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Dias (in)úteis? – Bertina Coias Tomé

Dias (in)úteis? – Bertina Coias Tomé

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

O texto bíblico transporta-nos, aqui e ali, a momentos grandiosos. Contudo, também nos traz dias pequenos, frágeis de recursos. Lembram-se de alguns?

É o raminho de oliveira preso no bico de uma pomba, nos tempos de Noé.

A nuvem do tamanho da mão de um homem, nos céus de Samaria, em tempo de seca.

Uma pedra que serve de almofada a um jovem fugitivo.

Um punhado de farinha numa casa modesta.

Um vale enorme, apenas cheio de ossos secos

Algum trigo a ser malhado, às escondidas, dentro de um lagar, por um homem apreensivo.

Um resto de azeite numa botija, nas mãos de uma viúva pobre e endividada.

Um pedaço de telha com que se raspam feridas e se alivia a comichão.

Pedras, pó, pedaços de madeira queimada – escombros de um templo outrora enorme e riquíssimo.

Frascos de perfume, carregados por mulheres, de madrugada, que se revelarão inúteis.

E a lista poderia continuar. Momentos desprovidos de qualquer sentido de sucesso ou mesmo de utilidade. Que não se conjugam com princípios de excelência ou de liderança da literatura actual. Onde não se descobre inspiração. Que, à partida, não representam convite nem oportunidade.

Contudo, pelo ano 519 a.C, Deus fala pelo profeta Zacarias, lançando uma pergunta surpreendente, que vem sacudir momentos como esses. Diz: “Quem despreza o dia das coisas pequenas?” (Zacarias 4:10)

Quem? Quando trabalhei no meio prisional, descobri ali dias que tinham tanto de longos como de pequenos. Longos, muito longos, em horas lentas e difíceis de passar, pela própria condição de reclusão. Por outro lado, pequenos de motivos de entusiasmo ou de objectivos. Eram dias frequentemente desprezados.

A verdade é que, mesmo vivendo em liberdade, é fácil descobrirmo-nos a percorrer dias de coisas pequenas e, assim, com tendência a desvalorizar. Há uns meses atrás, num grande evento para mulheres, alguém sugeriu: ”Recebe este dia como um presente de Deus para ti.” Gostei da ideia e anotei a frase.

Sabem o que sucedeu com cada um dos momentos referidos atrás?

O ramo de oliveira anunciou o fim das chuvas do dilúvio e o início de uma nova época para a humanidade.

A pequena nuvem era apenas a primeira de um grande “exército” que derramou chuva abundante sobre a terra, após um período de seca de mais de 3 anos.

Sobre aquela “almofada” desconfortável, Jacó viveu um dos momentos de maior proximidade do divino na sua vida.

Aquela pouca farinha transformou-se em abundância, pelo poder de Deus.

Naquele vale sombrio levantou-se um grande exército

O homem foi surpreendido pela notícia de que iria estar á frente do livramento do seu povo.

A viúva experimentou uma abundância extraordinária dentro de sua casa.

A saúde e a alegria foram restauradas e o pedaço de telha não mais foi preciso.

O templo foi reconstruído e nele habitou uma glória maior que a do anterior.

As mulheres foram surpreendidas pela ressurreição de Jesus.

Hoje pode ser um dia de “coisas pequenas”, para si ou para mim. Contudo, é o Deus grande que torna um dia grandioso! Não aquilo que temos ou que vislumbramos no nosso horizonte limitado.

Tal como, naquela prisão, reclusos conheceram o amor de Deus, nenhuma condição de vida é impedimento para a acção do Senhor, Todo-Poderoso, sobre as nossas vidas. Deixemos que o nosso olhar se eleve, hoje, acima das circunstâncias e, com essa certeza, desfrutemos de uma Páscoa Feliz!

 

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

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