Sentada no átrio de um grande e moderno hospital, dá para seguir o movimento das pessoas que entram e saem. Todos os que andam por ali carregam em si uma história, uma tragédia ou um drama. Há pequenos grupos de pessoas que parecem querer mostrar-se mais fortes do que realmente são. O lenço que sobe até aos olhos é logo desviado e olham de um lado para o outro, como se a dor pudesse ser assim aliviada mais depressa. Hospital não é mesmo lugar para festa nem piquenique…
Mas na minha observação, detenho a minha atenção sobre outras pessoas, os profissionais do hospital.Uns andam apressados, com passos firmes, sem olhar para ninguém. Têm algo importante em mente e perseguem o seu objectivo. Outros, em grupo, conversam, riem e dirigem-se para a cafetaria onde podem comer e beber alguma coisa que lhes dê ânimo para continuar. Reparo ainda num outro pormenor: esses tais grupos são compostos por pessoas com a mesma farda. Nada de misturas. Fico ali, distraída, a identificar o que cada farda representa: o pessoal da administração, os enfermeiros, os médicos, auxiliares, fisioterapeutas e ainda uns senhores todos vestidos de azul, que, julgo eu, terão alguma coisa a ver com cirurgia… Se nos chegarmos junto de uma dessas pessoas, é bom que saibamos o que queremos, porque eles não gostam de responder a questões que nada têm a ver coma sua função. Aquela farda ajuda-nos a conhecer a sua identidade, quem são, o que fazem.
Nunca usei farda. Nos vários serviços e trabalhos da minha vida, nunca foi preciso. Mas tenho uma identidade. Será que as pessoas que se chegam a mim, sabem o que esperar, o que pedir, o que vão receber? Será que mesmo sem uniforme, a minha vida transmite aos que me rodeiam a segurança de uma resposta, o ânimo da direcção e até o carinho inesperado?
Lá, sentada no átrio do hospital, pensei em Jesus Cristo, vestido como qualquer galileu do Seu tempo, sem a “farda” pesada dos fariseus e doutores da lei, sem a túnica pomposa dos centuriões romanos, mas ainda assim, atraindo multidões, chamando crianças, rindo e comendo trigo com os discípulos no meio das searas, tocando os pobres, os marginais, alimentando uma multidão faminta, curvando-se para uma escrita misteriosa, feita com o Seu dedo no pó do caminho, enquanto uma mulher apanhada em adultério espera a sentença de morte.
Quando as pessoas chegavam perto Dele, muitas vezes não sabiam como chamá-lo. Alguns tratavam-no por “nazareno” com um misto de desprezo, outras vezes de “rabi” sem compreender muito bem a Sua sabedoria. Ele transcendia tudo o que se esperava de um homem do Seu tempo. Ainda hoje os homens têm dificuldade em entender quem Ele É. Acham que se estivesse aqui, vestiria a sua cor política. Pensam que Ele é propriedade das suas igrejas. Mas Ele não usa farda. Continua a ser superior a tudo o que possamos imaginar num ser humano. Ele é o Homem perfeito, completo, pleno.
Como desejo que aquilo que sou me diferencie do resto, para que os necessitados, os que não têm amigos, abrigo, se cheguem a mim, sem receio de ser enganados, sem medo de ser ofendidos. Que a roupa que me cobre a cada dia, de tecido ou cor diferentes, não esconda o mais importante, a semelhança com o Cristo de Deus!
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Sarah Catarino
Líder da AGLOW International (Portugal)