Cresci numa pequena localidade, nos arredores de Coimbra. Terminado o percurso escolar, fui aprender a costurar, com apenas 13 anos de idade. Aí conheci uma colega que me falou de Jesus.
Aos 16 anos, fui com ela e o seu marido a um culto, num domingo de Páscoa e aceitei Jesus como meu Salvador. Esse casal sempre me incentivou a servir a Deus.
A partir dessa altura ficou claro para mim que só casaria com alguém que também fosse cristão. Por esse motivo, não aceitei algumas propostas de namoro. Os meus pais, que não eram crentes, não entendiam bem essas recusas. Conheciam mulheres solteiras que frequentavam a igreja e preocupavam-se que esse fosse o meu futuro. Eles desejavam que eu casasse.
Aos 31 anos vim servir a Deus para o Desafio Jovem. Era um desejo de anos e veio a concretizar-se nessa altura. Aí trabalhei durante 13 anos consecutivos, investindo na reabilitação de muitas mulheres tanto alcoólicas como toxicodependentes. Durante esse tempo, partilhei diferentes casas com diferentes cooperadoras, não dispondo de um espaço definitivamente meu. Foi um ministério que desenvolvi, tendo a oportunidade de ser influência próxima na vida delas.
Por ser solteira tinha maior disponibilidade. Eu sabia disso e também reconhecia que era encarada desse modo. Vivia cercada de muitas solicitações, diariamente. Para mim era um prazer poder ajudar, de dedicar o meu tempo a outros mas, por vezes, dava comigo a pensar. “Será que um dia alguém vai ter tempo para mim?”.
Havia momentos que me criavam algum embaraço. Um deles era ir a casamentos. Aí, habitualmente havia comentários: quando será o teu dia? Sorria, mas sentia o desgaste de me ver confrontada repetidamente com as mesmas perguntas.
Fiz muitos vestidos de noiva para clientes e amigas. Preparava-os com entusiasmo e alegria por elas mas cheguei a chorar ao pensar: “Será que algum dia vai ser o meu?”
Sim, eu queria casar. Contudo, teria de ser com alguém que amasse o Senhor e fosse a Sua vontade para mim. Orei por isso durante alguns anos. O meu pastor sempre me incentivou nesse sentido. Fez-me entender que havia homens que, da minha idade, também pensavam como eu e oravam como eu, na expectativa de alguém que Deus trouxesse às suas vidas. Eu poderia vir a ser refrigério e bênção na vida de alguém.
Os anos foram passando. Surgiram oportunidades de relacionamento mas que eu sabia que não eram as certas para mim. A partir de certa altura, tendo em conta a minha idade, achei que já não iria acontecer e esse assunto deixou de ocupar as minhas orações.
Um dia adoeci. Por esse motivo tive de abrandar o meu ritmo diário e reduzir compromissos profissionais durante uns meses. Passei a ter mais tempo para mim e dei comigo a orar de novo por casamento. Fi-lo durante três anos, diariamente. Houve dois versículos que foram marcos importantes nessa altura, que falavam de esperança:
“A esperança demorada enfraquece o coração, mas o desejo chegado é árvore de vida” Prov. 13:12.
” Sustenta-me conforme a tua palavra, para que viva, e não me deixes envergonhado da minha esperança.” Salmo 119:116
Partilhei com algumas pessoas amigas o motivo de oração e a minha esperança. Algumas ficavam surpreendidas. Nem todas entendiam.
Estava prestes a completar 50 anos, quando uma amiga me incentivou a preparar uma festa especial. Assim, no dia do meu aniversário reuni 56 amigas num restaurante, num ambiente muito alegre, animado e totalmente feminino. Diziam-me que estava linda como uma noiva. O grande número de prendas, que faziam lembrar um casamento, comentavam.
Aí agradeci a todas a grande amizade, ao longo dos anos. Naquela noite, eu sabia que iria acontecer alguma coisa num futuro próximo. Eu sentira a festa como a despedida de uma etapa para dar início a outra. Mas qual?
Uns meses depois, nesse mesmo ano, conheci o Alberto. Num culto, fui convidada a partilhar a Palavra de Deus e falei sobre sonhos – aquilo que Ele quer concretizar na nossa vida. Hoje sei que foi nesse dia que o Alberto começou a orar por mim, achando que seria eu a esposa certa para ele. Só mais tarde me apercebi do interesse dele. Cativou-me o facto de ser um homem cuidado, calmo, ponderado e sábio na sua forma de se relacionar. Comecei a sentir que ele seria o homem de Deus para a minha vida e falei com o meu pastor sobre isso. Não estava sozinha neste passo, sentia-me segura. E o sonho concretizou-se!
No dia do meu casamento tive a felicidade de desfrutar da presença de muitos amigos que foram importantes para mim ao longo dos anos. Foi pelo seu carinho, o incentivo e as muitas palavras de apoio que chegara até ali. Estou-lhes muito grata. Os meus padrinhos foram o casal que me levou a Jesus quando era adolescente. A esposa fez e ofereceu-me o vestido de noiva. Toda a minha família teve a oportunidade de ver que Deus é fiel e faz as coisas acontecer no momento oportuno, regozijando-se comigo nesse dia especial.
Estamos casados há doze anos. Dou graças a Deus porque o Alberto veio à minha vida, como uma mais -valia. Ele é, de facto, o homem que Deus tinha para mim. Valeu a pena esperar! Continuo a servir a Deus na igreja local mas não estou sozinha pois o meu marido acompanha-me com a sua disponibilidade e o seu desejo de O servir.
Gostaria de ter sido mãe. Porém hoje, olhando para trás, concluo que tenho muitos filhos. Ainda este ano, no Dia da Mãe, recebi uma prenda de uma jovem que ajudei há muitos anos no Desafio Jovem, e hoje é casada e mãe de três filhos. Ela disse-me: “Toma, porque tens sido mais do que uma mãe para mim.” Na verdade, Deus tem uma forma muito própria de nos dar filhos e mimos!
Vi a minha família ampliada, pois ganhei não só um marido mas duas cunhadas, os seus três filhos, já adultos, três noras e uma neta – um relacionamento muito precioso para mim. O meu marido foi igualmente muito bem acolhido pela minha família.
Hoje, olho para trás e concluo que Deus tem um tempo para todas as coisas. Aquilo que tive oportunidade de fazer ao longo dos anos, como solteira, foi ministério para Deus. A maneira como investi na vida de tantas pessoas, de dia e de noite, a dedicação que foi necessária, só foi possível por não ser casada. Construí relacionamentos com centenas de pessoas que perduram até ao dia de hoje, apenas possíveis por essa disponibilidade e que estendem já aos seus filhos.
Se tens um sonho, luta por ele mas jamais o faças sozinha. Acima de tudo, deixa que Deus tome conta dos teus anseios e rodeia-te de pessoas espiritualmente maduras e que te amem. Como pessoa solteira, não te isoles, não te feches, a lamentar a tua situação. Vive a tua vida em disponibilidade para os outros. Convive, partilha o que és. Há vidas que precisam de ser enriquecidas por ti, pelo facto de estares solteira. Marca positivamente a vida das pessoas à tua volta com o teu carinho e a tua disponibilidade. Espera em Deus. Ele abre caminhos no tempo certo. Confia sempre na Sua fidelidade!
Lurdes Lima Capucho