Ela foi condenada. Sozinha ali, sem amparo e sem proteção, entregue à própria sorte e rejeitada por todos aqueles que a rodeavam. Naquele momento, não havia ninguém que a pudesse livrar, afinal não havia perdão para uma mulher apanhada em adultério. Lapidação era o seu castigo.
Aqueles homens que a rodeavam com pedras na mão, eram os mesmos que viviam escondidos atrás dos seus títulos de poder. Eram os fariseus, os chefes dos sacerdotes, os escribas, os entendedores da lei e que pouco tempo antes tinham tentado prender Jesus pelo facto do povo começar a considerar que Ele era o Cristo. Os mesmos que se indignaram assentados em cima do seu próprio orgulho, quando até os guardas que não o tinham prendido, afirmaram que “ninguém jamais falou da maneira como esse homem fala”. João 7:46
A história se repete. Hoje em dia não é apenas uma mulher adúltera à espera de ser apedrejada, mas somos nós, que por vezes andamos solitários, sedentos, rejeitados e condenados por aqueles que se assentam nos seus tronos de autoridade e orgulho a espera de atirar a primeira pedra.
A história dela poderia ser a história de cada um de nós. O que está por detrás das escolhas que fazemos? Dos medos que sentimos? Dos anseios da alma que nos levam a satisfazer os nossos impulsos?
O pecado dela é o nosso pecado, porque o adultério não é apenas o acto de trair o marido ou a esposa com outro alguém. O adultério é o impulso da alma, de preencher o vazio do coração, com algo ou alguém que não seja Aquele que no mesmo contexto promete ser a Luz do Mundo. O adultério é permitir que a carne e as entranhas da alma se entreguem ao que é pequeno, diante da grandeza do Senhor que promete intimidade plena com Ele. O adultério é todo o pecado que satisfaz a nossa carne e momentaneamente alivia o anseio, ou quem sabe a dor…
Foi por isso que diante dos acusadores daquela mulher Jesus confrontou: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra nela”. E foi assim que, um a um, eles se retiraram.
E ali estava ela, mas já não estava só. Humilhada, confrontada como nunca antes com a sua condição de pecadora e exposta ao horror de poder ser morta até que, de repente, a Voz que alcança a alma, a preenche. A Doçura que envolve o coração, a convence. A Faca de dois gumes que divide alma e espírito a alcança, no momento em que o Senhor pergunta:
“- Mulher, onde estão eles, ninguém a condenou?
– Ninguém Senhor.
– Eu também não a condeno. Agora vá e não peque mais.”
O que isto tem a ver contigo? Tens ouvido a doçura desta voz? O que Ele te fala? Qual é a tua decisão?
Baseado no Evangelho de João, Capítulo 8.

Arlete Castro
Escritora
Mestre em Intervenção Terapêutica