Eram 12.30h e, à janela do escritório, eu vi um carro a parar em cima do passeio, junto ao portão do meu local de trabalho. Do banco da frente, saiu uma mulher ainda nova, na casa dos 30 e poucos anos, a chorar e, cambaleando, sentou-se no chão, encostada ao muro.
Logo de seguida, a correr também, saiu uma senhora da parte de trás que logo se ajoelhou junto da primeira, e do banco do volante um senhor que rapidamente se aproximou das duas. De imediato pensei, “Vou descer e perguntar se precisam de ajuda”, e assim fiz.
O sol daquele mês de Maio estava a queimar àquela hora e ao chegar perto perguntei se queriam um pouco de água ou algo que eu pudesse fazer para ajudar. Disseram-me, “Não, obrigada”. Insisti para virem para a sombra, mais para dentro de casa. Foi quando a senhora mais velha se voltou para mim e disse a chorar, “Esta é a minha filha e acabou agora de saber que tem um cancro na mama.”
Naquela altura não sei explicar o que senti, identifiquei-me logo com a filha em questão e uma compaixão inundou toda a minha alma. Tinha passado pela mesma situação cerca de 2 anos antes. Abaixei-me e, olhos nos olhos, perguntei-lhe o nome e pude dizer, ”Minha querida sei o que está a sentir… Já estive aí… Também chorei o que está a chorar… Também disse que não via mais os meus filhos crescer. Enfim, pensei que ia morrer. Não posso fazer nada por si nessa área mas conheço alguém que pode, e esse alguém me surpreendeu um dia. Chama-se Deus e Ele pode todas as coisas. Ele a ama muito ao ponto de entregar o Seu Filho para morrer por si; o Seu desejo é salvar a sua alma. Busque-O de todo o seu coração e de toda a sua alma e Ele vai revelar-se à sua vida e ajudá-la… Posso fazer uma oração por si?”
Com os olhos esbugalhados e, parando de soluçar, esta senhora aceitou, e pude então orar por ela. Foi uma bênção tal que o marido disse, olhando para mim: ”Estou a ver que não foi por acaso que parámos aqui!” E eu respondi que não há acasos na vida dos filhos de Deus mas sim propósito.
Fiquei com o contacto telefónico dela e fomos trocando mensagens durante todo o processo de tratamentos e cirurgia. Ficámos amigas desde então e Deus foi com ela de tal maneira que tudo correu bem com a cirurgia, com a quimio, com a reconstrução do peito, e ela ainda hoje diz não entender como é que eu, sem a conhecer de lado algum, pude dar-lhe o que lhe dei naquele dia: Esperança! A Deus seja a Glória!
Quando penso naquele dia, sinto uma gratidão imensa e uma lágrima ou outra teima em rolar ao ver o Amor do nosso Deus. Eu tinha de estar à janela àquela hora! Aquele carro tinha de parar naquele sítio da avenida… E tinha de haver alguém com o mesmo problema de saúde pelo qual eu tinha passado e que precisava de uma palavra de consolo e esperança.
Muitas vezes, durante a prova nada entendemos. Por vezes só mais tarde entendemos o propósito. Se foi só por isto já valeu a pena. Minhas amadas não sou mais do que vós, dou este testemunho para louvarmos a Deus e para vos dizer que vale a pena falarmos deste maravilhoso Deus e sermos a Sua voz, os Seus pés e as Suas mãos enquanto aqui andamos. Sejamos sal e sejamos luz nestes dias. Deus seja louvado!

Ana Cristina Santos
Escriturária