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Mulheres

Ele não se importa de esperar

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Falava, há dias, com um homem que está a esforçar-se por dar um outro sentido à sua vida. Prepara-se para iniciar um programa em comunidade terapêutica, face ao quadro de consumo de estupefacientes que o tem dominado e empobrecido. Já anos antes deixara as “drogas” e conseguira inserir-se ao nível familiar e profissional. Agora, recaíra.

Contava-me o seu percurso de vida e, a certa altura, disse-me: “Quando a vida se desmoronou, a droga bateu-me à porta, de novo.” Depois de um silêncio breve, acrescentou: “A droga sabe esperar.”

Nunca tinha ouvido essa expressão e apontei-a: “A droga sabe esperar.”

É uma frase assustadora, como se aquilo que nos fragiliza não desistisse de nos perseguir.

Lembrei-me, então, de uma outra frase que ouvi num retiro, há um tempo atrás, proferida por um amigo. Começou por ler estas palavras de Jesus: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.” (Mateus 5:23,24)

Depois, realçou o facto de Deus desejar tanto ver reconciliação entre nós que Ele não se importa de esperar pela nossa oferta. Sim, Ele aguarda, com agrado, que corramos para quem nos magoou ou a quem magoámos e construamos a paz entre nós. E Ele espera pacientemente o nosso regresso para que, então, lhe passemos para as mãos a nossa oferta. Ele não se importa de esperar, por querer tanto ver-nos unidos.

Acredito que existe muita reconstrução para acontecer em relacionamentos. Poderá ser delicada, difícil até, mas é sumamente agradável a Deus. E edifica-nos mutuamente, pois uma relação reconstruída é uma relação robustecida.

Um homem falava-me de uma droga que sabe esperar para, depois, destruir. Um outro falava-me de um Deus grande que sabe esperar para nos abraçar, depois de nos reconciliarmos com o nosso irmão.

As ofertas que temos para dar a Deus não têm que entrar em conflito com as questões que eventualmente nos têm afastado uns dos outros. Ele diz para darmos prioridade à reconciliação. Depois, a oferta terá uma beleza diferente diante do Senhor. E, entretanto, Ele não se importa de esperar…

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

Proteger o coração

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Este tema tem sido alvo de muitos comentários, avisos, a fim de percebermos se nós ou alguém perto, pode socorrer ou ser socorrido no caso de um acidente cardiovascular, já que o coração é um dos órgãos do nosso corpo que mais deve ser vigiado e cuidado.

Também devemos guardar o nosso coração de grandes emoções, como o stress e a ansiedade, sendo pacientes no sofrimento que de tantas maneiras nos pode atingir.  A ira e a contenda, são inimigos   que permitem que as batidas se agigantem, trazendo do mesmo modo efeitos negativos e perigosos.

Ainda dissertando sobre o nosso coração físico, recordo que, na fase adulta, foi-me diagnosticado o coração hipercinético, sempre mais acelerado que o normal e hoje tomo medicação diária para minimizar as batidas cardíacas.

Falamos do nosso coração como sendo o centro de todos os nossos sentimentos e é mesmo. A Bíblia Sagrada alerta-nos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” Provérbios 4:23. Dele, procedem decisões boas ou más, através das quais colhemos bons ou maus resultados.

Espiritualmente, podemos ter um coração enfermo, ou são; endurecido, ou quebrantado; incrédulo, ou crente. O pecado, é a maior doença que faz perigar o nosso coração e entristece Deus. Ele ama o pecador, mas abomina o pecado. Como está escrito em Ezequiel 36:26, se quisermos, diz-nos: “Vos darei um coração novo…tirarei o coração de pedra…e vos darei um coração de carne”. O maior e melhor cirurgião da história é Deus!

Talvez alguém motivado por circunstâncias adversas tenha feito uma afirmação que encontramos no Salmo 53:1 “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. Que insensatez, que incredulidade. Quando o desespero se instala, o melhor clamor é este: Deus, se tu existes, socorre-me, revela-te, mostra-te; este é um bom desafio, porque “…é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” Romanos 11:6. Antes de fecharmos o coração, porque não fazer este apelo a quem nos ouve e responde?

Ele dá-nos um novo coração, uma mente renovada, uma fé alicerçada na Bíblia Sagrada. Depois disto, precisamos atentar para a Palavra no livro de Jeremias 17:9,10 “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração”.

Esta é uma análise dura mas tão verdadeira. Muitas vezes temos dificuldade em gerir a nossa nova vida em Deus. Enganoso e perverso, pode ser o nosso coração e sendo nosso, não nos apercebemos das armadilhas nas quais tropeçamos. Quem o conhecerá então? O Senhor Deus, quem nos criou. Ele esquadrinha, analisa minuciosamente o nosso interior com a Sua omnisciência e o que faz? Fala connosco.

Se conseguirmos ouvir a Sua voz: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado…” Salmo 34:18. Deste modo Ele se compadece, endireita as nossas veredas, cura as nossas feridas.

Atentemos para esta oração do rei David: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro…” Salmo 51:10 e a sua petição foi ouvida. Ele ouve também o nosso clamor. Porventura não conhecerá Deus isso? Pois Ele sabe os segredos do coração.

“Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu, em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” II Coríntios 4:6.

Jesus veio viver entre nós para nos dar a conhecer o Seu Pai e nosso Pai. Morreu na cruz e levou sobre Si os nossos pecados e como algumas centenas de anos atrás profetas afirmaram, ressuscitou dos mortos e hoje está assentado à direita de Deus intercedendo por nós. Em Romanos 5:5 diz que “o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Jesus voltou para o Pai, mas deixou-nos o Consolador que habita em todo aquele que confessa Jesus como Senhor.

Eu gosto muito dum versículo que está no Salmo 37:4: “Deleita-te também no Senhor e ele concederá o que deseja o teu coração”. Deleitarmo-nos no Senhor, é experimentar todas as Suas misericórdias, sermos gratos, obedecer-lhe, entre muitas outras coisas, deliciarmo-nos com a Sua presença graciosa, reconhecê-lo em todos os nossos caminhos e estarmos sempre perto, sabendo que ocupa todo o nosso ser e nos pode e deve ajudar em todas as decisões da nossa vida.

Esta é uma mensagem amorosa de Jesus para nós: “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim” João 14:1. Havia tanta interrogação nos apóstolos confrontados com o homem Deus; Não fiquem inquietos e como se usa hoje dizer, vai tudo correr bem. Creiam em mim, eu vim de Deus.

Hoje vivendo nós com tantas interrogações sobre o amanhã, o melhor é dependermos de Deus, cuidando do nosso coração físico e espiritual para que o Espírito Santo tenha a primazia nas nossas decisões, rejeitando todo o medo e incertezas, pois Ele está connosco sempre.

O meu coração hipercinético continua agitado, mas aquele coração que gera sentimentos e emoções, com os anos, tem encontrado tanto repouso e decidiu que é só Daquele a quem o rei Davi pôde orar: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” Salmo139:23,24.

Carlota Roque

Missionária aposentada

O Dia Internacional da Mulher é uma boa oportunidade para oferecer esperança e futuro

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Nova York, NY – 7 de março de 2022

 

No Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira, 8 de março, somos chamados a reconhecer e a apreciar a contribuição e o valor de mulheres e meninas, e a ser lembrados de quão longe ainda temos que ir até que possamos alcançar a igualdade.

As mulheres cristãs querem mostrar como a igualdade é uma verdade bíblica, bem como um bem social.

“A Igreja está prestando mais atenção às preocupações das mulheres, mas as mulheres nas igrejas dizem-me que estão exaustas emocional e fisicamente após dois anos de Covid. Elas desejam ter uma voz”, disse Amanda Jackson, que lidera a Comissão de Mulheres da Aliança Evangélica Mundial (WEA), que representa quase 500 milhões de mulheres em todo o mundo.

A Secretária Geral das igrejas evangélicas em Bangladesh, Pra Martha Das, sabe que as mulheres ainda enfrentam lutas no seu país e que o Dia Internacional da Mulher oferece uma oportunidade para falar sobre formas básicas de liberdade. “Até que todas as mulheres sejam tratadas como seres humanos criados à imagem de Deus, precisamos observar o Dia Internacional da Mulher”, comentou ela.

As mulheres podem efetivamente estender a mão para oferecer esperança a outras mulheres em situações vulneráveis. Fátima Oliva Roca, líder da Comissão de Mulheres da América Latina, destacou que o Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade de falar sobre assuntos do coração de Deus. “Ainda hoje existem mulheres que sofrem marginalização e abuso. A Bíblia exorta-nos a falar em nome dos sem voz e pelos direitos de todos os que são vulneráveis ​​(Provérbios 31:8).”

As Comissões de Mulheres na Ásia, Caraíbas e Europa estão focadas na comunidade. Muitas mulheres lideram respostas em questões que afetam mulheres e meninas, como pobreza, perseguição de género, tráfico e famílias em risco.

No ano passado, a Comissão de Mulheres conseguiu encorajar uma nova rede de especialistas cristãos para acabar com o abuso doméstico (CNEDA) que compartilha recursos e ideias práticas, bem como materiais bíblicos sobre relacionamentos saudáveis. A necessidade é grande. Apesar das leis de violência doméstica em muitos países e da crescente consciencialização pública, o abuso e violência continua em crescendo e 904 mulheres morrem todas as semanas nas mãos de ex-parceiros abusivos (números da ONU de 2020).

Jackson diz: “O Dia Internacional da Mulher é a oportunidade anual de celebrar as mulheres, que são a espinha dorsal das igrejas locais, e não apenas tomá-las como garantidas. Podemos reservar um tempo para reconhecer os dons das mulheres na Igreja e incentivá-las como professoras da Palavra, intercessoras, diretoras financeiras, mentoras e líderes de estudos bíblicos”.

Este ano, todas as igrejas em todo o mundo são incentivadas a adotar pontos de ação da “Chamada A Todos Os Cristãos” e a comprometerem-se com as iniciativas que vêm no final desse documento. O Bispo Dr Thomas Schirrmacher, Secretário Geral da WEA, diz: “A Chamada oferece esperança para as maneiras pelas quais a Igreja pode seguir o exemplo de Jesus na transformação dos relacionamentos entre homens e mulheres”.

Você pode encontrar a “Chamada A Todos Os Cristãos” em www.riseinstrength.net/the-call , ou fazendo o download aqui de Português do Brasil.

Escutar o nosso corpo

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Era uma sala confortável, acolhedora. Em torno das mesas redondas, decoradas com gosto, mulheres de diferentes idades ouviam-me atentamente, naquela tarde, enquanto partilhava com elas algumas ideias sobre o tema que me havia sido proposto.

Depois, foi altura de termos o anunciado chá com bolinhos. O dia estava frio e aquela bebida quente e aromática soube-me muito bem, acompanhada por uns biscoitos macios e saborosos, enquanto conversava com quem tinha ficado próximo de mim.

Passado pouco tempo, a minha respiração começou a ficar diferente. Sentia uma opressão desagradável, à entrada e à saída do ar, mas não desconhecida. Foi mais um momento que me veio lembrar que tenho asma e, por vezes, é assim que respiro.

Estava habituada a tentar manter a serenidade em alturas como esta, e foi o que fiz, evitando esforços que pudessem agravar a condição respiratória. Sentia-me desconfortável, mas a explicação que dava a mim própria era a mesma: tenho asma, é assim. Contudo, para além dessa aparente resignação, havia uma pergunta que, embora em voz sumida dentro de mim, parecia desejar fazer-se ouvir: “Sim, tenho asma, mas se eu estava bem, o que é que aconteceu, ou o que é que fiz, para ficar assim?”

Tínhamos combinado ir jantar em família, nessa noite, a um restaurante chinês. Mais tarde, fui com o meu marido e as nossas filhas, a pensar ainda que não iria comer muito mais. A verdade é que, na altura do jantar, a dificuldade em respirar já se tinha atenuado, e alimentei-me normalmente. Afinal, este não fora um episódio único. Recordava-me de certa vez, entre outras, ter feito um bolo de iogurte – receita fácil e saborosa, que resulta sempre bem. Comi uma fatia e, passado pouco tempo, a mesma dificuldade em respirar. Atenuava-se depois de feita a digestão, ao que parecia.

Para abreviar uma história um tanto longa, direi apenas que, depois de pesquisar e conhecer também relatos e intolerâncias ou alergias alimentares de amigas minhas, resolvi retirar o glúten da minha vida. Não havia sintomas da doença celíaca, mas havia outro problema de saúde e… Decidi por minha conta! A minha condição respiratória melhorou, claramente. Mais tarde, e a meu pedido, fiz testes cutâneos que trouxeram a confirmação: sou alérgica ao trigo. Por ruptura de stock, não foi possível avaliar em relação ao glúten, mas acho que já nem é preciso: está retirado da minha alimentação, há uns 7 anos.

Escutar o nosso corpo é uma oportunidade e um benefício individual, exclusivo. Ninguém o pode fazer por nós. Será uma referência preciosa para o médico que nos acompanha e poderá fazer toda a diferença. Por vezes, penso: há quanto tempo seria eu alérgica ao trigo, sem saber? Os testes cutâneos que realizara nunca haviam incluído este alimento. Entretanto, tenho lido mais sobre esta temática e sei que investigações  revelam que a grande maioria das alergias a alimentos incidem sobre estes oito:  leite, ovos, marisco, peixe, amendoins, frutos secos, cereais com glúten e soja. Sou alérgica também a todos estes? Não, mas sou a alguns desta lista, para além do glúten, e não entram no meu prato.

Desde então, já aconteceu o convite para outros “chás”, em que bebo apenas o chá, ou petisco alguma fruta, se houver. A estranheza que pode provocar em quem insiste para que coma um bolinho constituiu uma boa oportunidade de explicar porque não o faço e, quem sabe, despertar a necessária reflexão em alguém que também precise de alterar a sua alimentação. Afinal, antes eu também precisava e não sabia… Como me sinto grata às pessoas que Deus usou para me fazer parar, pensar e alterar a minha alimentação!

Neste ano, vamos ouvir o nosso corpo com atenção e desfrutar de mais saúde! Um abraço para todas.

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

Levantemo-nos e edifiquemos

895 720 Aliança Evangélica Portuguesa

As imensas torres do World Trade Center, conhecidas como torres gémeas, desmoronaram-se como se de um castelo de cartas se tratasse. Eram torres imensas, preparadas até para muitos embates… Contudo, pequenos pormenores na tecnologia de ponta foram descurados e a tragédia aconteceu.

Dizem os entendidos que os embates poderiam ter causado vítimas, muitas, mas o desmoronar foi o maior assassino de tanta gente. Tudo porque ninguém se lembrou que, se uma aeronave embatesse no edifício, o combustível que a aeronave transporta iria provocar um sobreaquecimento enorme, que fez com que as proteções do calor nas vigas fossem deslocadas e arrastassem tudo atrás de si.

Lembra-me as nossas vidas, construídas com cuidado e afinco… Pensamos nós que nenhum pormenor foi descurado. Tal como as torres, o embate faz-nos vacilar, mas aquilo em que nós não pensámos nem ponderámos, pode fazer-nos tombar.

Um embate pode ser muita coisa: o falecimento de um ente querido, uma separação inesperada, uma condição de saúde grave, problemas com os filhos… Afinal, estava tudo bem, era um dia como outro qualquer… E tudo se desmoronou. O que levou anos a construir, é desfeito em pedacinhos, muitas vezes pequenos demais para “colar”.

Todavia, naquele chão “maldito” por muitos, ergueuse um memorial aos que partiram de uma forma tão injusta, e outras torres se construíram, de novo. Muitos dos que lá passam e moram, dizem que apesar de tudo novo, há uma ferida que não se esquece não só pelos nova iorquinos mas também pelo mundo. Como reconstruir num solo tão “queimado”, como reconstruir por cima de cinzas e lágrimas?

Talvez algumas de vós pensem nas vossas vidas assim… Como reedificar esta vida tão cheia de lágrimas e cinzas… Como reconstruir o que duvidamos se se manterá de pé?

Neemias pensou assim quando viu tudo caído… os muros da cidade… a proteção, o abrigo…tudo desaparecera. (Neemias 1,2) O que fez ele? Orou ao Deus que sempre o ouvira, clamou com uma tristeza de coração visível até ao rei (2:2) e Deus o ouviu. Foi esse Deus que amaciou o coração do rei para que Neemias levasse a cargo aquela grande tarefa. Deus providenciou a passagem com cartas do rei, Deus providenciou as pessoas certas para que o ajudassem, e Deus providenciou tudo o que era preciso para reconstruir. E, com fé, avançou: “O Deus dos céus é o que nos fará prosperar: e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos.” (Neemias 2:20)

As nossas vidas são muitas vezes como muralhas tombadas, como torres destruídas, mas são também o lugar onde Deus pode ordenar a bênção, onde Deus pode trocar as tuas cinzas por gozo, o lugar onde pode secar as tuas lágrimas.

Acham que alguma coisa é impossível ao nosso Deus? Eu também acho que não. “Para Deus todas as coisas são possíveis”. (Mateus 19:26)

Fiquem bem, minhas queridas.

Elisa Miguez

Responsável pela Associação Vida Abundante na Lousã

Acima da Covid

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“Boa tarde. É a mãe da Melissa?”

“Sim, sou.”

No écran rectangular do telemóvel vejo o rosto de uma enfermeira, coberto por uma máscara, uma viseira e uma touca. Entendo logo que é do Hospital onde a nossa filha mais nova está internada.

Ali fomos numa madrugada, dias antes, porque ela tinha tosse, febre, um nível  baixo de oxigénio… Entrou nas Urgências e ficámos no carro a aguardar ali mesmo em frente, no parque de estacionamento que se foi esvaziando com o correr da noite, nunca imaginando o que viria a seguir. Acabou por ficar internada.

Dois dias depois, chega o telefonema rápido dela, numa voz ansiosa: “Mãe, vou ser ligada ao ventilador. Avisem o meu marido, amo-vos muito…” Foi angustiante, demolidor.

Os dias passaram-se, entretanto, lentos, pesados e dolorosos. ” O estado dela ainda é crítico mas está a evoluir favoravelmente.” As palavras dos médicos que Deus usou foram-nos sustentando o ânimo. Dias depois, chegou a grande notícia: Já foi tirada do ventilador! E agora chegava este contacto, pelo Whatsapp.

“Quer vê-la e falar com ela?” Perguntou a enfermeira. “Sim, claro!” respondo, ainda a refazer-me da surpresa. Sim, a Melissa já fora retirada do ventilador, onde estivera em coma induzido durante uns dias, a lutar pela vida. E agora poderíamos vê-la.

O aparelho de ventilação não invasiva deixa a descoberto um pouco do seu rosto. Contudo, os olhinhos focam-se em nós, e comovem-se. Não pode falar devido ao aparelho, nem conseguiria ainda, sabemos. Contudo, vê-la e dizer-lhe que a amamos enche a nossa alma e a dela.

Passaram-se mais uns dias. Finalmente saiu da Unidade de Cuidados Intensivos e passou para a Enfermaria. Agora já é ela própria a ligar o Whatsapp e a falar comigo. “Mãe, como estão? Estive entre a vida e a morte. Temos que nos proteger muito deste vírus. A vida é tão preciosa!”

Bebo cada palavra que diz. O seu sorriso, num rosto agora mais magro, ilumina-me e aquece-me como um raio de sol.  Está grávida de 7 meses e assegura-nos: “Vieram fazer mais uma ecografia. A bebé está bem!” Tinham-nos falado de uma cesariana de urgência que, graças a Deus, não chegou a acontecer.

A gratidão a Deus, aos muitos familiares e amigos que oraram, aos médicos e enfermeiros que deram o seu melhor para a ajudar, é infinita, muito maior do que é possível expressar…

“Mãe, podes trazer-me uns pastéis de nata, uns pães de leite… O médico disse que o meu açúcar está baixo e precisa de subir…” A médica já me informara que essa era agora uma preocupação. “Sim, vamos levar… Queres que levemos também frango assado? A médica disse que podemos levar um prato que tu gostes…” “Sim!” O seu apetite delicia-nos. Há-de recuperar o peso perdido, a mobilidade, as forças…

Já teve uma única visita permitida, do marido. Choram emocionados ao ver-se, de novo. O filho, de 2 anos e meio, aguarda em casa o seu beijo e o seu abraço, e diz que “a mãe tem dói-dói e foi ao médico.” Um dia conhecerá a história do vale profundo de onde o Senhor a salvou.

“No mundo terei aflições…” (João 16:33) Este foi um aviso de Jesus. Muitos anos antes, o salmista já concluíra que: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas.” (Salmo 34:19).

Agradecemos ao Senhor este grande livramento, que nos ofereceu no seu imenso poder, muito acima do Covid!  Vimos a vida da nossa filha em “situação periclitante”, como nos foi dito, abalada por um vírus que tem espalhado doença e morte por todo o mundo, e vimos também sair de lá gradualmente, dia após dia. Muitas orações subiram diante de Deus, em seu favor e da nossa pequenina neta que ainda não nasceu, de um verdadeiro exército de intercessão em diversos países. Orações de familiares, de amigos e de muitas pessoas que nem conhecemos. A nossa imensa gratidão a todos!

“Sim, grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso, estamos alegres!” (Salmo 126:2)

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

A graça comum

956 637 Aliança Evangélica Portuguesa

Há dias, nas minhas leituras bíblicas diárias, cruzei-me, num comentário bíblico, com este conceito: “graça comum”. Neste momento estou a ler a paráfrase da Bíblia “A Mensagem” e Eugene Peterson, o autor, apresenta este conceito.

A verdade é que vivemos numa era de eventos, de grandes acontecimentos, da visibilidade, das celebridades, do impacto, do relevante, do grande, do heróico.

Esta cultura da imagem, do visual e do visível, para alguns sociólogos, surgiu com a emergência das cidades, na era pós-moderna, a que alguns chamam cidades-espetáculo. A beleza destas cidades já não vem dos detalhados edifícios esculpidos a cinzel, mas das luzes, da cor, do néon, que enche os olhos e cria espaços novos nos quais circulam as pessoas anónimas, parte da multidão citadina.

Parece um contrassenso – na cidade onde o espetacular é destacado, as pessoas tornam-se anónimas, a não ser que, consigam elas própria, também grande destaque pela realização de algo espetacular.

Na Bíblia, conhecemos uma série de pessoas que se destacam. Aliás, a própria Bíblia diz que “em Deus, faremos proezas” Salmos 60:12, portanto, nada contra o destaque, a influencia, o heroísmo.  Sim, há personagens bíblicos que são autênticos heróis – a sua fé e confiança em Deus levaram-nos a feitos incríveis e ficaram famosos. A sua fama dura até hoje, milhares de anos depois. Aliás, temos até um capítulo da Bíblia chamado o capítulo dos “heróis da fé” (Hebreus 11). Ter um filho aos 90 ou 100 anos, não é para todos, estar numa cova de leões e sobreviver também não, ser engolido por uma baleia e ter uma segunda oportunidade, não é, de todo, para qualquer um, nem sequer matar um gigante com uma pedrinha de riacho. O próprio Jesus nos encorajou “Digo a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.” (João 14:12). Coisas maiores do que Jesus fez, coisas maiores do que ressuscitar Lázaro, morto há 4 dias? Uau! Eu quero! Alguém mais quer?

Mas, paralelamente a estes nossos irmãos heróis, lemos também os exemplos, tão importantes, usados por Deus, nos detalhes, na vida do dia a dia, alguns dos quais, nem o nome conhecemos, e que são ilustração para nós da tal, graça comum. Eugene Peterson, faz uma pergunta relevante: porque são eles incluídos na narrativa bíblica? A resposta que ele apresenta é: Precisamos de alguém que não seja excecional na história. Se enfatizamos demais os aspetos excecionais da vida cristã, daremos desculpas a vida inteira de não vivermos segundo esses mesmos aspetos. As mínimas coisas são tão essenciais quanto as grandes realizações. A graça comum manifesta-se nas tarefas diárias da vida pelas pessoas e com elas. É um dom de Deus que faz que isso seja possível A graça comum é a cola que une as horas do dia que as pessoas passam juntas. A graça comum não produz feitos heroicos, ela simplesmente providencia a força e o amor que lava os pratos, que faz que um vizinho desagradável seja tratado com gentileza, que suporta a dor que não tem alívio, que ora cem cessar, mesmo sem ter visões, que serve sem desejar reconhecimento, que faz o que é simples.

Na Bíblia, vejo a graça comum, entre muitos outros exemplos, no estalajadeiro que terá oferecido a estrebaria para Jesus nascer (Lucas 2:7), no homem que terá emprestado o jumento para Jesus entrar em Jerusalém (Mateus 21), na menina israelita, que sabia que Deus poderia curar Naamã (II Reis 5), na força apaziguadora de Abigail (I Samuel 25).

Neste fim de ano, reflete um pouco onde podes encontrar esta graça comum na tua vida: na pessoa que confeciona as refeições, e consegue unir a família à volta de uma mesa, na colega que oferece os bombons, no avô que cuida da horta e oferece os frutos, no padeiro que oferece  o pão que sobra aos mais carenciados.

E tu? Na vida de quem podes ser graça comum? Podes cantar uma música à janela, daquela vizinha que vive sozinha, podes oferecer alimentos à família que tem falta deles, podes convidar para a tua ceia de Natal aquele migrante que não tem ninguém, podes dizer “bom dia” ao casal que mora ao lado, e as demais ocasiões onde podes ser graça comum, tu saberás.

Para terminar, desejo-vos um ano de 2022 cheio de grandes realizações, mas que os próximos 365 dias sejam também e principalmente cheios de graça comum, daqueles feitos pequenos, que tornam os dias mais doces, as horas mais felizes, que oferecem sentido e aconchego ao quotidiano, que nos tornam, a todos, mais humanos, e ao mesmo tempo, portadores do favor divino que é a Graça que há em Jesus – para os grandes milagres e para as pequenas coisas. Felicíssimo 2022!

Elsa Correia Pereira

Socióloga

O número do Natal

960 702 Aliança Evangélica Portuguesa

Recordo-me bem da altura em que aprendi a escrever o número 1. Foi o meu pai que me ensinou, teria eu uns 4 ou 5 anos. Ele escrevia-o lentamente, fazendo deslizar o lápis, enquanto dizia, com carinho: “É assim, filha: para cima e para baixo”. Depois era a minha vez de escrever e, pela minha idade, eu escrevia-o “em espelho”. Com paciência, ele exemplificava de novo…

Este foi o primeiro número que aprendi a escrever como, provavelmente, sucedeu com todos nós. E, hoje, venho propôr-vos uma reflexão rápida sobre este número, o 1.

Topo

Em diversos contextos, assume-se como o mais importante, atribuído àquele que está ou chegou em primeiro lugar. Sim, foi o que conseguiu alcançar a meta ou o topo antes de qualquer outro. E representa a vitória, em alguns casos a medalha de ouro. O melhor aluno, o melhor vendedor, o atleta mais veloz, o profissional mais competente, o cargo mais elevado de uma instituição…

Desalento

Contudo, também é comum o número 1 expressar desânimo.

Quantos clientes tens? 1

Quantos quadros já pintaste? 1

Quantos alunos são? 1

Quantos seguidores tens na rede social? 1

Quantos produtos já vendeste? 1

A motivação fragiliza-se perante este número pequeno e pode ditar o fim de um projecto que se desejava bem-sucedido.

Ponto de partida

A verdade é que também pode representar um ponto de partida, um começo. Todo o grande empreendimento se iniciou exactamente por aí, por 1. A inscrição do primeiro participante, o primeiro cliente, a primeira encomenda, o primeiro trabalho concluído, o primeiro artigo, a primeira música que se compõe… Um passo, um degrau, no início de cada percurso.

Assim, será interessante pararmos para pensar em algum 1 que esteja presente na nossa vida. Pode significar o topo, a escassez ou, quem sabe, um ponto de partida. Contudo, ainda há um outro significado precioso, referido por Jesus…

Unidade

Na sua oração ao Pai, Jesus expressa um anseio: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21)

Como cristãos, somos chamados a ser 1. Aqui torna-se um número difícil, elevado, exigente. Chegar lá, constitui-se como um alvo, um desafio diário, uma arte ditada pelo amor… Na diversidade que somos, na singularidade que nos define individualmente, ser um significa exercitar o respeito pelas diferenças, o acolhimento, a complementaridade, o apreço pelo outro e a paixão por servi-lo.

Precisamos de lembrar este desígnio divino para nós como cristãos, sobretudo quando não concordamos, tomamos decisões diferentes, divergimos na forma de ver, de pensar. Neste tempo em que a solidão se tem ampliado de uma forma preocupante, numa forma mais dispersa de viver, descrita em detalhe no livro recente “O Século da Solidão”, de Noreena Hertz, com referências de inúmeros estudos que demonstram o evidente impacto na nossa saúde física e emocional, a proximidade e a intimidade como comunidade cristã precisam de ser intencionalmente procuradas e desenvolvidas. Não permitamos que a aridez dos dias ou as divergências naturais de opinião e decisão entre nós nos dividam e enfraqueçam.

O nosso número

Este Natal pode ser mais uma oportunidade de cultivar o sentido de unidade que tanto agrada a Deus. Vamos fazer do 1 o nosso número. Levantemo-nos num sentido de urgência e de entreajuda, como se fôssemos um só. Será possível? Sim, é. Aconteceu no tempo de Esdras: “Então se levantou Jesuá, seus filhos, e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os filhos de Judá, como um só homem, para dirigirem os que faziam a obra na casa de Deus.” (Esdras 3:9).

Jesus disse que será assim que o mundo irá crer! (João 17:21).

Para todos, votos de um Natal unido e abençoado!

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária

Ter mais uma filha… Que tal?

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Estaciono o carro junto àquele edifício de cor branca. Dentro de mim antecipo já o bem-estar que ali me será proporcionado.

Marquei o tratamento para as 10 horas e ali estou, a tempo. Entro, e deixo-me envolver pelo ar fresco do ar condicionado, que alivia o calor forte desta zona do Texas.

Ela vem ao meu encontro, com o seu sorriso habitual. O cabelo liso e negro emoldura-lhe o rosto de traços orientais.

Conhecemo-nos há meses atrás e temos conversado muitas vezes, enquanto ela me trata os pés cuidadosa e carinhosamente. É natural do Vietname. Longe do seu povo, da sua cultura, trabalha aqui nos Estados Unidos há alguns anos. Cada pé merece, das suas mãos hábeis, todo o cuidado, num dia-a-dia muito preenchido.

E hoje, assim sucederá. Sento-me confortavelmente numa cadeira de assento macio. Os meus pés são mergulhados numa bacia de água morna. Os cantos das unhas são cortados meticulosamente, sem que aconteça o descuido de algum golpe.

Entretanto, vamos conversando, como já é costume. Acompanho as vivências que decide partilhar comigo e eu dou-lhe a conhecer aspectos da minha vida. E ali tem crescido uma amizade.

As asperezas e calosidades são removidas dos pés, uma a uma. Sei que no dia seguinte, quarta-feira, será a sua folga, como sempre. Recomendo-lhe que tire tempo para descansar. Precisa de equilibrar as tarefas com o devido repouso, para não entrar em exaustão. Afinal, uma vela não deve queimar-se dos dois lados.

No fim, os pés são massajados com uma loção de aroma agradável. Ficaram “como novos”. Irão voltar aos sapatos num conforto muito maior. Caminharei de volta para o carro como se andasse sobre nuvens!

Olha-me, com o sorriso afável de sempre, e surpreende-me com um pedido: “Sabe, a minha mãe vive tão longe, no Vietname… A Carmina pode ser a minha mãe aqui?”

Olha-a, com emoção. Percebo que, no meio de tantas conversas entre nós, viu em mim a solicitude ou o carinho de uma mãe. “Sim, claro que posso!”

Acredito que Deus pode ampliar o nosso colo para que receba mais filhos do que aqueles que demos à luz. Eu tive cinco filhos mas Ele tem-me dado outros para amar e cuidar porque, afinal, existem diferentes formas de ser pai e de ser mãe.

E vêm-me à mente um momento da vida de Jesus aqui na terra, quando estava crucificado: “Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.” (João 19:26, 27)

Em apenas duas frases, Jesus criou uma filiação nova: Maria, sua mãe, passou a ser também mãe daquele discípulo, que a recebeu em casa nesse mesmo dia, como um filho.

Hoje, Deus chama-nos a partilhar o Seu amor com o nosso próximo em cada oportunidade e, nessa disponibilidade para apoiar e proteger, poderemos ser para alguém como um pai ou uma mãe. Vamos ficar atentos e disponíveis!

Assim ganhei uma filha vietnamita e sinto-me privilegiada por isso. Deus cruzou os nossos caminhos e, por isso, quero continuar a ser para ela expressão do Seu amor, em cada vez que trato dos meus pés.

(Este artigo, da autoria da minha mãe, foi publicado na revista Mulher Criativa há anos atrás. Hoje disponibilizo-o aqui, pois sei que ela gostaria que fosse, de novo, inspiração para quem leia. Carmina foi uma mulher sempre pronta a servir a Deus, servindo os outros, uma mãe para muitos, e esta é uma homenagem mais do que merecida, na fase terminal da sua vida em que agora se encontra). Bertina Coias Tomé

Carmina Coias
Missionária Aposentada

Não foi por acaso

960 709 Aliança Evangélica Portuguesa

Eram 12.30h e, à janela do escritório, eu vi um carro a parar em cima do passeio, junto ao portão do meu local de trabalho. Do banco da frente, saiu uma mulher ainda nova, na casa dos 30 e poucos anos, a chorar e, cambaleando, sentou-se no chão, encostada ao muro.

Logo de seguida, a correr também, saiu uma senhora da parte de trás que logo se ajoelhou junto da primeira, e do banco do volante um senhor que rapidamente se aproximou das duas. De imediato pensei, “Vou descer e perguntar se precisam de ajuda”, e assim fiz.

O sol daquele mês de Maio estava a queimar àquela hora e ao chegar perto perguntei se queriam um pouco de água ou algo que eu pudesse fazer para ajudar. Disseram-me, “Não, obrigada”. Insisti para virem para a sombra, mais para dentro de casa. Foi quando a senhora mais velha se voltou para mim e disse a chorar, “Esta é a minha filha e acabou agora de saber que tem um cancro na mama.”

Naquela altura não sei explicar o que senti, identifiquei-me logo com a filha em questão e uma compaixão inundou toda a minha alma. Tinha passado pela mesma situação cerca de 2 anos antes. Abaixei-me e, olhos nos olhos, perguntei-lhe o nome e pude dizer, ”Minha querida sei o que está a sentir… Já estive aí… Também chorei o que está a chorar… Também disse que não via mais os meus filhos crescer. Enfim, pensei que ia morrer. Não posso fazer nada por si nessa área mas conheço alguém que pode, e esse alguém me surpreendeu um dia. Chama-se Deus e Ele pode todas as coisas. Ele a ama muito ao ponto de entregar o Seu Filho para morrer por si; o Seu desejo é salvar a sua alma. Busque-O de todo o seu coração e de toda a sua alma e Ele vai revelar-se à sua vida e ajudá-la… Posso fazer uma oração por si?”

Com os olhos esbugalhados e, parando de soluçar, esta senhora aceitou, e pude então orar por ela. Foi uma bênção tal que o marido disse, olhando para mim: ”Estou a ver que não foi por acaso que parámos aqui!” E eu respondi que não há acasos na vida dos filhos de Deus mas sim propósito.

Fiquei com o contacto telefónico dela e fomos trocando mensagens durante todo o processo de tratamentos e cirurgia. Ficámos amigas desde então e Deus foi com ela de tal maneira que tudo correu bem com a cirurgia, com a quimio, com a reconstrução do peito, e ela ainda hoje diz não entender como é que eu, sem a conhecer de lado algum, pude dar-lhe o que lhe dei naquele dia: Esperança! A Deus seja a Glória!

Quando penso naquele dia, sinto uma gratidão imensa e uma lágrima ou outra teima em rolar ao ver o Amor do nosso Deus. Eu tinha de estar à janela àquela hora! Aquele carro tinha de parar naquele sítio da avenida… E tinha de haver alguém com o mesmo problema de saúde pelo qual eu tinha passado e que precisava de uma palavra de consolo e esperança.

Muitas vezes, durante a prova nada entendemos. Por vezes só mais tarde entendemos o propósito. Se foi só por isto já valeu a pena. Minhas amadas não sou mais do que vós, dou este testemunho para louvarmos a Deus e para vos dizer que vale a pena falarmos deste maravilhoso Deus e sermos a Sua voz, os Seus pés e as Suas mãos enquanto aqui andamos. Sejamos sal e sejamos luz nestes dias. Deus seja louvado!

Ana Cristina Santos

Escriturária

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