Uma jornada solidária e nacional
Naquele dia, a batalha fora dura, na montanha. Muitos faleceram, entre eles Saúl e Jónatas. Ao sabê-lo, impregnado de dor, David escreve um poema de lamento e luto, em que expressa a sua tristeza e celebra também a vida dos que partiram. A dada altura, diz: “Como caíram os poderosos, no meio da peleja!” (II Samuel 1:25)
Pandemia e luto
Estas palavras vêm-me à mente, a propósito de 1 ano e meio de verdadeira peleja, que temos travado no nosso país, como tem sucedido em todo o mundo, contra um vírus minúsculo, silencioso e mortífero. E muitos já “caíram no meio da peleja.” Só em Portugal já se ultrapassaram os 18000 óbitos associados ao COVID 19, para além das muitas pessoas que, tendo sobrevivido, ficaram com sequelas. Têm sido tempos de apreensão, de perdas, em lutos que não tiveram como se processar devidamente, pela impossibilidade de acompanhar entes queridos nos momentos finais, por cerimónias fúnebres de participação deveras limitada, ou mesmo pela ausência imposta por isolamento profilático, pela impossibilidade do abraço e do beijo tão portugueses, por expressões faciais limitadas por máscaras…
Neste contexto, surge uma jornada de memória, luto e afirmação da esperança, marcada para os dias 22-23-24 de Outubro de 2021. Designada como Memória & Esperança, irá traduzir-se num leque diversificado de iniciativas que terão como objectivo focar a Memória dos que partiram e/ou a Esperança num futuro mais justo para todos.
Vamos celebrar a memória de quem partiu
Em momentos de luto, o lamento e a celebração podem estar de mãos dadas, combinando-se harmoniosamente. Lamento pela perda afectiva, pela dor da ausência. Celebração pela vida de quem partiu, pela sua riqueza e singularidade, e gratidão pelo tempo que foi oferecido para desfrutarmos dela. Assim fez David, que neste seu poema lamenta e celebra. Não se trata do culto aos mortos nem de oração em seu favor, que não praticamos pois não encontramos suporte bíblico para tal, mas o reconhecimento e a homenagem pelas suas vidas.
Vamos fomentar a esperança
Ao luto associa-se, frequentemente, o desalento e a inércia. Contudo, enquanto ainda se continua a falecer por COVID, é premente fazer desabrochar a esperança. E o que significa ter esperança? A pergunta pode remeter-nos para um olhar sobre o horizonte, dia após dia, na espera passiva de que algo novo e benéfico venha a emergir e a alterar o cenário de vida, pessoal, familiar ou social. Contudo, como o teólogo Moltmann refere, a esperança pode ser operante, uma forma de construção. Porque esperamos, então caminhamos, preparamos, empenhamo-nos. É necessário promovê-la entre nós, encorajando-nos uns aos outros nesse sentido.
Como poderei aderir?
A Aliança Evangélica Portuguesa associa-se a esta jornada, e incentiva os seus membros a envolver-se. Serão muitas as iniciativas locais nesse sentido. Até mesmo o culto de domingo, dia 24, será um momento propício à homenagem e à esperança. Obtenha mais informação em www.memoriaeesperanca.pt