O título do capítulo 3 do livro de Eclesiastes (Bíblia Sagrada), diz que “Há para todas as coisas um tempo determinado por Deus” e eu acredito.
Após fazer 21 anos, consegui permissão do meu pai para voltar a estudar, um anseio que me deixava em lágrimas, cada vez que abria um ano escolar.
Fiz dois anos num só e depois, noutro ano, três anos, a parte de Letras, pensando no ano seguinte fazer Ciências, mas este último plano não aconteceu.
Veio o casamento, o nascimento das filhas, o trabalho… Contudo, sempre existia aquele sonho que desde menina me perseguia.
Não tendo completado o 9º ano, mesmo assim entrei como funcionária de um Banco e foi aí que pela primeira vez aprendi alguma coisa na área dos computadores, ligada ao trabalho que fazia: “Tratamento de Cheques”. Um salto tecnológico gigante que transformou a nossa tarefa mais rápida e, sem dúvida, mais agradável.
Onze anos e meio depois, despedi-me com a certeza de querer servir a Deus a tempo inteiro. Após quatro anos na minha nova função sendo adjutora do meu marido como pastor evangélico, recebemos um convite e fomos para Londres apoiar a Igreja portuguesa ali, começando assim a fazer missão como desejávamos.
Seis anos depois, voámos até Macau e finalmente para os Açores onde permanecemos nove anos e de onde viemos já reformados.
Uma tiroidectomia e mastectomia radical direita, no espaço de alguns meses, veio toldar aquele sonho e estava com 60 anos.
Recuperei e com, o incentivo de uma das minhas filhas, inscrevi-me no Centro Novas Oportunidades de Escolas de Azeitão. Sabia que, minimamente, teria que escrever a minha história de vida com alguns requisitos, pois bastou-me ler a frase: “Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências”, para pensar em pontos nevrálgicos da minha vida como pessoa e na sociedade em que estou inserida, em constante confronto com as mudanças tecnológicas, ambientais, comportamentais, sei lá, uma panóplia de temas que tornaram o meu RVCC em algo mais rico, com conteúdo. À medida que avançava, sentia o gosto de colocar no papel as recordações do passado, enquanto apreciava o presente.
Foi uma descoberta, pois tive o privilégio de contar com uma equipa de formadoras simpáticas, dedicadas, sensíveis, muito humanas, que me levaram a um patamar de capacidades mais desenvolvidas apesar da idade.
Surgiram algumas tarefas. Numa delas, numa cartolina em forma de estrela escrevi um texto sobre nós, mulheres, que encontramos no Livro de Provérbios capítulo 31 e que começa com uma pergunta: “Mulher virtuosa, quem a achará”? No cimo de um tronco escultural a lembrar uma figura feminina, foram colocadas outras estrelas, que tornaram o “cabelo” multicor e com muito sentido estético e o nosso mundo ficou mais valorizado.
Outro trabalho teve a ver com alguma leitura que me tenha alertado para um dos meus cinco sentidos. Gosto muito de ler, o Livro que leio mais é a Bíblia, e lembrei-me logo do Salmo 1 que nos fala sobre “árvores plantadas junto a ribeiros de águas”. Tem sido através do Livro dos livros que vejo o nosso mundo com mais esperança.
Veio o pedido para escrever um conto que conhecesse desde criança e que me tivesse marcado. Fui de novo à Bíblia e contei a história de José que sempre achei fascinante. Um personagem maltratado pelos seus irmãos, mas cujo mal foi transformado em bem porque Deus era com ele.
Assim, tenho o diploma do 12º ano que sempre almejei. Nunca nada é tarde demais e aconteceu no tempo certo, com certeza.
No contexto em que vivo hoje, como os demais, quero continuar a olhar o futuro que cada vez é mais curto, com esperança, ânimo, alegria e passar a mensagem para que ao meu redor nada venha a ruir, mas a afirmar-se mesmo em tempos menos bons.
“Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.” (Salmos 1:3)

Carlota Roque
Missionária aposentada