O sol é persistente e mesmo no rigor do inverno ele teima em brilhar. O mais típico nesta estação, pelo menos neste lado do mundo, é que as chuvas encharquem a terra, as nuvens carregadas escureçam o céu e o vento gelado seja uma constante. Contudo, neste ano, apesar do frio intenso, o sol continua a brilhar. As noites são enluaradas e as estrelas visíveis desenham no céu pontos de luz como para lembrar que há mais para além da paisagem que temos. Elas aproximam de nós o universo e nem se quer percebemos.
Ao pensar neste quadro desenhado não por mãos humanas, ou pelo fruto de um acaso qualquer, mas por um Deus soberano que reina e a quem amamos, rendo-me à confiança de que se o jardim é tão belo e perfeito, as nossas vidas são incomparavelmente mais preciosas em Suas mãos.
Ele nos fez mulheres e a nossa natureza vem em ciclos.
No princípio eram os lacinhos que enfeitavam o cabelo, o vestidinho rodado, os sapatinhos a combinar… Criança ainda, o nosso mundo era repleto de ilusões, emoções que iam nos moldando, transformando as nossas vidas, enquanto o corpo desajeitado ia mudando aos poucos, sem a gente perceber, porque afinal o sonho era crescer…
Até que, de repente, temos que lidar com a menina que somos num corpo que começa a sangrar, e se moldar… E a adolescência vem e traz muitas ondas com ela. Medos, inseguranças quanto ao futuro, paixões, e desejos entranhados que assustam, ao mesmo tempo que impulsionam e nos fazem fazer escolhas que nesta altura não sabemos, mas que podem marcar a nossa história para sempre…
Crescemos. E crescer envolve decisões, conflitos e emoções que vamos aprendendo a lidar, e a menina vai dando lugar à mulher, com todo o potencial para o qual foi criada. A juventude esbanja a sua alegria, através de um sorriso, de uma maquilhagem bem feita, de um cabelo arranjado, mas principalmente dos caminhos que escolhemos, dos sonhos que concretizamos, dos medos que vencemos… Aqui escolhemos a carreira, as amizades se solidificam, escolhemos o amado, entregamos o corpo, o coração e os anos que virão a alguém que se torna um connosco. Geramos filhos, dividimos os nossos corpos e as entranhas do nosso ser com alguém que vai encher a nossa vida, no princípio de choros, brincadeiras, gracinhas e risos… E para sempre de um vínculo de alma que nos faz perpetuar e testemunhar…
Outras não. Por opção, porque não deu, porque não foi como queria ou porque não era o caminho, escolhem andar sozinhas, são valorosas, apoiam, sustentam… Cheias de graça, caminham, são plenas e vão…
E a maturidade vem. Com ela alguns cabelos brancos, a menopausa, a certeza de muitas conquistas e alguns sonhos deixados atrás, outros ainda por concretizar. O corpo não perde o vigor, mas pede calma, abranda, mostra que precisa de mais tempo… O ninho começa a esvaziar-se, e é tempo de preencher espaços, renovar a esperança e continuar a caminhar. E a mulher arranja o cabelo, retoca a maquilhagem, escolhe um novo batom e vai…
Até que a velhice vem, com ela talvez a solidão, as saudades de um tempo que se foi, as lágrimas pelas perdas, pelas vitórias, pela vida… O sorriso cansado, os cabelos branquinhos e a face enrugada, como se nela estivesse desenhada a história de cada emoção.
Mas como a vida é uma caminhada, a estrada é longa, por vezes larga e cheia de encanto, outras estreita, cheia de obstáculos, repleta de atalhos que seduzem… Para muitas mulheres, cada ciclo da vida foi antes de mais um fardo, ao invés de encanto. Quantas foram deixadas de lado, não conseguiram viver, foram maltratadas, abusadas, sofreram…
Porém, como o sol que teima em brilhar mesmo no rigor do inverno, Deus nos capacita a perseverar. Em alguma etapa deste nosso ciclo de vida, somos confrontadas com a melhor escolha que podemos fazer. Jesus, o Salvador, é Aquele que se propõe andar connosco, quer seja uma caminhada alegre ou nem por isso. Quer estejamos rodeadas por outros ou solitárias. Quer não entendamos as mudanças ou não saibamos caminhar… Ele anda connosco e nos ensina a servir, compreender e, principalmente, amar…
Ele ama, e porque podemos ter esta confiança, O abraçamos e vamos… e enquanto andamos lado a lado com Ele, oramos assim:
“Jesus, capacita-me a influenciar esta geração. Geração perdida em valores passageiros, efémeros e que não renovam a esperança.
Ensina-me a ser um exemplo ao gravar as verdades da Tua lei e andar com elas enquanto, eu falo, ando, olho e acompanho…
Ajuda-me a ouvir-Te sempre, de tal forma que a geração que aí vem saiba Te ouvir também e tenha coragem de seguir a Tua voz, mesmo que este mundo de tantos barulhos tente convencer que os seus sons são ideais e um alvo a alcançar.
Leva-me a confiar em Ti como o Pastor. E, mesmo em meio ao desespero de não saber para onde ir nem como dirigir, eu possa ter o privilégio de Te ver amparar, acudir e proteger esta geração perdida. Filhos gerados do ventre, dos relacionamentos, da vida, mas que precisam de Ti.
Capacita-me a escolher-Te a Ti, ó REI. E que através da minha escolha eu possa ser exemplo para aqueles que aqui estão e para os que virão. E que possa pagar o preço desta Esperança que transcende e vai além do bem estar tão esperado, mas que é eterno a partir de agora e vai além, muito além do temporal.
Jesus, obrigada por me trazer de volta a esperança. E que nessas andanças eu possa brilhar o Teu brilho, cantar o Teu canto e acreditar a cada dia que só em Ti há solução. Que eu saiba mostrar ao mundo que anda tão confuso que Tu não és religião, mas amizade, companhia e direcção… o melhor Caminho, o único Deus e a Vida que andamos à procura…
Arlete Castro
Escritora
Mestre em Intervenção Terapêutica