Aquele foi um dia extraordinário: o homem saiu da prisão! Imagino-o a correr pela estrada, de novo, e a sensação de liberdade a envolvê-lo, num conforto inexplicável, como uma brisa de Primavera. Abraçar a esposa e os filhos, rever amigos, voltar a dormir na sua cama, a alimentar-se melhor, num ambiente feliz…
Ah, e não perdera o seu precioso emprego. Voltava ao ambiente requintado do Palácio, onde retomava as suas funções, com o sabor de vinhos caros a chegar-lhe aos lábios, como copeiro. Tantas emoções juntas, tantos rostos e situações a chamar a sua atenção!
E, neste turbilhão de entusiasmo e actividade, perdeu-se um detalhe importante. Esqueceu-se de um amigo que ficara para trás. Sim, ainda na prisão, José pedira-lhe que falasse nele a Faraó, para que considerasse a possibilidade de ser libertado. Contudo, “o copeiro-mor, porém, não se lembrou de José, antes se esqueceu dele.” (Génesis 40:23).
Provavelmente, já sucedeu com todos nós. Na corrida do dia-a-dia, no dissabor ou no entusiasmo de momentos, algum amigo ficou esquecido lá atrás, algures no tempo.
Este copeiro seria a pessoa chave na história de vida de José, capaz de fazer a ponte com Faraó, mas esqueceu-se dele. Contudo, o plano de Deus não deixou de se cumprir, pois Ele criou circunstâncias que levaram o copeiro a, dois anos depois, lembrar-se de José. E refere-se a esse lapso com consternação: “Então o chefe dos copeiros disse ao Faraó: “Hoje me lembro das minhas faltas.” (Génesis 41:9)
No plano de vida que Deus tem para nós, Ele usa pessoas como chave para abrir portas. E não só as escolhe mas promove circunstâncias que as levam a pensar em nós.
Por outro lado, também nos faz lembrar amigos antigos. Recordo-me que os meus pais levavam muito a sério as pessoas que lhes vinham à mente, e o telefonema acontecia, indo ao seu encontro no momento oportuno. Quantas vezes assim foi!
Assim, esta passagem bíblica pode conduzir-nos a dois pedidos de oração:
“Senhor, lembra-me de pessoas para quem poderei ser canal da Tua bênção neste tempo. Conheces cada vida em detalhe e as necessidades de cada um. Se há alguém que ficou esquecido e a quem deverei ajudar, traz-me à mente e dá-me sabedoria para que eu seja realmente um apoio dirigido por ti.”
“Senhor, traz o meu nome à mente de alguém que nesta altura possa ser usada(o) por Ti em meu favor, numa área em necessidade. Uma porta que se abra, mediante o contacto de alguém que pensou em mim, no leque infinito de possibilidades de sermos bênção na vida uns dos outros.”
E, neste movimento de lembranças e ajudas, assim se cumpre o mandamento de Jesus: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” S. João 15:12.
Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária