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O Deus Que Se Interessa

O Deus Que Se Interessa

1280 853 Aliança Evangélica Portuguesa

Algumas mulheres sonham com o casamento e uma família desde crianças. Outras, como eu, não pensavam muito no casamento. Algumas sonham com filhos biológicos, outras em adotar, e outras não querem ter filhos. Umas sonham em viajar a dois, outras em ficar em casa e construir um lar onde possam refugiar-se quando estão cansadas. O relacionamento a dois vem em sonhos das mais variadas formas, cheiros, cores e afetos.

Mas há uma coisa que nunca faz parte deste sonho: o divórcio.

O divórcio faz ainda menos parte das possibilidades na nossa mente quando casamos com um cristão, comprometido com Deus e com a sua igreja local. Há uma certa expetativa de que um cristão viverá de acordo com o comprimisso que assumiu diante do seu cônjuge e de todos os amigos e família que testemunharam esse compromisso. Mas, mais que isso, há a expetativa de que esse cristão honre o compromisso que fez diante de Deus por amor a Ele.

Talvez esta mesma expetativa tenha, de algum modo, contribuído para nenhum de nós ter estado suficientemente atento ao inimigo, que andava como leão à nossa volta, à espera de uma oportunidade para destruir o que tínhamos, a tanto custo e com tanto sacrifício, construído diante de Deus.

Quando casámos ele estava desempregado e, dois anos depois, rumámos a um novo destino. A promessa de um emprego que traria mais estabilidade levou-me a apoiar e incentivar o meu marido quando se mudou. Pouco depois, juntei-me a ele neste novo país.

Nos 9 anos que se seguiram aconteceu um mundo: ele foi transferido temporariamente para outro país, e eu fiquei. O temporário tornou-se mais permanente, mas tinha o sonho de voltar e, por isso, não queria que eu me mudasse. Acabou por ir trabalhar para uma empresa no país vizinho ao meu. Estive à beira da morte e o emprego dele foi mais importante. Rejeitou, por orgulho, a oferta que recebeu e que lhe traria a possibilidade de morar novamente comigo. Chorei muito. Orei muito. Fiz muitos planos. Estudei mais e preparei-me para começar o meu próprio projeto, que poderia ser desenvolvido no país onde ele estava. Decidi despedir-me quando regressasse de férias, porque não fazia sentido morarmos separados mais tempo.

Estávamos no barco de Tróia, a regressar de um dia de praia com a família dele, quando recebi a mensagem.

– “Sabes quem eu sou?”
– “Não”, respondi, “mas gostava de saber.”
– “Sou a namorada do teu marido”

Nos meses seguintes descobri muitas coisas. Descobri que vivia numa mentira há vários anos. Que o homem com quem me tinha casado e que eu admirava tinha feito escolhas, e que essas escolhas o tinham tornado numa pessoa que, nessa altura, era muito feia, doente, egoísta e manipuladora. Descobri que os sacrifícios que tinha feito, no fim, não serviram para muito. Descobri que 17 anos juntos significavam muito pouco para quem tinha significado tudo para mim. Descobri que tinha baixado a guarda. Descobri que o perdão cobre multidão de pecados, mas não garante o resultado que o nosso coração deseja. Descobri que por mais que lutemos, o outro vai fazer a escolha que decidir, e essa escolha pode não ser a que esperávamos. Descobri a dor de ver a minha oferta de perdão rejeitado. Descobri a dor de ser preterida. Descobri a dor de ser deixada para trás no deserto pela pessoa que nos arrastou para lá. Descobri humilhação, desrespeito e abandono. E a vergonha de ter sido traída. E descobri que isto tudo me tinha tornado numa pessoa muito feia.

Mas foi nessa altura em que vivi o Deus que, de forma assombrosamente extraordinária, pega no nada que ficou e a restaura na forma de um coração novo. Descobri a verdadeira dependência do Pai no momento mais negro da minha vida. Senti o abraço do Senhor Jesus e as lágrimas dele nas noites em que não conseguia suportar a dor. Recebi a coragem do Espírito Santo naquelas manhãs em que precisei de ligar para o trabalho e dizer: – “Não estou bem. Não consigo ir trabalhar”.

O Deus de Perto, o Emanuel, o Consolador, o Deus que Sara.

Nos dois anos de Covid que se seguiram, a minha dependência de Deus cresceu como nunca. E a obediência imediata também. Passei muitos dias de roda da Bíblia e em oração. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hebreus 4:12) Sempre que o Espírito do Pai me mostrava uma área que precisava de ser trabalhada, eu encarava-a e fazia o que tinha a fazer. Fosse perdoar o meu ex-marido, ou perdoar-me a mim, ou lutar contra pensamentos impuros e maus.

Passo a passo, Deus foi-me conduzindo pela mão, mansamente, até às águas tranquilas. Sem pressa. Deus ensinou-me a não ter pressa. 

Lembro-me de olhar para dentro de mim e pensar: eu não sou esta pessoa. Lembro-me de não me reconhecer nos pensamentos que tinha. No desejo que Deus fizesse justiça e me vingasse. E Deus, nos seus infinitos paciência e amor, ensinou-me a ser misericordiosa comigo mesma. Mostrou-me que sim, naquele momento eu era aquela pessoa. E não precisava de ficar preocupada, porque não era definitivo. Disse-me que era um processo e que Ele era fiel para completar a obra que tinha começado em mim. Que ia continuar a trabalhar em mim para me restaurar, me devolver a alegria da minha salvação.

Lembro-me de, em certo momento, fazer esta oração: “Ó Deus, só restam estes cacos, esta carne passada duas vezes pela picadora. Não sobrou nada de mim. Não sei o que é que vais fazer com isto, nem como o vais fazer. Mas está aqui. É teu. Sei que vais restaurar”.

Nos últimos três anos tenho trabalhado cada área que Deus me tem mostrado que precisa de ser tratada. Uma a seguir à outra. Sou uma pessoa mais bonita do que antes, porque sobrou menos de mim e mais de Cristo em mim.

Também meti mãos à obra para descobrir quem é a Carolina que se tinha perdido no casamento. Descobri que afinal gosto de andar de kayak nos fiordes, de dançar, de (tentar) fazer surf, de dar caminhadas pela montanha… Ah, e adotei o Latte, o cão mais fofo à face da terra. 

Deus tirou-me do deserto e trouxe-me de volta a casa. Voltei a servir a Igreja na casa que o Pai preparou para mim. Voltei a abraçar e ser abraçada pelos meus irmãos de quem tive tantas saudades. E apesar de não saber ainda o que Deus tem para mim aqui em Portugal, aproveito cada oportunidade que Ele me dá para obedecer. 

Faz-te disponível para Deus. Sê pronta a obedecer no momento em que Deus traz ao teu coração alguma coisa que tens de mudar. E agarra rapidamente as oportunidades que o Espírito Santo traz à tua vida para servir. Porque a cura vem da obediência, do derramar do coração sem barreiras, e do pecado deixado diariamente aos pés da cruz.

Hoje quero dizer-te uma coisa que talvez ninguém te tenha dito ainda:

Deus interessa-se. Deus quer saber. Achega-te a Deus e vê como Ele se achega a ti.

Que o Deus da Graça te abençoe tremendamente. 


Carolina Marmelada

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