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Prendas Reveladas – Bertina Coias Tomé

Prendas Reveladas – Bertina Coias Tomé

960 637 Aliança Evangélica Portuguesa

“Então, não desembrulhas?”

“Ah, pois, está bem. Querem que desembrulhe agora?”

“Sim, é para vermos!”

Retiro cuidadosamente a fita e o papel colorido, perante os seus olhares curiosos. E aí está a prenda que me foi amavelmente oferecida por alguém e que desperta sorrisos e comentários prazenteiros.

Esta situação tem acontecido diversas vezes. Porque não me desembaraço do papel de imediato, e revelo o que ganhei? Habitualmente não chego a explicar o motivo mas é ainda evidência de um hábito que trago comigo dos tempos de Macau. Lá, entre a população chinesa e macaense, não se abre um presente logo após ter sido recebido. Fazê-lo é sinal de grande indelicadeza. Agradece-se e coloca-se o embrulho colorido junto dos outros, num local definido para tal. Só depois de os convidados se terem retirado, concluída a festa, se procede à abertura das prendas, apenas no seio da família chegada. Subjaz a esta prática um importante sentido de respeito: evitar circunstâncias de algum embaraço para aquelas pessoas que, por limitações económicas, tenham oferecido algo mais modesto que, de outro modo, se veriam expostas perante os demais convidados.

Aquilo que oferecemos a Deus é, frequente e inevitavelmente, desembrulhado diante dos homens. Temos o exemplo da mulher que derramou sobre Jesus um unguento de nardo puro. Como uma oferta que era, ela não falou em preço. Contudo, houve logo quem fizesse as contas: valeria uns 300 dinheiros, por certo. Uma prenda cara demais, comentou alguém (João 12:4,5).  E Jesus interveio de imediato: “Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou (João 12:7).

Noutra ocasião, junto à arca do tesouro, era possível observar aquilo que cada um ia lançando como oferta a Deus. Havia pessoas de condição abastada que ofertavam grandes quantias. A meio daquele fluxo de gente vem uma viúva de condição muito modesta que deita duas moedas que valiam cinco réis. Tão pouco, diria alguém. Prenda desembrulhada.

Jesus assegurou aos seus discípulos que aquela mulher dera mais que todos. Ficou logo claro que o critério de avaliação de Jesus era outro. E explicou: “… da sua pobreza deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.” (Marcos 12:44). Daí o valor.

Muito do que oferecemos a Deus poderá ser “à moda chinesa”, isto é, discretamente, sendo só Ele a conhecer o conteúdo. A mão esquerda não saberá o que ofereceu a mão direita.

Outras vezes, contudo, não há como evitar que se torne conhecido aquilo que fazemos para Deus, que lhe oferecemos em louvor e em adoração, em serviço para Ele e em favor de outros. São os nossos vasos de alabastro e as nossas moedas de cobre.

Qual será a atitude de outros quando observam a prenda desembrulhada?

Ao longo da sua vida, Moody ofereceu ao Senhor um intenso trabalho de evangelismo. Certa vez, ao observá-lo, uma senhora acabou por criticar: “Sr. Moody, não gosto da maneira como faz o evangelismo.” Em resposta, Moody disse-lhe: “Eu também nem sempre o aprecio necessariamente. Diga-me, como é que a senhora faz?” “Oh, eu não faço evangelismo.”, foi a resposta. “Bem,” disse Moody, “eu gosto mais da maneira como eu o faço do que da maneira que a senhora não o faz.”

O olhar de Deus sobre a nossa vida é o mais importante de tudo. Ele observa as nossas dádivas como mais ninguém saberia fazer. Atribui-lhes o real valor, por vezes tão distante daquele que os homens lhe reconhecem. Talvez muito maior. Por vezes, muito menor.

Algumas ofertas chegar-lhe-ão em segredo. Serão a Suas Mãos, apenas elas, a revelar. Exemplo disso temos na oração, no jejum ou na dádiva referidas por Jesus em S. Mateus 6:1-6.

Outras serão, inevitavelmente, desembrulhadas diante dos homens. Contudo, não deixemos de oferecer por esse motivo. Não percamos de vista que o destinatário é, igualmente, Ele. Maior que qualquer crítica, incompreensão ou o silêncio enigmático de outros, contará a graça de podermos ofertar-lhe alguma coisa, de saber que O servimos e de aí depositarmos todas as nossas expectativas.

Ofereçamos-Lhe o melhor que tivermos, que soubermos, que formos. Coloquemos o nosso presente, humildemente, nas Suas mãos, feridas por amor a nós. E saibamos deleitar-nos no Seu sorriso.

“De todos os vossos dons oferecereis toda a oferta alçada do Senhor: do melhor deles, a sua santa parte. (…) como a novidade da eira e como novidade do lagar.” Números 18:29,30

 

 

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

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