A pensar que “a necessidade faz o engenho”, fui espreitar o que tenho na minha caixa de costura e achei praticamente o necessário para pequenos arranjos. Com saudade, encontrei algumas coisas de há cinquenta anos atrás: linhas de alinhavar, um dedal, um ovo de madeira, uma fita métrica já bem gasta, botões, que ainda guardo, tudo isto dado pela minha mãe antes do meu casamento. Também tinha agulhas, linhas e outros itens já mais recentes, claro.
As minhas irmãs mais velhas foram sempre muito habilidosas em costura, bordados, rendas e a transformar peças de roupa dos mais irmãos velhos para os mais novos. Mais tarde, faziam as suas próprias saias, blusas e até vestidos com amigas da Igreja e recordo quando estreavam, bem lindas, no auge da juventude. Eu aprendi os rudimentos, mas sempre achei um trabalho muito parado, tinha dores nas costas e pouco jeito.
Comecei por pregar um botão, subir uma bainha. Depois, para poupar nos gastos, fui-me atrevendo nuns pontos mais ousados e descobri que é bom arriscar e cresci nesta arte mas, claro, limitada a coisas não muito complicadas.
Não tenho máquina de costura mas não tem sido impedimento pois é possível fazer ponto de máquina à mão. Tento fazer o mais perfeito possível, devagar, para não me trair. O sábio Salomão disse que “Em todo o trabalho há proveito” (Provérbios 14:23).
Há tempo, a filha Sara pediu para costurar uma mala já um pouco usada, tipo saco. Alguma coisa devia ser feita por um sapateiro, mas consegui reconstruir. Não foi grande proeza, mas é bom quando nos atrevemos e sai bem. De vez em quando, lá vem uma peça dos netos a precisar uns pontos e faço sempre com agrado.
O Salmista David disse: “Bendito seja o Senhor, minha rocha, que adestra as minha mãos…” (Salmo 144:1)
Depois, tenho outros afazeres que me agradam: limpar a casa, passar a ferro, plantar flores e vê-las crescer, manter limpo o espaço fora da casa. E amo escrever. Sei que é simples a minha escrita, mas é um escape e sei que será sempre parte integrante dos meus dias.
O tempo ocupado alivia as preocupações e ansiedades e é por aí que desejo manter-me apesar dos meus 74 anos. O resto é com Deus, que me fortalece na caminhada.
Carlota Roque
Missionária aposentada