele não se importa de esperar pela nossa oferta. Sim, Ele aguarda, com agrado, que corramos para quem nos magoou ou a quem magoámos e construamos a paz entre nós. E Ele espera pacientemente o nosso regresso para que, então, lhe passemos para as mãos a nossa oferta. Ele não se importa de esperar, por querer tanto ver-nos unidos.
Acredito que existe muita reconstrução para acontecer em relacionamentos. Poderá ser delicada, difícil até, mas é sumamente agradável a Deus. E edifica-nos mutuamente, pois uma relação reconstruída é uma relação robustecida.
Um homem falava-me de uma droga que sabe esperar para, depois, destruir. Um outro falava-me de um Deus grande que sabe esperar para nos abraçar, depois de nos reconciliarmos com o nosso irmão.
As ofertas que temos para dar a Deus não têm que entrar em conflito com as questões que eventualmente nos têm afastado uns dos outros. Ele diz para darmos prioridade à reconciliação. Depois, a oferta terá uma beleza diferente diante do Senhor. E, entretanto, Ele não se importa de esperar…
Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária