Família, comunicação, amor.
Vivemos na era das tecnologias de informação, apesar dos benefícios desta forma de comunicar, assistimos para nossa tristeza à decadência da comunicação em todos os setores da sociedade, principalmente na família, estamos perante um sistema de comunicação de sentido único, sabendo que a verdadeira forma de comunicação, depende da interação adequada entre quem emite e recebe a mensagem.
Em simples palavras, pretendo evidenciar a importância da comunicação, nos aspetos que caraterizam a família, nas relações familiares que estabelecem e a forma como se organizam. Para falar em comunicação e adequada reflexão é importante efetuar um breve olhar para a estrutura e dinâmica familiar na nossa sociedade, sendo diversificados contextos: família nuclear ou simples, família alargada ou extensa, família homossexual, família monoparental, constituída por um progenitor, podendo ou não residir com os descendentes; família com dinâmicas a dois, constituída por familiares da mesma linhagem, sem relação conjugal ou parental, (avós, netos, tios sobrinhos, irmãos, primos, cunhados, outros familiares), esta forma de organização familiar tem vindo a aumentar devido à elevada carência de habitação; família adotiva, casal ou pessoa sozinha que adotam uma ou mais crianças podendo não ser consanguíneas e a residir ou não no mesmo agregado filhos biológicos; família em que um dos elementos é dependente dos cuidados de outros por motivo de doença, realço aqui o aumento de cuidadores para apoio a membros da família nessa condição, nomeadamente com problemas de saúde mental, podendo residir e estar nesta situação crianças, jovens, adultos e idosos; família multidesafiada, registando-se elementos no agregado familiar com problemas crónicos de comportamento, por doença, por desemprego de longa duração, consumo de estupefacientes e álcool; família múltipla, um dos elementos assume duas ou mais famílias, agregados diferentes com ou sem descendentes.
Poderia continuar a descrever outras formas da estrutura e dinâmicas na família dos contextos na relação conjugal e parental, o conceito vai-se alterando tornando-se difícil em poucas palavras abordar todas as dimensões.
Sendo tão diversificada a forma de organização familiar, é de reconhecer que as problemáticas sociais que ocorrem nas famílias se enquadram numa sociedade que evolui para novos desafios, exigências, competitividade, deficiente proteção social, quer dos grupos de risco tradicionais quer dos novos grupos de risco, o fenómeno migratório, contextos marcados por fenómenos de polarização social, sociedade em rede longe de ser inclusiva, agravante fase pandémica, guerras, alterações atmosféricas, rápido desenvolvimento da comunicação eletrónica e dos sistemas de informação, recai no aumento de novas necessidades, disfunções sociais na família, parca comunicação para melhor desempenho da vida quotidiana.
A intervenção social hoje confronta-se com uma nova e crescente procura de respostas, cada vez mais adequadas ao nível de atuação de forma personalizada e especializada.
Atentem ao relato de uma mãe: A parentalidade nos dias de hoje levanta muitos desafios. Como mãe de duas adolescentes, vivo diariamente o desequilíbrio entre a vida familiar e a profissional. Todos os dias organizo, planeio, cumpro horários e tarefas, apoio dos TPC, ouço, acompanho, cozinho, limpo, entre tantas outras tarefas, ao longo de 24 horas frenéticas que tem um dia. Quando a noite chega e o ritmo abranda, habitualmente sentimentos de culpa invadem o meu pensamento e as minhas vozes internas questionam as minhas ações “porque falhei, porque gritei, porque não ouvi, porque cedi, porque não brinquei mais …”. A exigência que a sociedade nos incute e que persiste nos dias que correm para sermos pais perfeitos, pais ouvintes, pais amigos, pais positivos, tolda muitas vezes as minhas ações como mãe. O desejo indiscutível se ver os filhos felizes e realizados é universal, mas tenho a certeza de que só o conseguiram ser se, nós pais, aceitarmos as nossas imperfeições e compreender que esta jornada é para ser feita em família, com amor e momentos por vezes tumultuosos, mas verdadeiros e reais.
Sendo a comunicação o elo de ligação dos elementos que constituem a família, tornando-se ainda mais relevante na relação progenitores, porque a influência principal na vida dos filhos é essencialmente exercida pelos pais, não negligenciando aqueles que por vezes assumem este papel. Falar de uma comunicação saudável na família é urgente, e aqui a igreja tem um contributo eficaz, na forma como interage com as famílias, evitar criticas e avaliações baseadas em preconceitos, reforçar o ensino da palavra de Deus, a importância de conhecer a Deus, orar sem cessar, ser ombro amigo na ajuda das dificuldades, ajudar a família a restabelecer uma forma de comunicação com base no respeito individual de forma que todos entendam a mesma linguagem e consigam confiar no seu projeto familiar, com ajuda de Deus.
João 13:34 “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, que cada um possa fazer a sua parte no uso da dose certa de amor, na comunicação, principalmente na família, foi o método usado por Jesus, ouvindo o ritmo de cada um e não deixando de ensinar, desta forma consolava os corações e fazia a diferença.
Arlete Santos Assistente Social Exerce profissão na área de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo.