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Mulheres

Como posso honrar a Deus com o meu orçamento?

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“Deus realmente está interessado nas minhas finanças!”. Esta foi a primeira reação quando me deparei pela primeira vez com a lista dos mais de 2000 versículos bíblicos sobre dinheiro. São fascinantes os conselhos, as advertências e orientações que Deus nos deixou na forma como devemos lidar com o dinheiro. No entanto, assim como Adão e Eva ignoraram as indicações de Deus, muitas vezes nós também o fazemos.

Quando mergulhamos profundamente no tema das finanças bíblicas, compreendemos que honrar a Deus com o nosso dinheiro é algo exigente e muito mais profundo do que habitualmente pensamos. Tudo começa na criação. Nós fomos criados por Deus, pertencemos a Ele e todas as coisas que há neste mundo foram criadas para Ele, inclusive o nosso dinheiro. Se Deus é o criador e o verdadeiro dono de tudo, nós necessitamos da Sua orientação para lidarmos corretamente com dinheiro.

Assim, o nosso primeiro desafio para enfrentarmos os nossos problemas financeiros não é o orçamento, mas sim a redenção. Muitas pessoas buscam o sucesso numa vida centrada em si mesmas e encontram nesse caminho a frustração. Abordar corretamente o dinheiro e quebrar maus hábitos financeiros começa em compreendermos que Deus tem um plano para a nossa vida financeira e que Ele sabe o que é melhor para nós.

Começamos a honrar a Deus com as nossas finanças quando não mais gerimos o nosso orçamento conforme os nossos desejos, mas sim conforme o plano que Ele tem para nós. Aqui chegamos ao segredo da paz financeira: quando compreendemos que Deus está no comando, conseguimos desenvolver uma atitude de gratidão e contentamento que é a cura para o nosso défice. Transferirmos a propriedade dos nossos bens para Deus, vai desenvolver um verdadeiro coração de mordomo que é o principal ingrediente para melhorarmos as nossas finanças.

Um orçamento com o propósito de honrar a Deus.

Honrar a Deus, acima de tudo, é reconhecer o seu senhorio e submetermos à sua vontade. Como posso aplicar os princípios bíblicos no meu orçamento? Seguem alguns conselhos:

1. Priorize a generosidade – Damos generosamente assim como Cristo deu a sua vida por nós. Dar, recorda-nos que tudo vem de Deus e que partilhamos um pouco do que Ele nos deu. Tirar parte do nosso rendimento para contribuir, não só é bom para as nossas finanças como para o nosso coração. Dessa forma, demonstramos que Deus encontra-se em primeiro lugar na nossa vida e confiamos totalmente na Sua provisão.

2. Atenda às necessidades da sua família – A Bíblia ensina-nos que devemos colocar como prioridade a satisfação das necessidades mais importantes como a alimentação, a saúde, o abrigo… Desenvolva um sentido crítico em separar o que é necessidade ou desejo na lista das suas despesas. Um administrador fiel tem um orçamento focado no cuidado da sua família e não nos seus desejos. 1 Timóteo 5:8

3. Pague a dívida prontamente – Na visão bíblica, a dívida é um fardo e uma escravidão que retira a nossa liberdade em usarmos o nosso dinheiro. Conforme encontramos em Salmos 37:21, um orçamento cristão sempre vai colocar o pagamento das dívidas como algo obrigatório e prioritário. Procure reduzir o mais que puder o seu nível de endividamento e honre os seus compromissos.

4. Inclua sempre uma margem – Gastamos menos do que ganhamos, gerando uma poupança mensal. Quando poupamos, estamos a desenvolver a nossa paciência e o nosso domínio próprio, abdicando de algum desejo momentâneo por algo mais importante no futuro. Assim como a formiga, entendemos que há momentos de prosperidade que devemos acumular para os períodos mais difíceis. Viver abaixo das nossas possibilidades é uma demonstração de prudência, de sabedoria e dos nossos frutos.

5. Afaste a comparação – Como o nosso coração enfrenta a tentação real de amar o dinheiro, é frequente sermos tentados a nos compararmos com os outros. Definimos o nosso padrão de vida e tomamos decisões financeiras com base no estilo de vida dos nossos vizinhos e amigos. Fuja desta armadilha pois a comparação é um jogo que nós nunca vamos ganhar. Desenvolva um hábito de consumo dentro das suas possibilidades e afaste qualquer sentimento de inveja ou cobiça que só nos levará a uma espiral de gastos excessivos. Antes de comprar algo questione-se: “preciso disto ou apenas quero que os outros me vejam com isto?”.

6. Seja grato e contente – Num coração grato, não há espaço para o descontentamento ou a comparação. Demonstramos um orçamento de gratidão quando não buscamos satisfação nos bens materiais e procuramos mais a liberdade financeira do que satisfazer os nossos desejos temporários. Eclesiastes 5:10

7. Busque conhecimento e orientação – Salomão ensina-nos que a sabedoria e o conhecimento são mais valiosos que as riquezas. Gerir o orçamento da nossa família não será sempre fácil mas é uma aprendizagem contínua. Antes de tudo, submeta o seu orçamento a Deus, ore pelas suas finanças e peça a Deus orientação pois na verdade tudo o que temos Lhe pertence.

Em conclusão, como cristãos, devemos colocar a nossa lealdade a Cristo acima de todas as coisas. Em 1 Coríntios 10:31 nos é dito: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Submetermos o nosso orçamento a Cristo é realmente urgente pois sabemos que o dinheiro quer dominar a nossa vida (“não podeis servir a dois senhores”). Se deseja honrar a Deus com as suas finanças, procure sempre orientação bíblica para as suas decisões financeiras, entregue o seu orçamento em oração, reconheça e cumpra o seu papel de administrador sábio e fiel.

Se deseja aprender mais sobre finanças bíblicas, visite o site www.gpsfinanceiro.com

Ana Bessa

Honrar a Deus com o meu trabalho.

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Servir a Cristo com os meus dons.

Desde que me conheço que sou entusiasta pelo trabalho. Qualquer projeto escolar podia contar com o meu contributo, assim como tarefas de voluntariado e inúmeras responsabilidades eclesiásticas.

Por detrás deste entusiasmo, estava sempre uma necessidade de me sentir útil ao serviço da comunidade, da sociedade e do outro.

Esta “adição” ao serviço fez-me escolher uma profissão sacrificial, mal paga e muitas vezes mal falada. Sou há 15 anos uma feliz assistente social.

Na Bíblia, encontrei um dos lemas da minha vida: “O que fizerem, façam-no de todo o coração como se estivessem a servir o Senhor e não os homens.” Col 3:23 BPT.

O apóstolo Paulo ensinou-me que não há tarefas pequenas ou insignificantes para aquele que obedece. A nossa atitude em tudo deve de ser como a de um  servo porque tudo o que eu faço é para Deus.

Iniciei a minha vida profissional aos 16 anos como empregada de mesa. Apesar de total ausência de experiência, estava entusiasmada e com a certeza que queria aprender e servir. Conclui rapidamente que não ia ser fácil! Entre o ritmo dos pedidos, o equilíbrio na bandeja e as bolhas nos pés, cada dia parecia mais exigente do que o anterior. Fiz muitos erros: deixei cair bebidas em cima de clientes, vendi cortes de carne que não existiam na ementa, aconselhei sobremesas com ovos crus a grávidas, entre outras distrações e limitações típicas da minha idade. Mas, aprendi! Aprendi que responder com simpatia a um cliente resmungão pode alterar toda a situação terminando com uma bela gorjeta. Aprendi que muitas vezes os outros – clientes, colegas e chefias – são muito mais tolerantes com os nossos erros do que connosco próprios. Aprendi a partilhar dividindo as gorjetas entre todos os meus colegas. Aprendi que cada trabalhador tem uma história, uma família e uma luta.

Mas mantinha-se a pergunta: Como posso saber que o meu trabalho honra a Deus?

Procurei então analisar a minha atitude e aferir como esta era percecionada pelos outros. Duas características tornaram-se inegociáveis: a excelência e o entusiasmo.

Primeiro, se eu fizer o meu trabalho, não para a chefia, mas para o Senhor, lutarei pela excelência. Isto significa que darei o meu melhor, porque a única aprovação que importa para mim é a de Deus.

E, por consequência, trabalharei com entusiasmo porque sei o porquê do meu esforço. Como ajo para Deus, encontro alegria no que faço.

“Trabalhem e não sejam preguiçosos. Sirvam o Senhor com dedicação e fervor”. Rom 12:11 BPT

Quando penso na importância da excelência, lembro-me também de José e da sua história contada no livro de Génesis. A sua excelência no trabalho, em qualquer função que lhe foi atribuída, não dependeu de uma boa retribuição monetária nem de palavras de elogio. Aliás, nas circunstâncias mais adversas ele não perdeu o foco nem corrompeu a sua essência e os seus dons. Acima de tudo, todos à sua volta viam que Deus estava com ele.

“O seu amo começou a dar-se conta de que o Senhor estava com José e que, por isso, tudo o que ele fazia era bem sucedido.” Gênesis 39:3 BPT

Esta dimensão do serviço e o foco em Cristo e não nos homens tem sido essencial para a minha função como assistente social. É por isso que continuo a investir em pessoas mesmo depois de ser mal interpretada, difamada, ofendida e desprezada. É por isso que consigo ver que a raiva do outro, ainda que me seja direcionada, provém de uma dor e mágoa sofrida. E é com o meu foco em Cristo que consigo dar sem expectativa de receber nada em troca mas na esperança do milagre da mudança que só Jesus pode trazer.

Mas, nos momentos em que me deixo vencer pelo meu ego, pelo meu sentido de justiça e pela minha necessidade de valorização, torno-me menos entusiasta e menos excelente na minha função. É nesses momentos que prejudico os que devia servir e deixo de honrar a Deus com o meu trabalho. É por isso que em tudo o que faço e em tudo o que sou – como mulher, esposa, mãe, discípula e assistente social – tenho de voltar ao centro e relembrar as palavras de Jesus O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu sempre vos amei. “ João 15:12 BPT

É prática da minha profissão e da minha identidade cristã acreditar sempre na restauração e no poder transformador do amor de Jesus. E é por isso que não desisto do outro nem de melhorar quem sou.

O meu desejo é servir a Deus com excelência e com isso testemunhar com entusiasmo quem Ele é aos que se cruzam no meu caminho.

“Cada um exerça o dom que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.” 1Pedro 4:10

Priscila Pighin Silva

Diretora técnica e assistente social da Residência Temporária para Mães Adultas da Associação de Socorros Médicos o Vigilante.

Ser mãe…

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Há quem me trate por Ana, outros tratam-me por Rute e ainda há quem me trate por Ana Rute. Respondo pelos três e não tenho preferência por nenhum. Gosto do meu duplo nome. Mas há quem me trate por “Mamã”. Para os meus filhos, este é o meu nome, e eu sei que quando o ouço, é um deles quem me chama. Eu sou a mãe deles.

Atualmente, há quem não goste de ser definida por esse nome. Os tempos modernos acham que nomear alguém de apenas “mãe” é reduzir a sua identidade. “Eu sou mais do que apenas mãe” – ouvimos. Como se ser mãe fosse uma coisa menor.

Talvez precisemos reconfigurar o que é ser mãe. Ir até à Bíblia é sempre uma boa ideia. Um exemplo pode ser encontrado na mãe de Timóteo. Timóteo era filho de uma judia que também era crente, Eunice, e de um pai grego (Actos 16:1,2). Não nos são dadas muitas informações sobre o seu pai, mas temos algumas sobre a sua mãe.

Timóteo era um jovem pastor e filho espiritual do apóstolo Paulo. Eram bons amigos, e Paulo reconhecia o amor que Timóteo tinha às Escrituras. E Paulo atribui a fé e o carácter de Timóteo ao fiel testemunho da sua mãe e da sua avó.

Paulo faz referência ao legado dessas mulheres em dois momentos. Primeiro, vemos quando agradece a Deus por Timóteo e pela sua fé. Ele recorda que a sua fé sincera habitou primeiro na sua avó Loide e depois na sua mãe Eunice e ele diz: “e estou certo de que também habita em ti” (2 Timóteo 1:5). Mais tarde, Paulo encoraja Timóteo a permanecer firme na Palavra, não se deixando enganar, ou sendo perseguido (2 Timóteo 3:12–14). E mais uma vez ele lembra que aprendeu e acreditou firmemente na Palavra desde muito jovem, “desde a infância” (2 Timóteo 3:15).

Deus chama as mães a ensinarem os filhos no caminho em que devem andar (Provérbios 22:6). A nossa identidade enquanto mães assenta em Cristo. Logo, ser “apenas mãe”, não se verifica. Podemos abraçar este papel digno sem nos sentirmos minimizadas. Deus promete que, ao iluminarmos este mundo, saberemos que o nosso trabalho não foi em vão (Filipenses 2:12–16).

Talvez nunca saibamos o profundo significado deste título, mas podemos lembrar-nos exemplos como Loide e Eunice, sabendo que gerações são chamadas à salvação através da fidelidade daquelas mães que vieram antes de nós.

Ana Rute Cavaco

Liberdade

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Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão. Galatas 5:1

O mês de abril em Portugal cheira à lliberdade. Na história recente desta nação, passos gigantes foram dados ao som de uma canção que entoava nas rádios e que falava de uma tal “vila morena, terra da fraternidade”. Os cravos vermelhos, ao invés de armas, representaram e representam a liberdade conquistada. Portugal é dividido entre o antes e o depois do 25 de Abril de 1974.

Ao analisarmos a origem do significado da palavra liberdade, as definições são pelo menos três. Do grego a palavra “eleutheria” significava liberdade de movimento de um corpo sem qualquer restrição externa, ou seja sem qualquer ausência de limitações físicas. No alemão, a palavra “freiheit” de onde se origina a palavra “freedom” em inglês, significa “um pescoço livre” o que se refere à ausência das correntes que aprisionavam os escravos, numa clara oposição à escravatura. Já do latim, a palavra “libertas” que dá origem a palavra em português “liberdade” nasce em oposição a outra palavra “dependere” cujo significado é “estar preso a” “pender de”. Assim, liberdade, assume o significado de não estar preso a nada ou não ser propriedade de ninguém.

No entanto,   nos nossos dias, a palavra liberdade assume significados mais abrangentes e não se refere apenas a prisões externas (físicas ou de subjulgação), mas internas, ligadas às prisões relativas as histórias de vida, sofrimento psicológico e emocional e que podem funcionar como correntes que impedem o individuo de fazer escolhas e de experimentar a liberdadde

Faz-me lembrar a história de uma mulher relatada nos evangelhos no capítulo 4 de João. A mulher de Samaria. Ela era uma prisioneira. Podemos dizer que para ela, não havia liberdade de movimentos, ia ao poço apenas ao meio dia, na hora mais quente do dia, pois assim não tinha a possibilidade de encontrar ninguém. Correntes invisíveis faziam-na escrava dos julgamentos, do apontar de dedos e da aceitação de alguém. Também era dependente das suas próprias circunstâncias e se movia presa a um jugo pesado e a um cântaro vazio e que nunca a satisfazia.

Outra mulher descrita na Bíblia também no evangelho de João e que me reporta a liberdade, é a mulher apanhada em adultério. Ela também era prisioneira. Não havia liberdade de movimentos, apenas o julgamento de uma lei que a condenava sem a Graça. Não sabemos em que contexto ela foi apanhada, mas a verdade é que correntes invisíveis faziam-na também prisioneira dos julgamentos, do apontar de dedos e estavam a levá-la a morte por apedrejamento.

Podiamos falar aqui de outras tantas mulheres cujo apedrejamento invisível, através da rejeição, do abandono, dos abusos físicos, psicológicos e morais estão descritas na Palavra de Deus e ainda  de tantas outras no decorrer da história da humanidade.

Mas, prefiro “trazer a memória aquilo que nos dá esperança”. Lembro-me de Maria que poderia ser também rejeitada, considerada impura por estar grávida sem ser casada, apedrejada, por ter “adulterado” sendo já prometida como esposa para José. Porém, esta mulher escolheu a liberdade. Os seus movimentos faziam-na bendizer ao Seu Salvador. As correntes da escravidão de uma lei sem a Graça, foram quebradas quando ela foi capaz de enfrentar os medos externos de julgamento e rejeição e internos que poderiam tê-la paralizado e impedido de ser agraciada.

Porém, precisamos lembrar que cada uma dessas mulheres encontrou a liberdade, não porque eram fortes, ou tinham em si mesmo a capacidade de serem livres. Houve um encontro. No poço de Jacó, o encontro foi com os pecados, as consequências e um cântaro vazio. À frente da mulher estava a Fonte de Agua Viva onde toda sede é saciada. No quase apedrejamento da mulher adultera, o encontro foi com o Único que podia cumprir toda a Lei, para que ela pudesse ser livre e a única recomendação foi: “vai e não peques mais”! Ele não disse vai e não adulteres mais. O encontro com o libertador, muda o rumo e as escolhas, e os homens que queriam apedrejá-la, não compreenderam a liberdade.

No caso de Maria, o encontro deu-se em seu ventre. Ela acolheu em seu útero, aquele que tinha vindo para libertá-la. Foi a primeira pessoa no Novo Testamento que chamou o Senhor de Seu Salvador. O encontro de Maria mudou a sua história e chegou até nós. Mérito dela? Não, claro que não. O mérito é todo Daquele que desenhou um plano perfeito de redenção, antes mesmo da fundação do mundo.

É verdade, vivemos num país livre. Portugal celebra neste mês a liberdade que historicamente, muitos lutaram para que pudesse acontecer, porém a verdadeira liberdade celebrámos também neste mês de abril, a morte e a ressurreição de Jesus, também um acontecimento histórico e que marca a história da humanidade entre o antes e o depois e a história individual de milhões de pessoas, que como as mulheres que aqui descrevemos, escolheram a liberdade de andar onde Ele andou.

Arlete Castro

Coordenadora de Cuidado e Desenvolvimento Integral de Missionários Transculturais Sepal – Servindo aos Pastores e Líderes

Escritora: O Livro de Salema, Simplesmente Sofia, Mulheres com História, e o livro Pérola (ficção baseada numa história real)

MULHER

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“O mundo de Deus é dos humanos, mas não dos homens” (Caio Fábio)

Desci do púlpito, cansada e feliz. A mensagem que entregara tinha sido, na minha óptica, muito importante. Quando a reunião acabou, um cavalheiro cumprimentou-me e disse: “Parabéns! Falou como um homem”!

Não sei se me estava a criticar porque perdi o meu jeito de mulher ou se me elogiava…não havia maneira de compreender o que queria dizer, também não tenho a certeza se ele saberia o que é uma mulher…

A frase levou-me a uma longa reflexão. Afinal, gosto de ir às compras, de cozinhar, de limpar a minha casa, de telefonar ás minhas amigas, de “apaparicar” a minha família…mas também gosto de ler, de ouvir um bom debate político, de discutir assuntos actuais, de fazer pesquisas, de escrever e (espantem-se!) de assistir a um bom jogo de futebol!

Será que ser mulher tem a ver com fraqueza, medo, competência, inteligência… (acho que como mulher, já estou a misturar tudo…)?

A reflexão levou-me ao livro dos princípios da Bíblia. Especialmente fez-me pensar o que estaria no coração do Criador quando disse:

“Não é bom que o homem esteja só…”

Como é que alguém se atreve a por em causa uma declaração do Deus Todo-Poderoso? Foi Ele que afirmou não ser bom o estado de solidão do homem. Adão tinha visto todos os animais criados por Deus, tinha dado nomes a todos eles, mas não havia um único que lhe fosse compatível, que estivesse à altura de quebrar essa solidão, de preencher esse vazio na sua vida.

Fico feliz porque ser mulher não tem a ver apenas com o facto de preencher uma lacuna na vida física de um homem, de trazer para o lar o conforto e o calor necessários para a família, mas com a afirmação divina de que fui criada para preencher a vida de alguém, o que infere que esse estaria para sempre só, se eu não tivesse chegado à sua vida.

“…farei para ele alguém que o auxilie…”

Ao pensar nesta palavra “auxílio” vem à minha mente a imagem de alguém que procura fazer uma determinada tarefa, mas não tem mãos a medir…precisa de ajuda. É isso mesmo, Deus fez-me mulher não para ser escrava do homem, subordinada do homem, mas colocou-me num lugar de honra – auxiliadora. Significa que sem a mulher o homem não seria capaz de cumprir as suas tarefas, chegar onde almeja, carregar a responsabilidade que lhe foi entregue.

”…e lhe corresponda”.

Esta foi a razão pela qual Deus se deu ao trabalho de tirar do corpo do homem algo que lhe correspondesse: um ser da mesma natureza, com a mesma inteligência, com os mesmos desejos e anseios. Tudo o que os homens têm feito e desfeito à mulher ao longo dos séculos, é absolutamente contrário ao desejo e plano divinos ao criar este ser tão especial. Deus fez a mulher para uma correspondência, que no original significa “face a face”, para ser igual ao homem na tarefa de dominar o mundo, de frutificar e abençoar.

A razão por que Deus não fez a mulher igual ao homem, além das diferenças físicas necessárias para a tal correspondência, tem a ver com o facto maravilhoso que Deus nunca cria seres em série, cada uma das Suas obras é única e perfeita. Mas fez a mulher da mesma espécie. Com o mesmo sentido de eternidade e com a mesma capacidade de alcançar um mesmo patamar de domínio e de governo, de produzir e encontrar como o homem, meios de subsistir.

Infelizmente vemos sempre a história humana depois do capítulo 3 do Génesis, quando deveríamos focar-nos naquilo que Deus planeou antes e que o pecado sujou e estragou.

Ainda há muitas mulheres que se sentem diminuídas junto dos homens, incapazes de exprimir a sua opinião, castradas por pais e maridos que as colocaram num lugar que nunca foi o desejo de Deus.

Essas são as mulheres que hoje devem olhar para a eterna Palavra de Deus e rejeitar a mentira que lhes foi imposta por erro, maldade e ignorância, aceitando a verdade que ela afirma: e lhe corresponda”.

”…o Senhor Deus fez a mulher e a levou até ele”

Imagino eu, que enquanto o homem dormia um sono de anestesia divina, o Criador construía com as Suas mãos e o Seu saber, um novo ser. Colocou nele órgãos semelhantes aos do homem e depois… deteve-se nos detalhes. À medida que a mulher era moldada (esta é a tradução do original hebraico), o Senhor Deus foi retocando ali e acolá uma obra que seria a última da criação perfeita que efectuara. Não diz a Palavra se Ele soprou nela o fôlego da vida ou se, à medida que a moldava, a própria vida era parte da construção, tal como um embrião, que ainda sem tudo o que necessita para funcionar, já a mãe pode ouvir deliciada o seu pequeno coração a bater. Mas a parte que mais me fascina é que foi Deus que a levou junto do homem. Já pensou no valor deste gesto? Na importância que Deus colocou no ser correspondente, necessário, chamado mulher? Nem sempre a mulher se deixa guiar pela mão bendita do seu Criador. O pecado fez de nós seres da mesma rebeldia, por isso quantas vezes erramos nas escolhas e na pessoa que nos corresponderia…

O importante do gesto de Deus, é que Ele tinha um propósito para a vida da mulher, tudo aquilo que já foi dita atrás, um projecto único, maravilhoso e honroso, por isso fez questão de ser Ele mesmo a levá-la ao homem.

A mulher não ficou abandonada, no meio do jardim, perdida, sem saber o que estava a acontecer-lhe, Deus levou-a ao seu destino, ao seu propósito.

Tudo o que for dito e argumentado sobre a mulher além do que a Palavra de Deus afirma, é obra de ficção. Esta é a verdade. Uma verdade que nos honra, nos eleva e nos coloca não abaixo do homem, nem mesmo ao seu lado, mas face a face, para ser para ele o que Deus tinha em mente.

”Esta é afinal, osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porque do varão foi tomada”

Foi a resposta maravilhada do homem, quando acordou e viu na sua frente um ser novo, único e que lhe era compatível. Ele não viu a mulher como o “sexo frágil” (afinal estes preconceitos vieram por causa do pecado e eles ainda não tinham desobedecido), mas entendeu que aquele ser era igual, parte de uma mesma ordem biológica. Estava habituado a dar nomes à criação de Deus e aqui, mais uma vez, deu um nome ao ser que Deus lhe apresentava: varoa, visto ele ser o varão. Viu-a como companheira da sua humanidade, observou-a nas suas diferenças e compreendeu que elas não eram outra coisa senão um plano divino para que existisse entre eles uma perfeita compatibilidade e correspondência. Não há uma única expressão na boca do primeiro homem que diminua, subjugue ou submeta a mulher; a expressão de espanto do homem foi de alegria e de completação. O homem seguiu o pensamento de Deus que procurou criar uma pessoa idónea, responsável e parceira.

Jesus Cristo veio para redimir uma criação caída. Esta redenção foi efectuada pela Sua morte vicária na cruz. Por causa dela os humanos podem encontrar paz, comunhão com Deus, coisas que tinham ficado impossíveis por causa do pecado e da desobediência, mas a implementação desta redenção onde está incluída a restauração da imagem de Deus – macho e fêmea, ainda é um processo em curso.

Diz a Bíblia que Ele está a preparar uma Noiva, sem mácula, sem defeito, sem ruga, uma esposa composta de homens e mulheres que entendem o Seu plano e que caminham juntos, face a face para uma restauração final.

Na compreensão do nosso papel de mulher e na aceitação do plano de Deus pelo homem, reside parte desta restauração.

Eu já decidi: sou um ser único, criado por Deus, com um propósito honroso e sublime e quero fazer parte de uma outra Mulher – a Noiva de Cristo, essa, para sempre gloriosa e amada.

Sara Catarino

Ex-presidente da Aglow Internacional Portugal.
Ex-conferencista

A Comunicação no sistema familiar

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Família, comunicação, amor.

Vivemos na era das tecnologias de informação, apesar dos benefícios desta forma de comunicar, assistimos para nossa tristeza à decadência da comunicação em todos os setores da sociedade, principalmente na família, estamos perante um sistema de comunicação de sentido único, sabendo que a verdadeira forma de comunicação, depende da interação adequada entre quem emite e recebe a mensagem.

Em simples palavras, pretendo evidenciar a importância da comunicação, nos aspetos que caraterizam a família, nas relações familiares que estabelecem e a forma como se organizam. Para falar em comunicação e adequada reflexão é importante efetuar um breve olhar para a estrutura e dinâmica familiar na nossa sociedade, sendo diversificados contextos: família nuclear ou simples, família alargada ou extensa, família homossexual, família monoparental, constituída por um progenitor, podendo ou não residir com os descendentes; família com dinâmicas a dois, constituída por familiares da mesma linhagem, sem relação conjugal ou parental, (avós, netos, tios sobrinhos, irmãos, primos, cunhados, outros familiares), esta forma de organização familiar tem vindo a aumentar devido à elevada carência de habitação; família adotiva, casal ou pessoa sozinha que adotam uma ou mais crianças podendo não ser consanguíneas e a residir ou não no mesmo agregado filhos biológicos; família em que um dos elementos é dependente dos cuidados de outros por motivo de doença, realço aqui o aumento de cuidadores para apoio a membros da família nessa condição, nomeadamente com problemas de saúde mental, podendo residir e estar nesta situação crianças, jovens, adultos e idosos; família multidesafiada, registando-se elementos no agregado familiar com problemas crónicos de comportamento, por doença, por desemprego de longa duração, consumo de estupefacientes e álcool; família múltipla, um dos elementos assume duas ou mais famílias, agregados diferentes com ou sem descendentes.

Poderia continuar a descrever outras formas da estrutura e dinâmicas na família dos contextos na relação conjugal e parental, o conceito vai-se alterando tornando-se difícil em poucas palavras abordar todas as dimensões.

Sendo tão diversificada a forma de organização familiar, é de reconhecer que as problemáticas sociais que ocorrem nas famílias se enquadram numa sociedade que evolui para novos desafios, exigências, competitividade, deficiente proteção social, quer dos grupos de risco tradicionais quer dos novos grupos de risco, o fenómeno migratório, contextos marcados por fenómenos de polarização social, sociedade em rede longe de ser inclusiva, agravante fase pandémica, guerras, alterações atmosféricas, rápido desenvolvimento da comunicação eletrónica e dos sistemas de informação, recai no aumento de novas necessidades, disfunções sociais na família, parca comunicação para melhor desempenho da vida quotidiana.

A intervenção social hoje confronta-se com uma nova e crescente procura de respostas, cada vez mais adequadas ao nível de atuação de forma personalizada e especializada.

Atentem ao relato de uma mãe: A parentalidade nos dias de hoje levanta muitos desafios. Como mãe de duas adolescentes, vivo diariamente o desequilíbrio entre a vida familiar e a profissional. Todos os dias organizo, planeio, cumpro horários e tarefas, apoio dos TPC, ouço, acompanho, cozinho, limpo, entre tantas outras tarefas, ao longo de 24 horas frenéticas que tem um dia. Quando a noite chega e o ritmo abranda, habitualmente sentimentos de culpa invadem o meu pensamento e as minhas vozes internas questionam as minhas ações “porque falhei, porque gritei, porque não ouvi, porque cedi, porque não brinquei mais …”. A exigência que a sociedade nos incute e que persiste nos dias que correm para sermos pais perfeitos, pais ouvintes, pais amigos, pais positivos, tolda muitas vezes as minhas ações como mãe. O desejo indiscutível se ver os filhos felizes e realizados é universal, mas tenho a certeza de que só o conseguiram ser se, nós pais, aceitarmos as nossas imperfeições e compreender que esta jornada é para ser feita em família, com amor e momentos por vezes tumultuosos, mas verdadeiros e reais. 

Sendo a comunicação o elo de ligação dos elementos que constituem a família, tornando-se ainda mais relevante na relação progenitores, porque a influência principal na vida dos filhos é essencialmente exercida pelos pais, não negligenciando aqueles que por vezes assumem este papel. Falar de uma comunicação saudável na família é urgente, e aqui a igreja tem um contributo eficaz, na forma como interage com as famílias, evitar criticas e avaliações baseadas em preconceitos, reforçar o ensino da palavra de Deus, a importância de conhecer a Deus, orar sem cessar, ser ombro amigo na ajuda das dificuldades, ajudar a família a restabelecer uma forma de comunicação com base no respeito individual de forma que todos entendam a mesma linguagem e consigam confiar no seu projeto familiar, com ajuda de Deus.

João 13:34 “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, que cada um possa fazer a sua parte no uso da dose certa de amor, na comunicação, principalmente na família, foi o método usado por Jesus, ouvindo o ritmo de cada um e não deixando de ensinar, desta forma consolava os corações e fazia a diferença.

Arlete Santos

Assistente Social

Exerce profissão na área de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo.

Casamento

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“… casaram e foram felizes para todo o sempre…”

Este é a mensagem dos filmes infantis sobre princesas, que termina invariavelmente em casamento. E muitas vezes, esta é a ideia que algumas pessoas têm sobre casamento.

Infelizmente a realidade acaba por ser bem diferente. Porquê? Porque é que assistimos à diminuição dos casamentos na nossa sociedade? Porquê que muitas pessoas já não acreditam no casamento? As respostas a estas perguntas passam por, primeiro, percebermos o que é o casamento. De acordo com o dicionário da Porto Editora, casamento é o ato ou efeito de casar; é a união conjugal; é o matrimónio, que contempla dois aspetos: O Direito Civil e o Religioso. 

No Direito Civil, casamento é um contrato civil livremente celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante plena comunhão de vida, segundo o qual se estabelecem direitos e deveres conjugais.

Na Religião católica é sacramento pelo qual um homem e uma mulher se ligam de forma perpétua, de acordo com as prescrições da Igreja

Para o cristão que se revê nos ensinamentos bíblicos, casamento é uma aliança que se estabelece numa cerimónia onde os vínculos matrimoniais entre um homem e uma mulher, são firmados e os ligam até que a morte os separe. O casamento pode-se resumir em três aspetos principais: a livre vontade dos próprios, o cumprimento dos rituais da cultura (na cultura portuguesa é a Conservatória, e/ou a igreja) e a consumação do ato através da relação sexual.

E é desta relação “até que a morte os separe” que eu quero falar. Uma boa parte das pessoas que casa, entra para a relação pensando “o meu cônjuge vai fazer-me feliz”! De acordo com a palavra de Deus, é responsabilidade do cônjuge estar atento às necessidades do outro e ser a resposta de Deus a essas necessidades. Mais do que procurar a felicidade em si mesma, é na entrega de um ao outro (o amor/amar) que a felicidade pode ser encontrada.

Muito raramente se está no casamento com o pensamento “eu vou fazer o meu cônjuge feliz”, Ou “Eu vou ser a resposta de Deus às suas necessidades.” Desta forma, cada um espera que seja o outro a fazê-lo feliz. O grande desafio é estar no casamento com o pensamento que devo fazer tudo o que está ao meu alcance para pensar mais no meu cônjuge do que em mim mesmo, isto de forma bíblica e saudável.  Somos naturalmente egoístas e pensamos em nós em primeiro lugar, em vez de pensarmos no outro, por isso as relações tendem a ser difíceis e muito longe daquilo que Deus planejou e pensou.

Surge então a pergunta: Qual o propósito de Deus para o casamento?

Para um cristão que acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela dá a resposta. Após a criação de todas as coisas, narrada no livro de Gênesis, capítulos 1 e 2, Deus criou o homem e a mulher, Gênesis 1.26,27 “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”.

Mais adiante, em Gênesis 2:18 “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” E em Gênesis 2.21-24Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Este foi o primeiro casamento, feito por Deus e testemunhado por toda a criação.

Juntos, os dois “uma só carne”, deviam frutificar, multiplicar-se e encher a terra, sujeitá-la e dominá-la. Juntos deviam também refletir a glória de Deus no seu relacionamento, porquanto foram criados à imagem e semelhança de Deus. Deviam mostrar a toda a criação, os atributos comunicáveis de Deus. Deus criou mais do que dois “Eus”, Ele criou um “NÓS”, um sere humano Macho e Fêmea, para comunicar os seus atributos, Amor, misericórdia, bondade, fidelidade, justiça, sabedoria, santidade, verdade, liberdade e paz.

Alem disso, cada um deles tinha uma tarefa específica: o homem era o provedor e o protetor do lar e a mulher era a auxiliador e cuidadora do lar. É verdade que nos dias em que vivemos, estas tarefas estão esbatidas, principalmente porque os dois trabalham e proveem para a família e os dois realizam tarefas domésticas. Isso quer dizer que o plano de Deus falhou? Não! Quer dizer apenas que, como são os dois “uma só carne “e estão a trabalhar para o mesmo objetivo, a relação deve priorizar o “NÓS”, e não o “EU”, a divisão das tarefes do lar deve ser consoante as habilidades e disponibilidades de cada um, bem como o sustento, fruto do trabalho individual, pertence ao NÓS e não a cada um dos “EUs”. Assim, as responsabilidades devem ser definidas previamente, em amor e respeitando às particularidades um do outro. Esta forma de estar no casamento em que priorizamos o “NÓS”, é uma mudança de mentalidade e uma compreensão mais ampla da vontade de Deus, diferente da que temos hoje. Essa mudança de pensamento, de postura e de atitude, faz TODA a diferença nos nossos casamentos.

Porque o egoísmo faz parte da natureza humana pecadora, a relação conjugal enfrenta vários desafios, tais como o conhecimento de nós mesmos, o conhecimento do outro, a expressão genuína dos sentimentos e emoções, a educação dos filhos, a gestão financeira e a vida sexual. Estes desafios, levados ao extremo, em vez de cooperarem para um relacionamento saudável e agradável, acabam por tornar os lares numa batalha campal feroz e cruel. Como ultrapassar isso? Devemos viver resignados ou fazer alguma coisa em contrário? É claro que devemos lutar, não nos devemos resignar, mas em vez de combatermos um contra o outro, devemos unir-nos, esforçar-nos e trabalharmos juntos contra tudo o que quer destruir a harmonia do casal e do lar.

Um outro desafio está relacionado com as diferenças anatómicas, fisiológicas e genéticas entre o homem e a mulher. Apesar de intelectualmente estarmos conscientes destas diferenças, na vivência do dia a dia, as mesmas tendem a ser ignoradas e acabam por separar os casais. Mas a ideia de Deus é que estas diferenças sejam para complementaridade, apoio e fortalecimento do casal. Os pontos fortes de um, complementam os pontos fracos do outro, e assim seguem numa relação de cumplicidade e parceria.

O casamento é o lugar perfeito criado por Deus para confrontar e expor o meu EU de forma a conduzi-lo a Cristo, à morte do “EU”, conforme diz a Bíblia. Sem a morte do “eu”, vivem na mesma casa dois “eus” competindo entre si, até que algum deles se anule ou se resigne, mas este não é o plano de Deus. O deixar crescer o “NÓS” no casamento vai de encontro ao plano divino. O “NÓS” trabalha para a satisfação mútua do casal e busca responder à vontade de Deus, às necessidades e aos anseios um do outro.

Sejam quais forem os desafios e as dificuldades que a vida vos traga no casamento, não desistam de vós mesmos, procurem ajuda!

Na medida em que ambos queiram, sejam humildes, honestos, submissos e obedientes a Deus, o Deus dos impossíveis, que teve a ideia do casamento, fará os milagres necessários para a restauração.

Genny Chaveiro

Conferencista/palestrante sobre vida familiar

Direção Aliança Evangélica Portuguesa, responsável pela “Assessoria de Mulheres”

Dissipar a solidão

1048 862 Aliança Evangélica Portuguesa

Era uma pequena aldeia, situada entre duas ribeiras, envolvida por belas paisagens e terrenos férteis, de vinhas, oliveiras e amendoeiras. Contudo, havia uma característica que a distinguia de todas as outras aldeias portuguesas: tinha apenas um habitante.

Ao longos dos anos, as famílias que ali residiam tinham-se mudando para outras localidades, talvez profissionalmente mais promissoras. Restava apenas aquele homem. Podemos imaginar o seu dia-a-dia? Como seria sair de casa, pela manhã, e encontrar à sua volta um amontoado de casas vazias? Não haver com quem conversar ou mesmo pedir ajuda? À condição dele em Adagoi, assim se chama a aldeia, poderemos chamar solidão objectiva, que significa, literalmente, a ausência de pessoas. Mais tarde, ele terá decidido ir viver para outra localidade, provavelmente para evitar esse isolamento.

Este não é o tipo de solidão mais comum nos dias de hoje. Ou seja, quando alguém nos diz que está só, tal não significa a inexistência de pessoas à sua volta. Habitualmente, refere-se a uma outra realidade, a chamada solidão sentida. Ou seja, é uma solidão que se transporta no íntimo, que acompanha a pessoa para onde vá, independentemente de quem esteja próximo de si. Por isso, o facto de sermos muitos, num qualquer evento por exemplo, não garante que a sensação de solidão não esteja presente.

Uma forma de trabalhar saudavelmente essa condição em cada um de nós, pode acontecer em duas vertentes: alimentarmo-nos e repartirmos entre nós o nosso pão.

Alimente-se

Aquilo que absorve a nossa atenção diariamente, e os pensamentos que ruminamos a partir daí, ditam em grande medida os contornos e a dimensão da solidão que sentimos. Se estivermos focados naquilo que não é alimento, poderemos dar por nós emocional e espiritualmente subnutridos e, inevitavelmente, sentirmo-nos sós, numa percepção árida e desvalorizante de nós mesmos, vivamos sós ou acompanhados. Por outro lado, Jesus assegurou-nos alimento diário, ao afirmar: “Eu sou o pão da vida.”(João 6:48, ACF) Jeremias sentiu esse conforto, mesmo no tempo difícil que viveu, tendo afirmado até “A minha porção é o Senhor.” (Lam. 3:24, ACF)

A leitura da Bíblia e a oração são duas fontes inesgotáveis de provisão. Conversar com alguém que nos escuta, aceita e oferece alento, pode ajudar a ultrapassar circunstâncias ou recordações que se constituam como factores de manutenção, ou até de agravamento, da solidão, no cumprimento do princípio bíblico “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gál. 6:2, ACF) Também existem recursos de aprendizagem, bons livros, músicas que nos elevam, pesquisa de temas que nos edificam, a contemplação da natureza, em momentos da chamada solitude, que significa estar só e saborear esse momento. Em todas essas circunstâncias, Deus pode falar-nos.

Alimente

Uma vez nutridos, acabamos por entender que a mesa de Deus é abundante e que Ele nos dá mais do que aquilo que precisamos. Assim, podemos partilhar tranquilamente o nosso pão com quem nos cruzamos, em momentos de proximidade, de ouvido atento, sensibilidade, palavras, acções de entreajuda.

Sinto-me muito grata a todas as pessoas que, ao longo da vida, me alimentaram, usadas por Deus, substituindo solidão por oportunidade de desenvolvimento pessoal. Assim, deixo aqui a recordação de dois momentos desses, como uma homenagem também, aos meus queridos e saudosos pais.

Duas pérolas preciosas

Numa das últimas vezes em que conversámos, o meu pai ofereceu-me um versículo bíblico. Ao longo da vida, ofereceu-me muitos, mas este teve um sabor especial, por ser o último e por definir um precioso princípio de vida. Disse-me que aquela passagem bíblica era para mim e referiu-a: “E dizei a Arquipo: Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras.” Colossenses 4:17. E guardo-o preciosamente, substituindo o nome Arquipo por Bertina…

A minha mãe tinha uma voz lindíssima. Muitas vezes cantou para programas de rádio, a então Ibra Rádio, e em eventos evangélicos, tendo chegado a gravar uma cassete de hinos, como se usava na altura. Recordo-me bem da última vez em que a ouvi cantar. Cantou para mim, pouco tempo antes de partir para a eternidade. Estávamos a conversar a propósito de alguns planos para a minha vida, sobre os quais eu não tinha a certeza, e cantou: “One day at a time, sweet Jesus…” Foi apenas a parte inicial deste belo hino, o que lhe permitia a sua saúde já frágil, e eu entendi a mensagem.

Sim, queridos pais, guardo comigo o vosso conselho conjunto: atentar no ministério que o Senhor me deu, para o cumprir, mas lembrando-me sempre que é um dia de cada vez!

Hoje mesmo

Se tem lamentado a solidão que sente, resista à tentação fácil de ficar à espera que alguém o(a) venha alimentar e angustiar-se por isso não estar a suceder como desejaria, pois esse apoio nem sempre está garantido. Comece por pensar em formas de se alimentar afectiva, mental e espiritualmente. Existem muitas oportunidades, como referi, providenciadas por um Deus que tem prazer em alimentar-nos, e que serão provisão, água fresca, mel, cura para feridas, vida.

Uma vez mais bem nutrido(a), irá sentir-se mais motivado(a) a tomar a iniciativa de se aproximar de outras pessoas e partilhar o seu pão. Outros irão alimentá-lo(a), usados por Deus. E, naturalmente, a solidão se irá dissipando.

“Quando a ansiedade já me dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma.” Salmo 94:19 (NVI)

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

Batem à porta. Quem será?

1000 668 Aliança Evangélica Portuguesa

Tocavam à campainha da nossa casa com muita frequência. Eram os nossos amigos, os conhecidos e, tantas vezes, pessoas que precisavam de desabafar os seus problemas e ouvir conselhos e palavras de ânimo. No seu ministério pastoral os meus pais as recebiam, escutavam, conversavam, disponibilizavam o telefone, enfim, quantas vezes recebiam crianças enquanto os pais iam trabalhar, jovens que precisavam de tempo para arranjar casas onde ”servir” (como se dizia na época) e, até, recordo-me de uma idosa, sem abrigo que se recusava a tomar um bom banho…

Revisitando esse tempo guardado na memória, sinto saudades daquela casa.  Tinha um corredor comprido ladeado pelos vários quartos onde dormíamos aos pares (porque oito a dividir por dois dá quatro) mais o principal que era dos pais, quase sempre com um berço para mais um bebé que chegava à família. Ainda sinto o conforto daquele primeiro andar onde os anos passavam devagar, as férias da escola eram longas, os amigos entravam e saíam num corrupio para as brincadeiras, para estudarem connosco, e chegada a hora, lanchavam connosco. Havia sempre mais um prato na mesa para um deles ou para quem chegasse de improviso.

… Como era possível que, do pouco, ainda houvesse alguma coisa para partilhar além do carinho e compreensão para com vidas tão sofridas!

Nesta visita a tempos distantes e preciosos, recordo um fim de tarde, quase noite, em que alguém batia à porta da rua e tocava à campainha ao mesmo tempo, num sinal de aflição e desespero. Era uma senhora chorando copiosamente, com uma criança pela mão. Abraçou-se à minha mãe sob o olhar atento e preocupado do meu pai e foi encaminhada para uma sala para conversarem. Fechada a porta, ficámos sem saber de que perigo fugia.

Recordo que mãe e filha ficaram connosco. A senhora ajudava nas tarefas diárias, já não chorava e a pequenita entrou nas nossas brincadeiras. O que a trouxera ali “não era assunto para as crianças”. Houve telefonemas, cartas para lá e para cá…

Quanto tempo passou não sei, mas a nossa curiosidade teve parcial resposta quando, numa tarde igual a tantas outras para mim, a campainha voltou a tocar. “Quem será?” Foi o meu pai quem desceu as escadas para abrir a porta, enquanto o nervosismo da hóspede inesperada foi bem visível. Era o seu marido que a abraçou, em lágrimas, assim como à menina e foram encaminhados, sozinhos,  para a mesma sala onde ela estivera no dia da sua chegada. Quando saíram estavam reconciliados, partindo juntos entre abraços tranquilos e sorrisos felizes dos meus pais e o espanto, algo envergonhado, dos que por ali estávamos.

Batem à porta! Quem será?

Regresso ao presente e pergunto-me: quantas vezes batem à minha porta!  Quem será e do que necessita? De que forma escuto, abraço, ajudo?

Dirigindo a mesma pergunta aos leitores, será que disponibilizamos alguma parte do que somos e temos? Será que os nossos filhos, aqueles com quem convivemos, poderão voltar atrás no tempo e ter o testemunho da nossa partilha, do “amar o próximo como a nós mesmos”? Sobretudo, será que falamos aos desvalidos e sofridos sobre Alguém que deseja entrar nas suas vidas e nelas morar até à eternidade?

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” (Ap. 3:20)

Quem bate assim, com voz suave?

Jesus Cristo, o único Amigo sempre disponível, que quer sentar-se à nossa mesa, conversar e cear connosco, suavizando as nossas dores e secar as nossas lágrimas.

“… se … estiver atento à voz … e abrir a porta” …

Como será abençoadora a Sua entrada pela porta da nossa vida!

Lídia Pereira

Gestora de Recursos Humanos e Administrativos

Aposentada

Momentos Preciosos

737 491 Aliança Evangélica Portuguesa

Dei comigo a caminhar para o refeitório, pensativa. Estava numa Conferência, a que tinha vindo com muitos outros jovens como eu, num ambiente tranquilo e animado de Verão, e reflectia sobre aquilo que ouvira na sessão da manhã.

O orador acabara de nos deixar um convite que tinha tanto de inesperado como de aliciante. Dissera que quem quisesse falar com ele em particular poderia ter essa oportunidade a seguir ao almoço, numa sala que nos indicou.

Apreciara muito o que ele partilhara connosco e poder conversar com ele parecia-me uma oportunidade incrível! Nunca antes vira um orador internacional abrir-nos essa possibilidade. Contudo, ao entusiasmo veio-se misturar alguma insegurança. O convite despertara também os meus receios pessoais. O que pensaria quem me visse a dirigir-me para lá? Iriam imaginar-me como uma pessoa “cheia de problemas”, frágil? Deveria ir ou não?

Sentei-me à mesa e fui comendo e pensando. A certa altura, no meio daquela teia de ruminações, surgiu uma ideia que me agradou porque me pareceu conciliar a vontade de ir com a minha insegurança… Sim, depois do almoço eu iria caminhar na direcção da tal sala onde ele iria estar. Iria assim “como quem não quer a coisa”, como se estivesse apenas a passear por ali, e logo avaliaria o que sentiria no momento, se deveria entrar ou não, se estaria alguém a observar ou se poderia acontecer discretamente.

Confortável com o plano que traçara, terminei a refeição. Depois levantei o tabuleiro da mesa, fui colocar no lugar certo, e saí do refeitório. Caminhei em direcção à sala e, ao aproximar-me, tive uma surpresa! Rapidamente descobri que, de facto, não precisaria mais de me preocupar com a decisão de ir ou não falar com o orador. Eu não teria essa oportunidade. A fila à porta da sala era longa! Ali estavam muitos jovens, à espera do seu momento, certamente único, de falar pessoalmente com aquele orador!

Não me senti triste, talvez por não ter sido um plano muito vincado em mim. Fiquei, sim, impressionada. Tanta gente, como eu, a precisar de falar e de se sentir ouvida! Aquela imagem acompanhou-me para sempre.

Muitos anos são decorridos desde aquele dia mas a necessidade mantém-se, na generalidade: precisamos de nos sentir ouvidos e aceites.

Há conteúdos que ora se agitam em nós, ora parecem atenuar-se, mas que precisariam de ser falados para ser saudavelmente processados. Por serem situações nossas, são sentidas com uma intensidade própria e adquirem naturalmente uma densidade emocional que facilmente pode traduzir-se num amontoado de pensamentos que, quantas vezes, atrapalham mais do que esclarecem, como um nevoeiro confuso, que dificulta o discernir de um caminho ou até nos oferecem uma sensação de encurralamento, como se não houvesse saída.

Nem todas as pessoas têm maturidade ou recursos pessoais para conhecer as nossas dores. Não deve ser para elas o nosso desabafo.

Outras há que, reconhecendo-lhes idoneidade para acolher os nossos conteúdos mais delicados, poderão estar a viver um momento pessoal exigente/desgastante e, por esse motivo, não têm em si espaço emocional para oferecer ao nosso desabafo.

Por vezes também acontece ser menos confortável fazê-lo com familiares ou no círculo de amigos, pela grande proximidade. Aquele orador desconhecido, vindo de outro país, trazia consigo essa distância que também se tornara atraente, por certo.

Na verdade, há pessoas capazes de tomar a nossa carga e, de forma sábia, caminhar connosco e ajudar-nos a descobrir caminho. Como diz um provérbio antigo: “Os lábios do justo apascentam a muitos.” (Provérbios 10:21)

Criar oportunidades de conversar e partilhar é uma verdadeira bênção. São momentos que Deus pode usar para nos fazer sossegar, para curar feridas e desenhar caminho diante de nós. E nesse apoio se cumpre o que há de mais precioso: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gálatas 6:2)

Bertina Coias Tomé

Psicóloga

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária

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