Era uma vez…
Num reino muito distante, a vida era feliz. O rei era bom e amado, a rainha era bela e bondosa e a princesa era linda, com uma pele clara e os olhos e cabelos negros, que faziam ainda ressaltar mais o tom do seu rosto e por isso resolveram chamá-la Branca de Neve. A rainha morreu de doença súbita e o rei ficou triste e a menina ainda mais. Mas como o rei precisava de uma rainha, por fim, casou com uma mulher de beleza rara. Tinha tanto de bela como de má. Cada vez que olhava para a princesa, tinha um susto, porque Branca de Neve crescia e cada vez parecia mais bela. A beleza da jovem princesa provocava no coração mau da rainha, sentimentos de inveja e ódio. Para cúmulo da desgraça, o rei morreu e a rainha má ficou regente do reino.
Conhece a história, não é? Ela tem feito a delícia das crianças em todas as gerações, publicada em diferentes formas, levada às telas do cinema e aos palcos de muitos teatros. Penso que um dos grandes sucessos deste conto infantil, tem a ver com a maneira como se quis mostrar que a nossa verdadeira identidade não está na aparência, mas no que somos.
Cada vez que pegamos num espelho, ou nos aproximamos de um para ver o nosso rosto, se estamos bem vestidas ou decentemente penteadas, ele devolve-nos uma imagem que nem sempre é a que gostaríamos mais…
Possivelmente terá sido a superfície da água que inspirou a fabricação do espelho. Pensa-se que os primeiros terão sido produzidos durante a civilização egípcia e eram feitos de cobre polido. Mais tarde usaram a prata polida até chegar aos nossos dias.
Muitas vezes, a nossa identidade, forma-se a partir do que os outros dizem que somos, do que nós pensamos que somos.
Embora que estes factores possam ser importantes, segundo a perspectiva da Palavra de Deus “o ser humano é uma criatura de Deus, com uma natureza desenhada por Deus para conscientemente demonstrar a Sua grandeza, a Sua beleza e o Seu valor”. É nisto que que está fundamentada a nossa identidade.
Disse que demonstramos quem Deus é de forma consciente, porque nos distinguimos das aranhas, que na sua beleza glorificam, mas não têm essa consciência.
Esta foi a natureza essencial na primeira criação em Adão. Esta é a natureza essencial na segunda criação em Cristo. Por outras palavras a minha identidade fundamental é que eu sou desenhada por Deus para demonstrar a identidade de Deus.
Veja na Bíblia o que isto significa. Génesis 1:27. “Deus criou o homem à sua imagem. À imagem de Deus o criou. Macho e fêmea os criou”.
Há muito debate sobre se fomos feitos à imagem espiritual, relacional ou moral de Deus. O mais importante é que as imagens são feitas… para ser imagens. Se colocares uma imagem da Sarah numa Tshirt, o teu objectivo é chamar a atenção para a imagem da Sarah, certo?
Então a grande pergunta a fazer é esta: Porque será que Deus criou 7 biliões da Sua imagem neste planeta? Porque é que Ele fez isso? Claro e óbvio: para chamar a atenção para Ele! Foste feita à imagem de Deus, para mostrar Deus, para comunicar Deus. Este é o nosso significado. Esta é a nossa identidade. Temos uma natureza de imagem!
Deus estava apaixonadamente decidido a encher a terra com Ele mesmo, enchendo-a de imagens que apontassem para Ele. É por isso que existimos. A Bíblia coloca isto de maneira gloriosa em Isaías 43:7,” Trazei os meus filhos de longe e as minhas filhas da extremidade da terra, a todos os que são chamados pelo Meu Nome, os que criei para a minha glória, Eu os formei, sim, Eu os fiz”.
Mas todos sabemos o que aconteceu. Pecamos. Ou seja, tu tens dito, eu tenho dito, milhões têm dito a Deus: “Não. Não é isso que quero. Não Te quero como a minha identidade. Eu tenho a MINHA grandeza. Eu vou demonstrar a MINHA beleza e o MEU valor.” E ao longo da história humana, esta resolução levou a que a imagem verdadeira ficasse desfocada, como a imagem que vemos num espelho de feira. Cabeças grandes, corpos pequenos. Pernas curtas, pescoço comprido…E o pior de tudo, não gostamos do que vemos. E pior ainda. Como não conseguimos melhor, habituamo-nos a viver assim. Desfocados, infelizes, perdidos e sem valor.
Mas Deus interfere na história da humanidade e envia o Seu amado Filho que nos reconcilia com Ele através da Sua morte. É como se a cruz de Jesus fosse uma ponte estendida sobre o vazio da humanidade para que pudéssemos outra vez ser feitos Sua imagem.
2 Coríntios 5:17 diz: “Sou uma nova criação em Cristo, o velho já passou, tudo se fez novo”. Ou seja, em Cristo eu posso recuperar a minha identidade perdida, uma imagem que pode outra vez demonstrar a grandeza e a beleza de Deus. Deus há-de ser visto. Deus é visto. Um grupo de gente que quer exaltar, amar, adorar e viver para Deus, serão neste mundo a imagem de Deus. Foi para isto que Deus nos chamou. Todo o novo Testamento nos diz: És novo! És novo! Deus recriou-te em Cristo para que tenhas uma natureza, uma identidade onde a Sua beleza, a Sua grandeza, o Seu valor sejam vistos.
Onde está o obstáculo para isto seja demonstrado na nossa vida? É que quando eu entendo que fui feita para mostrar Deus, a Sua glória, beleza e valor, olho para dentro de mim e lá no fundo pergunto: mas eu não estou a conseguir isto…
Por que leva algum tempo para entender que não tem a ver com regras, com comportamento, com obediência cega a rituais e disciplinas, mas com algo tão maior e tão mais excelente e mais libertador. Tem a ver com o facto de que, para eu ser a completa imagem de Deus, tenho que estar em Cristo e Cristo tem que estar em mim. Não estou a falar de religião, nem de denominação, nem de teologia de igreja, estou a falar de algo que o apóstolo João descreve no seu capítulo 15: EU SOU A VIDEIRA, VÓS AS VARAS. Nele, em Cristo, não somos só troncos, somos varas de uma videira eterna e frutífera.
Para que se estabeleça uma identidade real em nós, têm de acontecer 3 coisas
- A nossa percepção sobre nós próprias tem de mudar.
- Temos de desenvolver uma nova forma de pensar que nos leve a uma mentalidade melhor, e
- temos de aprender uma nova linguagem e praticá-la em todas as circunstâncias.
Não podemos voltar a cair numa percepção anterior, numa mentalidade anterior ou num nível de linguagem deficiente. A nossa nova identidade agora, em Cristo, actualiza tudo.
Espelho meu, quem sou eu?
Sou amada infinitamente por Deus, sou protegida, tenho o favor de Deus, sou escolhida por Ele para fazer coisas bonitas neste mundo, sou bela aos olhos de Deus porque estou em Cristo.

Sarah Catarino
Oradora, escritora e fundadora da AGLOW em Portugal