• Siga-nos nas redes sociais

Depois do divórcio

Depois do divórcio

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Não foi o que desejou. Não fez parte dos seus alvos ou anseios. Contudo, o divórcio aconteceu. E essa é agora a realidade, por sua iniciativa ou vendo-se na necessidade de viver a decisão do seu ex-cônjuge, uma vez que para acontecer um casamento são precisas duas pessoas mas para acontecer um divórcio basta uma querer. E agora há que saber lidar com essa ruptura e com o início de uma nova etapa na vida.

Desgaste pessoal

O divórcio acaba por ser o culminar de um processo, formalizando um afastamento que foi sendo gradual, ao longo do tempo. Assim, habitualmente chega-se ao divórcio com algum (muito) desgaste e fadiga pessoal, de meses ou anos semeados de mal-entendidos, conflitos, uma comunicação frágil ou mesmo marcada por momentos de aspereza ou agressividade. Sentir cansaço e tristeza é normal pois representa sempre uma perda. Dê a si mesmo(a) o tempo para fazer o “luto” por um projecto afectivo que “morreu”.

Momentos com Deus

Agora, precisa de ver restaurada a sua estabilidade emocional e afectiva. Nesta fase, é natural haver muito ruído em torno de si (informações, opiniões e conselhos que poderão chegar a ser até contraditórios). Ofereça a si próprio(a) momentos de silêncio sereno, introspecção, oração e leitura a sós, buscando de Deus tudo o que Ele tenha para si. Ainda que se sinta um tanto perdido(a), sem conseguir discernir com clareza o caminho a seguir, procure essa proximidade com Ele. Da mesma forma como o pastor leva aos ombros a ovelha perdida, conduzindo-a ao lugar certo, Deus quer dar direcção aos seus passos, oferecendo-lhe o suporte de que precisa. Abra o seu íntimo à paz e ao conforto de Deus, sem oferecer resistência à Sua voz. Essa intimidade com Deus representa ensino e cura que agora lhe são essenciais.

A moldura humana

Contudo, não se entregue a um isolamento demasiado. Faça-se rodear de pessoas que o(a) amam profunda e incondicionalmente: familiares, amigos, crentes. Esse colo afectivo pode representar um apoio revigorante. Precisa muito de esse sentido de apego, de pertença e de valorização pessoal para prosseguir com a vida. E um olhar acolhedor, um ouvido atento, uma palavra sábia são preciosas expressões do amor de Deus, usando outros em seu favor.

A atitude

A Bíblia diz que a nossa vida pode ser contaminada pelas palavras que proferimos. Não deixe que a decepção sofrida faça de si uma pessoa amarga ou que faça das suas conversas um derramar constante de acusações e dor ao longo do tempo. Afinal, ninguém tem o direito de fazer de nós pessoas desagradáveis, a menos que nós o permitamos. De facto, esse mastigar contínuo de revolta e, até por vezes, algum desejo de vingança, não provém de Deus e criará uma atmosfera pessoal em si que não deixará espaço para o mover Dele na sua vida. Deixe que Deus lhe devolva a paz e as palavras saudáveis que Ele sabe dar, mesmo no meio da aflição.

Com a ajuda Dele, procure desenvolver em si uma atitude de respeito pela pessoa que saiu da sua vida, tendo presente que “cada um dará conta de si mesmo a Deus.” Afinal, um dos grandes desafios como cristãos é entender que não devemos encarar ou tratar os outros por aquilo que eles são mas por quem Deus é em nós.

Uma nova etapa

Mesmo que, em certos momentos, pareça ter-se sentido num beco ou num labirinto confuso, a verdade é que existe um caminho, ainda que não o veja com clareza. Sim, diante de si está um caminho a ser percorrido, com um sabor a novo. Vamos adiante? Li um princípio que faz sentido lembrar, a este propósito: “A diferença entre um turista e um peregrino é que o turista quer ver coisas novas e o peregrino quer tornar-se novo.” (Thomas Bucher, Secretário-Geral da Aliança Evangélica Europeia)

Nesse sentido, já todos fomos turistas e peregrinos. Agora numa etapa diferente da sua vida, poderá dar por si na tal procura de “coisas novas”, que serão úteis e que constituem alguma forma de refrigério para si. Contudo, assuma também um desafio maior, o do peregrino: tornar-se novo. Deixe que as recordações inúteis sejam limpas do seu íntimo, permitindo criar um espaço arejado, perfumado, onde Deus habita, onde novas amizades e oportunidades são acolhidas com gosto. Deixe que o perdão renove em si a esperança e a alegria de viver.

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

error: Conteúdo Protegido!