“Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja.” Efésios 5:29
Cuidar faz parte de nós, segundo Aquele que foi O primeiro cuidador, e que nos criou com a responsabilidade de ser o templo do Espírito Santo. Sendo que se não somos de nós mesmos, significa que entregámos esta nossa “casa” e, como tal, é bom que ela esteja bem tratada.
Para conseguir compreender o cuidar do seu corpo face aos desafios da atualidade, ao longo deste texto, vamos desconstruir alguns conceitos que sempre ouviu na área da Nutrição.
Entender a alimentação como fundamental para a nossa saúde não é, com certeza, novidade para ninguém. No entanto, a forma como temos entendido o conceito de uma dieta saudável pode estar distorcido, confundido ou até difícil de definir. Começamos com o facto de dieta não ser só o documento que um Nutricionista lhe dá, mas sim tudo o que ingere. Portanto, mesmo sem querer, está todos os dias em dieta. Se calhar está no processo de descobrir a dieta mais adequada para si, mas no meio de tantas polémicas, modas, mitos, e (demasiada) informação torna-se uma tarefa difícil distinguir o certo do errado relativamente à alimentação.
Uma das definições mais recentes para uma dieta adequada segundo a FAO* é ser promotora de saúde e prevenir a doença. É aquela que fornece nutrientes de forma adequada, sem excesso, com substâncias de alimentos nutritivos promotoras da saúde e evita o consumo de substâncias prejudiciais. A OMS** acrescenta o facto de nos proteger contra a malnutrição em todas as suas formas e de doenças não transmissíveis, como diabetes, doenças cardíacas, AVC***, e cancro.
Agora, a questão é: conseguiremos nós atingir esta plenitude? Pois bem, perfeição também sabemos que não iremos atingir. Agora, com certeza, já ouviu, por exemplo, que o pão engorda, ou que o alimento x provocou uma doença grave. Posso responder já que não, e que essas pessoas terão dificuldades em comprová-lo de forma exata, já que não comem só um alimento o dia todo. Tenho também algumas dúvidas que Jesus se associaria ao pão se ele fosse a pior coisa que tivesse sido criada. Posto isto, os estudos de relevância direcionam-nos para padrões alimentares e de estilo de vida (e como é claro não poderia deixar de enaltecer o nosso padrão alimentar mediterrânico), que adiciona aqui o conceito de frequência através do qual os alimentos são consumidos habitualmente. Habitual é diferente de sempre e nunca, assim como adequado é diferente de bom e mau. Não, não quero transformar este texto numa análise linguística, mas sim alertar para melhorarmos a relação que muitas de nós têm com a alimentação. Tem sido investigado que a ingestão alimentar é influenciada por múltiplos fatores:
- Intrínsecos aos alimentos (ex: sabor, fatores percetivos)
- Fatores externos aos alimentos (ex: informação, ambiente social, ambiente físico)
- Fatores de estado clínico e pessoal (ex: características biológicas e necessidades fisiológicas, componentes psicológicos, hábitos e experiências)
- Fatores cognitivos (ex: conhecimento e habilidades, atitude…)
- Fatores socioculturais (ex: cultura, variáveis económicas, elementos políticos).
Portanto, ingerir um alimento pode trazer sentimentos, memórias, experiências, vivências, cultura, nutrientes, uma interação dinâmica de vários fatores… É possível assim entender porque implementar mudanças na alimentação pode ser complexo. É provável que já tenha visto ou experienciado alguém que decidiu nunca mais comer bolos, por exemplo. Que quando falha, e volta a consumir esses alimentos identifica sentimentos de culpa e desiste de tudo a que se propôs. Ou alguém que decidiu seguir uma dieta restritiva, por um valor na balança que não conseguiu manter, e até fez com que depois ganhasse mais peso do que tinha antes. Desta forma, aplicar o bom senso provavelmente irá protegê-lo de abordagens extremistas. Exemplo: “dieta do… (inserir um nome que chame a atenção)”, que muitas vezes podem trazer até consequências negativas na sua saúde.
Se durante toda a sua vida ingeriu determinado alimento na sua rotina e, de repente, alguém lhe diz que nunca mais na sua vida vai voltar a ingeri-lo para atingir o seu objetivo. Esqueça! O melhor será mesmo desprezar essa recomendação. Cuidar de nós também começa por ter atenção aos julgamentos feitos à alimentação. A conotação que atribuímos aos alimentos em vez de nos ajudar pode sabotar o nosso processo. Poderá tornar-se um processo impossível em vez de ser um processo progressivo de mudança de comportamentos.
Se na sua alimentação identifica que existe uma predominância de alimentos pouco nutritivos e uma rara inclusão dos vegetais, fruta, cereais integrais, fontes proteicas (de baixo teor de gordura), nas suas refeições, então pode ter de mudar e inverter algumas prioridades. E sim, estes grupos alimentares são mesmo necessários diariamente (excluindo os casos de patologia identificada). Eventualmente, no início, começará por serem uma disciplina que muitas vezes poderemos não ter vontade de seguir, mas com a repetição do comportamento, tornar-se-ão um hábito.
Costumo comparar a introdução de um estilo de vida saudável, à disciplina do emprego. Podemos até ter um emprego excelente que nos dá um gozo enorme, mas muitas vezes preferia estar de férias numa estância paradisíaca ou estar a dormir em sua casa, a ir trabalhar. Mas vai na mesma, certo? Se a sua resposta foi sim, então estará a agir por disciplina. Para aquelas áreas que são mais difíceis de modificar, para si, pense nisto antes de agir mediante a sua vontade. Se for determinada nas suas decisões com certeza conseguirá um bom resultado.
Ainda assim, se identifica que está a ir demasiadas vezes à sua cadeia de fast-food preferida, ou que não consegue resistir sempre que passa pela padaria do seu bairro (e passa por ela todos os dias), então poderá estar a ter dificuldade no autocontrolo. E como diz a passagem bíblica: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.1 Coríntios 6:12
Curioso que até a bíblia nos leva a refletir sobre isto: Decisões! A nossa decisão é inevitável e no fim das contas vai ser você o responsável pelas melhores escolhas alimentares para si. Assim como na nossa jornada cristã será difícil ambicionar uma vida na terra com a total ausência de pecado, e por isso, vamo-nos arrependendo e aprendendo com os mesmos, será difícil também ambicionar uma vida sem alimentos menos nutritivos.
“Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” 1 Coríntios 10:31
Vamos percorrendo o caminho que nos faz mudar o alvo e direcionar as nossas atitudes para o que Deus se agrada, da mesma forma na alimentação também direcionamos os nossos esforços para o melhor cujo alvo serão comportamentos alimentares saudáveis e alimentos ricos em nutrientes, habitualmente. Não desistimos porque errámos num dia. Não desistimos porque Ele nos permite existir, nos permite aproximar-nos Dele e fazermos tudo para a Sua honra e glória.
*FAO – Food and Agriculture Organization
**OMS – Organização Mundial de Saúde
***AVC – Acidente Vascular Cerebral
Inês Monteiro, Nutricionista e Team Leader na Teladoc Health