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Mulheres

“Confortai as mãos fracas e fortalecei os joelhos trementes” – Entrevista à Dra. Maria Helena Martins

1280 720 Aliança Evangélica Portuguesa

AEP – Como surgiu o interesse pela Medicina na sua vida e a decisão de servir a população idosa?

HM – Deus vai escrevendo a nossa vida desde que nascemos. Nada do que nos acontece Lhe está oculto. Ao olhar para trás, para o meu percurso de vida, vejo cada página escrita com o Seu propósito. Fui tendo encontros com o sofrimento, que não foram por mim compreendidos na época. Geraram angústia, mas também grande crescimento.

O meu 1º grande encontro com o sofrimento por doença, ocorreu quando eu tinha 5 anos e o meu pai teve um grave problema cardíaco. A sua grave insuficiência cardíaca originou a sua morte prematura aos 59 anos quando eu tinha 16 anos. Durante 11 anos vivi o sobressalto constante de o perder, pois as crises e os internamentos sucediam-se. O seu sofrimento era intenso.

Este 1º encontro lançou uma semente – o desejo de minorar o sofrimento alheio.Fiz  o Curso de Medicina.

O 2º grande encontro com o sofrimento aconteceu há 21 anos, com uma doença oncológica disseminada, com grave prognóstico, da minha mãe.

Fiquei a conhecer e vivi muitas das dificuldades porque passam aqueles que acompanham e cuidam de doentes em sofrimento e fase avançada de doença incurável. Nessa época ainda não havia Cuidados Paliativos em Portugal e era muito dificil gerir e controlar estas situações.

Foram dois anos de luta que me levaram à exaustão. No entanto, outra semente foi lançada – como ajudar e acompanhar este tipo de doentes?

Até essa altura trabalhava como Médica de Família num Centro de Saúde e confesso que a minha área preferida era a Saúde Materno-Infantil.

Mas outra semente tinha sido lançada. Abracei a Geriatria e aproximei-me dos Cuidados Paliativos, ainda embrionários.

Os últimos 18 anos da minha vida têm sido dedicados a estas áreas, na procura constante de resoluções para minorar o sofrimento e acompanhar o meu doente na sua trajetória final de vida, dando dignidade a essa mesma trajetória. Isto exige da minha parte contínua formação e trabalho de equipa.

Tenho sentido o enorme entusiasmo das minhas equipas de trabalho, o empenho, o zelo, o cuidado que têm demonstrado para melhoria constante da abordagem em fim de vida.

Tenho trabalhado em diferentes locais, com diferentes equipas, desde Apoio Domiciliário a Residências Geriátricas.

O 3º grande encontro com o sofrimento ocorreu há 10 anos, com o meu irmão mais velho. Em aparente estado de saúde, foi-lhe diagnosticada uma doença oncológica grave, terminal , com a qual convivemos 8 intensos meses. Também morreu prematuramente aos 58 anos.

A mão invisível do Senhor continuava a escrever as páginas da minha vida.

Pouco antes do seu diagnóstico, eu tinha iniciado uma Pós-graduação em Cuidados Paliativos. E com a ajuda preciosa dos meus colegas pioneiros dos mesmos, o trajeto do meu irmão foi vivido de forma totalmente diferente, com os seus desejos cumpridos, os seus sintomas controlados, com muito maior serenidade.

A minha preparação foi-se fazendo gradualmente por sementes que foram lançadas num terreno que estava a ser preparado. E a preparação desse terreno envolveu dor e sofrimento. Mais tarde, ao ver os frutos, compreendi o trajeto vivido.

AEP – Quais são as maiores necessidades dos idosos em Portugal, hoje, na sua perspectiva?

HM – Vivemos numa sociedade doente, com injustiças materiais e morais. Talvez uma das mais graves de todas seja a que os idosos sentem – a comunidade não os considera membros iguais aos demais.

Como cristãos somos chamados a agir em favor dos injustiçados, aceitando, estimando e integrando os nossos idosos.

Claro que cada idoso tem todo um percurso de vida que o marcou de diversas maneiras e a Bíblia nos adverte para a possibilidade de sermos rejeitados por Deus na velhice ( Salmo 71:9).

Perante a sociedade impessoal onde estamos mergulhados em Portugal e um pouco por todo o mundo, penso que as maiores necessidades dos idosos terão a ver com a falta de afeto e calor humano, falta de integração na sociedade, falta de quem os oiça e de quem os ajude a quebrar o ciclo da solidão.

Claro que existirão também necessidades materiais, a nível de cuidados de saúde, de alimentação ,etc.

A nossa missão para com os nossos concidadãos idosos, é ajudar a construir uma sociedade mais benevolente e integradora de todas as faixas etárias. É fazer despertar recursos e talentos pessoais enterrados há muito, estimular a criatividade, o entusiasmo por alguma tarefa, criar laços sociais que arranquem o idoso da solidão.

AEP– Vive o seu trabalho como uma forma de servir a Deus? Pode referir um versículo que tenha norteado o seu percurso de vida profissional?

HM – Há cerca de 18 anos, quando me comecei a dedicar à área da Geriatria, um versículo passou a acompanhar-me e lembrar-me continuamente da missão – “Confortai as mãos fracas e fortalecei os joelhos trementes” Isaías 35:3.

Numa área da Medicina que facilmente pode originar 2 sentimentos avassaladores, impotência e frustação, este versículo anima-me a batalhar dia após dia na procura do conforto e simultâneamente no fortalecimento do que ainda é possivel fortalecer nos meus doentes.

Falo em impotência, ao referir-me à morte inevitável, e que acompanha o dia a dia da Geriatria.

Falo em frustração, porque trato pessoas com doenças crónicas, múltiplas doenças na mesma pessoa, muitos sintomas que já não é possivel eliminar por completo, e raramente assisto a cura, o que acontece na Medicina exercida nas faixas etárias mais novas.

É uma Medicina de gestão de doenças crónicas.

Penso no meu trabalho como serviço ao próximo, ao encarar de frente o sofrimento alheio, não ficando indiferente, na busca constante de alívio do mesmo e de soluções para os problemas diários que vão aparecendo.

Isto exige disponibilizar tempo, gerir emoções, perseverar, aprender continuamente e estar na total dependência de Deus.

 

Dra. Maria Helena Martins

Onde estavam eles? – Bertina Coias Tomé

900 720 Aliança Evangélica Portuguesa

Numa casa possivelmente ampla mas desprovida de recursos, um homem vive uma condição extremamente difícil. As feridas cobrem-lhe todo o corpo, numa dor e num prurido que ele procura aliviar, raspando-as com um pedaço de telha.

Em adversidades sucessivas, perdeu todos os seus haveres e os seus filhos.
Vive numa solidão pesada, que torna os dias ainda mais sombrios. E desabafa: “Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.” (Jó 19:14)

Num certo dia, em que ele ora pelos seus amigos, este cenário de vida altera-se completa e definitivamente. Diz a Bíblia que “o Senhor virou o cativeiro de Jó.” (Jó 42:10) E, de repente, há uma grande multidão que se dirige à sua casa. Como um exército determinado em ajudá-lo, todos os seus irmãos e irmãs e todos os seus conhecidos – muitas centenas, certamente, pois ele era “o maior de todos do oriente” (Jó 1:3) – vão ter com ele. E ali:

-“Comeram com ele pão em sua casa” – Não foi uma “visita de médico”, como se costuma dizer, mas um estar sem pressa, numa refeição partilhada.
-“…e se condoeram dele…” – Numa atitude empática, “calçam os seus sapatos”, sentem a sua dor e são movidos em compaixão.
-“…e o consolaram…” – Ofereceram-lhe palavras de conforto, talvez abraços, sorrisos, olhares acolhedores.
-“…e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e um pendente de ouro…” – De uma forma prática e generosa, proporcionam-lhe recursos para reconstruir a sua actividade agrícola e pecuária que antes o tornara um homem extremamente rico.

Onde estavam antes todas estas pessoas? Porque não se lembraram dele, quando definhava em solidão? O que é que as ocupava ou distraía ao ponto de não terem corrido a sua casa logo que adoeceu? Ou estariam também elas a precisar de ajuda?

Estas são perguntas a que não sabemos responder. Contudo, desta história bíblica podemos retirar três importantes lições para a vida:

-Deus, o Todo-Poderoso, sabe como acabar com o “cativeiro” de qualquer um dos seus filhos, ou seja, ordenar o fim de um tempo deveras difícil.
-Por mais sós que nos sintamos, Deus sabe como levantar um exército em nosso favor – gente disponível para chegar perto, sentir a dor, confortar e partilhar recursos.
-A qualquer momento, Deus pode trazer à nossa mente o nome de alguém em necessidade e recrutar-nos para sermos nós parte do exército de apoio em seu favor. E aí, vamos munir-nos de todo o amor que Ele tem derramado em nós e movermo-nos, numa ajuda prática e realmente confortante a quem precisa.

E a história de Jó prossegue de uma forma surpreendente: “E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro.” (Jó 42:12)

Seja qual for o momento que estejamos a viver hoje, vamos contar com o suporte de Deus na nossa vida, capaz de levantar gente que nos ajude e vamos ficar também disponíveis para sermos nós usados por Ele em favor de outros. E assim o Seu Amor é partilhado entre nós!

 

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária
Membro da Direcção da Aliança Evangélica Portuguesa

Crime E Castigo – Adelaide de Sousa

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

“Pois eu sei os planos que tenho para vós. São planos de prosperidade e não de desgraça, planos que se concretizarão num futuro de esperança.” (Jeremias 29:11)

 

Estas palavras encorajadoras foram proferidas por Jeremias, um jovem profeta de Deus que viveu num tempo muito conturbado da história de Israel. Aos reis, não faltavam outros profetas que se prestavam a dar sempre “boas notícias”, numa espécie de versão arcaica do positivismo a todo o custo que tem perpassado as filosofias vãs próprias da nossa Nova Era. Especialmente no campo da oncologia, a ênfase está quase sempre no “pensamento positivo” como talismã para espantar o medo de quem recebe a notícia do cancro. Agora ou há 2500 anos atrás, somos muito mais bem recebidos se trouxermos palavras que agradem do que chamadas ao arrependimento e à transformação. Jeremias e outros sofreram na pele as consequências de trazerem a verdade, pois a mensagem que tinha para o povo alertava-o para a necessidade de mudança.

 

Tanto a Bíblia como a Psico-Oncologia parecem dizer que para chegar ao que é bom, precisamos de passar pelo que é mau. Chama-se Crescimento Pós-Traumático, esta teoria de que para haver uma nova perspectiva da vida, uma nova apreciação do seu milagre, temos de passar pelo sofrimento. Este fenómeno, já que as condições em que este crescimento acontece não são tão lineares assim, é mais comum no caso das mulheres que passam pelo cancro de mama. No entanto, a teoria do crescimento pós-traumático não sugere que haja uma ausência de sofrimento à medida que nos tornamos mais sábios, mas sim que o crescimento apreciável ocorre dentro do contexto de dor e perda. De facto, pode ser necessário algum sofrimento para o crescimento ocorrer, embora demasiado sofrimento possa prejudicar os enlutados e torná-los incapazes de se envolver no processo de crescimento. Isto lembra-me quem Jesus é: aquele que não esmaga a cana quebrada nem apaga o pavio fumegante…

 

A ideia de que para se chegar ao ouro temos de passar pelo fogo perpassa todo o texto bíblico, desde Génesis até Apocalipse. E o livro de Jeremias não é excepção. A promessa dos versículos que transcrevo é boa, traz esperança, mas sabendo nós que Jeremias também avisou o povo de que iriam passar por grande sofrimento à mão dos seus invasores antes de poderem chegar de novo à paz, e que depois disso mais tribulações viriam, dá-nos uma ideia de que procurarmos as profecias que nos agradam e rejeitarmos as que podem ser mais duras não é o caminho da verdadeira transformação. Para confundir tudo, temos visto como alguns ensinamentos de prosperidade, saúde e longa vida nesta Terra como garantias para o cristão sincero são prejudiciais para o crescimento desse mesmo cristão – é uma espécie de fast-food para o espírito! Já no tempo de Jesus – e antes ainda, no livro de Jó, talvez o mais antigo da Bíblia – havia quem visse as tribulações e desgraças como sinal claro do desprazer de Deus, do pecado na vida dos que sofrem. Eis o que disse o Apóstolo Paulo a propósito de tais perplexidades:

 

“As provações por que têm passado são normais na vida humana. Pois Deus é fiel e não deixará que sejam provados acima das vossas forças. Se ele vos envia uma provação também fará com que encontrem a maneira de a poder suportar. Por isso, meus amigos, fujam dos falsos deuses.” (1 Coríntios 10:13-14)

 

Este aviso de Paulo merece uma aturada reflexão: quem são os falsos deuses na nossa vida, que tentam silenciar a verdade da Escritura para a substituir pelo que os torne adorados por si? Quem lhe diz só o que o faz sentir bem, o que eleva a sua auto-estima? Onde se refugia quando o seu barco parece afundar? E se naufragar, vai crer que é castigo de Deus? Consequência do seu pecado? A teologia da retribuição – mais conhecida por “cá se fazem, cá se pagam” – não é Cristianismo, pois o nosso Deus não nos dá tudo o que merecemos. Dá-nos o que Jesus merece, porque Ele já recebeu o nosso castigo. Assim, não há teoria do karma que aguente esta Boa Notícia: a Graça de Deus é de graça mesmo! Não posso fazer nada para merecer ser perdoada, e mesmo que o meu caminho nesta Terra seja de pecado, nem tudo o que me acontece neste lado da eternidade é punição por esse mesmo pecado. Muitas das consequências virão depois…

 

Acredito que pensar que quando alguém faz o mal vai sempre ter a sua paga aqui nesta vida seja confortador, mas pense comigo: se esta fosse a lei vigente, que pena teria eu pelo mal que já fiz? Que pena teria você? Dou graças a Deus por Jesus!

 

O que quero dizer-lhe hoje é isto, especialmente a si que está a passar por grande deserto na sua vida, uma grande provação, e que talvez esteja a ver a morte de frente pela primeira vez: não tem de ser castigo, mas pode ser oportunidade para conhecer a Deus como nunca antes.

 

Quando recebemos um diagnóstico assustador como o do cancro, recebemos algo mais ainda: ao contemplar a finitude da vida podemos dar graças a Deus por ela. Esta mensagem foi perfeitamente percebida por uma das 11 mulheres do nosso livro Mulheres Guerreiras, a Filomena: “No dia-a-dia somos imparáveis. E quando isto acontece, percebemos que de um momento para o outro não estamos cá. Quando era mais nova tinha medo de morrer, agora encaro isto como uma oportunidade para dar o melhor de mim aos outros (…) E mesmo que só viva mais um mês ou dois, o meu espírito está tranquilo.”

 

Isto é sabedoria, refinada pelo fogo da tribulação…

 

“Por isso nunca ficamos desanimados. Mesmo que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia a dia. E essa pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento. Porque nós não prestamos atenção nas coisas que se veem, mas nas que não se veem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre.” )2 Coríntios 4:16-18)

 

Crê nisto?

 

Adelaide de Sousa
Apresentadora de Televisão
Coordenadora do projecto Guerreiras Portugal

Armadilhas Do Diálogo Homem/Mulher – Isabelle Ludovico da Silva

960 637 Aliança Evangélica Portuguesa

Um casamento saudável não é um casamento onde não há brigas, mas onde os parceiros conhecem e praticam a arte da reconciliação através do diálogo. A paz não acontece naturalmente a menos que um dos parceiros se tenha anulado. Quando apenas um impõe as suas necessidades e o outro se limita a supri-las, sem direito a voz própria, vive-se uma paz artificial e destrutiva. Duas pessoas inteiras vão entrar em choque. A questão principal não é tanto o conteúdo do conflito, nem saber quem tem razão, mas como é que o casal lida com opiniões opostas para chegar a um consenso, nem que seja concordar em discordar.

As diferenças entre homem e mulher tornam-se mais evidentes em situação de stress. A principal dificuldade diz respeito à preservação de um diálogo construtivo quando um conflito vem à tona. Na crise, a mulher tende a queixar-se e o homem a isolar-se. Estas reações transformam-se num círculo vicioso. A mulher sente o silêncio do homem como uma agressão e aumenta o tom das suas cobranças. Quanto mais ela reclama, mais ele se isola na tentativa de fugir do confronto.

Os mecanismos de defesa do homem e da mulher são opostos. Ela geralmente prefere enfrentar, mas exagera as suas acusações com palavras como “sempre” e “nunca”. Ele reage ignorando os problemas esperando a tempestade passar. O ciclo crítica/desprezo transforma os parceiros em inimigos. O silêncio do homem é uma tentativa de proteção, mas funciona para a mulher como uma provocação. Ambos devem aprender a brigar e entender a atitude do outro como um desejo de ajudar e não como uma retaliação.

O homem precisa de ouvir mais e encarar os conflitos como oportunidade de crescimento e fortalecimento da relação. A mulher precisa de expressar as suas queixas de forma positiva e objetiva sem desqualificar o seu cônjuge. Os dois sentem necessidade de ser amados, respeitados, e têm medo do abandono. Por isso, na hora do desentendimento é importante renovar o compromisso que permite ir fundo na crise sem o risco de romper o vínculo. A ameaça de separação não passa de uma forma disfarçada de manipulação. Ela expressa subtilmente que o outro corre o risco de ser abandonado caso não se disponha a ceder às expectativas do parceiro.

Cada um precisa de compreender a dinâmica da relação e enxergar a sua parte no conflito. Em situação de stress, a mulher quer desabafar e ser ouvida. Ele quer ajudá-la a partir dos seus parâmetros, tentando diminuir o problema, dar uma solução prática e abreviar as queixas dela. Ela sente-se desrespeitada nas suas emoções, desqualificada, desvalorizada e censurada. Ao ouvi-la, ele desenvolve um plano de ação, interrompe a fala dela com soluções ou comentários que minimizam as suas emoções, e a deixam ainda mais brava. Ele acha que estava a ajudar e só piora a situação. Sem entender porque é que ela reage tão agressivamente, ele retira-se ferido.

Quando ele está irritado, refugia-se na sua caverna e precisa de ser respeitado na sua necessidade de tempo e espaço para digerir as suas emoções. Ela faz perguntas, tratando-o como gostaria de ser tratada. Ela só quer compartilhar o seu fardo, mas ele sente-se invadido e cobrado. Ela interpreta o silêncio dele como rejeição e cobra até ele estourar ou afasta-se magoada. Quanto mais quieto ele fica, mais ela o cutuca. Quanto mais ela o cutuca, mais quieto ele fica. O homem reage ao stress tentando manter o controle racional até estourar. A mulher tende a mergulhar nas emoções. Ele necessita de sossego para entender o que está a acontecer. Ela busca carinho e atenção para reordenar os seus sentimentos. Cada um interpreta a atitude do outro como um ataque pessoal.

Cada um deve saber cuidar de si e interpretar a atitude do outro como um pedido de socorro que merece compreensão, paciência e respeito. Nesta perspectiva, o conflito torna-se uma oportunidade para ambos desenvolverem a famosa inteligência emocional através do diálogo entre a cabeça e o coração. O homem pode aprender com a mulher a deixar as suas emoções virem à tona. A mulher pode aprender com o homem a filtrar as suas emoções através da lente mais objetiva da razão.

 

Isabelle Ludovico da Silva
isabelle@ludovicosilva.com.br

O que importa é o processo e não o resultado – Iolanda Melo

960 720 Aliança Evangélica Portuguesa

Recentemente, uma adolescente dos nossos relacionamentos mais próximos passou por uma experiência de aparente insucesso: teve a sua primeira negativa numa prova final. O mundo parecia que tinha acabado! Só conseguiu contar o resultado aos pais uns dias depois, isolou-se, ficou deprimida por algumas semanas. Ela que sempre tinha sido uma menina alegre, bem-disposta e brincalhona, estava agora cabisbaixa, irritável e macambúzia. Com muita dificuldade conseguíamos tirar um sorriso do seu lindo rosto.

Quando se é bom aluno, com boas notas e muitas expectativas da família em relação ao seu desempenho, ter que lidar com o insucesso nem sempre é fácil. Reflectindo sobre esta questão, concordo com o Dr. Augusto Cury quando afirma que os pais de hoje treinam os seus filhos para terem sucesso mas não os preparam para lidar com o insucesso.

A pressão que exercemos para que os nossos filhos sejam bem sucedidos, tenham boas notas, “cheguem mais longe”, leva-nos muitas vezes a fazer sacrifícios.  Tudo fazemos para garantir aos nossos filhos as melhores escolas, as melhores actividades extracurriculares, os melhores recursos informáticos… Em troca disso, esperamos que os nossos filhos, no mínimo, retribuam esse esfoço sendo bons alunos e tendo um desempenho académico que garanta a possibilidade de um futuro promissor. Investimos muito e desejamos que esse investimento tenha retorno. Assim, sem nos darmos conta, valorizámos mais os resultados que o processo: o que conta é o resultado e não tanto a forma como se chega até lá. Um exemplo disso é o que dizemos aos nossos filhos quando eles nos dizem a nota que tiveram. Se tiveram uma boa nota, felicitamo-lo: “Boa, parabéns!”, e facilmente gabámos a nota aos nossos amigos e familiares. Se trazem uma nota positiva mas não tão espectacular, dizemos rapidamente: “Podias ter tido melhor!”. Valorizámos o resultado! É normal, na medida em que a nossa sociedade valoriza mais o resultado, o sistema educativo valoriza mais o resultado!

Dificilmente dizemos: “Vês, o teu esforço compensou: estudaste, abdicaste da brincadeira e agora tiveste uma boa nota. Estás de parabéns!” Mas que diferença faríamos se valorizássemos o processo, e não tanto o resultado, na saúde mental e na personalidade dos nossos filhos… Haveria menos perturbações alimentares, menos ansiedade, menos depressão, maior confiança em si mesmos e nas suas capacidades…

Aprender a lidar com a contrariedade, com a adversidade, com a frustração, com o insucesso, com os nãos, com as crises e com as “tróicas” que a própria vida se encarrega de nos trazer é fundamental para o desenvolvimento de uma personalidade sadia! Queremos que os nossos filhos não só aprendam os conhecimentos necessários que lhes garantam uma vida profissional activa como também a aprendam a pensar, a relacionar-se de forma positiva com os outros, com o mundo e consigo próprios; que aprendam a expressar as suas ideias, as suas emoções, que saibam lidar com o sucesso e com o fracasso, que aprendam a trabalhar e a ser determinados no alcance dos seus objectivos e sonhos, que valorizem o esforço a ser empregue para se obter os resultados esperados.

Para que isto aconteça, também depende de nós, pais, uma atitude que favoreça esta aprendizagem integral:

  1. Conheçamos as capacidades dos nossos filhos, os seus pontos fortes e estimulemos para que atinjam o máximo do seu potencial real.
  2. Reconheçamos os pontos menos fortes e não criemos expectativas irrealistas quanto a essa realidade.
  3. Respeitemos os talentos naturais e os dons dos nossos filhos e estimulemos o seu desenvolvimento. Se o seu talento é a música, por exemplo, não vale a pena insistir para que seja um engenheiro. Nem todos vão receber 10 talentos! Uns receberão 5 e outros apenas 1, mas é nesse um que tem que se concentrar e maximizá-lo.
  4. Valorizemos mais o esforço, o empenho com que se dedicam ao estudo e não tanto ao resultado. Resultados são importantes, mas não são o fim do mundo e podem ser alcançados em função do esforço e das reais capacidades dos nossos miúdos.
  5. Anime o seu filho a lidar de forma positiva com as frustrações dos resultados menos positivos: “Na próxima vai correr melhor! Só precisas de esforçar-te mais um bocadinho, mas eu sei que és capaz! Tu consegues!”

Não é fácil contrariar a corrente, principalmente quando todos à nossa volta agem de determinada maneira. Mas quem disse que seria fácil? O que sei que não é impossível, senão Paulo não nos teria advertido: “Não vivam de acordo com as normas deste mundo…” (Romanos 12:2)

Iolanda Melo

Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia da Educação

Ame-se! – Cindi Ângelo

960 720 Aliança Evangélica Portuguesa

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo…”
Marcos 12:31

Essas palavras ratificadas por Jesus, parecem ser tão fáceis de ser vividas, mas na prática não o são. Elas estavam na Lei de Moisés (Lv 19:18) porque Deus queria que a medida do amor que sentimos e demonstramos pelos outros, fosse a mesma que temos em nós e por nós. O caminho não pode ser inverso, e a verdade é que não conseguimos amar verdadeiramente os outros se primeiro não nos amarmos a nós mesmos. Como cuidaremos dos outros, se não cuidamos de nós próprios? Como ajudaremos as pessoas a serem sanas, se vivemos com o nosso mundo interior tão bagunçado?

É bem verdade que não é fácil ter um equilíbrio entre o amor saudável e o ego, entre o pensar mais em si e menos de si. Entre querer para os outros aquilo que quer para si mesmo.

Como podemos declarar que nos amamos se temos tão pouco cuidado com a nossa própria vida?

Não é fácil, mas é possível! Com Cristo é possível! É possível amarmos os outros com a mesma medida que nos amamos.

Um dos conselhos que Paulo deu para o seu filho na fé, Timóteo, foi: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:16).

Muitas pessoas lutam para satisfazerem os seus desejos e apelos da sua natureza, acreditando que estão a fazer bem a elas, mas devido ao estilo de vida que levam, fica evidente que fazem mais mal a si mesmas do que bem.

Precisamos de refletir e concluir, que, quando não cuidamos de nós mesmos, estamos a afetar negativamente a vida de muitas outras pessoas. É por isso que precisamos primeiro cuidar de nós mesmos.

Deus nos constituiu de 3 partes distintas, mas que estão interligadas entre si. Nós somos um espírito, que tem uma alma e habita num corpo. Estas 3 partes precisam de ser bem cuidadas por nós. Paulo nos diz: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5:23).

A primeira coisa que o Espírito Santo nos quer dar para tornar mais fácil a administração do nosso ser como um todo, é a sua paz. Sem ela, o nosso mundo vira de pernas para o ar e tudo tende a sair fora do seu lugar. Sem ela, a ansiedade toma conta dos nossos pensamentos e o caos pode instalar-se.

Essa paz não se compra no supermercado, nem se adquire com técnicas de relaxamento ou com pensamento positivo; ela é um presente de Deus para nós. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14:27).

A paz é também o resultado do novo nascimento que acontece em nós quando o nosso espírito (quem realmente somos) é recriado por Deus, ao convidarmos a Cristo para ser o Senhor do nosso coração. A sua paz toma conta do nosso espírito e nos sentimos como meninos, nascidos de novo, realmente, pois identificamos a presença de Deus em todos os momentos na nossa vida.

A seguir, a nossa alma (nossa mente, emoções e vontades) também vai sendo colocada em ordem, porque compreendemos que o nosso passado foi redimido e o nosso futuro é garantido.

A nossa alma sente paz porque ela crê que Deus tem o melhor para cada um dos seus filhos. O novo nascimento nos transporta para o Reino de Jesus, e a natureza do seu Reino é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17). Passamos a ter uma nova família, novos amigos, novos irmãos. Esse meio onde passamos a conviver, torna-se não apenas um grupo religioso, mas também terapêutico; afinal, os bons relacionamentos podem nos curar…

Aos poucos as feridas da alma, as lembranças dolorosas que trouxeram o ressentimento (sentir de novo), momentos dolorosos, traumas profundos, vão sendo curados pelo poder da sua paz, que nos ajuda a ser mais que vencedores. Você já prestou atenção na palavra “vencedores”? Aqueles que vencem dores. Deus faz isso connosco. Ele nos dá um novo espírito, um espírito de superação que olha para frente, para adiante, para o futuro promissor e abençoado que está à nossa espera.

Como filhos de Deus podemos acreditar que tudo nEle é progressivo, é de “fé em fé, de glória em glória, de triunfo em triunfo” (2 Co 1:24, 2:14,3:18).

Colocar a nossa alma em ordem é o grande desafio do Espírito Santo, e creio que ele ama esse desafio, pois já vê a sua obra-prima concluída com êxito!

Quando o nosso espírito e a nossa alma estão em ordem, podemos ter mais determinação em cuidar do nosso corpo, que é o “templo ambulante de Deus”.

Pense comigo: Como podemos declarar que nos amamos, se trabalhamos mais horas do que o nosso corpo consegue suportar? Ou quando dormimos tão pouco, comemos tão erradamente, somos tão sedentários ou temos uma vida tão desregrada…

Eu comecei este artigo a dizer que as palavras de Jesus não eram fáceis de serem vividas, mas graças a Deus, que, com a sua ajuda, elas são possíveis. É possível nos amar e amarmos os outros como a nós mesmos.

Shalom!

Cindi Ângelo
Licenciada em Teologia, escritora, missionária e pastora da Igreja Metodista Livre.

Espere o Tempo Certo – Ana Pereira

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Espere o Tempo Certo…

“A posse antecipada de uma herança no fim não será abençoada.” Provérbios 20:21

Querer tomar posse de algo fora do tempo, traz consequências, apesar do imediato prazer de saborear o tão esperado. É dar mais valor às coisas do que ao tempo de Deus, é querer alimentar a ansiedade por não saber esperar.

Jesus retrata um filho que pediu antecipadamente ao seu pai, a parte da herança que lhe pertencia. Isto não era uma prática comum, na verdade era uma agressão, uma vez que a herança só era atribuída depois da morte do pai. Com esta atitude antecipada, o filho estava a dizer que o seu interesse não estava na vida do pai mas nos seus bens e não soube nem queria esperar o tempo de Deus para tomar posse da mesma. Esta atitude de querer antecipar a herança, não lhe trouxe bênção mas obstáculo no seu caminho. Este mesmo princípio aplica-se na nossa vida, quando não sabemos esperar o tempo certo e antecipamos as coisas para que tudo fique da maneira como queremos.

Tudo tem um tempo certo! Mas por vezes a nossa ansiedade em usufruir das coisas, tomar posse delas leva-nos a colocar em segundo lugar a vontade de Deus e a não querer ouvir a Sua direção. Seja uma pessoa que não antecipa a ”herança”, que sabe esperar para usufruir do melhor de Deus. Não se precipite na escolha do seu cônjuge, não se precipite na mudança do seu trabalho, não se precipite nas suas decisões, não se precipite! Espere o tempo de Deus!

… E viva por Amor

“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros, Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” João 13:34-35

Em tudo na vida devemos fazer com amor. Sem amor, tudo se torna superficial, mecânico, vazio, obrigatório. Como seria gratificante se tivéssemos todos num trabalho em que amamos o que fazemos? Como seria mais leve se todos os atos de serviço não fossem por obrigação? Como seria prazeroso se todos nos amassemos uns aos outros como a nós mesmos?

Primeiramente por amor a Jesus, devemos ter em conta este mandamento de nos amarmos uns aos outros, pois seremos conhecidos por seus discípulos através deste “perfume” maravilhoso e com uma durabilidade eterna. Tudo o que fazemos com amor gera frutos. Pode não ser no imediato mas chegará um dia de ver o fruto da semente do amor em tudo o que fazemos.

O amor perfuma qualquer ambiente e muda atmosferas. Fácil é amar a quem admiramos, nos identificamos, no entanto o Senhor Jesus não fez essa distinção do grupo de pessoas, Ele amplificou a todos os segmentos, raças, temperamentos e opiniões, simplesmente “amai-vos uns aos outros”. Não existem requisitos, existe um mandamento para amar! Então viva por amor em tudo o que fizer, que os que o rodeiam possam sentir o amor de Deus através da sua vida, que possam ver através dos seus comportamentos de amor que é discípulo de Jesus.

 

Ana Pereira
Pastora na Missão Cristã Internacional
Licenciatura em Gestão de Marketing e Bacharelato em Teologia

Do Entulho ao Restauro – Priscila Ferreira

1280 800 Aliança Evangélica Portuguesa

“Usarão o entulho do passado para construir de novo, recontruirão (…) Serão conhecidos como aqueles que reparam qualquer coisa, restauram ruínas antigas, reconstroem e renovam, tornam a comunidade habitável outra vez.” Isaías 58:11-12 (adaptado AM)

Num mundo onde a superioridade e o egoísmo parecem querem suplantar-se há, ao que podemos observar, o desprezo e desinteresse. Tanto pelo que já não é considerado o “último grito da moda” como (e muito mais grave) o desacreditar dos que, por razões que nos são alheias, falharam ou até mesmo desistiram de viver, resultando na degradação do percurso de vida e consequente entrega a determinado vício. Podemos concordar que “saber viver” é talvez o maior desafio de todos e o nosso “segredo” está realmente em Deus. Fora d’Ele jamais fará sentido.

Uma mesinha de cabeceira, julgada inútil, fora de moda e sem valor, estava atirada num monte de entulho dentro da mata. Não sei quanto tempo terá ficado ali, ao ponto de estar cheia de caruncho (térmita da madeira) e empenada. Foi lá que o meu pai a encontrou. Acabou por trazê-la com a ideia de que poderia “salvá-la”. O cenário era desanimador, o caruncho tinha provocado uma série de estragos! Porém, a verdadeira Esperança não se rende. Foi um processo detalhado e moroso, do lixar até ao pormenor do acabamento, em cada etapa, com muita paciência. E o resultado?? Bastante inspirador! A convicção era que no lixo o meu pai achou o “tesouro”.

Todos os dias nos cruzamos com pessoas que estão tal e qual esta mesinha, como entulho rotulados de lixo. Vivem sem esperança. Porém, foi-nos confiada a responsabilidade de “recolhê-las” ao lugar de Esperança, Jesus. Estes não são somente os sem-abrigo, são a vizinha do lado, a professora, a colega de trabalho e também a senhora do café.

É inexplicável o privilégio de ser alguém que testemunha em “primeira mão” diariamente o «restauro de ruínas» (Isaías 58:12). Por ser tal um privilégio, não podemos de forma nenhuma ser egoístas. Esta Esperança que «Repara qualquer coisa» e que «Usa o entulho (…) para construir de novo» é O bem precioso que temos de partilhar! Não no que apenas falamos, mas na forma como vivemos e amamos aqueles à nossa volta. É um processo moroso mas o resultado final é largamente recompensador!

 

Priscila Ferreira

Quem Criou o Sorriso? – Clarisse Barros

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A família era grande. Havia muitas crianças. Um bebé de colo e vários outros filhos já em idade escolar e pré-escolar. Naquele dia, estavam todos em casa. Todos, menos o pai. Onde está o pai? A trabalhar. Outra vez? Mas hoje é sábado… Sim, mas o pai trabalha por turnos, só vem à noite, muito tarde, quando já todos estiverem a dormir. Ah, pois é…

A mãe tinha as costas curvadas por causa do peso do bebé e ia realizando algumas tarefas com uma mão apenas. Parecia muito cansada. Tinha aquele ar pesado e triste de quem está exausta e preocupada. As duas rugas verticais vincadas no meio da testa mostravam às crianças que ela não estava com capacidade para brincar, nem tolerar traquinices. Os filhos mais velhos estavam a fazer desenhos e a ver televisão. Estava tudo sossegado…

A criança de quatro anos, porém, estava pensativa. Aproximou-se e ficou a observar a mãe, em silêncio, durante alguns momentos, com os seus grandes e lindos olhos castanhos. Depois, uma pergunta aparentemente muito simples quebrou esse silêncio breve entre mãe e filha:

  • Mãe, quem criou o sorriso? Foi Jesus? – perguntou a pequenita.
  • Sim, foi Jesus. – Respondeu a mãe.
  • Então, por que é que nós cá em casa nunca sorrimos?

A esta nova pergunta da menina a mãe não conseguiu responder. Já não se lembrava de como era bom sorrir… Já não ouvia as suas próprias gargalhadas há muito tempo. Pensou: “Ela tem razão… Deixámos de sorrir nesta casa… Quando foi que eu deixei de sorrir? Quando foi que comecei a mostrar aos meus filhos que aqui em casa não há lugar para sorrisos?”

Olhou à sua volta vagamente e disse à menina que fosse para junto dos irmãos. Enquanto a pequenina se afastava, as lágrimas correram pelo rosto da mãe, como um regato que desliza, sem parar, sobre as pedras do seu leito. E a mãe olhou de novo à sua volta. Olhou com mais atenção para o amontoado de cabecinhas pequenas, que eram a sua maior razão de viver, e percebeu que lhes devia um sorriso. Cada uma daquelas crianças era um presente de Deus na sua vida. Todas diferentes e todas tão especiais! Mesmo que as circunstâncias fossem difíceis, mesmo que houvesse muitos problemas para resolver, mesmo que os desafios parecessem maiores do que as suas forças, ainda havia espaço e motivos para a gratidão e para a alegria. E lembrou-se das palavras registadas na Bíblia, em Filipenses 4:4, sublinhadas pela sua própria mão: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.”

“(…) portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força.” (Neemias 8:10)

Sim, Deus criou a alegria! Ele mesmo é a nossa fonte de alegria, o motivo e a força por detrás do nosso sorriso.

Não sei o que aquela mãe vai fazer acerca do seu sorriso, mas espero que volte a sorrir. Sei que todas nós precisamos de momentos de pausa para contar as bênçãos do Senhor sobre a nossa vida e para sorrir de novo. O sorriso semeia a simpatia, a tranquilidade e a alegria. A alegria gera a força que conduz à vitória (em Deus, pela fé). Precisamos disso.

Se for necessário, reaprenda a sorrir!

 

Clarisse Barros
Professora e Escritora

Mulherzinha, Supermulher Ou Simplesmente Você? – Isabelle Ludovico da Silva

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O estigma que pesa sobre a mulher não é recente. A supremacia do homem deu-se às custas da desvalorização da mulher. O homem encarregou-se sozinho da construção do mundo e confinou a mulher na esfera privada gerando assim uma dicotomia empobrecedora para ambos. A mulher anulou-se para atender às expectativas do “príncipe encantado” e dedicou-se ao cuidado dos filhos e da casa. Esse trabalho não remunerado resultou numa dependência económica que se transferiu para o plano emocional.

Reproduzindo o modelo da própria mãe, a mulher confunde gradualmente a sua identidade com a sua função materna. Até o seu marido frequentemente passa a chamar-lhe “mãe”. Quando os filhos se tornam independentes (apesar dela, diga-se de passagem), ela tem que enfrentar a sua pior crise: a “síndrome do ninho vazio”. A relação conjugal dissolveu-se e foi substituída pelos papéis parentais que já não têm mais razão de ser. O marido investiu as suas energias no trabalho e enfrentou desafios que o levaram a crescer enquanto ela estagnava num universo restrito, delimitado pelos famosos três “C”: casa, comida e criança. Restam-lhe a solidão, a frustração e o ressentimento pela falta de gratidão do marido e dos filhos. Esta Amélia vive à sombra do marido porque teve medo de se aventurar fora do casulo da casa que serviu de proteção, mas também de prisão. O seu potencial foi tolhido enquanto desenvolvia mecanismos manipulativos para compensar a exigência de submissão, estabelecendo assim com o marido uma relação de mútua desconfiança.

A partir dos anos 60, este modelo foi rejeitado por muitas mulheres que reivindicaram a sua emancipação e partiram em busca de novos desafios. Na ânsia de compensar o tempo perdido, a mulher quis desempenhar todas as funções ao seu alcance. Esta mulher maravilha inaugurou um período no qual a luta pela sua auto-realização se travou no terreno da competição com o homem: universidade, profissionalização…, mas também dupla jornada de trabalho para não deixar de ser mãe e dona de casa e provar a si mesma que é capaz de brilhar em todas as áreas e conciliar todos os papéis… Ou por exigência do parceiro que, numa mensagem dupla, incentivou as suas conquistas profissionais desde que o equilibro familiar não fosse alterado. Ela fez o possível para se encaixar no mundo frio, objetivo e racional construído pelos homens abdicando, para isso, de uma parte fundamental da sua personalidade: a ternura, a subjetividade, a sensibilidade, o instinto, a empatia. Ela conseguiu êxito profissional, mas à custa do fracasso da sua relação amorosa e do desajuste dos filhos, sem falar do stress. Tendo investido muito na sua auto-realização, ela sente-se, pela segunda vez, frustrada e solitária. Ela passou muito radicalmente da passividade e resignação a uma atitude omnipotente.

A mulher alcança agora a sua grande oportunidade de uma verdadeira libertação. Para isso, ela precisa de encarar os conflitos e os antagonismos que convivem dentro dela, dos quais ela tentou fugir através de um ativismo desenfreado e que são frutos da coexistência interna de modelos modernos e tradicionais: a dependência de um poder-saber externo (pai, marido, médico…) apesar da descoberta dos seus próprios recursos; a expectativa incoerente de uma atitude de docilidade e fragilidade na relação afetiva contrastando com a força e determinação necessárias na vida profissional. Está na hora da mulher fazer um balanço que pode dar início a uma nova fase integradora, de resgatar a relação com o parceiro e os filhos, de renunciar à competição em favor da cooperação e do companheirismo. Ao ter a coragem de encarar os seus próprios medos, limitações, raivas, desejos, a mulher poderá também respeitar os do homem. Após ter confundido a sua identidade com a sua função de mãe e, posteriormente, com o seu desempenho profissional, a mulher quer, hoje, ser reconhecida não pelo que ela faz, mas pelo que ela é. Ela não visa somente a igualdade de direitos com o homem, mas a restauração dos valores “femininos”: sensibilidade, empatia, intuição, compaixão. Valores essenciais para construir vínculos significativos, inclusive com Deus.

Isabelle Ludovico da Silva
isabelle@ludovicosilva.com.br

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