A Hospitalidade
Abri cuidadosamente a toalha bordada sobre a mesa da sala. Depois alisei e ajustei. Decorei-a com um jarro de flores frescas e velas decorativas. Da cozinha, fui trazendo os pratinhos com aperitivos diversos e depois o arroz-doce polvilhado de canela que preparara na noite anterior. Também uma canja quente, acabada de fazer, aguardava os convidados.
Pouco depois, ela chegou do cabeleireiro. Vinha linda, com um penteado que lhe dava um ar ainda mais atraente e distinto e combinava bem com o seu sorriso. No ar havia a excitação própria de um dia especial.
No quarto esperava-a o seu vestido de noiva, de cetim, tule e rendas. Fora eu a fazê-lo e, também por isso, tinha agora um gosto especial em vê-la na elegância que marcava um dia memorável. Vestiu-se e acabou de se aprumar, ficando especialmente atraente. Pouco depois começaram a chegar familiares e amigos, convidados para o seu casamento, em momentos de reencontro e de muita alegria. Uma vez que os seus pais residiam longe dali, escolhera a minha casa como o lugar de onde sairia como noiva para a cerimónia nupcial na igreja. Já tivera esse prazer com duas outras noivas, a quem fizera igualmente os vestidos.
Esta tem sido uma forma de praticar a hospitalidade, entre outras. Tanto o meu marido como eu temos um grande prazer em receber pessoas na nossa casa e providenciar-lhes uma refeição e um tempo agradável de convívio.
Durante anos, enquanto fui solteira, servi a Deus longe da minha família e foi uma bênção ter junto de mim famílias que me “adoptaram”, recebendo-me frequentemente em suas casas e proporcionando-me um ambiente acolhedor. Hoje, é um privilégio fazer com outros aquilo que fizeram comigo. Recordo-me, especialmente, de uma família numerosa que tantas vezes me recebeu. Mesmo com limitações económicas, tinham sempre um café, um sorriso e uma bolacha para oferecer.
Embora nos empenhemos em oferecer o nosso melhor, não temos a preocupação de possuir algo muito especial para, então, ser hospitaleiros. Não é necessário ter um queijo caro, a melhor fruta ou mesmo a casa “num brinco”. Se estivermos à espera disso, deixaremos passar muitas oportunidades ou talvez nunca cheguemos a receber alguém. Por isso, quando convidamos sempre partimos do princípio de que o importante são as pessoas, não é a casa. Procuramos que cada visitante se sinta à vontade e confortável, saboreando um ambiente de família, seja para uma refeição seja mesmo para passar uns dias.
A conclusão a que temos chegado é a de que, para além de sermos bênção para outros, nós próprios somos abençoados. “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.” (Hebreus 13:2) Essas palavras vêem-me à mente quando recordo o convite que, a certa altura, fizemos a duas amigas para virem almoçar a nossa casa. Tanto uma como outra têm familiares a residir muito longe daqui e pensámos que seria uma excelente oportunidade de promover momentos de convívio, com sabor a família. Na véspera do dia combinado, percebi que não estávamos num momento economicamente favorável. Sugeri ao meu marido que cancelássemos o convite. Contudo, ele não sentia que o devêssemos fazer e concordei com ele. Então fui ao frigorífico em busca de uma ideia para a ementa. Tinha peixe cozido, já desfiado. Massada de peixe seria a única possibilidade.
No dia seguinte elas vieram estar connosco, alegremente. Ainda hoje comentam aquela massada de peixe, tão saborosa que lhes ficou na memória, sem que imaginassem então que fora o único recurso.
À despedida, uma delas, para nossa surpresa, deu-nos uma oferta em dinheiro. Sentira-se impelida a fazê-lo e acreditava que fora Deus a dirigi-la nesse sentido. Comovidos, acabámos por contar-lhes toda a história daquela refeição.
Na verdade, Deus presenteia-nos com um leque diverso de bênçãos quando somos hospitaleiros. Concluo, lembrando o conselho bíblico:
“ E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada.” (Hebreus 13:16)
Lurdes Lima Capucho
Evangelista