Cada dia é vivido com o Seu amparo
Olho pelo retrovisor e vejo o carro da polícia com as luzes acesas. Estaciono e, com surpresa, ouço que ia a conduzir acima do limite de velocidade. Respondo que tenho em casa o marido doente e nunca sei como o irei encontrar. Quase como quem pede desculpa, com sensibilidade o polícia deseja as melhoras do meu marido e vai-se embora.
Este momento retrata um pouco do meu percurso diário de ansiedade com hospitalizações onde passei muitas 24 horas ao lado do meu marido, durante os 5 anos que Deus nos ajudou a atravessar.
“Missão cumprida” foi o que senti quando, aceitando a oferta do meu filho para ir viver com ele e a sua família, fechei a porta daquele apartamento definitivamente. Sozinha no caminho da viuvez, começava a nova lição de vida, que só se inicia e aprende quando chega o dia da separação e, para sempre, a “minha casa” deixou de existir.
“Em tudo dai graças.” (I Tessalonicenses 5:16) Este fora, até ali, um versículo difícil de entender. Contudo, sentada ao lado do meu filho naquelas 5 horas de viagem, dei graças a Deus pela presença do meu David, tão necessária naquele tempo de solidão.
A disciplina desta última classe da vida tem sido vencida com a ajuda do Supremo Professor. Cada dia é vivido com o Seu amparo, que Ele vai preenchendo com novas oportunidades e inundando o meu coração com motivos para agradecer.
Neste percurso de mudanças de cidade, tenho encontrado igrejas onde me tem sido dada oportunidade de participação em actividades, onde ganhei muitos amigos. A minha máquina de costura está a ser útil no departamento de missão da igreja onde senhoras se reúnem para costurar para a missão em África.
Deus devolveu-me o sabor da “minha casa”, neste quarto onde um novo mundo vem ter comigo. Pelo telefone e pelo computador “visito” amigos em necessidade, dando e recebendo conforto.
Guardo comigo uma caixa cheia de bilhetinhos de amor, oferecidos pelo meu marido ao longo dos 55 anos do nosso casamento, com gratidão pelo grande homem que Deus pôs na minha vida.

Carmina Coias
Missionária Aposentada
Deus convida-nos a dar um passo mais
Foi em Agosto de 1996, que tudo aconteceu. Um acidente vascular cerebral veio pôr fim a um casamento de vinte e quatro anos, interrompendo bruscamente o nosso projecto de vida pessoal e familiar. A tristeza, a saudade, a insegurança e os medos, minaram os meus dias e senti o meu mundo a desabar…
Dois filhos com a vida em construção, uma empresa em fase de grandes dificuldades e uma carreira profissional a manter, eram então as minhas grandes frentes de luta a par de um objectivo que o meu coração impunha e me fazia mover: conseguir honrar os meus compromissos por forma a dignificar o nome do homem, que tanto amávamos, tanto lutou por nós, tantos sucessos alcançou e que agora, havia partido de forma tão súbita. Injustiça? Não sei, muitas vezes invejei a sua sorte, pois acredito que desfruta da vida numa dimensão grandiosa e feliz!
Se todas estas responsabilidades me pressionavam e oprimiam, também me impediam a entrega a um luto desmedido. Era preciso arregaçar as mangas, tomar decisões, procurar soluções e estratégias, bem como reunir os recursos ainda existentes, sem margem para desistências ou desnorteios.
Foi então que constatei que era tanto, mas tanto, o que ainda me restava. O meu coração encheu-se de gratidão e a alegria de viver renascia em cada dia: pela provisão de Deus à minha vida, pelos familiares e amigos que Deus usou como anjos acampados ao meu redor, pelas promessas de Deus, pelo alento e orientação que, em cada dia, emanavam da Sua Palavra e que, até hoje, têm sustentado e norteado a minha vida.
Decorrido este tempo aprendi o valor de uma fé experimentada, aprendi como Deus nos convida sempre a dar um passo mais, a olhar com verdade a nossa vida e a apresentá-la, genuinamente, diante dos Seus olhos. Constatei que a Sua presença é real e permanente e que nada conseguimos apenas pela força do nosso braço, mas pela sua graça em nós – A caminhada é possível, a Deus toda a glória!
“Nós pomos a esperança no Senhor; é Ele quem nos ajuda e protege!” (Salmos 33:20)

Ana Maria Machado Inácio