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Estações – Ana Mary Baizán

Estações – Ana Mary Baizán

960 639 Aliança Evangélica Portuguesa

Há pouco tempo, observando as constantes mudanças de temperatura e a incerteza do clima na nossa localidade de residência, comentava com uma das minhas filhas a dificuldade que sentíamos quando tentávamos selecionar as peças de roupas que iríamos usar no dia seguinte.

O normal e tradicional é fazermos uma espécie de limpeza seletiva no fim de cada estação, quase um “ritual”, eliminando as peças que já não iremos usar durante os próximos tempos por se mostrarem inadequadas para enfrentar as novas temperaturas e condições que se apresentam. Nesse momento, nem sequer sabíamos o que devia ficar no nosso armário e quais peças deviam seguir o caminho para o nosso lugar de arrecadação no sótão da casa.

Isto fez-me pensar que, às vezes, este sentimento e impressão de confusão pode vir até nós no que se refere às estações e tempos que se desenrolam nas nossas vidas.

Toda esta conversa entre nós duas, trouxe-me à memória uma frase do irmão Swindoll que afirma “como erramos ao caminhar às cegas e numa mesma rotina através de uma vida de estações em mudança, sem descobrir respostas para os novos mistérios e aprender como cantar novas melodias! Estações são designadas para nos aprofundar e instruir na sabedoria e caminhos do nosso Deus”.

No mundo natural, cada estação requer uma determinada maneira ou rotina de vestir e até de agir nas nossas vidas quotidianas, porque as circunstâncias inerentes a essa estação, assim nos obrigam ou influenciam. Não posso pretender passar pela estação de inverno vestida com um simples fato de banho ou querer desfrutar do verão caminhando de cachecol e casacos quentes.

Na Bíblia, encontramos analogias e até narrativas que nos falam da importância de estarmos vestidos, ou seja, “prontos” para viver a situação que se avizinha.

Não posso colocar em mim um fato de treino e um avental para assistir a um casamento ou cerimónia formal, mas estarei fantasticamente vestida e “pronta” para um dia de limpezas em casa.

A função a realizar determinará a minha roupa e outros requisitos pertinentes para levar a cabo com sucesso essa tarefa designada para esses dias.

É muito interessante, por exemplo, observamos o facto de existir uma “troca de vestes” durante toda a vida de José, quando passava de uma estação para outra. De Filho a escravo, de escravo a prisioneiro, de prisioneiro a palácio… Sabemos que Deus tinha um plano para a sua vida e que o fez passar por cada estação com o propósito de o conduzir e capacitar para ser o instrumento de livramento para o Seu povo.

Este tema leva-me a recordar o dia em que efetivamente eu arrecadei a toga que costumava usar aquando das minhas diligências em Tribunal. Nesse dia, tive a clara noção de que “essa peça de roupa” já não iria fazer parte do meu armário na nova estação que Deus preparara para mim…

Deus é um Deus de tempos, de “kairos” e não falamos de tempo cronológico mas falamos de tempos no sentido de estações.

O Livro de Eclesiastes lembra-nos que existe um tempo para todas as coisas mas quão difícil é compreendermos e discernirmos esses diferentes momentos nas nossas vidas sem a ajuda do Espírito Santo.

Da mesma maneira que a instabilidade climática termina por nos enganar na escolha das roupas, pois uma primeira olhadela pela janela ou a previsão meteorológica terminam por não acertar com o que realmente vai a acontecer durante o nosso dia, não serão as previsões humanas ou as nossas primeiras impressões que nos conduzem ao discernimento da estação que estamos a viver nas nossas vidas.

Quando falo de estações, refiro-me a estações nas variadas áreas em que somos mulheres, seja a nível pessoal, individual, no relacionamentos com os outros, na família onde estamos inseridas, como filhas, esposas, mães e, por fim, como membro do Corpo de Cristo.

Porque é que, por vezes, nos privamos da oportunidade de viver uma nova estação, seja em que área for, deixando que o medo do desconhecido e que a rotura de uma rotina à qual estamos habituadas e já ancoradas, movidas pelo conforto que isso nos traz, dominem as nossas escolhas?

Desde estas linhas, quero lembrar às leitoras de que, em Deus, há sempre muito mais do que nós esperamos ou alguma vez sonhámos.

Geralmente, quando Deus tem uma nova estação para as nossas vidas, o Espírito Santo começa a incomodar-nos trazendo um inquietação. Não falo de falta de contentamento porque nós devemos de saber estar satisfeitas em Cristo no que se refere a alimento espiritual e salvação, mas estou a apontar para um “desconforto”.

Lembremos Daniel, quando “discerniu pelos livros” que o tempo de as assolações de Israel tinha findado; esse entendimento levou-o a orar e agir de maneira diferente, pois ficou “incomodado”.

Reparem no episódio em que Pedro e André são desafiados por Jesus, com uma simples frase: “Vinde a pós mim e eu vos farei pescadores de homens”. Quando uma nova estação nasce na nossa vida, abre-se instantaneamente uma oportunidade de transformações.

Da mesma maneira que o cenário muda quando cada estação aparece – as cores, as paisagens, as condições – aprendamos a discernir os tempos e a ouvir a voz de Deus, quando observemos que o “cenário da nossa vida” também está a sofrer mudanças.

Nenhuma estação é mais necessária do que outra, pois cada uma delas foi estipulada pelo nosso sábio e soberano Deus e adjudicou funções próprias a cada uma com a finalidade de criar um equilíbrio e uma sucessão natural e necessária na natureza. Afinal, quando a Palavra diz que Deus viu que tudo era bom, o que nos é dito é que tudo tinha uma utilidade para alcançar um fim.

Podes perguntar: como podes Deus desafiar-me para uma nova estação, à medida que passa o tempo, se Ele sabe que as minhas forças cada vez são menos, as minhas capacidades ficam mais limitadas e o tempo é mais curto?

Quero dizer-te que como tudo o que Deus faz novo, quando Ele nos conduz num novo tempo, sempre será para melhorar o existente ou para redirecionar-nos na Sua grande comissão.

Como costuma dizer um grande amigo meu, “Menos é mais”. Quantidade não é qualidade e vice-versa.

Por vezes, as novas estações trazem uma grande oportunidade de definir as nossas prioridades e de focarmos as nossas forças e habilidades na defesa e proteção dessas prioridades.

Há poucos dias, conversava com uma jovem, mãe de primeira viagem, cujo maior desafio na actualidade era conciliar o seu papel de esposa, mãe, profissional e parte do corpo. Alguém que, durante a estação passada, tinha tido todo o tempo para servir na Igreja, para investir em relacionamentos e amizades, para dedicar-se a outras áreas com uma maior intensidade mas agora interrogava-se acerca do seu desempenho nas variadas funções e da frustração por não continuar a viver na mesma rotina, numa outra estação que vem requerer novas rotinas e novos desafios e, sobretudo, responsabilidades.

Deus conhece a estação que estamos a viver, pois foi Ele que nos levou até ela, mesmo podendo tratar-se de um deserto; isto aconteceu com o próprio Jesus, quando foi guiado pelo Espirito até o deserto para ser tentado.

Qual é o nosso maior desafio ao passar pelas estações da nossa vida senão permanecer fiel a Deus e obediente à Sua palavra, não perdendo de vista o alvo principal de trazermos glória a Seu nome, seja qual for o tempo que está estipulado sobre nós?

Nas Suas mãos estão os nossos tempos, e Ele é que sabe se devo permanecer mais um bocadinho na minha atual “paisagem” ou se devo transitar para a nova que Ele já preparou de antemão.

Voltando à conversa com que iniciei este pequeno texto, a minha filha e eu chegámos à conclusão de que, devido ao estado confuso da meteorologia, terminaríamos por deixar peças nos nossos armários que iriam ficar lá pela nossa incerteza (…e se vou precisar disto…é melhor preservar…) mas que só ocupariam lugar e impediriam a melhor acomodação das outras que seguramente precisaríamos de usar.

Quando se trata de estações de Deus na nossa vida, não tenhas medo de desfazeres-te de “peças de roupas”, pensando que irás precisar delas; devemos renunciar a tudo o que nos rouba forças e concentração para desenvolver o que Deus traz para nós na nova estação.

Para finalizar, gostaria de meditar no facto de que o plano de Deus para nossa vida é algo dinâmico e não estático. O que quero dizer com isto? Deus tem um plano de salvação para nós e isso não muda efetivamente, mas a maneira em como iremos refletir e revelar a Glória do nosso Deus, é algo dinâmico e que pode mudar ao longo da nossa caminhada aqui na Terra.

Muitos ancorados no velho chavão de que “tudo o que é de Deus, permanece assim até ao fim”, insistem em viver todas as estações das suas vidas, “vestidos” com as mesmas roupas e desenvolvendo a sua missão da mesma maneira, boicotando-se a si próprios e privando-se da oportunidade de ver Deus refletido neles através da multiforme graça de Deus.

Os tempos mudam e precisamos de os discernir com a ajuda do Espírito Santo. Isto, tira-nos da zona de conforto à qual estamos habituados e nos transporta para uma caminhada contínua à procura do plano individual e específico de Deus para nós, onde andamos guiados pelo Espírito Santo e totalmente dependentes do seu auxílio e indicações.

Aprendamos a discernir os tempos com ajuda do nosso “paracletos”, o Espírito Santo, aceitemos as estações de Deus para nós e o desafio de tirar as peças de roupas que não iremos precisar para caminhar confortavelmente e sem embaraços no tempo que estamos a viver.

 

Ana Mary Baizán
Advogada
Evangelista na AD Almada

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