• Siga-nos nas redes sociais

Mulheres

Olhos no Horizonte

1280 853 Aliança Evangélica Portuguesa

O Farol de Díli representa um lugar muito querido da minha infância. Em noites de calor, passeávamos por ali depois do jantar, saboreando a brisa suave. Aquela luz forte projectava-se ritmicamente sobre o ondular das águas, que vinham tocar suavemente a praia.

Era habitual cruzarmo-nos com amigos que ali tinham vindo ao mesmo. Desfrutávamos momentos de um caminhar ameno, ao ritmo de conversas acerca de um dia-a-dia simples, agradavelmente simples, com o som tranquilo do mar, ao fundo. Não havia televisão nem centros comerciais. De computadores não se ouvira falar. Iniciava-se a década de 70.

Como criança, recordo-me de ter escutado, certa vez, uma notícia que me impressionou e se prendia com o meu imponente farol. Contavam os adultos que, por vezes, havia pessoas que vinham passar a noite ali mesmo. Nos meus 9 ou 10 anos, que não me recordava de alguma vez ter passado a noite noutro lugar que não fosse a minha cama, ouvi e fiquei impressionada. Eram militares portugueses que, prestes a concluir a sua comissão de serviço de dois anos naquele lugar, decidiam eleger como seu lugar favorito a zona do Farol, numa noite especial: a véspera da chegada do navio enorme que, sulcando diferentes oceanos, os traria de volta a Portugal, numa viagem de dois meses. De binóculos em punho, viviam ali, pela noite fora, a emoção de ser os primeiros a avistar o almejado navio. Olhos postos no horizonte, esperavam ansiosamente que a primeira claridade da madrugada lhes permitisse divisar lá ao longe um ponto minúsculo, depois a proa, a seguir alguns dos mastros, depois… Era o sonho a aproximar-se, a ganhar contornos cada vez mais claros e definidos, a tornar-se real.

Pela manhã, muita gente acorreria ao porto de Díli, a observar o navio acabado de atracar. Aí viriam muitos outros militares que, tendo dormido no quartel, queriam agora saborear a chegada do navio, ainda que não fosse o “seu”.

Muitos anos antes, na cidade de Jerusalém, um homem olhava fixamente o horizonte da vida. Havia-lhe sido assegurado que os seus olhos veriam acontecer algo magnífico. Era uma promessa de anos, aguardada dia-a-dia. Observava o fluir do tempo, atentamente, numa expectativa que não se desvanecia. Iria acontecer!

Tal como outros aguardavam o navio a surgir ao longe, ele mantinha o olhar esperançado no futuro. Contrariamente a esses, ele desconhecia o dia designado para vir a vislumbrar o sonho materializado. Por isso esperava, na convicção de que qualquer dia poderia ser “o dia”!

Numa certa manhã, sentiu-se impelido a ir ao Templo. Ali, num momento emocionado, encontrou um casal que trazia consigo um bebé. Ao tomar aquela criança nos seus braços, Simeão sentiu-se invadido por uma gratidão imensa. Finalmente acontecera aquilo que lhe fora revelado (S. Lucas 2:26) e louvou a Deus: “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação.” (S. Lucas 2:29,30)

Se hoje o horizonte parecer um vácuo desanimador, deverei lembrar-me de que isso é tudo o que o meu limitado olhar consegue alcançar. É apenas isso. Não significa que Deus não terá mais nada para mim, como tantas vezes somos tentadas a pensar. O facto de não vermos não significa que não exista. Ana não via um filho chamado Samuel, a viúva Rute não via um segundo marido, os discípulos não viam uma refeição imensa para a grande multidão, Pedro não via a moeda com que iria pagar o seu imposto, Geazi não via o exército que o defendia, e a lista poderia continuar… Deus colocou essas bênçãos diante do olhar deles no momento certo.

Eu não vejo devido à minha condição humana, que só me permite ver a vida momento a momento. Contudo, eu creio, porque sei que não vejo tudo. O horizonte de Deus para a minha vida é bem maior que o meu. E aquilo que eu vier a ver, só será novidade para mim, não para Deus, pois será algo que há muito estava desenhado no Seu amplo horizonte para a minha vida. Por isso, devo deixar desabrochar um sorriso nos meus lábios e uma canção no íntimo, desfrutar os relacionamentos, saborear oportunidades, acolher desafios novos. Deixar que os meus temores sejam substituídos pelo Seu amor. E, no tempo certo, será visível no meu horizonte aquilo que já era tão claro e definido no d’Ele: novos planos e conquistas para a minha vida.

Com esta certeza em Deus, desfrutemos de um Feliz Ano Novo!

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária
Membro da Direcção da Aliança Evangélica Portuguesa

A Família e o Natal

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Amigas

Está a chegar o Natal… As famílias reúnem-se nesta data festiva, em que se celebra o nascimento de Jesus. E dou comigo a pensar: quanto amor existe em nós?

Quantidade de amor

Imagine que havia uma forma de medir o amor. Seria interessante, não é? Como quem mede a tensão arterial, acionávamos o mecanismo, ligando-o ao nosso coração e no écran do aparelho iria surgir um número… Sim, essa seria a quantidade de amor que existiria no nosso reservatório.

Pois bem, embora não haja como avaliar assim, Deus conhece esse valor. Eis três exemplos disso:

Nenhum amor – Disse Jesus: “Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.” (João 5:42)

Pouco amor – “O que posso fazer consigo, Efraim? O que posso fazer consigo, Judá? O seu amor é como a neblina da manhã, como o primeiro orvalho que logo evapora.” (Oséias 6:4 NVI)

Muito amor – Disse Jesus: “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou;” (Lucas 7:47)

Deixemos que o Amor de Deus nos inunde deste Natal. Mas, Bertina, existem pessoas tão difíceis… É verdade, eu sei. Nesse caso, vamos relacionar-nos com elas, não de acordo com quem elas são, mas de acordo com quem Deus é em nós. E isso fará toda a diferença.

Gratidão pela família

Recordo-me de um dia em que descia a rua quando vi, lá ao fundo, uma ambulância parada, de cor branca, reluzente. À medida que caminhava, percebi que uma senhora se sentira mal e estavam a colocá-la, cuidadosamente, dentro do veículo, certamente para lhe prestar os cuidados imediatos e a transportar ao hospital mais próximo.

Ainda à distância, continuei a observar a ambulância, que parecia novinha em folha, e todo o apoio ali proporcionado, de um modo tão atento e profissional. De imediato, dei por mim invadida por uma gratidão imensa, que me emocionou. Com as lágrimas nos olhos, disse a Deus: “Senhor, obrigada pelo INEM…” Quem me visse assim emocionada iria pensar que a pessoa doente seria minha familiar. Quem me ouvisse, iria possivelmente estranhar a oração. Agradecer a Deus pelo Instituto Nacional de Emergência Médica e por todo o serviço que presta?

Sim, imagino que estas não serão ações de graças comuns na nossa oração diária. A verdade é que, há dias atrás, eu tinha chegado de um país africano onde pessoas morriam pelo facto de, estando gravemente doentes, não haver quem as transportasse atempadamente ao Hospital. Ou por falharem os recursos nesse mesmo Hospital. E, por isso, estava a experimentar em mim uma onda de gratidão que tinha tanto de real como, talvez, de incomum.

Mereceria o INEM uma gratidão tão intensa e comovida? Com certeza que sim! Porque é que, então, eu a sentia com esta intensidade pela primeira vez? Talvez porque nunca vivenciara a sua falta. Ou porque integrara na minha rotina como algo presente, garantido, quase como um direito.

Tudo aquilo que faz parte da nossa vida como uma garantia e um direito, dificilmente merecerá a nossa gratidão. Está ali, tão certo e tão seguro, que nem nos ocorre agradecer. É mesmo assim. Claro que está presente, sempre e para sempre… Só faltando é que lhe reconheceremos o verdadeiro valor. Nesse aglomerado de benefícios assegurados, pode acontecer estar também a família. Nas nossas orações, temos agradecido a família que Deus nos deu? Ou já a demos por garantida e, por isso, é um tema que escapa à nossa gratidão?

Saboreemos o Natal

Sim, é verdade que, às vezes, lá em casa discordamos. Nem sempre tudo são sorrisos e satisfação. Há momentos de tristeza e de desapontamento que podem, aqui e ali, causar algum distanciamento. É verdade que também existem situações de desrespeito e violência, que não merecem qualquer agradecimento. Contudo, hoje vamos parar para pensar na nossa família com apreço por tudo aquilo que, de bom, nos tem oferecido. Pela forma como nos amamos, mesmo na nossa imperfeição. Tal como na história da ambulância, o facto de ter conhecido, na minha prática clínica, tantas pessoas desprovidas de qualquer suporte familiar, tanto no meio prisional como em diversas instituições de apoio, tem renovado em mim este empenho em agradecer. Vamos saborear o Natal com este sentido de gratidão pela família e vamos oferecer amor, pois Ele é Amor em nós!

Voltamos a encontrar-nos, aqui, no próximo dia 30 de Dezembro.

Um Feliz Natal!

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária
Membro da Direcção da Aliança Evangélica Portuguesa

Bem-vinda a este espaço!

960 640 Aliança Evangélica Portuguesa

Fico feliz por ter vindo até aqui, o que provavelmente lhe acontece pela primeira vez, pois é um lugar novo, dedicado a nós, mulheres.

Como em qualquer casa nova, ainda estamos a equipá-lo, mas fazemo-lo com muito entusiasmo, pois existe tanto e de tanta qualidade para trazer para aqui! Sentimo-nos como quem põe a mesa, com muitas e variadas iguarias. Porquê? Porque dependemos de um Deus fiel e rico. “Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente.” (Salmo 16:11)

Neste primeiro dia de Dezembro, com o Inverno já a espreitar, recordo uma história que li há pouco tempo, sobre uma mulher que se sentia muito frustrada com a sua sócia. Haviam-se envolvido num projecto empresarial, que acabara por correr mal. Esta mulher estava angustiada pela forma desonesta e injusta como a sua sócia agira, deixando-a numa situação desesperada. A tristeza e a ansiedade eram demasiado grandes para levar sozinha. Decidiu, então, procurar ajuda.

Marcou uma sessão de counselling e aí derramou tudo aquilo que a estava a perturbar tão profundamente. Procurou ser clara e detalhada. Depois de a ouvir atentamente, a counsellor fez-lhe uma pergunta: “Quando é que esse mal-estar irá acabar?”

A mulher ficou surpreendida. “Acabar?” A pergunta parecia-lhe desconcertante.  “Sim”, insistiu a counsellor.”Quando é que isso vai terminar? Gostaria que me desse uma data.”

”Uma data? Quando?” Ela não conseguia entender.

A counsellor explicou-lhe: “Pode dizer-me daqui a duas semanas, um mês, seis meses, um ano, o que quiser. Sinta-se livre para escolher a data. Só lhe peço que me dê uma data.”

A mulher nunca encarara a situação nesses termos. Sim, achava que um dia, algures no tempo, a irritação e a mágoa iriam desvanecer-se lentamente, como fumo que se dissipa no ar. Mas seria talvez “quando Deus quiser…” ou “no tempo de Deus…” Definir uma data? Era um desafio totalmente novo para si.

 

Pensando bem, sendo ela a escolher o dia, queria voltar a sentir-se bem o mais rapidamente possível… E deu uma resposta ousada: “Amanhã”.

“Está bem…”, respondeu a counsellor. “Então amanhã acaba essa angústia.”

Para a mulher, aquela foi uma noite difícil. Pensar em desligar-se assim de pensamentos que habitavam a sua mente em agitação há tanto tempo, era duro. Quase pareciam ter fixado residência no seu íntimo, cristalizando-se numa maneira de ser sombria. A verdade é que, no dia seguinte, iniciou com determinação uma nova etapa na sua vida, com um espaço limpo e arejado em si mesma para acolher novos planos e uma esperança recuperada.

Muitas de nós estamos esperando em Deus. E está certo. Dizia o Salmista:  “Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. 3 E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor.” (Salmo 40:1-3)

Continuemos a esperar em Deus, com confiança e fé. Contudo, em todas as situações  que vivemos, será que estamos esperando no Senhor? Ou será que é Ele que está à nossa espera? Há decisões, mudanças de atitude que é Deus que espera de nós? Quando é que nos decidiremos?

Eis duas passagens bíblicas em que foi Deus que esteve à espera de alguém:

“Oh! se o meu povo me tivesse ouvido! se Israel andasse nos meus caminhos! Em breve abateria os seus inimigos, e viraria a minha mão contra os seus adversários. Os que odeiam ao Senhor ter-se-lhe-iam sujeitado, e o seu tempo seria eterno. E o sustentaria com o trigo mais fino, e o fartaria com o mel saído da rocha. (Salmo 81:13-16)

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” (Lucas 13:34)

Um Deus que fala aos seus filhos, desejando que O ouçam, e que anseia juntá-los com carinho… Deus à espera… Um bom tema para reflexão!

No próximo dia 15 de Dezembro, voltaremos aqui, para outro momento de encontro consigo. Vamos falar sobre A Família e o Natal.

Até lá, desejo que desfrute um tempo abençoado, esperando em Deus e avançando naquilo que Ele espera de si.

Bertina Coias Tomé
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária
Membro da Direcção da Aliança Evangélica Portuguesa

error: Conteúdo Protegido!