Acabei agora de ler o que considero o melhor livro que já li. De facto, foi como água fresca para a minha alma, dando-me o que, por certo, eu precisava de aprender. Trata-se do livro autobiográfico de Billy Graham, intitulado “Just as I am” (“Tal como sou”).
Um pedaço de história
Levaria muitas páginas para tentar descrever tudo o que dele recebi. Como barro nas mãos do Oleiro, que precisa de água para continuar o seu trabalho, este livro foi a água necessária para que eu ainda continue a ser moldada, pois não sou a mesma que era antes de o ter lido.
Este livro oferece uma leitura enriquecedora, quer para quem aceite quer para quem rejeite o conceito de religião, pois a sua riqueza literária vai além de qualquer conceito. Trata-se de um pedaço enorme da história mundial e não um enredo em que se procura chegar ao desfecho na última página.
Os diários de Ruth e Billy Graham, escritos com precisão e detalhe, levam-nos pelo mundo, numa missão inimaginável que Deus entregou ao menino que ordenhava vacas, orava num troço de estrada, ainda muito jovem e, deitado no chão, olhava a imensidão do firmamento estrelado quando Deus o chamou e continuou a confirmar a chamada até aos seus 99 anos. Ao longo do livro, vê-se a sua própria admiração por ver de onde Deus o trouxe e por onde o levou, não deixando que nada o fizesse perder a visão, mantendo-se na posição de humildade requerida.
Crescimento do ministério
Para sua própria surpresa, o ministério que Deus lhe entregou cresceu em muitas direcções e oportunidades mas nunca alterou a sua postura de humildade. Percebe-se a sua contínua dependência de Deus, mesmo quando crescia à sua volta a influência e admiração do seu trabalho vinda de homens que se destacavam financeiramente.
É um relato abrangente e minucioso de muitos contactos a alto nível, desde o Presidente Eisenhower até ao Presidente George Bush (pai), com a parte positiva e diferente em que foi dada ao mundo a oportunidade invulgar de ouvir o evangelho, com os resultados de mudança na vida de multidões, que atingiu muitos líderes também.
Três homens muito conhecidos na história quiseram falar com Billy Graham privadamente: Nehru, Eisenhower e Churchill. Não foi sem expectativa que ele recebeu esses convites. Qual seria o assunto ou os assuntos? Nehru, que o recebeu em silêncio, ficou a ouvir impressão de Billy Graham sobre a Índia até chegar a palavras que saciaram a sua fome espiritual. Eisenhower estava doente e queria fazer paz com Nixon, o seu vice-presidente, com quem tinha diferenças de opinião a resolver. Brevemente, o seu neto e a filha de Nixon iriam casar, e o General queria a paz entre eles e pediu a ajuda de Billy Graham nesse sentido. Mais tarde, já no hospital, mais uma vez foi pedida ajuda ao evangelista que lhe falou sobre a esperança na eternidade. O convite de Churchill chegou com muita insistência. Queria falar com Billy, enquanto decorria a campanha evangelística em Londres, que lhe falou da salvação e do plano de Deus, tendo orado por Churchill, a pedido dele. Três homens que a história nos revela como vibrantes e fortes mas cuja necessidade espiritual era igual a todos os mortais, quando a eternidade estava à vista.
A sua esposa
Não imaginam como me senti feliz lendo o que Billy Graham escreveu sobre a esposa Ruth. Descrevendo o dia em que receberam das mãos do Presidente Clinton a Congressional Gold Medal, a maior honra do Congresso dos EUA dada a um cidadão, neste caso a ele e à esposa, com a efigie de ambos, disse ele: “Senti-me totalmente não merecedor desta honra, mas estou felicíssimo que Ruth esteja incluída. Sem a sua participação e o seu encorajamento através dos anos, o meu trabalho teria seria impossível de realizar.”
Durante esses muitos anos, ela criou os cinco filhos, viajou com ele e esteve ao seu lado, em momentos em que ele precisou da sua companhia em oração e o seu conselho que ele sempre considerou e apreciou, sendo ponto alto na ajuda que precisou e recebeu dela.
Ramo de flores
Lembrei-me então que, três dias antes da sua partida para a eternidade, o meu marido, na altura já pouco comunicativo, olhou para mim e disse: “Carmina, tenho estado aqui a pensar que tu nunca te queixaste”. Para mim, foi como se de repente ele viesse com um grande ramo de flores, como gratidão por muita coisa, ao longo dos muitos anos em que servimos a Deus juntos e que eu sei ele estava englobando naquela frase.
Será muita ousadia da minha parte, mas atrevo-me aqui e hoje a pedir aos maridos que ainda têm as suas esposas, a percorrer no coração o caminho andado e falar o que iria ficar por dizer, mas que elas muito apreciariam ouvir enquanto ainda lhes pode ser dito. Na vida que está a correr depressa demais, há uma dívida por pagar que umas palavras, um abraço e um beijo têm o dom não só de pagar mas também o juro do que já devia ter sido dito. Agora é o tempo, “dá-lhe as flores enquanto vive”.
O que teria feito diferente
Na análise que faz da sua vida, depois das muitas décadas que o livro atravessa, Billy Graham considera o muito que teria feito diferente. Quantos de nós pensamos o mesmo!
Sobre o seu casamento, refere que ele e a esposa tentaram fazer o melhor. Lamentou os dias em que esteve longe dos filhos, mas que tentou compensar o melhor que pôde, perante a impossibilidade de não poder reaver esses dias. É verdade, sempre podemos compensar, mesmo sem haver a possibilidade de reaver o que se perdeu. O que definitivamente lamentou foi o seu envolvimento na opinião política para que as circunstâncias o empurraram. “Isso diluiu em algum ponto a minha chamada, que eu desejaria ter sido apenas “pregar o evangelho”.
Desejo que este livro seja, para quem ler, a bênção que foi para mim. Um exemplo de vida, verdadeiro e inspirador. A minha vida estaria incompleta sem esta leitura.
“Isto se escreverá para a geração futura; e o povo que se criar louvará ao Senhor.” (Salmos 102:18)
Carmina Coias
Missionária aposentada