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“E viveram felizes para sempre…” – Alina Carvalho Carreiro

“E viveram felizes para sempre…” – Alina Carvalho Carreiro

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Esta frase, tão comum no final dos contos de fadas, traz em si a expectativa de coisas boas e perfeitas para a vida de casados: harmonia constante, nada de lutas financeiras ou emocionais, muita saúde e alguns filhos para alegrar a casa!

Ao casar-me, era isso o que eu desejava… Mas tenho que reconhecer que, actualmente, essa frase tem para mim um significado bem diferente…

De todas aquelas condições por mim sonhadas, a única que vejo preenchida, após tantos anos de casamento, é a que se refere ao meu marido, Vanderli, companheiro sempre presente em todas as situações.

Quanto à vida tranquila, sem lutas ou pressões, a saúde perfeita, os recursos materiais sempre disponíveis… Ora, isso não faz parte do mundo real, em que cada desafio deve se constituir nas oportunidades necessárias ao nosso crescimento e consequente fortalecimento. E se já seguimos o exemplo do salmista, que disse ao Senhor Deus: “Nas Tuas mãos estão os meus dias…” (Salmo 31:15), então não há que temer, pois a cada luta vêm-nos as forças que nos permitem sair vitoriosas.

Mas, e quanto aos filhos? Não é isso o que se espera, que um casal complete a sua felicidade gerando e criando filhos, por meio dos quais venha a perpetuar a sua família?

Para nós, esta foi uma decisão natural. Habituados a viver em famílias numerosas (Vanderli tem dez irmãos, e eu tenho cinco), não nos poderíamos imaginar sem crianças à volta.

Por isso, à medida que o tempo passava, saímos em busca das soluções para o aparente problema da infertilidade. Foram muitos exames, tratamentos diversos, consultas com especialistas, na expectativa de um bom resultado. Em todo o tempo, o Vanderli esteve comigo, apoiando-me e também submetendo-se ao processo, quando necessário. Mas nada acontecia que indicasse a solução do problema.

Para mim, o mais difícil nesse período foi entender o que Deus realmente queria. Embora uma criança fosse muito desejada, custava-me pensar que eu poderia estar a insistir em algo que não fizesse parte dos propósitos de Deus para a minha vida. Às vezes retraía-me diante de uma nova tarefa, porque considerava: “E se eu engravidar? Como vou dar conta deste novo trabalho?”

Por outro lado, deparávamo-nos com as cobranças contínuas: “E então, quando chega essa criança?” Algumas vezes a intenção era boa, de pessoas preocupadas em que estivéssemos a deixar passar o momento ideal para criar os filhos. Outras vezes, éramos feridos por comentários menos bondosos. E o tempo passava… e nada acontecia…

Após uns quinze anos de casados, fui a uma consulta ginecológica de rotina, num hospital muito conceituado. O médico que me atendeu, então, insistiu em que eu marcasse uma consulta na nova Unidade de Esterilidade, para uma avaliação.

Concordei, e compareci àquela consulta, munida de todos os exames e laudos recebidos, ao longo de todo o tempo em que tentara engravidar. A médica, muito atenciosa, conferiu as informações e explicou: “Realmente, você tem seguido o caminho certo, para engravidar. Porém, se vier tratar-se connosco, deverá voltar a fazer estes exames, através do nosso Centro Médico, para conferirmos se há alguma alteração”.

Pedi-lhe um tempo para pensar e fui para casa. Passei uma semana orando e conversando com o Vanderli sobre o assunto. Sobretudo, desejávamos que a paz do Senhor acalmasse os nossos corações, com a decisão que viéssemos a tomar. E foi assim que retornei à médica resolvida a não seguir adiante com o novo tratamento.

Contudo, houve uma condição que coloquei perante o Senhor, caso Ele me mostrasse que não deveria continuar a tentar engravidar: eu desejava sentir-me realizada, completa, independentemente dessa privação dos filhos. Que eu nunca me entristecesse com a alegria daquelas que geram e criam seus filhos, que eu não me considerasse diminuída por não ser mãe, que eu não limitasse o meu afeto pelas crianças, pelo facto de não ter um filho meu… E que soubesse aproveitar todas as oportunidades decorrentes dessa condição, tanto para testemunhar como para empregar o meu esforço e energia no Seu serviço.

E como no plano de Deus não há falhas, e a Sua vontade é boa, agradável e perfeita (Romanos 12.2), eu tenho experimentado alegrias a cada dia, ao depositar diante do Senhor os meus sonhos, expectativas e realizações. O ministério que Ele me tem permitido desenvolver, ao lado do Vanderli, trouxe-nos tantos “filhos e netos”, que de maneira alguma nos sentimos sós!

Portanto, deixo-lhe um desafio. Aprenda a orar como Davi: “Tu és o meu Deus, outro bem não possuo senão a Ti somente” (Salmo 16:2). Deus é o Bem maior. Esta convicção a ajudará a superar as eventuais perdas da vida – a doença inesperada, o marido que se vai, o dinheiro que é pouco, os filhos que não apoiam, o emprego que falhou e o mais que possa pensar. Quando o maior afeto do seu coração for o Senhor, ainda que tudo se venha a perder, o Senhor nunca lhe será tirado. Dele você receberá a vida abundante, que fará com que os seus dias sejam plenos de significado (João 10.10).

O apóstolo Paulo enumerou uma série de situações que, embora graves e desgastantes, são incapazes de nos afastar do amor de Deus, revelado em Cristo Jesus, o nosso amado Salvador: “Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8.38,39).

E nessa confiança, envolvidos pelo imenso amor de Deus, o Vanderli e eu temos vivido “felizes para sempre…”

 

 

Alina Carvalho Carreiro
Professora de Educação Cristã e de Música

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