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Será tempo de avançar?

Será tempo de avançar?

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Já lhe aconteceu, alguma vez, fazer uma pergunta sem esperar ou desejar uma resposta? Sim, pode parecer estranho. Habitualmente, se perguntamos é porque precisamos de uma resposta. Contudo, nem sempre assim é. E, de facto, ao folhear a Bíblia, encontro duas perguntas feitas em momentos diferentes a pessoas diferentes e que têm essa particularidade curiosa: não foram feitas para ser respondidas, mas para despertar uma reflexão imediata e indicar caminho. Servem para chamar a atenção para a urgência do momento e a necessidade de agir rapidamente.

Duas perguntas

A primeira acontece em casa de Jacó, já numa fase avançada da sua vida. O ambiente está tenso pois existe uma necessidade grande por suprir. Há uma falta extrema de alimento, fome. E a pergunta salta dos lábios de Jacó para os seus filhos: “Por que estais olhando uns para os outros?” (Génesis 42:1) Sem esperar que respondam, ele prossegue: “Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos.” (Génesis 42:2)

A segunda acontece ao ar livre, junto ao Mar Vermelho, num momento dramático em que povo hebreu precisa de o atravessar e ser livre, e o exército egípcio vem a caminho para impedir. Deus pergunta a Moisés: “Porque clamas a Mim?” E acrescenta, de imediato: “Dize aos filhos de Israel que marchem.” (Êxodo 14:15).

Em ambas as circunstâncias há que agir rapidamente. Não é tempo de “olhar uns para os outros” nem sequer de clamar a Deus. É altura de avançar!

Dar o salto

Já todas experienciámos momentos desses na nossa vida, em que foi premente decidir e passar à acção. Nessa altura, sentimos coragem e força para o fazer? Ou ficámos tolhidas pela incerteza e mesmo por algum medo e não ousámos correr?

A propósito disto, vem-me à mente uma curiosidade acerca da impala. É um animal elegante que vive em manadas nas savanas africanas. Li que consegue correr à velocidade de 90 km/h e dar saltos de cerca de 3 metros de altura, possuidor de uma boa audição e de reflexos rápidos. Contudo, apesar dessa extrema agilidade, num Jardim Zoológico a impala pode ficar num espaço rodeado de um muro de apenas 1 metro e meio de altura e não sairá de lá. Embora tenha em si toda a capacidade para o saltar, e fugir rapidamente, não o fará. Porquê? Porque só salta em circunstâncias em que consiga ver onde é que irá ter.

Por vezes, no nosso percurso de vida, surgem momentos em que é premente agir, dar o salto! Essa é a maior urgência de todas. Mas não devemos ainda orar? Se já orámos e entendemos a direcção por onde Deus nos quer levar, por onde precisamos de ir, avançar pode ser agora a nossa primeira necessidade. Contudo, todos temos um pouco de “impala” em nós. Onde irei ter, com este salto? Onde é que os meus pés irão tocar? O que irá acontecer? A prudência assim nos aconselha. Se devemos ponderar bem sobre a decisão a tomar, avaliar as circunstâncias e os benefícios de o fazer ou não, por outro lado devemos também contar com a ajuda de Deus em cada passo que dermos. Ele mesmo nos promete: “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.” Salmos 32:8

Os filhos de Jacó foram ao Egito e aí não só encontraram alimento mas tiveram uma emotiva reconciliação familiar e iniciaram uma nova etapa na vida.

O povo de Israel atravessou o Mar Vermelho e ficou definitivamente livre do jugo egípcio.

Mãos que nos pegam

Numa noite difícil, Ló sabe que é altura de tomar uma decisão mas parece não conseguir. Deus enviou mensageiros a sua casa que o avisaram que deve abandonar rapidamente a cidade onde vive. Sodoma irá ser destruída no dia seguinte e, nessa mesma noite, ele deve deixar a sua casa, juntamente com a esposa e as suas duas filhas. “E ao amanhecer os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade. Ele, porém, demorava-se…” (Génesis 19:15,16)

Na verdade, Ló nunca chega a assumir a decisão. Contudo, a sua vida é salva porque “aqueles homens lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher e de suas duas filhas, sendo-lhe o Senhor misericordioso, e tiraram-no, e puseram-no fora da cidade.” (Génesis 19:16) Sim, foi preciso pegar-lhes nas mãos e levá-los dali.

Já todas vivemos tempo suficiente para entender que no nosso percurso devida deparamo-nos, aqui e ali, com encruzilhadas e decisões a tomar. Sim, são momentos de “dar o salto”, assumir um novo caminho, mudar de direcção talvez. A visão sobre o futuro é limitada e a perguntas borbulham em nós: Onde irei chegar? Como irá ser? Estarei a fazer a melhor escolha?

Deus sabe que assim é. Ele conhece bem a nossa fragilidade e os nossos pensamentos, que não são tão elevados quanto os Seus. Assim, fiquemos atentas à direcção de Deus sobre a nossa vida, sobremodo importante nestas alturas. Ele fala e faz-nos sentir a Sua vontade. Se Ele confirmar, irá ser connosco e pegar nas nossas mãos se necessário! Busquemos a Deus de coração e guardemos connosco as palavras seguras do salmista: “Porque contigo entrei pelo meio de um esquadrão e com o meu Deus saltei uma muralha.” (Salmo 18:29)

Bertina Coias Tomé

Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária.

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