Sempre gostei de biografias. É uma leitura onde se pode aprender tanto, vendo como as pessoas viveram e como enfrentaram os desafios que foram surgindo no seu percurso.
Vejo com muito interesse um programa televisivo aqui nos EUA, onde se procuram os antepassados de pessoas. Trata-se, geralmente, de gente famosa ou muito conhecida, sobre cuja história se faz uma investigação minuciosa. No fim, e com curiosidade e emoção, recebem um grande mapa detalhado da sua árvore genealógica, com nomes, datas de nascimento, de casamento e de óbito. Em muitos casos, a pesquisa chega aos escravos, com séculos pelo meio. Os nomes estão registados nos perfeitos arquivos americanos que guardam com detalhe a chegada dos emigrantes, de barco, vindos da Europa, de países nórdicos, da África e da Ásia, há muitos anos atrás.
Tenho pena de não ter tido oportunidade de saber mais sobre os meus ascendentes. Ainda assim, é interessante saber que tanto a minha família como a do meu marido são oriundas de Espanha, do lado do pai dele e do meu, e de Inglaterra pelo lado da mãe dele.
A Bíblia tem, em suas páginas, longas listas de genealogias. É por elas que sabemos que Jesus foi da descendência de David. Trata-se sequências de nomes onde curiosamente, aqui e ali, se dá destaque a uma ou outra pessoa. Por exemplo, fala-se de Enoque, que edificou uma cidade (Génesis 4:17), de Jabal que ”foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado” (Génesis 4:20) e do seu irmão Jubal, “pai de todos os que tocam harpa e órgão” (Génesis 4:21), de Tubalcaim como “mestre de toda a obra de cobre e ferro;” (Génesis 4:22), de um outro Enoque onde se refere o seu fim de vida terrena “E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.” (Génesis 5:24) e de Aná como alguém que fez uma descoberta importante: “achou as fontes termais no deserto, quando apascentava os jumentos de Zibeão, seu pai.” (Génesis 36:24)
Nos meus anos de criança e jovem, parecia ser tabu falar-se sobre o passado, talvez porque esse passado fora, e o próprio presente era, muito absorvente, marcado por inúmeras dificuldades e carências, que não era bom falar ou, sequer, lembrar. Contudo, este é um tema apaixonante para mim. Não passamos por este mundo por acaso e pode ser muito enriquecedor partilharmos a nossa história. O ser humano é o ponto alto da criação e são valiosos os planos do Criador quanto à nossa passagem por aqui.
Deixo um desafio a quem, como eu, esteja reformado e disponha de tempo de sobra. Seja num caderno ou num computador, escreva acerca do seu percurso de vida e daquilo que sabe sobre os seus antepassados. Relate com minúcia como era a vida naqueles tempos, como se fazia, o que se valorizava, que objectivos se procurava alcançar e de que forma. A simplicidade com que se era feliz ou a forma árdua como se procurava assegurar a subsistência poderá constituir um importante ensino para os mais novos, oferecendo-lhes também informação sobre os seus antecedentes familiares, as suas raízes. Eles irão apreciar muito essa leitura.
Conte também aos seus filhos e netos as muitas bênçãos de Deus, recebidas ao longo dos anos. Algumas delas terão acontecido (muito) antes deles terem nascido, em contextos sociais e culturais diferentes, mas que constituirão um contributo sólido que poderá robustecer a sua fé em Deus. Assim diz o salmista: “Uma geração contará à outra a grandiosidade dos teus feitos; eles anunciarão os teus atos poderosos.” (Salmo 145:4)
Sim, ao longo dos anos, não deveremos esquecer-nos de tudo aquilo que Deus nos fez ver, em muitas expressões do Seu amor por nós, em diversas circunstâncias, e transmitir às gerações seguintes, como Deus ordenou:
“Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos.” (Deuteronómio 4:9).
Carmina Coias
Missionária Aposentada