Chá de limão e torradas ou um bolinho, num lanche agradável. Ou comida quente, numa refeição mais substancial. Em volta da mesa, muitos foram os momentos em que recebemos pessoas em nossa casa e partilhámos o nosso tempo com elas. Ou apenas encontros para aconselhamento e oração. De facto, a porta de nossa casa sempre fez parte do nosso ministério, onde quer que vivemos. Por ela entraram amigos, alguns carentes de ajuda, por quem orámos e vimos a vitória acontecer nas suas vidas. Foram situações em que Deus nos deu a oportunidade de O servir sem sair de casa.
Lembro-me de uma jovem que chegou tão abatida à nossa porta, com uma situação que só mesmo o Senhor poderia resolver. Hoje ela é uma mulher muito feliz. O milagre de que precisava aconteceu.
Em Timor, onde fomos missionários, a nossa porta abriu-se várias vezes para deixar entrar pessoas que vinham entregar-se a Jesus. Diziam elas: “Queremos a mesma alegria que vemos nos nossos vizinhos que são crentes.”
Por vezes, há pessoas que dizem: “Estive em sua casa uns dias” e eu tenho que confessar que não me lembro. Contudo, fico feliz, pois foram muitos os que nos abençoaram com a sua estadia ou visita.
Nem sempre vimos possibilidades de ajudar todos os que nos procuravam, mas aprendemos que somos apenas servos, e podemos confortar com oração, guardando a certeza e a esperança na da resposta com Deus.
Pela nossa porta também entraram “anjos” que Deus enviou quando deles precisámos. Lembro-me, em particular, de um casal de missionários australianos, reformados, que nos visitaram em Timor, numa altura de luto pelo falecimento do nosso filho. Rostos desconhecidos mas impregnados de amor, que nos trouxeram a esperança de voltar a ser pais, quando era uma impossibilidade médica em Portugal. Uns meses depois, abriram as portas de sua casa, em Melbourne, onde eu seria operada e veria assim recuperada a possibilidade de engravidar de novo. Tivemos mais dois filhos!
Em 1999, quando visitei Portugal, o pastor José Neves levou-me à rua onde viveu a minha mãe. Essa é outra porta de que sinto muitas saudades. Quando parámos em frente, por um momento desejei o impossível: que o seu rosto querido surgisse abrindo a porta, como aconteceu tantas vezes. Contudo, na ausência dessas portas, Deus continua a dar-me outras “portas de oportunidades” para dar e receber conforto e ajuda.
Houve muito que se perdeu como o correr da vida, mas a fidelidade do Senhor permanece imutável, continuando a abrir “portas que ninguém pode fechar.”

Carmina Coias
Missionária Aposentada