Era Dia da Mãe. Eu tinha 17 anos e na igreja recebera uma rosa para oferecer à minha mãe, naquela manhã de Maio, cheia de sol.
Ao entregar-lhe, comovi-me. Era natural, pela relação tão próxima e carinhosa que tinha com ela. Era um prazer entregar-lhe a rosa, como símbolo de tanta coisa que desde bebé nos unia uma à outra.
Contudo, estava sensibilizada também por outro motivo, e disse-o: “Mãe, hoje gostava de ter duas rosas para oferecer: uma a ti e outra à minha mãe chinesa.”
Mãe chinesa… Era assim que eu designava a minha mãe biológica, que me dera à luz, em Macau. Na altura, ela tinha 21 anos e, sentindo-se desprovida de condições para ficar comigo, acabara por decidir encaminhar-me para a adopção. E assim, com dez meses, fui entregue a este casal português que residia em Macau, agora meus pais, que já tinham uma filha biológica e oravam por uma bebé para adoptar.
A minha mãe comoveu-se também, concordou que seria lindo eu poder fazê-lo e combinou comigo que esse seria um plano para concretizar um dia. Na verdade, na altura da adopção os meus pais haviam pedido alguns elementos mais sobre a identidade da minha mãe biológica (fotocópia de dois documentos dela), que lhes foram concedidos, para que um dia eu tivesse alguns recursos mais para procurar a minha Orquídea de Ouro (significado do nome chinês da minha mãe).
Entretanto, os anos passaram. Concluí o meu curso, casei e fui mãe há 2 anos atrás. O meu marido, que também é adoptado, decidiu procurar a sua mãe biológica. Envolvemo-nos os dois nesse processo e fomos bem sucedidos! Sim, ele encontrou a sua mãe! E voltei a pensar em encetar o mesmo processo.
Comecei por contactar uma ex-colega da minha mãe adoptiva, que vive em Macau. Ela foi a uma casa onde supostamente a minha mãe biológica viveria, segundo o endereço que tínhamos. Afinal, já não residia lá. Os vizinhos contaram que há 10 anos ela saíra dali mas asseguraram que ela continuava a viver em Macau, embora fosse da China continental, pois viam-na ocasionalmente.
Então, foi altura de escrever para o Departamento de Adopções em Macau. Responderam-me prontamente e foram procurar a minha mãe, levando fotografias minhas, ainda bebé e outras mais recentes que eu lhes enviara. E conseguiram localizá-la! Ela vive com a mãe, minha avó materna, e ambas ficaram muito felizes por ter notícias minhas. Enviaram-me fotografias delas, que recebi com alegria, e tenho observado com curiosidade e carinho.
Muitas vezes me perguntam o que sinto acerca da minha mãe biológica. A última vez que tal aconteceu foi no programa televisivo de Manuel Luís Goucha, onde participámos, o meu marido e eu, no passado dia 30 de Junho. Na verdade, não existe ressentimento nem revolta em mim. Acredito que entregar um filho para adopção pode ser um acto de amor, de grande altruísmo e generosidade. Reconhecendo que não tinha condições, a minha mãe dispôs-se a oferecer-me, assim, um futuro melhor. Sonho com o dia de a encontrar presencialmente, de a abraçar e, então, oferecer-lhe uma rosa. Estou a recolher fundos nesse sentido.
Ser adoptada lembra-me sempre o amor de Jesus, que fez o mesmo por todos nós, tal como referiu S. Paulo: “e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.” (Efésios 1:5)
Se desejar conhecer melhor a nossa história de adopção, do meu marido e a minha, poderá adquirir o nosso livro “Adoptados e Unidos pelo Amor”, contactando-nos por e-mail: adoptadosvm@gmail.com

Melissa Raquel Coias Tomé Marini
Médica de Medicina Tradicional Chinesa