Servir a Cristo com os meus dons.
Desde que me conheço que sou entusiasta pelo trabalho. Qualquer projeto escolar podia contar com o meu contributo, assim como tarefas de voluntariado e inúmeras responsabilidades eclesiásticas.
Por detrás deste entusiasmo, estava sempre uma necessidade de me sentir útil ao serviço da comunidade, da sociedade e do outro.
Esta “adição” ao serviço fez-me escolher uma profissão sacrificial, mal paga e muitas vezes mal falada. Sou há 15 anos uma feliz assistente social.
Na Bíblia, encontrei um dos lemas da minha vida: “O que fizerem, façam-no de todo o coração como se estivessem a servir o Senhor e não os homens.” Col 3:23 BPT.
O apóstolo Paulo ensinou-me que não há tarefas pequenas ou insignificantes para aquele que obedece. A nossa atitude em tudo deve de ser como a de um servo porque tudo o que eu faço é para Deus.
Iniciei a minha vida profissional aos 16 anos como empregada de mesa. Apesar de total ausência de experiência, estava entusiasmada e com a certeza que queria aprender e servir. Conclui rapidamente que não ia ser fácil! Entre o ritmo dos pedidos, o equilíbrio na bandeja e as bolhas nos pés, cada dia parecia mais exigente do que o anterior. Fiz muitos erros: deixei cair bebidas em cima de clientes, vendi cortes de carne que não existiam na ementa, aconselhei sobremesas com ovos crus a grávidas, entre outras distrações e limitações típicas da minha idade. Mas, aprendi! Aprendi que responder com simpatia a um cliente resmungão pode alterar toda a situação terminando com uma bela gorjeta. Aprendi que muitas vezes os outros – clientes, colegas e chefias – são muito mais tolerantes com os nossos erros do que connosco próprios. Aprendi a partilhar dividindo as gorjetas entre todos os meus colegas. Aprendi que cada trabalhador tem uma história, uma família e uma luta.
Mas mantinha-se a pergunta: Como posso saber que o meu trabalho honra a Deus?
Procurei então analisar a minha atitude e aferir como esta era percecionada pelos outros. Duas características tornaram-se inegociáveis: a excelência e o entusiasmo.
Primeiro, se eu fizer o meu trabalho, não para a chefia, mas para o Senhor, lutarei pela excelência. Isto significa que darei o meu melhor, porque a única aprovação que importa para mim é a de Deus.
E, por consequência, trabalharei com entusiasmo porque sei o porquê do meu esforço. Como ajo para Deus, encontro alegria no que faço.
“Trabalhem e não sejam preguiçosos. Sirvam o Senhor com dedicação e fervor”. Rom 12:11 BPT
Quando penso na importância da excelência, lembro-me também de José e da sua história contada no livro de Génesis. A sua excelência no trabalho, em qualquer função que lhe foi atribuída, não dependeu de uma boa retribuição monetária nem de palavras de elogio. Aliás, nas circunstâncias mais adversas ele não perdeu o foco nem corrompeu a sua essência e os seus dons. Acima de tudo, todos à sua volta viam que Deus estava com ele.
“O seu amo começou a dar-se conta de que o Senhor estava com José e que, por isso, tudo o que ele fazia era bem sucedido.” Gênesis 39:3 BPT
Esta dimensão do serviço e o foco em Cristo e não nos homens tem sido essencial para a minha função como assistente social. É por isso que continuo a investir em pessoas mesmo depois de ser mal interpretada, difamada, ofendida e desprezada. É por isso que consigo ver que a raiva do outro, ainda que me seja direcionada, provém de uma dor e mágoa sofrida. E é com o meu foco em Cristo que consigo dar sem expectativa de receber nada em troca mas na esperança do milagre da mudança que só Jesus pode trazer.
Mas, nos momentos em que me deixo vencer pelo meu ego, pelo meu sentido de justiça e pela minha necessidade de valorização, torno-me menos entusiasta e menos excelente na minha função. É nesses momentos que prejudico os que devia servir e deixo de honrar a Deus com o meu trabalho. É por isso que em tudo o que faço e em tudo o que sou – como mulher, esposa, mãe, discípula e assistente social – tenho de voltar ao centro e relembrar as palavras de Jesus “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu sempre vos amei. “ João 15:12 BPT
É prática da minha profissão e da minha identidade cristã acreditar sempre na restauração e no poder transformador do amor de Jesus. E é por isso que não desisto do outro nem de melhorar quem sou.
O meu desejo é servir a Deus com excelência e com isso testemunhar com entusiasmo quem Ele é aos que se cruzam no meu caminho.
“Cada um exerça o dom que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.” 1Pedro 4:10
Priscila Pighin Silva Diretora técnica e assistente social da Residência Temporária para Mães Adultas da Associação de Socorros Médicos o Vigilante.